David Arioch – Jornalismo Cultural

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Romance de Han Kang discute a repercussão social que surge quando uma dona de casa se torna vegetariana

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Em 2007, a escritora sul-coreana Han Kang publicou um livro intitulado “Chaesikjuuija”, “A Vegetariana”, que conta a história de uma dona de casa que um dia, depois de um sonho, decide não consumir nem cozinhar mais nada de origem animal.

A partir dessa sua decisão, ela passa a enfrentar uma série de desafios, ou seja, toda a repercussão social que envolve a recusa em se alimentar de animais em um contexto onde todas as refeições do dia são baseadas na exploração de animais.

O romance é dividido em três partes, na realidade, três novelas. A primeira é narrada pelo marido, a segunda pelo cunhado e a terceira pela irmã. Os três têm perspectivas bem distintas da recusa da mulher em tornar-se vegetariana estrita.

“O que tinha agora na mesa à minha frente era uma desculpa para saltar uma refeição. Com a cadeira afastada da mesa e ligeiramente de lado, a minha mulher foi comendo a sopa de algas, que obviamente devia saber a água e nada mais. Espalhou arroz e massa de soja sobre uma folha de alface, depois a enrolou, trincou o wrap e o mastigou vagarosamente.

Não conseguia compreendê-la. Só depois é que me apercebi de que não conhecia aquela mulher. — Não comes? — perguntou distraidamente, lançando a pergunta para o ar como se fosse uma senhora de meia-idade a falar para o filho já crescido. Mantive-me sentado, em silêncio, assumidamente desinteressado daquela miséria de refeição, mordiscando kimchi durante o que pareceu uma eternidade.

Chegou a primavera, e a minha mulher ainda não tinha vacilado. Cumpria escrupulosamente a sua palavra – nunca vi um único pedaço de carne lhe passar pelos lábios – mas havia muito tempo que eu desistira de me queixar. Quando numa pessoa se opera uma transformação tão drástica, não há nada a fazer senão deixar andar.”

Excertos das páginas 17 e 18 de “Chaesikjuuija”. Em 2009, o romance ganhou uma versão cinematográfica dirigida por Woo-Seong Lim. O livro foi publicado no Ocidente em 2016 e venceu o Man Booker International Prize em 2016. A versão em inglês também foi eleita pela Publishers Week como um dos melhores romances de 2016.





Goethe seria “crucificado” no mundo de hoje

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Na minha opinião, o que Goethe romantizou acima de tudo foi a impossibilidade do amor (Arte: Reprodução)

No mundo de hoje, creio que Goethe seria “crucificado” por publicar um romance como “Os Sofrimentos do Jovem Werther”. Diriam, com mais paroxismo do que no século 18, que ele romantizou o suicídio às raias da apologia e, assim como no passado, também seria responsabilizado pela morte de jovens, principalmente – mas creio que numa proporção bem maior. Quem sabe, fosse até perseguido.

Na minha opinião, o que Goethe romantizou acima de tudo foi a impossibilidade do amor (tendo como referência inclusive uma experiência pessoal) e transformou isso em uma obra que penso que talvez até tenha salvado a sua vida, já que ele morreu na obra, mas sobreviveu fora dela. Goethe a escreveu em poucos dias – num prazo tão curto que deixa claro como o escritor estava imerso nesse universo romanesco e conflituoso.

Há autores que escrevem sobre o suicídio até mesmo como uma forma de manifestação da incomunicabilidade, tentativa de compreensão de algo que parece maior do que si mesmo, escapismo, libertação e redenção – mas não desejam cometê-lo. Pode parecer sombrio para muita gente, porém, isso também é uma forma de autoconhecimento. Tenho uma crônica em que falo sobre o suicídio, e eu não estava nem triste quando a escrevi.

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Written by David Arioch

April 16th, 2017 at 3:30 pm

Flaubert e o julgamento que popularizou Madame Bovary

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O escritor dividiu a bancada dos réus com “batedores de carteira” e jovens acusados de pederastia

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Flaubert não gostou quando a Revue de Paris fez alterações substanciais em sua novela (Imagem: Reprodução)

O escritor francês Gustave Flaubert publicou Madame Bovary em 12 de abril de 1857. Mas a obra jamais despertaria tanta atenção na época se não tivesse sido considerada subversiva, o que levou o autor a um dos julgamentos mais famosos da literatura francesa.

Com tanto alarido em torno do livro, Flaubert conseguiu publicidade gratuita e Madame Bovary rapidamente se tornou um sucesso. A primeira novela exigiu cinco anos de dedicação do escritor e um retorno de 800 francos, uma quantia insignificante se levarmos em conta que só o estenógrafo que atuou em seu julgamento cobrou o mesmo valor por duas semanas de trabalho.

Porém, apesar do prejuízo, a novela e o julgamento fizeram a reputação de Gustave Flaubert, mais tarde reconhecido como criador de um novo estilo de escrita, com rítmica versada e precisão que remetia à linguagem científica. Com o veredito a seu favor, o escritor conseguiu assegurar que ninguém comprometesse o retrato detalhista e inédito na literatura francesa de uma realidade considerada “ignóbil” e tão costumeiramente velada em Paris.

Tudo começou quando Flaubert quis publicar sua obra na revista Revue de Paris e recebeu a resposta de que Madame Bovary precisava passar por cortes. “Você enterrou seu romance sob uma pilha de detalhes supérfluos. Ele não é claro o suficiente, porém é uma tarefa fácil que daremos a alguém experiente e inteligente. O trabalho vai custar 100 francos”, informaram.

Durante a sessão, o escritor foi obrigado a ouvir como o seu trabalho era de “mau gosto”, um tipo desprezível de “poesia do adultério” (Arte: Reprodução)

Durante o julgamento, o escritor foi obrigado a ouvir como o seu trabalho era de “mau gosto” (Arte: Reprodução)

A revista acabou publicando o livro em partes e fez alterações que não foram aprovadas pelo escritor. Quando soube, Flaubert exigiu que a Revue de Paris divulgasse uma nota em que ele deixava clara a sua reprovação. Logo que a crítica foi publicada, as autoridades francesas acusaram todos os envolvidos de ofensa à moral pública.

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Primeira versão de Madame Bovary, lançada em 1857 (Foto: Reprodução)

No dia do julgamento, Flaubert dividiu a bancada dos réus com “batedores de carteira” e jovens acusados de pederastia. Durante a sessão, o escritor foi obrigado a ouvir como o seu trabalho era de “mau gosto”, um tipo desprezível de “poesia do adultério”. Ainda assim conseguiu a absolvição e sua obra acabou eternizada na história da literatura mundial.

De acordo com o escritor canadense e professor de literatura Steve King, dentro de um ano, mais uma vez a vida imitou a arte. Em Hamburgo, na Alemanha, os veículos que transportavam as prostitutas começaram a ser chamados de Bovaries.

Madame Bovary

Infeliz no casamento, Emma Bovary é uma mulher sonhadora que vive no interior da França e se vê limitada por uma vida partilhada com um homem de fraca personalidade. Então ela decide mudar a própria realidade, deixando de ser apenas uma lastimosa dona de casa. Com características de heroína e anti-heroína, a senhora Bovary é a protagonista de um retrato fiel que revela a crise existencial de tantas pessoas trilhando caminhos que não são os seus, amargando um presente que antecipa um futuro indesejável.
Além disso, o que fez Madame Bovary ser considerada a maior obra-prima de Flaubert foi a sua originalidade em explorar com acuidade a condição psicológica de seus personagens, caminho que mais tarde seria percorrido por nomes como James Joyce, Marcel Proust, Virginia Woolf e Clarice Lispector. Em síntese, Flaubert se lançou substancialmente dentro da novela, tanto que ele costumava dizer: “Madame Bovary c’est moi”. Ou seja, “Madame Bovary sou eu”.

Saiba Mais

Gustave Flaubert nasceu em 12 de dezembro de 1821 e faleceu em 8 de maio de 1880 em decorrência de uma hemorragia cerebral.

Além de Madame Bovary, outras obras que fizeram a fama de Flaubert são Salambô e A Educação Sentimental.

O livro Madame Bovary foi adaptado para o cinema pela primeira vez em um filme de Albert Ray, lançado em 1932. Porém, aquela que ficou conhecida como a melhor versão surgiu em 1949 com o cineasta Vincente Minnelli. Em 2014, e sob direção de Sophie Barthes, a obra foi relançada no cinema com um elenco composto por Mia Wasikowska, Henry Lloyd-Hughes, Paul Giamatti e Ezra Miller.

Referências

http://www.todayinliterature.com/

Laurence M. Porter, Eugène F. Gray. Gustave Flaubert’s Madame Bovary: a reference guide. Greenwood Publishing Group (2002).

Gustave Flaubert’s Life, Madame Bovary, Alma Classics edition (2010).

Gustave Flaubert, Francis Steegmüller (1980). The Letters of Gustave Flaubert: 1830–1857. Harvard University. 

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Os mais de 70 anos de Casablanca

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Amor, antinazismo e exploração da figura do “herói americano” no Marrocos

Obra se tornou clássica ao abordar a impossibilidade do amor (Foto: Reprodução)

Obra se tornou clássica ao abordar a impossibilidade do amor (Foto: Reprodução)

Lançado em 1942, Casablanca vai ser sempre lembrado como um clássico estadunidense que aborda a impossibilidade do amor. O filme do cineasta tcheco Michael Curtiz conta a história do exilado estadunidense Rick Blaine (Humphrey Bogart) que mora em Casablanca, no Marrocos, onde administra uma casa noturna e ajuda refugiados estrangeiros no início dos anos 1940.

O protagonista vive um dilema quando reencontra acidentalmente a antiga paixão Ilsa (Ingrid Bergman) que tenta fugir para os Estados Unidos com o marido Victor Laszlo (Paul Henreid), um antinazista tcheco. A obra aproveitou com certo caráter propagandístico, e bastante favorável aos EUA, o sentimento de contrariedade ao Nacional Socialismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Embora secundário, Peter Lorre se destaca pela interpretação sempre enigmática (Foto: Reprodução)

Embora secundário, Peter Lorre se destaca pela interpretação sempre enigmática (Foto: Reprodução)

Embora hoje seja cultuado em todo o mundo, a verdade é que quando Casablanca começou a ser produzido não havia tantas expectativas em torno do sucesso da película. Nem mesmo o elenco, principalmente a atriz Ingrid Bergman – que não acreditava tanto no filme – imaginava que a obra figuraria até hoje entre as dez das mais importantes listas de melhores trabalhos cinematográficos da história. Casablanca surgiu a partir de um roteiro de teatro intitulado Everybody Comes To Rick’s dos teatrólogos Murray Burnett e Joan Alison que o escreveram após uma viagem internacional.

Sem dinheiro e investidores para produzirem o espetáculo, optaram por vendê-lo por vinte mil dólares, à época, um valor bem elevado para uma história nunca encenada. Mas a fórmula do filme deu certo e o investimento de pouco mais de um milhão de dólares garantiu quase quatro milhões em faturamento. Casablanca ainda arrecadou muito mais nas décadas subsequentes, a partir de lançamentos especiais e merchandising.

A essência antinazista da obra também teve repercussão muito positiva da crítica que naquele tempo já era favorável em explorar até a exaustão a figura do “herói americano”, sujeito aparentemente falho, mas capaz de abdicar do amor em prol da liberdade e felicidade coletiva. Reflexo dessa grande aceitação são os três Oscars que o filme conquistou nas categorias melhor roteiro, filme e diretor. Na minha opinião, uma interpretação esfíngica, sempre digna de destaque, é a do inconfundível eslovaco Peter Lorre que vive Ugarte, um estrangeiro e amigo de Rick que vende cartas de trânsito para refugiados.

“A recepção cultural começa no feto”

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Domingos Pellegrini fala sobre o poder da oralidade e da leitura na construção da identidade humana

“A própria contação de estória é uma ação civilizatória” (Foto: Amauri Martineli)

Autor de inúmeras obras literárias premiadas, entre as quais “O Caso da Chácara Chão” e “O Homem Vermelho” que venceram o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, o londrinense Domingos Pellegrini é o escritor de todos os públicos, pois seus livros, sejam infanto-juvenis ou romances, falam com a humanidade, independente de estar representada numa figura infantil ou adulta.

Pellegrini já trabalhou como jornalista, publicitário e professor universitário, porém, há quinze anos, mesmo sem ter certeza do que o futuro lhe reservava, tomou a decisão de se dedicar ao que admite ser um dom, a criação de histórias que nascem regionais e se universalizam, brindando o leitor com um sentimento de pertencimento. Um exemplo é a obra “Terra Vermelha” que gira em torno de uma família de colonos pés-vermelhos de Londrina, numa ficção embutida de realidade que carregada de humanismo sensibiliza e desperta identificação até mesmo num camponês de uma vila islandesa.

Detentor de um estilo de escrever peculiar, claro e simplificado, mas que sempre propõe profusão reflexiva, uma subjetiva influência de escritores como o estadunidense Ernest Hemingway e os brasileiros Graciliano Ramos e Manuel Bandeira, Domingos Pellegrini é na atualidade um dos escritores mais respeitados e bem sucedidos do Brasil. Em outubro, o autor lança sua mais recente obra: “Herança de Maria”.

No dia 28 de abril, quinta-feira, às 15h, tive a oportunidade de entrevistar Pellegrini no Grande Hotel, na Rua Getúlio Vargas, em Paranavaí. O escritor se preparava para participar à noite do projeto “Autores e Ideias”, do Serviço Social do Comércio (Sesc), na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, onde dividiu o palco com a mineira Angela Lago, renomada escritora e ilustradora de literatura infantil.

Espontâneo e bem-humorado, Domingos Pellegrini transformou a entrevista em um diálogo informal com caráter de bate-papo, e tudo foi acompanhado pelo fotógrafo, artista e diretor cultural da Fundação Cultural de Paranavaí, Amauri Martineli, e também pelo artista e técnico em atividade do Sesc, Dorival Torrente. Pellegrini falou sobre muitos assuntos ao longo de mais de uma hora, como a importância da contação de histórias na infância, internet, literatura e democratização do ensino. Confira alguns trechos logo abaixo.

Levando em conta que a sua vinda a Paranavaí foi motivada por uma discussão sobre a contação de histórias e a literatura infanto-juvenil, como o senhor avalia a relação entre a descoberta do mundo na infância e a oralidade?

Eu vejo que a história oral para crianças é muito importante porque a recepção cultural começa no feto. A partir do nascimento, uma simples cantiga de ninar já começa a ditar nossas emoções e comportamentos. Com uma música de rock a criança se agita e com uma música clássica ela se acalma. Com base nisso, percebemos que a voz humana encanta e nada substitui isso, é o poder da oralidade. Quer se sentir bem? Pegue uma criança e leia para ela, isso afasta qualquer emoção ou sentimento negativo.

Partindo da ficção literária, até que ponto a oralidade contribui no processo civilizatório?

A própria contação de história é uma ação civilizatória. Quando a criança ouve um conto, nasce um sentimento de pertencimento. Ela se sente parte de uma sociedade, reconhece a sua própria língua e depois percebe que é capaz de inventar e criar. A fogueira em volta da qual as pessoas se reuniam no passado para contar histórias ainda existe, é o abajour de hoje. Cada vez mais o mundo precisa de contadores. Se o Wellington [Menezes de Oliveira], que cometeu aquele massacre no Rio de Janeiro, tivesse alguém que lhe contasse histórias, ele não se tornaria uma pessoa tão solitária, nem cometeria aquele ato.

Em um contexto sócio-cultural, o que representa o contador de histórias nos dias de hoje?

Hoje em dia, ser contador de histórias é uma profissão que exige imaginação, talento e ética, pois até os quatro anos de idade tudo que a criança absorve é a partir da oralidade. Quando ela pisca é como se virasse a página de um livro mental em um clima de cumplicidade e magia criado a partir da voz. Quanto mais uma criança ouve histórias, mais os seres imaginários são absorvidos como parte da família humana. Pelo fato de sermos os únicos animais que fazem arte de forma intencional é importante despertar logo cedo a identificação com a humanidade.

A atual literatura infanto-juvenil desempenha bem a missão de proporcionar a criança uma leitura que a permita refletir sobre a sua realidade, o mundo que a cerca?

Sim. Claro que há autores que escrevem apenas para divertir, no entanto, há muitos outros que tratam da ética. Não sou moralista, mas acredito na humanidade e na idéia de que as pessoas podem se tornar melhores. Sou da geração que tinha horizontes bem rurais em 1950, quando as pessoas viviam em um mundo limitado pelas crendices. Tudo isso mudou.  O Brasil passa por uma revolução cultural que muitos outros países viveram há 150 anos, como Alemanha, Inglaterra, França e Japão. Está havendo a democratização do ensino. Temos mais pessoas alfabetizadas, mais leitores e ao contrário de antigamente acabou-se aquele pensamento de que você deveria se tornar doutor ou então não seria nada. Hoje, temos muito mais gente fazendo curso superior. Além disso, há alternativas como os cursos técnicos.

“Só escrevo sobre aquilo que conheço, vejo e vivo” (Foto: Amauri Martineli)

Com a popularização da internet e também das publicações virtuais, como incentivar o interesse dos mais jovens pelo livro impresso?

Eu não vejo conflito entre a internet, o livro e outras formas primitivas de fruição com as formas mais atuais, muito pelo contrário, são meios de comunicação que se complementam. Hoje, um pai pode contar uma história para o filho dormir mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, por meio de uma webcam. É uma conquista que só é possível graças à tecnologia, à internet.

A literatura infanto-juvenil brasileira está se renovando ou se restringe mais às adaptações e readaptações de obras do passado?

Com certeza, se renova. O Brasil passa por uma revolução tecnológica e cultural que inclui a literatura infanto-juvenil. Há uma grande preocupação em se transmitir cada vez mais valores a partir de uma arte feita com beleza, criatividade, amor, imaginação e ética.

Quando o senhor descobriu o talento de escrever para públicos de todas as faixas etárias?

Decidi escrever um livro sobre uma árvore que dava dinheiro e percebi que não tinha muito a ver com o público adulto, então me direcionei ao público infanto-juvenil. “A Árvore que Dava Dinheiro”, lançado em 1981, tem enredos fantásticos em que uso metáforas para abordar problemas como inflação e estagnação econômica. A história ensina que para se conseguir dinheiro é importante trabalhar.

A autobiografia é uma de suas características mais marcantes, de que maneira isso influi na concepção de uma obra?

Comecei a escrever poemas aos 14 anos e desde então só escrevo sobre aquilo que conheço, vejo e vivo. Na obra “Terra Vermelha”, por exemplo, eu falo sobre a minha terra. Prefiro sempre mostrar as características de um personagem por meio da ação e não de adjetivos. Gosto de uma escrita mais econômica. Ainda assim o que eu faço é criar um mundo de imaginação, onde misturo realidade e ficção.

Há previsão de lançamento de alguma obra ainda este ano?

Meu último lançamento foi “Professor Milionário”, em 2009, que fala de um professor que venceu na loteria e usou o dinheiro para investir na escola em vez de se entregar ao consumismo. Mas até outubro será lançado pela Editora Leya, de Portugal, uma das maiores do mundo, o meu livro “Herança de Maria”, uma homenagem a minha mãe, uma mulher guerreira, a frente do seu tempo, que tinha autonomia em suas decisões. A obra será 30% ficção e 70% realidade.

Quais as lembranças das inúmeras vezes em que participou dos eventos culturais de Paranavaí?

Vir a Paranavaí é sempre uma experiência muito interessante. Aqui tem gente interessada em discutir, falar abertamente sobre arte. De fato, há um quociente cultural mais denso do que em outras cidades. Percebo, e não é de hoje, que Paranavaí tem uma tradição de atividades culturais. Lembro de quando estive aqui com a palestra-recital “Saques e Toques” [“Poesia para Ver, Ouvir, Sentir e Pensar” – durante o Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) de 2009] e a participação do público me surpreendeu. Naquela ocasião, abordei temas diversos como ecologia, relações humanas e cidadania.

Curiosidade

O escritor Domingos Pellegrini nasceu em 23 de julho de 1949 em Londrina, no Norte Central Paranaense.