David Arioch – Jornalismo Cultural

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Elephant Haven, o primeiro santuário europeu para elefantes deve ficar pronto em agosto

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“Esses elefantes tiveram uma vida inteira de sofrimento, sendo mantidos em cativeiro e forçados a enfrentar um treinamento cruel e intensivo” (Acervo: Proteção Animal Mundial)

A cada ano aumenta o número de países europeus contra o uso de animais em circos. Com isso, surge um dilema. Como garantir um lugar seguro para esses animais que não podem mais ser reintroduzidos na natureza depois de anos de abuso na indústria do entretenimento? Pensando nisso, organizações em defesa dos animais estão financiando a construção do Elephant Haven, o primeiro santuário europeu para elefantes.

Situado em uma área de 30 hectares na Nova Aquitânia, na França, o santuário deve ficar pronto em agosto. De acordo com o cofundador do Elephant Haven, Tony Verhulst, além de oferecer qualidade de vida aos elefantes, a segurança deles também é fundamental. Por isso, câmeras serão instaladas dentro e fora dos celeiros para garantir que os animais estejam recebendo todos os cuidados necessários.

“Os elefantes merecem um lugar feliz para viver o resto de suas vidas”, enfatiza Verhulst. Recentemente, a organização Proteção Animal Mundial fez uma doação de R$ 653 mil para o santuário. Após a inauguração, o local vai oferecer um horário específico para visitas, mas os visitantes só poderão observar os animais à distância.

O primeiro país europeu a banir o uso de animais em circos foi a Dinamarca após uma campanha endossada por mais de 50 mil defensores dos animais. O exemplo estimulou mais 14 países a trilharem o mesmo caminho. Atualmente a Proteção Animal Mundial estima que há mais de 100 elefantes sendo usados como entretenimento em países europeus que ainda não baniram a prática.

O Elephant Haven e seus parceiros têm dialogado em favor da libertação desses animais, principalmente considerando que há espaço para eles no santuário. “Esses elefantes tiveram uma vida inteira de sofrimento, sendo mantidos em cativeiro e forçados a enfrentar um treinamento cruel e intensivo”, lamenta o CEO da PAM, Steve McIvor.

 





Produtores de queijo premiado se tornam veganos e trocam o leite de cabra pelo leite de oleaginosas

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“Estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”

“Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo” (Acervo: The Sanctuary at Soledad Goats)

Ao longo de 20 anos, Carol e Julian Pearce produziram um queijo de leite de cabra premiado nos Estados Unidos. Ainda assim, decidiram se tornar veganos e começar uma nova vida, que incluiu a fundação de um santuário e uma nova produção de queijos. Mas dessa vez baseado em oleaginosas, não em leite de cabra.

Carol e Julian se conheceram enquanto cuidavam de bezerros doentes. Quando viviam na Inglaterra, Carol era conhecida por invadir fazendas e “sequestrar” animais que seriam enviados para o matadouro.

Mais tarde, nos Estados Unidos, os Pearce investiram em uma fazenda de caprinos no Sul da Califórnia, onde a política era “nunca matar”. No entanto, com o tempo, começaram a repensar a própria história, o trabalho e a vida. Foi quando perceberam uma contradição em suas ações.

Enquanto resgatavam animais que seriam enviados para os matadouros, eles investiam na procriação de outros para a produção de leite e queijo. “Por ser uma fazenda leiteira, estávamos ampliando o problema. Não queríamos ser parte do problema, mas sim da solução”, explica o casal.

Em 2015, a decisão natural foi o veganismo, que os Pearce qualificam como um imperativo moral, de honrar e respeitar os animais rejeitando todas as formas de exploração. O leite de cabra então foi substituído pelo leite de oleaginosas – nozes, castanhas, amêndoas, etc.

“Estamos replicando a qualidade do queijo que conseguimos produzir com o leite de cabra – textura suave, ingredientes frescos, e feito artesanalmente com cuidado, consistência e paixão. Até agora nossas amostras foram muito bem recebidas, com muitas pessoas nos dizendo que continuarão comprando os nossos produtos em versão vegetal. Isso é muito encorajador para nós”, garantem.

Além de cuidar das cabras do seu antigo rebanho leiteiro, o casal resgata cabras, vacas, bois, cavalos, porcos, frangos, galinhas, patos, cães e gatos maltratados, abandonados e negligenciados. Parte desses animais seria enviada para o matadouro, outros passariam por eutanásia. “Agora ao não criar animais com essa finalidade [de produzir leite e queijo], podemos salvar os animais da crueldade em vez de agravá-la trazendo mais animais para o mundo”, justificam.

Hoje, o The Sanctuary, situado em Soledad, no sul da Califórnia, é uma entidade sem fins lucrativos, e a produção de queijo vegano ajuda a custear as despesas com os animais, assim como a contribuição de seus apoiadores. O santuário é aberto à visitação e quem quiser pode comprar diretamente no site alguns produtos veganos como chocolates, velas, sabonetes, canecas, brincos e hidratantes.

Referência

The Sanctuary at Soledad Goats – Where every animal has a home

 





 

Mike Lanigan, o pecuarista canadense que transformou a própria fazenda em um santuário

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“Quando chegar à minha velhice, quero que seja com uma consciência limpa e agradável”

“Pensei em como eu era hipócrita em dar tanto amor e no final agir de forma tão diferente desse amor” (Acervo: Farmhouse Garden Animal Home)

Em 2016, o pecuarista canadense Mike Lanigan, de Uxbridge, Ontário, estava ajudando um bezerro prematuro a mamar pela primeira vez quando se questionou sobre a sua fonte de renda, que se baseava em criar animais para mais tarde enviá-los ao matadouro: “Eu estava fazendo isso com tanto amor, e conversando com ele, limpando a sua face e tentando fazê-lo mamar em sua mãe.”

Lanigan ponderou sobre a contradição de dar a um animal todo esse cuidado simplesmente para depois enviá-lo ao abate. “Nunca gostei dessa parte, mas como fazendeiro você pode simplesmente desligá-la. Então pensei em como eu era hipócrita em dar tanto amor e no final agir de forma tão diferente desse amor”, diz Lanigan em um vídeo publicado por sua funcionária, Edith Barabash, na página do santuário Farmhouse Garden Animal Home.

Da terceira geração de uma família de criadores de gado, Mike Lanigan era uma criança quando se mudou nos anos 1950 para a fazenda onde vive até hoje. Mais tarde, foi para a faculdade e depois retornou. Mas somente a experiência de amamentar um bezerro prematuro fez com que mudasse o rumo de sua vida em 2016.

Com um choque de consciência, Lanigan decidiu que não exploraria nem mataria mais nenhum animal. Na realidade, fez mais do que isso. Transformou a tradicional fazenda de gado em um santuário para bovinos, aves, equinos e animais de outras espécies – um lugar onde podem viver até os seus últimos dias em paz. Porém, Lanigan sabia que seguir por esse caminho não seria fácil, porque uma das partes mais difíceis é conseguir recursos para alimentar todos os animais.

Além disso, passou a ser visto com outros olhos pelos vizinhos e se tornou alvo da piadas. Os fazendeiros da região pararam de acenar e de cumprimentá-lo quando passavam por sua propriedade. Ele não reagiu mal à reação. Apenas entendeu que os fazendeiros se sentiam ameaçados por sua atitude inimaginável. “Há um forte ativismo animal acontecendo. E não percebi todas essas nuances quando decidi fundar um santuário”, enfatiza. Até mesmo seus filhos ficaram com raiva no primeiro mês, porque estavam planejando assumir a fazenda de gado nos próximos anos. Com o tempo, entenderam e respeitaram a sua decisão.

Lanigan passou a ser visto como um sobrevivente em seu meio, porque vários de seus vizinhos, que também eram fazendeiros independentes e investiam no gado de corte e no gado leiteiro, não resistiram às pressões do mercado e acabaram vendendo suas fazendas para corporações e grandes produtores de gado. Apesar das dificuldades, Mike Lanigan está feliz com a sua decisão. Para angariar recursos para sustentar todos os moradores da fazenda, ele decidiu investir na produção de vegetais orgânicos e de xarope de bordo.

Em 2017 a fazenda foi transformada na Farmhouse Garden Animal Home, um abrigo para animais sem fins lucrativos que é mantido com os recursos da produção de vegetais orgânicos e por meio de doações. “Quando chegar à minha velhice, quero que seja com uma consciência limpa e agradável”, revela Mike Lanigan.

Referências

Farmhouse Garden – Animal Home. Our Story (2017).

Vegan Food and Living. Canadian cattle rancher turns his farm into sanctuary (16 de setembro de 2016).

CBC Radio. Meet the cattle rancher who stopped killing his cows ‒ to the annoyance of his neighbours (26 de novembro de 2017).

 





Casal de criadores de gado transforma fazenda em um santuário de animais no Texas

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As mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam”

“Chorei tantas vezes que ele [Tommy] tentou esconder o fato de estar fazendo isso, mas eu sempre soube por causa do lamento das vacas quando perdem seus bebês e não conseguem encontrá-los” (Foto: Rowdy Girl Sanctuary)

Em 2009, Renée King-Sonnen se mudou para uma propriedade rural em Angleton, no Texas, com o marido Tommy Sonnen, da quarta geração de uma família de criadores de gado. Fascinada pelos animais, Renée começou a passar muito tempo com eles, desenvolvendo empatia e analisando suas personalidades e individualidades. Logo ela percebeu que rapidamente as vacas criam laços profundos com os bezerros – o que a fez associar com a relação de uma mãe com o seu filho humano.

Por outro lado, para além desse cenário de amor animal que inspira reflexão, Renée conheceu outra faceta da realidade ao testemunhar como os bezerros eram separados das vacas, enviados para leilões e encaminhados para os matadouros. A certeza de que nesse meio o laço familiar é rompido precocemente, e as vidas dos animais são tão curtas em decorrência da exploração, a chocou.

“A experiência de vê-los partir, as mães chorando por uma semana, e a ausência de suas almas no pasto, me assombravam. Chorei tantas vezes que ele [Tommy] tentou esconder o fato de estar fazendo isso, mas eu sempre soube por causa do lamento das vacas quando perdem seus bebês e não conseguem encontrá-los”, enfatizou.

Deprimida, em outubro de 2014, Renée falou para o marido que não queria mais contribuir com a morte de animais vulneráveis, que a cada dia a ensinavam uma nova lição. O amor dos animais pela liberdade, por exemplo, ela descobriu na figura de Houdini, um bezerro que sempre que tinha alguma oportunidade tentava fugir da propriedade. Renée King então passou a considerar insuficiente poupar apenas alguns animais da morte.

Buscando uma mudança mais substancial, ela conheceu o veganismo e decidiu correr atrás de um sonho – transformar a fazenda em um santuário de animais. Renée fez contato com pessoas do movimento vegano que foram determinantes nesse processo de transformação de uma fazenda de gado em um santuário. O marido concordou, e não apenas os bovinos foram poupados, mas também os porcos, frangos, galinhas e outros animais que viviam no local.

Hoje o casal vegano que administra o Rowdy Girl Sanctuary, no mesmo local de onde os bovinos partiam rumo à morte, recebe visitas e abriga um número cada vez mais crescente de animais livrados da morte precoce nos matadouros. Segundo René King-Sonnen, um sonho, de fato, concretizado.

Referências

Capps, Ashley. Former Meat and Dairy Farmers Who Became Vegan Activists (4 de novembro de 2014).

Rowdy Girl Sanctury. Renee King-Sonnen – Founder (7 de abril de 2016)

                                                                      





Jan Gerdes, o ex-produtor de leite que transformou a sua fazenda em um santuário para os animais

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Gerdes: “Antes, eu negava que eu gostava deles. Não havia outra maneira. Eu queria ganhar a vida” (Foto: Hof Butenland)

O alemão Jan Gerdes era um típico produtor de leite que via os animais apenas como fonte de renda. Inclusive evitava proximidade para não criar laços com os animais explorados em sua fazenda no Norte da Alemanha. Porém, um dia ele decidiu se questionar sobre o que estava fazendo – se aquilo era, de fato, certo.

“Antes, eu negava que eu gostava deles. Não havia outra maneira. Eu queria ganhar a vida. E agora eles são meus camaradas. Se você está feliz, você fala com eles. Você fala com uma vaca, assim como se falasse com um porco, um gato ou um cachorro. Não vejo diferença. Todos eles têm suas qualidades e ficam felizes quando falo com eles”, disse em depoimento registrado no documentário “Live and Let Live”, lançado por Marc Pierschel em 2014.

A mudança na vida de Gerdes foi visceral, principalmente se considerada a história da fazenda Hof Butenland, construída no século 19, em Butjadingen, no estado da Baixa Saxônia. De acordo com Gerdes, várias gerações produziram leite e queijo no local. Em 1978, ele assumiu o negócio familiar de seus pais e se tornou o primeiro produtor da região a aderir ao sistema orgânico de produção. “Isso significava redução do rebanho, aumento dos estábulos e abolição de correntes e cordas. Os bezerros eram autorizados a ficar mais tempo com suas mães (geralmente são separados logo após o nascimento)”, afirma.

Ainda assim, o sistema não poderia ser considerado “humanitário” na ótica do ex-produtor de leite. O motivo? A vaca é abatida quando a produção diminui, quando deixa de procriar ou quando fica doente, segundo Jan Gerdes, que percebeu que o único caminho verdadeiramente favorável aos animais é a não exploração.

Então ele desistiu da criação de vacas leiteiras e, com a parceria da esposa Karin Mück, transformou a Hof Butenland em um santuário para os animais. Aos poucos, começaram a receber outros animais, principalmente aqueles que seriam sacrificados ou enviados aos matadouros. Além de bovinos, a Hof Butenland abriga porcos, galinhas, patos, gansos, cães, gatos, cavalos e coelhos.

O estatuto do santuário informa que o objetivo é estimular o amor e a compreensão em relação ao mundo animal por meio da educação e do bom exemplo, assim promovendo o verdadeiro bem-estar dos animais. Em Butenland, que é praticamente um centro de educação vegana, Jan e Karin explicam detalhadamente as consequências para os animais quando roubamos a sua liberdade, seus filhos e suas vidas.

Profundo conhecedor do sistema de produção leiteira, atividade a qual dedicou décadas, Gerdes sempre tem muito a ensinar aos visitantes do santuário. “O veganismo motivado eticamente como estilo de vida também desempenha um papel importante no trabalho educacional”, enfatiza e acrescenta que hoje, mais do que nunca, é importante prestar atenção aos animais, cujo sofrimento e reais necessidades físicas e psicológicas são ignoradas.

Jan Gerdes pondera que vacas são indivíduos como nós humanos; têm uma ampla gama de emoções e comportamentos que podemos interpretar e entender se as observarmos atentamente: “Para além da estrutura física e do número de estômagos, não são tão diferentes de nós. Em rebanho, as vacas formam estruturas sociais sólidas. Elas adoram seus filhos, nutrem amizades, se ajudam, são sensíveis, inteligentes e amorosas. Algumas delas são mais reservadas, outras são insolentes, impetuosas e curiosas. Algumas apreciam estar com muitas outras, e outras preferem ficar sozinhas. Nenhuma é igual à outra.”

O papel do casal Jan e Karin é devolver a vida e a liberdade aos animais resgatados de uma vida de exploração e privação, naturalmente incentivando o respeito e a empatia. “Claro, não temos que amar cada animal, mas devemos respeitar o direito à vida e não deixar que os motivos egoístas nos guiem. Isso começa com a produção e o consumo de alimentos, com os dolorosos testes em animais, com a produção de vestuário e entretenimento (zoológico, circo), além dos abusos que surgem quando animais são tratados como substitutos de crianças ou parceiros”, frisam.

O estatuto do santuário Hof Butenland defende que os animais não são máquinas, não existem para satisfazer nossas necessidades; nem mesmo são nossos: “Defendemos, portanto, um estilo de vida chamado veganismo. Ele vai além da dieta e cobre todos os aspectos da vida e da união humana e animal. Somente observando e respeitando outros animais como indivíduos podemos realmente reconhecer quem eles são.”





 

Peaceable Kingdom

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Peaceable_Kingdom_(documentary)

Peaceable Kingdom tem como cenário um santuário para animais (Foto: Reprodução)

“Depois de ser afastado da vaca para que o leite seja aproveitado pela indústria, o novilho é morto para a extração de sua carne. Na realidade, a indústria de carne de novilho só existe por causa da indústria de laticínios, é um subproduto.

Dão a eles uma dieta pobre em ferro e, como eles também são privados de se exercitar, logo ficam anêmicos. E tudo isso para que a carne fique mais macia. Em muitos casos, os bovinos não conseguem se movimentar porque estão muito fracos. Então são arrastados.

Há situações em que as vacas param de produzir leite porque estão de luto por causa dos seus bezerros. Já encontrei vacas com seus novilhos mortos em uma fazenda e fiquei espantado ao ver que elas mugiam por dias, chamando seus filhos, e ficavam sem comer e beber.

As outras vacas davam suporte, pastavam com elas. E as vacas fazem isso porque se importam com os seus, ficam de luto. Nós acreditamos que somos únicos porque somos racionais. Claro, nós também somos emocionais, mas vacas também são. Há uma grande ligação entre elas.”

Trechos de um diálogo do documentário Peaceable Kingdom, da estadunidense Jenny Stein, lançado em 2004.

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