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“Juro que pensei que você fosse um velho”
Pesquisei sobre a história de Paranavaí, do Noroeste do Paraná e do Norte Novíssimo do Paraná com certa assiduidade por dez anos, mas desde 2016, quando comecei a editar o meu primeiro livro de história regional, decidi desacelerar e priorizar outros assuntos. Hoje, participando do evento Cidadania Paraná na Unipar, a convite do Sesc, para falar um pouquinho sobre história local e regional, assim que terminei, ouvi:
— Já ouvi falar muito de você David Arioch, há anos acompanho o seu trabalho, mas juro que pensei que você fosse um velho.
A morte de João Gilberto Noll, uma triste surpresa
Fiquei sabendo agora do falecimento do escritor gaúcho João Gilberto Noll, vencedor de cinco Jabutis. Me recordo que em setembro de 2012, quando eu ainda estava na casa dos 20, logo mais inseguro do que hoje em dia, tive a oportunidade de mediar um bate-papo com ele e com o Luís Henrique Pellanda, de Curitiba, durante a Semana Literária do Sesc.
Foi uma noite inesquecível; um bate-papo que se estendeu por quase duas horas, e depois continuou na mesa de uma pizzaria em frente ao Grande Hotel, onde ele pediu uma latinha de Coca Zero. Reservado, sua conversa era pausada, reflexiva e bastante ponderada. Por outro lado, como autor era um libertador, arrebatador; sempre semeando um espírito com ânsia pela liberdade. Penso que sua força literária era a sua coragem existencial. Quem sabe, até como reação de uma severa formação religiosa que lhe impôs tantos limites.
Ainda me recordo de sua voz morna durante a leitura ao público. Persistia uma serenidade que se misturava à ansiedade de seus personagens imersos em anseios e situações que escapavam à imaginação do público. Acredito que ainda tenho o áudio do nosso bate-papo. Se eu encontrar, e espero encontrar, vou tentar transformar em alguma coisa que compense a leitura.
Palestra sobre o papel do negro no cinema
Fui convidado pelo Sesc para dar uma palestra para professores hoje à tarde no Seminário Multidisciplinar – Diversidade Étnico Racial, Indígena e Cigana no Núcleo Regional de Educação de Paranavaí. Fazia mais de dois anos que eu não dava uma palestra sobre cinema, e hoje fui até lá para falar sobre o papel do negro no cinema brasileiro ao longo da história. Foi uma experiência muito rica e interessante. Me trouxe muitas lembranças dos cinco anos em que ajudei a coordenar o Projeto Mais Cinema. Uma vez por semana, após a exibição dos filmes, eu fazia uma análise e discutia a obra com o público.
Sobre a 35ª Semana Literária do Sesc em Paranavaí
Nos últimos cinco anos, mediei bate-papo com mais de 20 escritores de renome nacional e internacional na 35ª Semana Literária do Sesc e no projeto Autores e Ideias, também do Sesc. Aprendi muito e pretendo escrever sobre a experiência, mas sobre ontem, com a escritora Luci Collin e o escritor João Carrascoza, preciso dizer agora: uma das melhores experiências da minha vida.
Poucas vezes encontrei tanta simplicidade e simpatia em pessoas com tanto conhecimento literário e sabedoria sobre a vida. Eles mereciam um público de no mínimo milhares de pessoas. Definitivamente há escritores que te emocionam ao mostrar que são tão bons autores quanto seres humanos. Em poucas horas, e graças a eles, adquiri um conhecimento equivalente a anos de vida. Eu já conhecia algumas obras dos dois, mas agora quero ler tudo que produziram.
Por outro lado, me entristece reconhecer o desinteresse de tanta gente em participar de eventos culturais como a Semana Literária do Sesc. Inacreditável como professores, professoras, pessoas que se dizem leitoras assíduas, pouco se importam em participar de um intercâmbio cultural tão rico e raro como o de ontem, que trouxe a Paranavaí a Luci Collin e o João Carrascoza. A verdade é que as universidades e faculdades locais pouco se importam em prestigiar e contribuir de alguma forma. E na mesma esteira, muitos de seus profissionais e alunos.
O mais curioso é que há muitas pessoas que não participam desses eventos, mas se queixam do desinteresse pela leitura no Brasil, da falta de incentivo à circulação da literatura. Bom, mas não tenho dúvida alguma de que o azar é deles. E ainda bem que podemos contar com pessoas conscientes, incentivadoras e exemplares como a professora Rose Freire que levou um bom público para a Semana Literária na segunda-feira e ontem.
Quatro anos de parceria com o Sesc
Alguns escritores me marcaram mais do que outros, mas sem dúvida todos deram sua contribuição
Ontem completou quatro anos desde que o Sesc Paranavaí me convidou pela primeira vez para mediar um bate-papo com alguns dos mais importantes autores da literatura brasileira contemporânea. Desde então, conheci muita gente, tanto na Semana Literária quanto no projeto Autores e Ideias. Alguns escritores me marcaram mais do que outros, mas sem dúvida todos deram sua contribuição. Ouso até dizer que o que aprendo com esses autores me garante o equivalente a anos de conhecimento.
Eles se doam no que fazem, e estão sempre lá bem dispostos, independente se o público é grande ou pequeno; se a maioria conhece ou desconhece suas obras. O mais importante é esparramá-la, disseminá-la. Com naturalidade, descortinam aquela ideia obsoleta, anacrônica, de que existe uma barreira entre o escritor e o leitor. Não me considero e nunca me considerei um mediador. Sou na realidade um aprendiz que tem boas oportunidades de conhecer pessoas sensíveis que fazem a diferença na cultura brasileira e que também contribuem para a minha formação humana, mesmo que o tempo seja curto para tantas lições.
Às vezes me empolgo tanto que deixo os convidados irem além do tempo estabelecido pela organização do evento – daí recebo algumas broncas e fica tudo bem. E sempre que posso, e não esqueço também, carrego meu gravador. Claro, porque no fundo o que melhor me define é a palavra ouvinte. E sem dúvida, sou muito grato ao Sesc pelo belo e aguerrido trabalho de estimular o interesse pela cultura em sua miríade de formas, mesmo que seus eventos ainda sejam pouco valorizados pela população.
Na foto da artista Gislaine Pinheiro – eu, a paranaense Bárbara Lia e o carioca Ricardo Chacal no bate-papo de ontem. Fiquei muito feliz de reencontrar o Chacal e conhecer a Bárbara Lia. São duas figuras ímpares que se destacam por acreditar na verdadeira arte, aquela que luta para sobreviver independente das exigências do mercado e da indústria cultural. Ou seja, duas forças de resistência na contramão de um mundo veloz que tenta nos moldar de acordo com a sociedade de consumo e sua obsolescência programada.
“A recepção cultural começa no feto”
Domingos Pellegrini fala sobre o poder da oralidade e da leitura na construção da identidade humana
Autor de inúmeras obras literárias premiadas, entre as quais “O Caso da Chácara Chão” e “O Homem Vermelho” que venceram o Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, o londrinense Domingos Pellegrini é o escritor de todos os públicos, pois seus livros, sejam infanto-juvenis ou romances, falam com a humanidade, independente de estar representada numa figura infantil ou adulta.
Pellegrini já trabalhou como jornalista, publicitário e professor universitário, porém, há quinze anos, mesmo sem ter certeza do que o futuro lhe reservava, tomou a decisão de se dedicar ao que admite ser um dom, a criação de histórias que nascem regionais e se universalizam, brindando o leitor com um sentimento de pertencimento. Um exemplo é a obra “Terra Vermelha” que gira em torno de uma família de colonos pés-vermelhos de Londrina, numa ficção embutida de realidade que carregada de humanismo sensibiliza e desperta identificação até mesmo num camponês de uma vila islandesa.
Detentor de um estilo de escrever peculiar, claro e simplificado, mas que sempre propõe profusão reflexiva, uma subjetiva influência de escritores como o estadunidense Ernest Hemingway e os brasileiros Graciliano Ramos e Manuel Bandeira, Domingos Pellegrini é na atualidade um dos escritores mais respeitados e bem sucedidos do Brasil. Em outubro, o autor lança sua mais recente obra: “Herança de Maria”.
No dia 28 de abril, quinta-feira, às 15h, tive a oportunidade de entrevistar Pellegrini no Grande Hotel, na Rua Getúlio Vargas, em Paranavaí. O escritor se preparava para participar à noite do projeto “Autores e Ideias”, do Serviço Social do Comércio (Sesc), na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, onde dividiu o palco com a mineira Angela Lago, renomada escritora e ilustradora de literatura infantil.
Espontâneo e bem-humorado, Domingos Pellegrini transformou a entrevista em um diálogo informal com caráter de bate-papo, e tudo foi acompanhado pelo fotógrafo, artista e diretor cultural da Fundação Cultural de Paranavaí, Amauri Martineli, e também pelo artista e técnico em atividade do Sesc, Dorival Torrente. Pellegrini falou sobre muitos assuntos ao longo de mais de uma hora, como a importância da contação de histórias na infância, internet, literatura e democratização do ensino. Confira alguns trechos logo abaixo.
Levando em conta que a sua vinda a Paranavaí foi motivada por uma discussão sobre a contação de histórias e a literatura infanto-juvenil, como o senhor avalia a relação entre a descoberta do mundo na infância e a oralidade?
Eu vejo que a história oral para crianças é muito importante porque a recepção cultural começa no feto. A partir do nascimento, uma simples cantiga de ninar já começa a ditar nossas emoções e comportamentos. Com uma música de rock a criança se agita e com uma música clássica ela se acalma. Com base nisso, percebemos que a voz humana encanta e nada substitui isso, é o poder da oralidade. Quer se sentir bem? Pegue uma criança e leia para ela, isso afasta qualquer emoção ou sentimento negativo.
Partindo da ficção literária, até que ponto a oralidade contribui no processo civilizatório?
A própria contação de história é uma ação civilizatória. Quando a criança ouve um conto, nasce um sentimento de pertencimento. Ela se sente parte de uma sociedade, reconhece a sua própria língua e depois percebe que é capaz de inventar e criar. A fogueira em volta da qual as pessoas se reuniam no passado para contar histórias ainda existe, é o abajour de hoje. Cada vez mais o mundo precisa de contadores. Se o Wellington [Menezes de Oliveira], que cometeu aquele massacre no Rio de Janeiro, tivesse alguém que lhe contasse histórias, ele não se tornaria uma pessoa tão solitária, nem cometeria aquele ato.
Em um contexto sócio-cultural, o que representa o contador de histórias nos dias de hoje?
Hoje em dia, ser contador de histórias é uma profissão que exige imaginação, talento e ética, pois até os quatro anos de idade tudo que a criança absorve é a partir da oralidade. Quando ela pisca é como se virasse a página de um livro mental em um clima de cumplicidade e magia criado a partir da voz. Quanto mais uma criança ouve histórias, mais os seres imaginários são absorvidos como parte da família humana. Pelo fato de sermos os únicos animais que fazem arte de forma intencional é importante despertar logo cedo a identificação com a humanidade.
A atual literatura infanto-juvenil desempenha bem a missão de proporcionar a criança uma leitura que a permita refletir sobre a sua realidade, o mundo que a cerca?
Sim. Claro que há autores que escrevem apenas para divertir, no entanto, há muitos outros que tratam da ética. Não sou moralista, mas acredito na humanidade e na idéia de que as pessoas podem se tornar melhores. Sou da geração que tinha horizontes bem rurais em 1950, quando as pessoas viviam em um mundo limitado pelas crendices. Tudo isso mudou. O Brasil passa por uma revolução cultural que muitos outros países viveram há 150 anos, como Alemanha, Inglaterra, França e Japão. Está havendo a democratização do ensino. Temos mais pessoas alfabetizadas, mais leitores e ao contrário de antigamente acabou-se aquele pensamento de que você deveria se tornar doutor ou então não seria nada. Hoje, temos muito mais gente fazendo curso superior. Além disso, há alternativas como os cursos técnicos.
Com a popularização da internet e também das publicações virtuais, como incentivar o interesse dos mais jovens pelo livro impresso?
Eu não vejo conflito entre a internet, o livro e outras formas primitivas de fruição com as formas mais atuais, muito pelo contrário, são meios de comunicação que se complementam. Hoje, um pai pode contar uma história para o filho dormir mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, por meio de uma webcam. É uma conquista que só é possível graças à tecnologia, à internet.
A literatura infanto-juvenil brasileira está se renovando ou se restringe mais às adaptações e readaptações de obras do passado?
Com certeza, se renova. O Brasil passa por uma revolução tecnológica e cultural que inclui a literatura infanto-juvenil. Há uma grande preocupação em se transmitir cada vez mais valores a partir de uma arte feita com beleza, criatividade, amor, imaginação e ética.
Quando o senhor descobriu o talento de escrever para públicos de todas as faixas etárias?
Decidi escrever um livro sobre uma árvore que dava dinheiro e percebi que não tinha muito a ver com o público adulto, então me direcionei ao público infanto-juvenil. “A Árvore que Dava Dinheiro”, lançado em 1981, tem enredos fantásticos em que uso metáforas para abordar problemas como inflação e estagnação econômica. A história ensina que para se conseguir dinheiro é importante trabalhar.
A autobiografia é uma de suas características mais marcantes, de que maneira isso influi na concepção de uma obra?
Comecei a escrever poemas aos 14 anos e desde então só escrevo sobre aquilo que conheço, vejo e vivo. Na obra “Terra Vermelha”, por exemplo, eu falo sobre a minha terra. Prefiro sempre mostrar as características de um personagem por meio da ação e não de adjetivos. Gosto de uma escrita mais econômica. Ainda assim o que eu faço é criar um mundo de imaginação, onde misturo realidade e ficção.
Há previsão de lançamento de alguma obra ainda este ano?
Meu último lançamento foi “Professor Milionário”, em 2009, que fala de um professor que venceu na loteria e usou o dinheiro para investir na escola em vez de se entregar ao consumismo. Mas até outubro será lançado pela Editora Leya, de Portugal, uma das maiores do mundo, o meu livro “Herança de Maria”, uma homenagem a minha mãe, uma mulher guerreira, a frente do seu tempo, que tinha autonomia em suas decisões. A obra será 30% ficção e 70% realidade.
Quais as lembranças das inúmeras vezes em que participou dos eventos culturais de Paranavaí?
Vir a Paranavaí é sempre uma experiência muito interessante. Aqui tem gente interessada em discutir, falar abertamente sobre arte. De fato, há um quociente cultural mais denso do que em outras cidades. Percebo, e não é de hoje, que Paranavaí tem uma tradição de atividades culturais. Lembro de quando estive aqui com a palestra-recital “Saques e Toques” [“Poesia para Ver, Ouvir, Sentir e Pensar” – durante o Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) de 2009] e a participação do público me surpreendeu. Naquela ocasião, abordei temas diversos como ecologia, relações humanas e cidadania.
Curiosidade
O escritor Domingos Pellegrini nasceu em 23 de julho de 1949 em Londrina, no Norte Central Paranaense.
Carnavais do passado deixaram saudade
Época de carnaval é marcada pela lembrança dos grupos que fazem parte da história de Paranavaí
Em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, os carnavais da década de 1970 e 1980, marcados pelos grupos Escola do Biga, Clube da Binidita e Bloco dos Sujos, se caracterizaram como ícones da liberdade. A magia emblemática que deu origem aos ritos carnavalescos se desvaneceu no final dos anos 1990, mas ainda subsiste no ideário de quem viveu esse período. Hoje, prevalece um saudosismo rememorado nos balcões de bares.
Célebre, o ex-jogador e ex-técnico do Atlético Clube Paranavaí (ACP), o falecido Chico Venâncio, conhecido como Biga, é o responsável pelo surgimento do carnaval de rua local. “Em 1975, ele trouxe para a nossa cidade uma realidade conhecida apenas por quem passou pelos grandes centros”, conta o comerciante e ex-integrante do extinto Clube da Binidita, Luís Carlos do Amaral, em referência ao surgimento da Escola do Biga.
Segundo o técnico em atividades do Serviço Social do Comércio (Sesc) e ex-coordenador do extinto Bloco dos Sujos, Dorival Torrente, Biga corria atrás de tudo sozinho, representando magistralmente o ideal de uma época. “Naqueles anos, o pessoal não simplesmente curtia o carnaval, mas vivia. Passavam 12 meses pensando nisso”, comenta Amaral, exemplo pródigo da realidade.
O comerciante foi um membro importante do Clube da Binidita, o segundo grupo carnavalesco da cidade, fundado em 1977, com origem no salão. Somente após dez anos de festividades no Clube Campestre e nas ruas é que houve uma queda no número de participantes da “Binidita”. “Nos primeiros anos, quase todo mundo era solteiro ou só namorava, então a presença era garantida. Já em 1987, muitos estavam casados e se tornaram pais de família”, lembra Luís Carlos.
O terceiro grupo a entrar para a história do carnaval de Paranavaí foi o irreverente Bloco dos Sujos, criado em 1981. Com cunho social e político, os participantes aproveitavam o período de folia para expressar as insatisfações da época. “Era tudo muito divertido. Tinha homem travestido de mulher e vice-versa. Não esqueço até hoje que fizeram um camelo em tamanho original e uma pessoa representando o Saddam Hussein, além de outros personagens políticos”, destaca Dorival Torrente.
O Bloco dos Sujos foi o último dos três a chegar ao fim, encerrando atividades em 1999, quando o Carnaval de rua local perdeu sua importância junto à população. “Desapareceu a magia de antigamente, pelo menos no interior do Paraná. Vai ser sempre uma época que deixa saudades porque as coisas não voltam”, desabafa Luís Carlos do Amaral.
Torrente concorda e atribui a desvalorização do carnaval a um processo de desvirtuação e individualismo gerado pela tecnologia. “A juventude não valoriza mais o congraçamento social. As pessoas preferem o isolamento diante da TV, aparelhos de DVD e computadores”, lamenta.
Hoje em dia, Torrente, Amaral e outros ex-integrantes dos três grupos ainda relembram o passado quando se reúnem diante de um balcão. “O bar é o local ideal para parir novas ideias e relembrar carnavais de antigamente”, avalia Dorival Torrente.
Auge do carnaval de rua foi na década de 1980
Na década de 1960, os clubes de Paranavaí estavam sempre lotados de foliões no mês de fevereiro. Os maiores exemplos eram o Paranavaí Tênis Clube, Harmonia Country Cub, Clube Campestre e Salão Paroquial da Igreja São Sebastião. “Nessa época, o pau comia”, diz, às gargalhadas, o técnico em atividades do Serviço Social do Comércio (Sesc) e ex-coordenador do extinto Bloco dos Sujos, Dorival Torrente.
O carnaval de rua local teve seu auge na década de 1980, quando a folia era baseada em canções como “Mamãe eu quero”, “Você pensa que cachaça é água?”, “Meu coração é corinthiano” e “Atirei o pau no gato”. As marchinhas compostas na década de 1950 eram determinantes e ditavam o carnaval paranavaiense. “Me recordo das canções do Moacyr Franco e do Sílvio Santos. Eram como símbolos. Bem diferente disso que tocam hoje em dia”, frisa Torrente. A opinião é partilhada pelo comerciante e ex-integrante do extinto Clube da Binidita, Luís Carlos do Amaral que considera inadequado celebrar o carnaval com outros gêneros musicais.
Até 1999, o tradicional carnaval de rua de Paranavaí tinha como ponto de partida a Avenida Distrito Federal, em frente ao Posto São José. “A gente descia até onde está localizado o atual Bar Toyokawa. O movimento nas ruas era imenso, havia muita gente”, explica Torrente. O evento começava às 20h30 e terminava por volta das 23h. Amaral revela que no Clube Campestre reuniam até 20 blocos carnavalescos.
Clube da Binidita teve quase 300 integrantes
De acordo com o comerciante Luís Carlos do Amaral, o Clube da Binidita chegou a ter aproximadamente 300 integrantes quando se tornou uma escola de samba. “Esse foi o número de componentes por volta de 1986, quando tínhamos até samba-enredo e resolvemos homenagear o radialista José de Matos, falecido em um acidente automobilístico”, conta.
À época, a conquista de recursos era feita junto ao comércio local que contribuía e muito com o Clube da Binidita. “Foi mais difícil quando resolvemos levar o carnaval do salão para as ruas. Tivemos de montar uma estrutura com instrumentos e roupas”, relata Amaral, mas admite que o esforço valeu a pena.
Com base nas escolas dos grandes centros, o Clube da Binidita tinha samba-enredo, puxador de samba (o próprio Amaral), abre-alas, 60 componentes na bateria, ala das baianas, das crianças e da velha guarda. “Seguimos os moldes do que vimos em São Paulo e Rio de Janeiro. Queríamos fazer bonito perto da Escola do Biga”, revela Luís Carlos, referindo-se ao primeiro grupo carnavalesco da cidade.
O técnico em atividades do Serviço Social do Comércio (Sesc) e ex-coordenador do extinto Bloco dos Sujos, Dorival Torrente, admite ter sido um fã incondicional do Clube da Binidita e afirma que a maior qualidade dos integrantes era o respeito mútuo. “Sempre chegavam a um denominador comum quando queriam decidir algo. Nunca havia briga. Era tudo extremamente organizado”, comenta.
Quando o Clube da Binidita chegou ao fim, Amaral e outros ex-integrantes resolveram fundar a Ala do Cachorro Louco. “Apenas os mais jovens da época participaram. Ficamos alguns anos, só que não era a mesma coisa. O pessoal mais antigo já tinha se desligado do carnaval”, garante o comerciante.
Saiba mais
Origem do Clube da Binidita – Em 1977, Jacaré e Mineiro estavam em um bar próximo à Praça da Xícara. Era sábado, e a pinga com limão era sagrada para os dois no final de semana. Então pediram a birita e em seguida verteram um pouquinho no chão. Quando questionados sobre o ato, disseram que era para São Benedito. Então alguém perguntou: “Por que não Binidita?” Em seguida, batizaram como Clube da Binidita o bloco formado principalmente por apreciadores da cachacinha.
Se estivesse na ativa, o Clube da Binidita completaria 32 anos.
Durante o carnaval de rua da década de 1980, comerciantes aproveitavam a oportunidade parar criar “camarotes” improvisados, com o objetivo de agregar mais renda. Normalmente reservavam espaços privilegiados.
No final da década de 1980, a bateria da Binidita fez uma parceria com o Bloco dos Sujos, dando sustentação musical para o desfile. Mas no final da década de 1990 alguns participantes do Bloco dos Sujos fizeram brincadeiras pejorativas, surgindo embate com a proposta inicial do grupo. Assim a coordenadoria do bloco optou por encerrar as atividades.
O Bloco dos Sujos era conhecido como uma fusão de Clube da Binidita com Escola do Biga. Na década de 1980, os três grupos atraíam pelo menos 12 mil pessoas para as ruas de Paranavaí, uma quantidade superior ao público que prestigiava o desfile de 7 de setembro.
Emblemáticos no carnaval de rua do Bloco dos Sujos eram o bumba-meu-boi e a boneca nega maluca de Dorival Torrente.
Em uma edição do Carnaval de Rua, Lourival Félix Carneiro, que posteriormente se tornaria prefeito de São João do Caiuá, provocou comoção popular ao participar do Bloco dos Sujos com um pênis de três metros usando uma camisinha. A proposta era educativa e alertava para os riscos do HIV.
O ritual do Clube da Binidita antes de se apresentar em público era se concentrar na residência de alguém para tomar caipirinha.
O Clube da Binidita ganhava todos os anos o prêmio disputado por todos os blocos que participavam do carnaval no Clube Campestre.
O folião Luís Carlos do Amaral não costumava entrar em férias. Aproveitava para folgar alguns dias no período do carnaval.
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