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Escrever ou falar “difícil” nem sempre é um bom caminho
Não é bonito escrever ou falar “difícil” se isso é usado como uma forma de “autoafirmação léxica”. Quem complica demais, corre o risco de não ser compreendido, de ser verborrágico, ou nem mesmo lido. Claro, é legal brincar com as palavras, mostrar conhecimento da linguagem, da língua mater, mas acho que se exageramos, ou fugimos da naturalidade, nos tornamos pretensiosos e podemos parecer arrogantes; ou pior, incompreendidos e enfadonhos. Tem uma reflexão do Bukowski sobre isso que diz mais ou menos assim:
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Um exemplo de simplicidade e sensibilidade
Fui na Vila Alta conversar com uma senhora que teve o marido assassinado com um tiro na cabeça em um bar. Ele foi usado como escudo em um acerto de contas entre jovens envolvidos com o narcotráfico. Me surpreendeu a simplicidade dela, uma pessoa de fala mansa que não sente raiva nem ódio de ninguém, mesmo depois de uma tragédia. Me disse que gostaria apenas que as pessoas parassem de se matar em vez de destruir a própria vida e a dos outros.
A poesia existencial de uma senhora de 84 anos
Hoje, assisti um pequeno vídeo sobre uma senhora de 84 anos que nunca saiu do vilarejo onde nasceu. Ela transmite alegria, o que pode ser transitória ou não, satisfação e simplicidade, mas mais do que isso – equilíbrio, lucidez e harmonia.
Acredito que ela ama a vida porque encontrou a si mesma há muito tempo, e desde então não se deixou se perder. Achei bonito e poético, porque há tantas pessoas perdidas, que incessantemente buscam a si mesmas em lugares longínquos, num esforço sobressaltado para encontrar o que reside dentro delas.
Simplicidade e doçura
Hoje, a convite da professora Rosana De Carvalho Martineli Dos Santos e da pedagoga Laiz Leite Ribeiro, passei a manhã no Colégio Estadual Flauzina Dias Viegas, falando sobre algumas histórias de Paranavaí que vão integrar o meu livro “Areia Branca”.
Também me perguntaram sobre os meus contos veganos e conversamos a respeito da minha relação de amor e respeito em relação os animais, iniciada na infância. Estive em três turmas diferentes – de 6ª e 7ª série.
Assim que deixei a última turma, por volta das 11h20, uma garotinha, com a mais tenra expressão de alegria, correu em minha direção na saída da sala e me entregou o presente que aparece na foto. Dei-lhe um abraço e ela voltou para a sala sorrindo. Simplicidade e doçura foram as palavras que me vieram à mente.
Jessé, um homem motivado pela simplicidade
Perambulando pelas ruas de Paranavaí, o andarilho já evitou furtos e roubos
Dias atrás, passando pela Rua Pernambuco no início da noite, vi um rapaz com uma réplica de uma cobra de mais de dois metros enrolada no pescoço. Sorridente, se apresentou como Jessé Piedade, de 39 anos, e explicou que a confeccionou usando apenas um pedaço de pano, espuma, agulha e linha. Intrigado, sugeri marcarmos um dia para que me contasse sua história.
Numa quinta-feira, por volta das 16h, a secretária da Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade, Elza Pavão, me liga avisando que Jessé está me esperando. Assim que chego lá, o encontro apreensivo e sentado diante de um pé de jaca. Quando tiro o gravador do bolso, ele pergunta: “Ué, mas você vai gravar mesmo? Vai sair uma reportagem comigo?”, questiona com olhos intumescidos.
Após a confirmação, o rapaz dá uma risada expansiva ao mesmo tempo em que as folhas longas e verdes da jaqueira se movem com a chegada de uma brisa pós-chuva. “Sou de São Paulo, capital. Comecei a trabalhar como motorista com 18 anos. Fiquei nesse serviço por 17 anos atendendo a um advogado. Fazia tudo que precisava, até que chegou um momento em que ele não teve mais condições de continuar me pagando. Apesar disso, sempre foi um excelente amigo. Era como um pai pra mim”, conta.
Perdido e desinteressado em continuar em São Paulo, Jessé se mudou para Paranavaí, no Noroeste do Paraná, há três anos, onde esteve várias vezes desde a década de 1990 com o ex-patrão. “Vim pra cá porque gostei daqui. Não tenho do que reclamar da cidade. O povo é muito humano. O que mais tenho aqui são amigos, inimigos não”, garante o paulistano com sotaque curitibano.
Com a carteira nacional de habilitação (CNH) vencida há mais de cinco anos, o rapaz não esconde o saudosismo da época em que dirigia até caminhão. O último emprego antes de vir ao Paraná foi no Hospital Regional de Itapetininga, no interior paulista, onde atuou como motorista, fiscal e vigia por dois anos e oito meses. Mas a vida de Jessé mudou anos antes. “Minha mulher tinha um boteco e virei um ‘chapéu velho’. Comecei a beber dentro do relacionamento e me entreguei ao alcoolismo após a separação em 2005. Ela não bebia. Só eu mesmo que fiquei assim”, confidencia.
Mais tarde, Jessé Piedade recebeu um convite para trabalhar com montagens de palco e de cenário de shows, chegando a coordenar equipes para atender a banda Capital Inicial e sertanejos como Daniel e Rio Negro e Solimões. “Todo mundo muito legal. Eu aparecia no local cinco dias antes do show e contratava pelo menos 15 peões pra realizar o serviço. A gente também fazia compras, decorava o camarim. Trabalhei com muitos artistas. Era freelance, né?”, declara.
Jessé atuou em Avaré, Itapetininga e Lençóis Paulistas, a serviço de grandes produtores de espetáculos como Marcos Mioto e Marcos Savian. “Sempre me pagaram certinho”, assegura o rapaz que não se esquece de quando achou no camarim uma bolsa preta com R$ 72 mil após um show em Avaré. “Estava chovendo muito naquela madrugada. Entrei lá pra fazer a limpeza e recolher as sobras de comida. Vi aquele monte de dinheiro e me deu até tremedeira. Em seguida, avisei a dupla Rio Negro e Solimões e eles passaram lá pra buscar. Meus companheiros queriam me matar. Me deram um valor lá e alguns agasalhos. Até se me dessem R$ 1 eu ficaria feliz. Não sou ganancioso”, revela com tranquilidade.
Lucrando R$ 4 mil por mês, Jessé gastava mais de um terço do que ganhava com bebidas. Sozinho, consumia uma garrafa de whisky por noite. Já sofrendo em decorrência de cólicas renais, quase morreu após uma convulsão. “No show do Fernando e Sorocaba tomei uns goles e dormi no ônibus. Como o palco era uma concha, deu um vento forte que quase derrubou tudo. O povo saiu me procurando. No outro dia cedo, achei whisky e continuei bebendo”, relata.
Como os problemas foram se agravando, os produtores avisaram que o rapaz não poderia continuar sendo negligente no trabalho. Então Jessé abandonou a função, já que era impossível se manter sóbrio com tantas bebidas ao alcance das mãos. “Dava pra ganhar bem, o problema era que eu não tinha controle sobre mim e estava perdendo minha filha por causa disso”, justifica.
Depois de dois anos em Paranavaí, onde também trabalhou para um advogado que o ajudou bastante, Jessé começou a ir para o campo colher laranjas e ensacá-las para revender atrás do Posto Panorama, na Rua Maria Anchieta de Morais. “Até hoje faço isso quando surge alguma oportunidade. Tenho um parceiro que me chama, daí dividimos as despesas. Mas, cara, vou te falar uma coisa. No meio dos laranjais é comum encontrar cobra, só que eu não tenho medo. Na verdade, elas que têm que ter medo de mim”, brinca rindo.
Atualmente, Jessé se alimenta apenas uma vez por dia – no horário de almoço. Quando chove acaba passando fome por não ter coragem de pedir esmola. Além de catador e vendedor de laranjas, entrega panfletos e faz capina de terrenos. “Tenho enxada e rastelo. Sou pau pra toda obra. Queria ter um carrinho pra vender frutas como laranja, abacaxi, mexerica e limão. São mais fáceis de se comercializar”, comenta.
Em Paranavaí, Jessé conheceu o casal Dirce e Ailton que o ajudou conseguindo uma vaga em uma clínica para alcoólatras em Nova Aliança do Ivaí, administrada pelo frei Ivani Ribeiro Pinheiro. Após quase um mês de internamento, um dia o rapaz foi enviado a Paranavaí para passar por uma reavaliação médica ao lado da delegacia. “A perua me levou lá, daí o médico disse que eu estava com sérios problemas no fígado e na próstata. Fiquei nervoso e fugi. Saíram atrás de mim e me acharam na rua. Eu disse que não iria voltar porque não consigo ficar confinado. Apesar disso, sou muito grato a dona Dirce, uma pessoa muito boa que me ajudou demais”, admite.
Depois de algum tempo, Jessé tira do bolso várias cartelas de diazepam. Segundo o rapaz, é impossível dormir sem consumir o sedativo. Junto, tomava clonazepam (rivotril), mas interrompeu o uso porque o calmante tarja preta agravou os problemas no seu fígado. “Já perdi 18 quilos. Falam que tenho um tumor que dificulta a digestão, por isso vomito todo dia. Cara, hoje estou numa situação muito difícil”, reconhece levando as mãos à barriga saliente que contrasta com a magreza e o aspecto anêmico.
Durante a entrevista, sinto cheiro intenso de álcool e não resisto em perguntar se Jessé continua bebendo. O rapaz diz que consome apenas um copo cheio de vinho barato após o almoço. Levando em conta que começamos a conversar depois das 16h é difícil acreditar na resposta. “Tá certo! Vou falar a verdade. Quando fico nervoso tomo até um litro brincando. Só que juro que comecei a beber menos tem dois anos”, alega.
Jessé Piedade define a própria vida como complicada. Andando sempre sozinho, muitas vezes sai às ruas sem objetivo ou destino. Quando não consegue nenhum “bico” ou se cansa de perambular, fica na rodoviária sentado em um banco assistindo TV ou conversando com os amigos taxistas. “Sempre vivi sozinho. Eu, Deus e mais ninguém. Só que rodo essa cidade toda numa boa, conheço tudo. Tem dia que vou daqui até o Sumaré pra ver se tem carga pra carregar em algum posto. Agora estou morando na rua, cada dia durmo num lugar diferente”, enfatiza. Com a experiência de quem viveu na chácara de uma tia em São Paulo, o rapaz faz planos: “Ainda quero ter um sítio pra plantar hortaliças e vendê-las na cidade. Também sonho em estudar direito.”
Enquanto os desejos não se realizam, Jessé se orgulha de ações em benefício dos vizinhos, quando vivia em um barraco improvisado em um terreno baldio na Rua Miljutin Cogej, perto do Clube dos Bancários. “Teve um rapaz que invadiu a casa de uma vizinha e levou a bicicleta. Corri atrás dele e o derrubei. Ele fugiu sem a ‘magrela’. Também impedi o furto de materiais de construção na casa de outro vizinho que estava fazendo uma reforma”, narra e sorri quando as histórias são confirmadas pelo guarda do clube.
Quem vê Jessé na rua, sempre comunicativo e brincalhão, dificilmente percebe que ele sofre de depressão. Lidando com a doença há mais de cinco anos, o rapaz confessa que às vezes sente muita raiva. “Lembro de bastante gente que se aproximou de mim quando eu estava bem. Aí desapareceram quando fiquei mal. Tem dia que só penso em dar um tiro na minha própria cabeça”, desabafa.
Casal ajudou Jessé a enfrentar o alcoolismo
Dirce e o marido Ailton conheceram Jessé Piedade na Rodoviária de Paranavaí, na Avenida Heitor de Alencar Furtado, enquanto aguardavam o ônibus. À época, o rapaz explicou seu desejo de se livrar do alcoolismo.
“Ele estava em um estado de desamparo total. Então nos responsabilizamos em ajudar, inclusive conseguimos um lar temporário para o Billy, seu cachorro. Internamos o Jessé em Nova Aliança do Ivaí. Quando saiu, vimos que ele precisava de um lugar decente pra ficar e o colocamos em uma pensão. Só não ajudamos mais porque não tínhamos condições”, relata Dirce que qualifica Jessé como uma pessoa inteligente, educada e tranquila.
O rapaz só não ficou mais tempo internado porque a necessidade de liberdade “falou mais alto” do que a vontade de se tratar. “Até hoje acompanhamos a realidade do Jessé. Torcemos muito por ele”, garante Dirce que não vela as esperanças de vê-lo saudável.
Um artesão por acaso
Um dia, Jessé Piedade teve um sonho com uma cobra e quando acordou decidiu comprar linha de crochê, agulha e tecido pra criar uma, mesmo sem jamais ter costurado coisa alguma. “Encanei, mas a Sogra [nome da cobra] não ficou muito boa. Agora vou dar uma caprichada e fazer uma Anaconda”, relata rindo, acrescentando que a cabeça do animal foi pintada para proporcionar mais realismo. A princípio, a intenção era fazer uma cobra de 12 metros.
No entanto, Jessé achou que seria impossível circular com uma réplica tão grande. “Muita gente ficou com medo quando viu de longe essa que fiz. Teve criança correndo, chorando e pedindo pra tirar foto. Quando saio sem a cobra, até os mais velhos perguntam o que fiz com ela”, conta. Depois da primeira criação, o rapaz já recebeu um pedido para confeccionar uma cascavel. “Ela vai ter um guizo de verdade, de sete anos. A senhora que encomendou quer que eu o coloque. Ela perguntou quanto cobro pelo serviço e eu disse que faço de graça”, confidencia.
“Hoje eu tô com saudade do Billy”
“Hoje eu tô com saudade do Billy. Não acho mais ele”, diz o andarilho Jessé com um olhar baixo e uma expressão de tristeza, se referindo ao seu melhor amigo, um cãozinho mestiço de dois anos que ele tirou da sarjeta da Rodoviária de Paranavaí quando o animalzinho tinha dois meses. “Um guarda lá deu dois choques na boca do bichinho com um arma. Ele quase morreu. Então cuidei dele e a gente se apegou um ao outro”, narra.
A convivência entre os dois era tão harmoniosa que Billy acordava Jessé todos os dias às 5h30 para trabalhar. “Ele tomava o café dele numa padaria do Jardim Simone e voltava pra ver se eu tinha me levantado. Se eu não estivesse em pé, ele latia até eu pular do colchão”, lembra. Bem querido pela população do bairro, Billy ganhava café da manhã todos os dias e atendimento quinzenal em um pet shop. “Um dia eu fui lá e falei: ‘Engraçado, né? Vocês dão tudo pro cachorro, mas ninguém faz nada pro pai dele aqui’”, revela Jessé às gargalhadas.
O andarilho e o cãozinho não se afastavam nem quando o andarilho precisava ir ao mercado. Billy sempre esperava Jessé do lado de fora, deitado em um tapete. “Um dia ele sumiu e fiquei tão nervoso que me deu um febrão. Algum tempo depois, fui ao Ginásio Lacerdinha ver um jogo e de longe vi o Billy. Daí gritei: ‘Billy, Billy! Filho da puta!’ E ele se esticou todo e veio correndo pra cima de mim, berrando e rolando no chão”, destaca.
O reencontro durou pouco tempo. Billy sumiu no mesmo dia e reapareceu num domingo na feira livre da Rua Pará. Enquanto caminhava próximo a uma banca de alface, Jessé foi surpreendido por um salto de Billy. “No dia seguinte, saí pra vender laranja e ele sumiu outra vez. Me contaram que um motorista de um Corsa sedan prata pegou ele. Mas tenho certeza que quando eu sair pra entregar panfleto ele vai voltar na hora quando sentir meu cheiro”, acredita.
“Fiquei 20 dias sozinho no mato quando meu pai morreu”
Ao falar do passado, as melhores lembranças de Jessé Piedade remetem à infância, principalmente o relacionamento com o pai e o avô. “Meu avô era uma pessoa fantástica. Fiz datilografia com 11 anos e ele me deu uma máquina. Era daquela Olivetti pequena. Depois me deu bicicleta, mobilete. O dia mais feliz da minha vida foi quando pedi pra ir ao Play Center. Eles disseram não e fiquei chateado, mas depois me levaram. Isso foi em 1987. Só que infelizmente meu avô morreu por causa de um [acidente vascular cerebral] AVC”, informa.
Hoje, de todos os familiares, Jessé tem contato esporádico apenas com a filha e a irmã. Seu pai, que era pastor, faleceu minutos após um culto, quando estava dirigindo um automóvel, aguardando o sinal verde do semáforo. “Teve um infarto fulminante. Foi tão impactante que não me deixaram ver. Cara, tenho uma saudade do meu pai que você nem imagina”, confessa com olhos marejados. Quando recebeu a notícia, o rapaz sumiu de casa e ficou 20 dias sozinho, dormindo em barraca numa área de mata fechada.
“Mais tarde, minha mãe casou com uma pessoa que não gostava de mim e não tenho notícias dela há mais de dez anos”, assinala e acrescenta que apesar da distância tem um bom relacionamento com a filha Raíne Vitória, que mora em São Paulo, e com a ex-mulher. “Nos damos muito bem, só que minha filha briga muito comigo. Quer que eu mude de vida o mais rápido possível. Ela fez 15 anos no último dia 15 de novembro”, pontua sorridente.
Água dos Esquecidos
“Imaginava um ambiente digno do realismo mágico, onde as pessoas pareciam dispersas no tempo”
Há muito tempo, existiu uma colônia rural entre Alto Paraná e Paranavaí que ficou conhecida como Água dos Esquecidos. Ainda na infância me perguntei a origem desse nome que mais tarde se perdeu na minha memória, assim como estradas, rotas e trilhas de um passado que conheci através de relatos das gerações anteriores.
Quando criança até sonhava com a Água dos Esquecidos; a idealizava. Já adulto, imaginava um ambiente digno do realismo mágico, onde as pessoas pareciam dispersas no tempo e no espaço, alheias ao mundo civilizado e ao progresso, reféns da ingenuidade e do desconhecimento benevolente. Após muitos anos a curiosidade voltou à tona com a chegada de duas tias-avós e a narração de histórias sobre a vida campesina nos anos 1950. Fiquei tão instigado que quis procurar o tão falado lugar onde frondosas árvores carregadas de lichia se inclinam sobre as grandes e velhas moradas de madeira, ornamentando fachadas e janelas com tons e matizes de amarelo, laranja e vermelho, além de um bálsamo castiço e mélico.
Então saí de casa em um domingo depois do almoço. No incerto caminho para a Água dos Esquecidos havia muita lama, poças d’água com mais de meio metro de altura e árvores tombadas pela intempérie da semana anterior. “Sei não, sinhô, mas pra gente isso é sortilégio. Óia a marca no tronco d’árve, é serviço pra num deixa ninguém passa”, disse um lavrador das imediações, justificando a queda de uma árvore aparentemente saudável com algumas grandes inscrições no tronco. O rapaz de fala frugal, que talvez por costume, ansiedade ou timidez tenha o hábito de suprimir sílabas, trajava uma velha camiseta de flanela, uma calça de estopa e um par de sandálias feitas de vegetais. O agradeci, me despedi e fiz o contorno pelo carreador de uma propriedade onde o caseiro, um senhor idoso, acenou e consentiu que eu continuasse o trajeto até a próxima saída.
Mais adiante, percorri 15 quilômetros de estrada estreita e irregular, quando fui surpreendido por duas garotinhas de oito ou nove anos que passaram correndo na minha frente. Usavam uniforme escolar típico de um passado longínquo, com listras em preto e branco e avental com peitoril bege. Aproveitei para descer do carro e pedir informações. Me olharam, sorriram com brevidade e atravessaram uma cerca de arame farpado. Corri alguns metros, mas logo desapareceram entre os laranjais. Continuei dirigindo até chegar a uma fazenda que vi em uma foto familiar de 13 de junho de 1957. Como saía muita fumaça da chaminé, concluí que havia pessoas morando no local. Me aproximei, bati palmas e fui recepcionado por um homem branco de estatura baixa, olhos azuis, cabelos ralos, poucos dentes, pele enrugada e rosto bastante manchado pela irrestrita exposição ao sol. “Vamo cheganu, Jão! Tô passanu o café!”, falou o anfitrião antes de dizer o próprio nome ou me interpelar.
Andei por um trilho enlameado e atravessei uma porteira. Assisti galinhas correndo em círculo em torno de um pastor alemão que raleava a grama com o focinho. A poucos metros dali, uma porquinha circulava livremente carregando no dorso um sabiá-laranjeira bastante confortável lhe amaciando o couro com os pés. Deixando as distrações de lado, entrei na casa e, enquanto eu o esperava retornar do quarto, observei pela janela alguns cômodos. Estava tudo exatamente como vi nas inúmeras fotos de 1957 a 1963, parte de um acervo familiar. Os móveis coloniais, a decoração, nada mudou; nem a posição do sofá. Até o peso da porta da sala que dava acesso ao restante da casa era o mesmo – um lírio almofadado e descorado. Aquilo me intrigou sobremaneira e não resisti em perguntar como conseguiu a proeza de conservar um cenário tão histórico. Ele não entendeu e riu, levando as mãos finas e enrugadas ao rosto. “Que cê tá falanu aí, Jão? A gente conversou inda ontionti”, comentou num tom de voz afável e fragilizado. Aceitei a xícara de café amargo e notei um pequeno moedor de café colonial e azul, com a pintura já opaca e parcialmente descascada.
O café aromatizava a sala com tanto esplendor que tive a impressão de estar próximo de uma torrefadora. Nas primeiras bebericadas senti um sutil gosto de ferrugem e tentei disfarçar. O anfitrião percebeu e argumentou: “Num tá muito bão, né? É que esse inda é dos último pé de café e olha que só sobreviveu pela amargura de existi. Num sobrô mai nada.” Aproveitando a quietude, voltei minha atenção ao fogão à lenha, onde as chamas do braseiro fulguravam inadvertidamente. Em suas formas sinuosas, o fogo resplandecia numa força sempiterna – ora sutil, ora insipiente. Talvez se considerasse autossuficiente, não reconhecendo que sua existência dependia da lenha. Então me recordei da história de amor vivida por Joazino. Ecoava na minha mente com a intensidade do cheiro da panelinha com um pouco de arroz carijó que contrastava com o bule de café e o doce de abóbora e gengibre recém-embalado em folhas de bananeira – todos bem dispostos sobre o fogão à lenha. Só me dispersei por um momento, quando comentou como era difícil acreditar que eu ainda estava vivo depois do que fiz.
Me deu um tapa vaporoso nas costas e virou o rosto para enxugar com a manga da camisa cinza e surrada as lágrimas que escorriam pelas maçãs delgadas do rosto. “Tô feliz q cê tá qui! Inda onti cê tava caído sem vida com os zóio virado do avesso. Agora me fala por que tomô quele veneno?”, indagou Joazino Tibicuá. Constrangido, sem saber como reagir, dei um sorriso pejoso e pedi para mudar de assunto. A conversa seguiu por várias direções, se estendeu por horas, e pouco falei diante de um anfitrião ansioso por exteriorizar tantas emoções, sentimentos e ideias. Evocando a relatos ouvidos na adolescência, lembrei que Joazino teve só uma namorada, de nome Margarida. O relacionamento dos dois era baseado em olhares e frases curtas, sempre assistido por algum parente. O primeiro toque de mão levou semanas. Meses depois veio o primeiro abraço. Durou alguns segundos, o suficiente para o jovem Tibicuá jamais esquecer o aroma adocicado de Cashmere Bouquet que Margarida trazia no corpo.
A relação não foi longe por pressão da mãe de Joazino que não aceitava dividir o filho com outra mulher. A possibilidade dele deixá-la a irritava a ponto dela simular enfermidades e se automutilar. Depois do abraço, nunca mais teve notícias da primeira namorada. Ainda assim prometeu a si mesmo que não desistiria da companheira. Aguardaria o falecimento da mãe para não contrariá-la. Embora tenha dado à luz a Joazino em idade avançada, a mulher viveu até os 113 anos, tempo o suficiente para esvair a mocidade do último dos Tibicuá; agora um homem de corpo miúdo, fustigado pela vida, pelo tempo e por uma credulidade encontrada somente em crianças. A tão sonhada liberdade amorosa foi transformada numa eterna lembrança. Joazino se apegou a ela com tanto paroxismo que se condicionou a encarar o passado como realidade presente, ignorando anos, décadas e as transformações do mundo.
Quando pedi licença para pegar água em um filtro de barro escuro, percorri todo o interior da residência, inclusive o banheiro, e percebi que não havia espelho nem energia elétrica. Mais tarde, Joazino pareceu aliviado e satisfeito com a prosa. Nos despedimos sem que eu lhe revelasse que me confundiu com o seu melhor amigo João, meu tio-avô falecido em 1962. Também omiti que a moça com quem um dia pretendia se casar faleceu há mais de 25 anos, vitimada por pneumonia. Comovido pela situação daquele homem de quase 80 anos, não vi senso de justiça em tirar-lhe o brilho e a jovialidade dos olhos, o privando dos prazeres, mesmo que umbráticos, de sonhar acordado. O amor tornado platônico talvez tenha evitado que seus olhos assumissem um aspecto cristalino opaco, típico dos que já não aspiram nada da vida e aguardam apenas o último suspiro.
Curiosidade
O último pé de café ao qual Joazino Tibicuá se refere foi cortado no final dos anos 1970.
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A fábula de Amélie Poulain
Jeunet e a beleza embutida de simplicidade
Lançado em 2001, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, é um filme popular de estética leve e colorida do cineasta francês Jean-Pierre Jeunet que aborda a beleza da natureza humana a partir de uma jovem que tenta se distanciar das complexidades da vida.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um contraponto no universo de criações sombrias de Jeunet. O filme transmite beleza e uma peculiar pureza do início ao fim, tendo como elemento central da história a graciosa Amélie Poulain (Audrey Tautou), uma jovem que após a morte da mãe se muda sozinha para o boêmio Montmartre, em Paris, onde consegue um trabalho como garçonete.
O maior hobby de Amélie é observar pessoas; a ela, seres tão desconhecidos, mas ao mesmo tempo fantásticos. O passatempo surge a partir de um episódio vivido na infância. O pai, Raphael Poulain (Rufus), após realizar alguns exames com a filha, a diagnosticou com um problema cardíaco crônico, a privando de ir ao colégio, ter amigos e até mesmo sair de casa. Poulain nunca soube que o coração de Amélie sempre acelerava justamente pela sua presença, um contato tão raro.
Amélie poderia ter se tornado alguém com graves distúrbios psicológicos e emocionais. Mas nada disso acontece. Já adulta, deixa de ser uma espectadora para se tornar protagonista da própria vida. A cena em que entrega um relicário com brinquedos ao ex-proprietário do apartamento onde mora é uma das mais memoráveis. A satisfação do homem é transcendental.
Amélie percebe algo que conjugado a sua sensibilidade não é comumente notado pela maioria das pessoas: pequenas coisas tornam a vida mais rica e a inflam de sentido não pelo que são, mas pelo que representam. A partir daí, o mundo da personagem se materializa num espectro de ações altruístas.
Sobre a estética usada por Jeunet, é destacável o uso e abuso de cores nos planos de filmagens, o que proporciona vivacidade surreal e representa a exteriorização da beleza interior de Amélie. Em cor pastel, os tons leves da fotografia remetem à pureza existencial da garçonete. Além disso, a presença de um narrador em off garante um caráter didático e descritivo.
Há também muitas cenas de cortes rápidos, flertando com a edição objetiva usada em videoclipes, além de outras em plano-sequência; tudo contribuindo para tornar a obra mais dinâmica. No mais, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme humanista com características de fábula que cria uma ponte entre a realidade física e a fantasia psicológica.
Trilha Sonora
Após o lançamento do filme, a trilha sonora do compositor francês Yann Tiersen ganhou projeção mundial, sendo regravada por centenas de artistas e usada como background de milhares de espetáculos por todo o mundo, além de programas televisivos. Sem dúvida, a canção mais popular da soundtrack é Comptine d’Un Autre Été que recebeu várias versões do próprio Tiersen.
O valor de uma promessa
A história do homem que viaja sete léguas com uma cruz nas costas para cumprir um voto
Lançado em 1962, O Pagador de Promessas, do cineasta Anselmo Duarte, é um dos maiores clássicos do cinema nacional. A obra inspirada na peça de Dias Gomes conta a história de um homem do campo que viaja sete léguas (42 quilômetros) com uma cruz nas costas para pagar uma promessa.
No filme, Zé do Burro (Leonardo Villar) chega à cidade machucado pelo peso da cruz sobre o ombro, resultado de um voto que fez à Santa Bárbara para que o seu fiel companheiro, um burro, fosse curado de uma grave enfermidade. Mas o grande problema surge quando o agricultor tenta entrar na Igreja de Santa Bárbara com a cruz, sendo impedido pelo Padre Olavo (Dionísio Azevedo) ao saber que Zé fez uma promessa à santa em um terreiro de candomblé.
Tenta justificar o episódio falando que não havia nenhuma igreja ou capela próxima. Intransigente, o sacerdote não aceita a explicação de Zé e pede que o homem saia das imediações do templo. O pagador de promessas se recusa e decide ficar na frente da igreja até conseguir entrar, honrando o compromisso feito à Santa Bárbara.
Aproveitando-se da inocência do matuto homem do campo, uma infinidade de pessoas tentam se aproximar com as mais diversas intenções. Um exemplo é o inescrupuloso personagem Bonitão, um cafetão que finge ajudar Zé apenas com a intenção de conquistar Rosa, a mulher do pagador de promessas.
Outra figura digna de destaque é o jornalista interpretado por Othon Bastos que explora com sensacionalismo e inverdades a figura de Zé como um revolucionário messiânico. A repercussão da publicação atrai visitantes, líderes religiosos, patrocinadores oportunistas e até mesmo a polícia que começa a encarar o produtor rural como um contraventor e agitador social.
É trágica e cômica a cena do comerciante estrangeiro pedindo para o fotógrafo do jornal mostrar ao fundo o seu comércio enquanto em primeiro plano aparecem Zé, a cruz e Rosa. Anselmo Duarte aborda com riqueza visual e informacional a relação conturbada entre o catolicismo e as religiões afro-brasileiras, avaliadas pelo padre como “práticas demoníacas”.
A beleza de O Pagador de Promessas está na simplicidade, objetividade e linguagem canhestra do protagonista, alheio ao materialismo e malícias da modernidade. Em alguns aspectos, o filme lembra a crítica social das fases mexicana e espanhola do cineasta Luis Buñuel e também o cinema neorrealista de Pier Paolo Pasolini, principalmente a passagem da mercantilização da fé do clássico Uccellacci e Uccellini.
No início da obra, símbolos religiosos europeus e africanos se misturam no mesmo ambiente, evocando uma ideia de unidade da fé sustentada em amor incondicional e livre de preconceitos. Ao mesmo tempo, a percussão arcaica e dissonante da cena introduz o espectador ao caos que ainda vai ser vivido por Zé do Burro. Outra característica marcante do filme é o contraste entre o barulho e o silêncio total, além da aridez do cenário e a fotografia angustiante que em vários momentos aspira ao desconforto e ao derrotismo.
O Pagador de Promessas é uma obra antológica que apresenta um personagem ímpar com valores maiores que a própria vida. Extremamente atual, o clássico discute assuntos ainda controversos como o preconceito religioso, reforma agrária e má distribuição de renda. O elenco conta com outros grandes nomes do cinema e da TV nacional como Glória Menezes, Geraldo Del Rey, Roberto Ferreira, Norma Bengell e Antonio Pitanga.
O filme de Anselmo Duarte foi o grande vencedor do Festival de Cannes de 1962, recebendo a Palma de Ouro, título jamais conquistado por outra película brasileira. Também foi premiado em duas categorias no San Francisco International Film Festival, onde recebeu o Golden Gate, além de outras premiações no Festival de Cartagena, na Colômbia, e uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1963.
A simplicidade como motivação existencial
A Cor do Paraíso inspira emoção sem decair para o melodrama
Em 1999, o cineasta iraniano Majid Majidi lançou o filme Rang-e Khodã que chegou ao Brasil com o título A Cor do Paraíso. A obra, que inspira emoção sem decair para o melodrama, conta a história de um garoto cego que encontra nas pequenas coisas do cotidiano uma razão para viver.
Mohammad (Mohsen Ramezani) contempla as belezas do mundo e se sensibiliza com aquilo que passa despercebido pela maioria. Um exemplo é a sua reação diante da queda de um passarinho. O cineasta Majid Majidi explora o belo por meio de uma esplêndida fotografia. Em muitos momentos a câmera simboliza os sentidos e a idealização existencial de Mohammad. E mais, vai além da beleza física do cenário natural ao amplificar os sons da natureza e transportar o espectador para uma afiguração particular de paraíso.
No mesmo contexto está Hashem (Hossein Mahjoub), um pai tornado infeliz e melancólico que desde a morte da mulher encara o ato de cuidar do filho como uma penitência. A figura paterna, presa a um universo lúgubre e estático – o que é muito bem representado nas tomadas com a câmera parada, é fria e individualista; uma crua metáfora da hipocrisia em uma sociedade arbitrária. Exemplo é a decisão do personagem em se casar com uma jovem mulher e entregar o filho a um carpinteiro cego de quem o garoto deve tornar-se ajudante. Mohammad e o pai vivem realidades distintas que aos poucos se afunilam, tornando-se ainda mais conflitantes.
A princípio, Hashem se limita a assistir a alegria do filho em admirar a natureza. Mais tarde, a satisfação de Mohammad em contemplar o que não vê faz o pai sentir-se perturbado. Na história, uma das cenas mais tocantes, embora com certo caráter teológico, surge quando em um monólogo o pai questiona porque merecera um filho cego. Mais tarde, Mohammad se pergunta por qual razão fora castigado pela cegueira. As duas questões existenciais revelam certa sintonia quando pai e filho estão distantes.
O Garganta de Ouro de Terra Rica
Antes do estrelato, José Rico cantava em troca de doces em Terra Rica
Na infância, o pequeno José Alves dos Santos começou a se destacar em Terra Rica ao cantar em troca de doces. Quando cresceu, a necessidade o obrigou a exercer serviços braçais para sobreviver. Porém, como profetizara um padre, José ainda seria rico.
O músico José Alves dos Santos, conhecido como José Rico, nasceu em São José do Belmonte, Pernambuco, em 1946, mas em 1948 se mudou com a família para Terra Rica, onde viveu até os 19 anos. De acordo com Wilson Alonso, amigo de infância do cantor, José Rico, o Garganta de Ouro do Brasil, é um grande personagem da cidade. “Ele não é como aqueles artistas que esquecem da própria origem. Não fica mais de seis meses sem aparecer aqui”, defende.
Ao se mudar para o Noroeste do Paraná, no início, o pai de José Rico conseguiu manter a família com o ofício de barbeiro. No entanto, logo surgiram dificuldades e, ainda criança, José Alves dos Santos teve de trocar a chupeta por uma enxada. “Ele trabalhou muito na lavoura. Também atuou como pintor, sorveteiro, engraxate e servente de pedreiro. Lembro como se fosse hoje”, informa Alonso que durante alguns segundos se cala, disperso em pensamentos.
Quando não estava trabalhando, o pequeno José gostava de cantar. A boa voz foi determinante para ser convidado a participar de eventos locais em troca de um cachê baseado em paçoquinha e sorvete. “Era uma figurinha carimbada nas quermesses e festas juninas. Quem tinha muito dinheiro na época, sempre o chamava para se apresentar”, conta Alonso, sem velar o sorriso nostálgico.
O interesse pela música sertaneja foi precoce, mas o desconhecido José dos Santos embalava mesmo o público com canções românticas e boêmias. “Eram composições de Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. O pessoal gostava mais desses cantores que estavam no auge”, relembra Alonso. No fim da adolescência, José Alves dos Santos começou a participar de programas de rádio. Alonso rememora um episódio em que o cantor veio a Paranavaí participar de um programa de auditório. “Ele conseguiu chegar a tempo de se apresentar na Rádio Paranavaí graças ao sargento Vieira”, reitera.
Na época em que sequer cogitava a possibilidade de gravar um disco, o jovem José conheceu o pároco Eduardo Bassil que lhe deu incentivo no início da carreira. “O padre falou que ele seria um José Rico, ficaria realmente rico, e isso aconteceu. Foi merecido porque ele lutou muito por isso, não caiu do céu”, finaliza Wilson Alonso.
José Rico gostava de lutar
Na adolescência, as mãos do cantor sertanejo José Rico não se sentiam atraídas apenas pelas cordas do violão. “Briga era com ele. Lembro que antigamente tinha luta em circo, então normalmente no segundo dia ele já estava lá na arena lutando. O Zé gostava muito disso”, garante o amigo Wilson Alonso.
Emocionado, Alonso destaca a simplicidade como a principal característica do cantor. “O Zé chegava aqui em casa e dizia que queria comer arroz, feijão, ovo frito e quiabo. Além disso, adorava sair na rua de bermuda, camiseta e tênis”, relata o amigo.
Apesar de não tocar nenhum instrumento, Wilson Alonso guarda com esmero um violão cuidadosamente envernizado e sempre brilhante. O instrumento está sempre afinado, à espera de José Rico, que ao toque do primeiro acorde leva à tona a mesma nostalgia e graça da época em que usava o talento para ganhar um pedaço de doce.
Saiba Mais
Além da música sertaneja, José Rico apreciava música gaúcha, mexicana, paraguaia e cigana. Tais influências são perceptíveis nas composições do artista.
A música “Estrada da Vida”, de autoria de José Rico, rendeu a venda de mais de dois milhões de discos para a dupla.
A dupla Milionário e José Rico surgiu em 1973. Desde então, lançaram 28 discos e dois filmes: “Na Estrada da Vida” e “Sonhei com Você”.
O filme “Na Estrada da Vida” foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos, expoente do cinema novo brasileiro.