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Vírus 27, um dos embriões do movimento skinhead brasileiro
Uma das poucas bandas a unir carecas, punks (skunks) e pessoas sem ligação com qualquer movimento
O Vírus 27 é uma banda brasileira fundada em São Paulo em 1982 por fãs do Dead Kennedys – até hoje um dos maiores nomes do punk rock graças à criatividade e imprevisibilidade de seu líder Jello Biafra. Infelizmente, pouco tempo após a criação da banda, dois integrantes do Vírus 27, Ademilson, que inclusive escolheu o nome do grupo, e Di, morreram.
Embora nos primeiros anos do Vírus 27 tenha restado apenas o baixista Pezão da formação original, a banda já estava se afastando do punk rock tradicional, se tornando um dos embriões do movimento skinhead brasileiro e um dos poucos grupos a unir carecas, punks (skunks) e até pessoas sem ligação com qualquer movimento ideológico, que apenas se identificavam com a proposta musical. A importância do Vírus 27 durante a Ditadura Militar é incontestável, ainda mais levando em conta o teor de suas canções de protesto em shows, atraindo multidões de jovens insatisfeitos.
Mais tarde, desempregado e enfrentando sérias dificuldades financeiras, Pezão teve de trocar a difícil realidade proletária do meio urbano pela área rural, onde começou a trabalhar como cortador de cana, sendo obrigado a deixar definitivamente o Vírus 27. Com a nova mudança de formação, Braz continuou na bateria e ingressaram na banda o baixista Lula (ex-Negligentes), o guitarrista Júnior e o vocalista e guitarrista Joe 90 que se tornaria um dos compositores mais importantes do oi! brasileiro.
A estreia nacional do Vírus 27 veio com o convite para participar da coletânea “Ataque Sonoro” que reuniu os maiores nomes do punk rock nacional. No ano seguinte, empolgados com a boa repercussão, lançaram o álbum “Parasita Obrigatórios”, baseado em 16 composições e um bônus que se tornou um hino: “Vida Longa aos Skinheads”.
Em 1987, participaram da hoje rara coletânea “Ronda Alternativa”, uma iniciativa da saudosa Devil Discos. No ano seguinte, o disco “Brasil Oi!” reafirmou a posição de destaque do grupo como expoente do oi! nacional, com letras que exaltavam tanto as virtudes brasileiras, com viés patriótico, quanto a invisibilidade social e outros problemas vividos pela maior parte da população. “Caso Sério”, de 1996, foi o último álbum lançado pelo Vírus 27, um ano depois de terem participado da compilação “Oi! Um Grito de União”, da extinta Rotten Records.
Com uma longa trajetória iniciada no início da década de 1980, a banda conquistou projeção nacional e internacional com a sua formação mais clássica – Joe 90 (vocal e guitarra), Emerson Flocks (baixo) e Léro (bateria). A música do Vírus 27 sempre foi simples e coesa, como o próprio gênero oi!, uma ramificação do punk rock, demandava, e a produção também era independente e underground, limitações que inclusive agregaram novo status e conceito do ponto de vista estético. Incrível como uma música Oi! – “Caminhos Incertos”, lançada nos anos 1980, continua tão atual.
“Quanto tempo faz,
Que o povo não se entende
Quanto tempo faz,
que vocês não me compreendem”…
Curiosidade
O nome Vírus 27 é uma referência ao selo Alternative Tentacles, fundado por Fello Biafra, dos Dead Kennedys, em 1979.
Saiba Mais
Historicamente, a cultura skinhead em essência nunca defendeu o uso de violência, muito menos qualquer forma de racismo ou preconceito. Esse tipo de conduta é inerente aos boneheads, um movimento completamente diferente que inclusive se apropria de forma equivocada e ilícita da palavra skinhead, um termo hoje totalmente vulgarizado e descontextualizado por causa da desinformação.
Não confunda skinhead com bonehead
O rapaz da foto é o jamaicano Derrick Morgan, um dos maiores expoentes do movimento skinhead. Na juventude, ele fez importantes parcerias com músicos como Desmond Dekker, Bob Marley e Jimmy Cliff.
Levando isso em conta, acho válido enfatizar que a cultura skinhead em essência nunca defendeu o uso de violência, muito menos qualquer forma de racismo ou preconceito. Esse tipo de conduta é inerente aos boneheads, um movimento completamente diferente que inclusive se apropria de forma equivocada e ilícita da palavra skinhead, um termo hoje totalmente vulgarizado e descontextualizado por causa da desinformação.
Por isso é muito importante não chamar de skinhead qualquer careca que incentive a violência. Sem dúvida, é uma ofensa tremenda e uma grande injustiça contra muita gente não só do Brasil, mas do mundo todo que contribuiu e continua contribuindo com os ideais de liberdade do movimento. Para quem quiser entender a real história dos skinheads, sugiro que assista ao filme “This Is England”, do cineasta inglês Shane Meadows. Originalmente, os skinheads se identificaram com gêneros musicais como rocksteady, reggae, soul, ska e mais tarde punk-rock.