David Arioch – Jornalismo Cultural

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Sobre os meus sonhos

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Se deixo de sonhar, deixo de viver. A minha experiência de vida tem provado que muitos dos nossos problemas surgem ou pululam quando deixamos de sonhar. Sou um sonhador por natureza, desde criança; quando chegava em casa com não mais do que quatro anos inventando aventuras que vivi no caminho de volta para casa depois da escola.

Acredito realmente que posso ser do tamanho dos meus sonhos. Mas preciso ter uma opinião tão sólida quanto os meus anseios. Já passei por experiências que podem parecer bobas, mas que servem de exemplo para ilustrar como a força de vontade é determinante. Com 21 anos, um ortopedista me disse que eu jamais poderia fazer musculação em decorrência de um diagnóstico de hérnia de disco. Aquilo pareceu tão absurdo para mim que me matriculei na academia no dia seguinte.

Já se passaram 12 anos e, não querendo me gabar, mas não conheço ninguém na academia que frequento que treine com mais assiduidade e intensidade do que eu. Parece tolo, não? É um exemplo de que quando os outros dizem que sou incapaz de alguma realização importante ou prazerosa para mim é exatamente esse algo que farei. Porque no fundo, opiniões são apenas opiniões – nós que atribuímos peso a elas.

Conheci muitas pessoas que me falaram da impossibilidade de seus sonhos e dos outros. A verdade, na minha opinião, é que pessoas que não sonham e não buscam corporificar seus sonhos também tendem a compartilhar essa impraticabilidade com os outros. Algo como: “Se não sou capaz de lutar por meus sonhos, também será perda de tempo pra você.” Isso a mim não diz muito.

A ideia de ter uma vida comum, viver simplesmente para mim mesmo e ignorar todo o resto sempre me incomodou. Por isso, meus sonhos estão sempre relacionados ao que sou capaz de oferecer. Sim, e há várias coisas que eu gostaria de oferecer – meus sonhos crescem a cada dia. Se muitos não acreditam neles, sem problema.

O importante é que eu acredito, e isso é bom, porque meus sonhos dependem em primeiro lugar da minha força. Para mim, sonhar não é perda de tempo. Sonhar é viver buscando a consubstanciação da própria essência. E penso que não há nada que preencha mais o ser humano e o mantém na sua rota do que isso.





 

Written by David Arioch

June 3rd, 2018 at 2:01 pm

Posted in Reflexões

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Já tive sonhos em que incorporei os mais diferentes animais

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Arte: Corine Perrier

Já tive sonhos em que incorporei os mais diferentes animais (inclusive um deles virou conto), ou seja, em que eu não era simplesmente um ser humano. São como presentes que recebo da vida para entender o que é enxergar para além da minha condição humana, das minhas necessidades.

Se meus olhos se voltassem para mim o tempo todo, talvez eu não fosse capaz de ver mais do que a mim mesmo por onde eu andasse. Não gostaria de andar sempre mirando os meus próprios pés. Me esforço para evitar isso.





Written by David Arioch

June 24th, 2017 at 5:46 pm

Igão, uma vida dura e sonhos modestos

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“Eu achava comida no lixo e comia. Sentia fome, né? Tinha bolo, pão doce, essas coisas de padaria”

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Igão (à esquerda) é muito conhecido na Vila Alta por suas boas ações (Foto: David Arioch)

Na adolescência, depois de ser expulso da casa da avó pelo tio, Igão deixou a Vila Alta e vagou sem rumo, até que seu pai o convidou para morar com ele e a madrasta na casa da sogra na Vila City, também na periferia de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. “Logo que comecei a trabalhar eu nem conhecia dinheiro e tive que forçar o cérebro. Catei material reciclável por quase três anos e quando fui pra lá ajudei a sogra do meu pai na mesma atividade. Naquele tempo eu achava comida no lixo e comia. Sentia fome, né? Tinha bolo, pão doce, essas coisas de padaria. Algumas vinham embaladinhas e outras não. A vida era doida”, conta.

Igão, que hoje tem 34 anos, se recorda que por “viver de favor” na Vila City tinha que seguir a disciplina da casa – horário para comer e dormir. “Nunca tive hora pra isso e não consegui seguir o ritmo, então ficava sem comida às vezes. Meu pai sentia dó e me dava o prato dele quando eu chegava”, relata. Meses mais tarde, por não ter conseguido se adaptar, acabou saindo da casa.

Ainda coletando materiais recicláveis, um dia o rapaz desmaiou de fome, caindo sobre o asfalto. “Não é todo dia que as pessoas estão de bom humor pra receber alguém na porta de casa e dar um prato de comida. E como era normal não ganhar o suficiente pra marmita acontecia de apagar na rua mesmo”, narra.

Apesar da vida difícil, Igão nunca desistiu de lutar. Ainda assim, no início da fase adulta não conseguia escapar da miséria. “Saía cedo pra pista e não tinha hora pra voltar. Quando não conseguia nada chegava em casa estressado. Sou um cara que mal sabe ler e escrever, é complicado conseguir qualquer coisa. Já quem tem estudo vai em frente de um jeito que ninguém acredita”, diz.

Em um dia, Igão percorria até os bairros mais distantes da Vila Alta, como Jardim Morumbi, Vila City, Jardim Ipê e Sumaré – distrito de Paranavaí. Igão é muito conhecido na Vila Alta por suas boas ações. Já afastou crianças e adolescentes do mundo do crime e das drogas. Também convenceu alguns a retornaram para a escola, chegando inclusive a levá-los até a entrada do colégio. Além disso, sempre que a chuva arrasta a terra da estrada em frente ao Bosque Municipal até a Rua B, ele reúne alguns amigos para fazer a limpeza de forma voluntária. “Apesar de todas as dificuldades, amanheço sempre alegre e agradecendo a Deus por mais um dia de vida”, garante e afirma que sonha em conseguir um trabalho com carteira assinada.

O rapaz, que já atuou em lavouras de mandioca e algodão, tem experiência como servente de pedreiro e trabalhou na construção de muitas bocas de lobo na Vila Alta. “Atuei nesse ramo por um bom tempo. Torci para que minha carteira esquentasse. O problema é que me demitiram antes. Se tivesse carteira de pedreiro, conseguiria um bom trabalho fácil. A melhor fase da minha vida foi quando trabalhei registrado como operador de betoneira. Tinha até planos de fazer a minha casa”, revela.

Saiba Mais

Igão não tem boas lembranças do trabalho no campo porque a jornada diária ultrapassava 12 horas. “Chegava em casa até oito horas da noite e molhado de orvalho. Era sofrido demais”, justifica.