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Os perigos das dietas que demonizam os carboidratos e incentivam o alto consumo de proteínas de origem animal
Sobre as dietas de perda de peso, as pessoas usam duas abordagens que não funcionam a longo prazo. Então é claro que elas dizem que dietas não funcionam. Uma abordagem é tentar ficar sem comer e sentir fome o tempo todo. Essas são dietas de porções controladas, dietas típicas que as pessoas seguem. Não funciona porque você sente fome o tempo todo, e não se pode tolerar esse tipo de dor.
As alternativas são as dietas “torne-se um doente”. E essas são as dietas de alta proteína de origem animal, alta gordura e baixo carboidrato. Nos últimos anos surgiram muitas dietas afirmando que comer pouco carboidrato e muita proteína animal ajuda a perder peso. Tudo orquestrado por campanhas publicitárias multimilionárias e pelo endosso de celebridades [que lucram com isso]. Como resultado, a maioria das pessoas hoje associa carboidrato a ganho de peso.
Dietas com pouco carboidrato deixam você doente [um exemplo é a baixa na imunidade]. Como resultado, todo o seu corpo fica doente, [com riscos de] doenças arteriais e danos nos rins, no fígado e assim por diante. Elas aumentam a mortalidade. Isso já foi mostrado inúmeras vezes nos grandes estudos. Mas elas também o deixam doente de forma que faz você perder o apetite. A pessoa diz: “Finalmente encontre a solução!” E então você entra em cetose e perde o apetite. Como resultado, pode se sustentar sem pensar em comida o tempo todo. Porque você está doente. Essas dietas são perigosas, e as pessoas não deveriam segui-las.
Em 1973, Rob Atkins publicou seu primeiro livro no qual ele argumentava que o problema não era com a gordura, o problema não era com a proteína. Segundo ele, o problema era que consumíamos carboidratos demais. E ele defendeu este argumento. E depois, muitas outras pessoas escreveram a mesma coisa. A Dieta de South Beach é apenas uma cópia, na maior parte, da Dieta Atkins.
A Dieta das Zonas é uma cópia, e a Dieta do Tipo Sanguíneo, em muitos aspectos, também é uma cópia. Calorias Boas, Calorias Ruins, de Gary Taubes, a mesma coisa. Até mesmo Michael Pollan, devo dizer, o Dilema do Onívoro, é uma cópia. E a Dieta Paleo, tão popular hoje em dia, é só uma cópia.
São erros e fraudes em dietas comerciais com nomes diferentes, e podem cuspir diferentes argumentos sobre o porquê de aquilo estar certo, mas estão todos errados. Isso é escrito por pessoas, devo dizer, que não têm experiência nesse campo de pesquisa nutricional, e ponto. A maioria nunca publicou um artigo sequer na literatura científica.
Bem, como você sabe, as maiores mentiras do mundo são aquelas que têm um fundo de verdade. Todos sabemos disso. É uma grande tática. É verdade, concordo que devemos cortar os carboidratos, mas os carboidratos simples. Isso está fora do contexto geral. Você sabe, açúcar, farinha branca. Isso faz sentido. Neste caso, tem um fundo de verdade. Mas eles nem sempre destacam isso. Apenas dizem: low carb, low carb, low carb.
Todos querem ouvir boas notícias sobre seus maus hábitos. Então quando você diz às pessoas que elas podem comer quanta lagosta quiserem, podem comer bife com ovos, alguns incluem laticínios, outros não. Isso soa agradável para as pessoas porque parece menos restritivo. Algumas das pessoas que estão falando sobre dietas com poucos carboidratos não têm habilidades para avaliar informações científicas. Escute, esqueça o que você gosta ou não gosta. Pense no seu objetivo.
John McDougall, médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”.
T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.
Pamela A. Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.
Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.
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Leite é um alimento saudável para bezerros, para filhotes de vaca
Leite é um alimento saudável para bezerros, para filhotes de vaca. Leite é para bebês, literalmente. Somos a única espécie que [conscientemente] toma leite de outra espécie, e também a única espécie que [conscientemente] toma leite depois de virar adulto. Por que o leite é associado com o aumento de risco de câncer de próstata? Bem, o que é o leite? Leite é um coquetel de hormônios do crescimento que fazem com que um pequeno animal bovino, suscetível de ser caçado na savana africana, ganhe algumas centenas de quilos em poucos meses, porque ele não quer ser comido por um leão. Então ele é desenvolvido como um alimento para o crescimento rápido, o que é ótimo se você é um bezerro, mas se você é um humano adulto esse excesso de hormônios do crescimento não é uma coisa boa.
Uma das coisas mais difíceis para as pessoas largarem são os laticínios, e às vezes são muito resistentes. Uma coisa que sempre digo às pessoas é: Bem, por que não olhe as evidências e decida por você mesmo? Porque eu sempre disse que controlar a sua saúde não é fazer o que eu digo em vez de fazer o que os outros dizem. Tomar controle da sua saúde é olhar para as informações e fazer escolhas conscientes sobre o que você quer fazer.
Descrevo laticínios como carne líquida. Basicamente como carne vermelha: alto teor de gordura, colesterol e nada de fibras. Na verdade, pode ser pior do que a carne vermelha. A caseína que usam para dar liga no queijo é cheia de química. E são químicos tão viciantes que se assemelham à heroína [nesse aspecto], pois não temos quatro estômagos como os bezerros [para metabolizá-la corretamente]. E infelizmente o leite está em tudo. Eles colocam secreções de vaca, sei que há outros nomes para isso, como laticínio, manteiga, sorvete, queijo. Mas realmente isso não é nada além de leite de amamentação tirado de uma vaca.
O único motivo pelo qual as pessoas acham que precisamos de cálcio extra é porque há duas décadas cientistas elevaram a quantidade de cálcio que precisamos ingerir. Isso foi influenciado pela indústria de laticínios. O que eles realmente estão dizendo é: “Não estamos bebendo leite o suficiente.” Porque isso é o que a indústria de laticínios quer que falemos. Quando, na verdade, se você olhar para a relação entre quanto cálcio as pessoas consomem em diferentes sociedades, já que se relaciona, digamos, com a osteoporose, doença nos ossos, quanto maior a ingestão de cálcio, mais alto é o risco de osteoporose. Ninguém quer ouvir isso. Mas é isso que os dados reais mostram.
Michael Greger, médico especialista em nutrição e fundador da NutritionFacts.org
Pamela A. Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.
John McDougall, médico especialista em nutrição e autor do livro “The Starch Solution”.
Karyn Calabrese, chefe de cozinha e escritora de literatura wellness.
T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.
Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.
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Algumas verdades sobre o óleo de peixe e a indústria do ômega-3
Muitas dessas dietas de modinha se tornam uma indústria. Há muito dinheiro a se ganhar fazendo produtos que atendam a essas dietas. Estou convencida de que é o caso do ômega-3. Bem, é o seguinte: há dois ácidos graxos essenciais – ômega-3 e ômega-6. Todo o resto, seu corpo sintetiza. Os meios essenciais devem vir da comida. Então encontramos ácidos graxos ômega-3 em peixes, nozes, sementes de linhaça alguns tipos de soja; e encontramos ácidos graxos ômega-6 em animais da terra, frango, porco, carne vermelha e em óleos vegetais poli-insaturados.
Você pode ver qual é o nosso problema. Comemos muitos ácidos graxos ômega-6. Na verdade, a proporção de ácidos graxos ômega-3 e 6 eram entre um para um e um para quatro. Sabe qual é hoje? Entre 1 para 25 e 1 para 30. Isso levou as pessoas a dizerem: “Minha nossa! Isso está muito errado! O ômega-6 está aqui em cima e o ômega-3 lá embaixo. Talvez devêssemos tomar cápsulas de ômega-3 de óleo de peixe e encorajar o consumo de peixe. Assim voltaremos àquela proporção a que estávamos acostumados enquanto população. Bem, não há provas de que isso funcione. Neste trecho em específico se fala do ômega-3 proveniente do óleo de peixe, mas no geral se defende diminuir a ingestão do ômega-6 em vez de suplementar ômega-3. É porque pelo menos nos Estados Unidos o ômega-3 se tornou praticamente sinônimo de óleo de peixe. Na verdade, em qualquer lugar, pouco se fala de ômega-3 de outra origem.
Na verdade, uma grande metanálise que verificou 89 estudos mostrou que não faz a menor diferença para a saúde. Mas, além disso, não seria melhor reduzir a quantidade de ômega-6 da dieta? Pare de comer todos esses animais e pare de consumir tanto óleo que a proporção voltará ao normal. Não vamos complementar com ômega-3. Vamos abaixar o ômega-6 e terminaremos onde precisamos estar. Não há dinheiro envolvido na redução do consumo de ômega-6. Mas há muito dinheiro nas vendas de cápsulas de ômega-3 para as pessoas, e para fazê-las comerem peixe.
Temos boas evidências agora de que quanto maior o consumo de ômega-3, maior o risco de diabetes do tipo 2. Há provas de que o índice de câncer aumenta também [além disso, há o fato de muitas espécies de peixe estarem contaminadas com mercúrio]. O ômega-3 faz exatamente o oposto do que as pessoas acham.
Antes havia dados sugerindo que poderia ser benéfico, mas agora a preponderância de provas é de que óleo de peixe é inútil. Há uma indústria bilionária que basicamente vende às pessoas óleo de peixe e lucra com isso.
Pamela Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.
T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.
Michael Greger, médico especialista em nutrição e fundador da NutritionFacts.org
Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski.
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“Muitos homens comem muita carne porque se sentem muito machos assim, certo? A verdade é que a longo prazo o efeito é o oposto”
Muitos caras que comem carne veem isso como um reflexo da sua masculinidade. Associam isso com ser forte e másculo. Muitos homens comem muita carne porque se sentem muito machos assim, certo? A verdade é que a longo prazo o efeito é o oposto.
Não é muito macho ter disfunção erétil [quando se chega a uma certa idade]. Estamos falando de fluxo sanguíneo. Até dizem isso em comerciais de Cialis e Viagra. Então se suas artérias estão entupidas pelo alto consumo de carne, laticínios e ovos, o que isso vai acontecer com o seu desempenho sexual? É uma ciência simples, cara.
É inquestionável que homens acham que têm que comer um monte de proteínas e que seguir uma dieta vegetariana não é algo muito masculino. Mas vou lhe dizer algo: o que realmente não é masculino é disfunção erétil. Se quer ser viril, se quer ter uma bela vida masculina, siga uma dieta vegetariana.
Há grandes evidências que mostram que a disfunção erétil é causada pela dieta em muitas circunstâncias. E o motivo é que se você tem doença arterial coronariana em uma parte do corpo, você a tem nele todo. A prova disso é que aqueles vasinhos minúsculos de sangue que levam ao pênis são os primeiros a serem afetados.
Nós nos referimos à disfunção erétil como o primeiro sinal de perigo. É o sinal de que alguma coisa está indo muito mal e que você precisa consertar [Não é à toa que pessoas com disfunção erétil podem morrer consumindo Viagra ou Cialis]. Nesse estágio, é muito mais fácil de tratar isso se você ainda não teve um infarto ou AVC.
T. Colin Campbell, bioquímico e doutor em nutrição, que estudou as implicações do consumo de alimentos de origem animal por 20 anos. Em 2005, o seu trabalho foi transformado no livro “The China Study”.
John Joseph, músico, triatleta vegano e defensor da alimentação livre de produtos de origem animal.
Pamela Popper, doutora em nutrição e fundadora do Fórum Wellness.
Excertos de depoimentos do documentário “Food Choices”, de Michal Siewierski, lançado em 2008.
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Drauzio Varella e as falhas na afirmação de que a crítica ao consumo de carne é ideológica
Não é verdade que não há trabalhos científicos comprovando os malefícios da carne
Em abril deste ano, o médico oncologista Drauzio Varella, que há muito tempo se tornou referência para a população brasileira, afirmou na entrevista intitulada “Crítica à carne é ideológica”, publicada pela Revista Globo Rural, que não existe trabalho científico comprovando que a carne vermelha faz mal à saúde. Drauzio declarou que se criou “uma porção de mitos” a partir de estudos realizados nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos.
Drauzio Varella tem todo o direito de se opor a pesquisadores, acadêmicos e médicos que apontam os malefícios do consumo de carne, até porque ele nunca velou que é um defensor do consumo de alimentos de origem animal. Porém, a afirmação de que não há trabalhos científicos comprovando isso não é realmente verdadeira, e pode naturalmente induzir o leitor a crer que realmente ninguém nunca apresentou nenhuma evidência das implicações do consumo de carne.
O livro “The China Study”, publicado em 2005 pelo bioquímico estadunidense T. Colin Campbell, que tem doutorado na área de efeitos da nutrição na saúde em longo prazo, e que foi criado em uma fazenda de gado leiteiro nos anos 1940 e 1950, mostra que isso não é realmente verdade. O seu livro examina a relação entre o consumo de produtos de origem animal e o surgimento de doenças cardíacas, diabetes e câncer. E chega à conclusão que uma dieta vegetariana é mais saudável.
O trabalho, que começou no início dos anos 1970 e se estendeu por 20 anos, foi realizado pela Academia Chinesa de Medicina Preventiva, da Universidade Cornell, em parceria com a Universidade de Oxford. Eles analisaram as taxas de mortalidade por câncer e outras doenças crônicas em 2400 condados chineses, reunindo ao final do estudo dados de 880 milhões de chineses (96% da população à época).
O trabalho foi realizado por iniciativa do premier chinês Zhou Enlai. Diagnosticado com câncer, pediu que fizessem um mapeamento da doença na China, para entender de que forma isso estava relacionado com os hábitos alimentares dos chineses. O estudo registrou que nos condados onde o consumo de alimentos de origem animal se tornou muito elevado, as taxas de mortalidade eram mais altas, o que eles classificaram como consequências de “doenças ocidentais”, já que esses hábitos foram influenciados pela cultura do Ocidente. Por outro lado, nas localidades onde pouco ou nada se consumia de origem animal, as pessoas eram mais saudáveis. O trabalho mais tarde foi considerado o maior estudo de nutrição da história.
Claro que há variáveis a se ponderar, como por exemplo, a prioridade a alimentos saudáveis e prática de atividades físicas, entre outras coisas. No entanto, o “The China Study” justifica que somos mais suscetíveis a contrair determinadas doenças quando consumimos carne, laticínios e ovos, o que não significa que vegetarianos ou veganos estejam livres de doenças. Mas apenas que estão indo por um caminho onde isso pode ser evitado com mais facilidade com os devidos cuidados.
Na entrevista, Dráuzio Varella diz também que nos Estados Unidos “como a carne vermelha tem colesterol, foi concluído que o consumo dela devia ser reduzido. O que aconteceu então? Os americanos diminuíram significativamente o consumo de carne e, no lugar, colocaram carboidratos. A partir dessa resolução, até hoje, a epidemia de obesidade nos EUA aumentou descontroladamente. E, dada a influência dos EUA na área da saúde, essa ideologia cresceu sem parar. Resultado: estamos todos enfrentando uma epidemia de obesidade.”
Não sei em quais estudos ele se baseou para fazer tal declaração, mas isso também não é de todo verdade. Sim, os estadunidenses, assim como pessoas de outros países do Ocidente, consomem quantidades excessivas de carboidratos, e isso sem dúvida favorece o surgimento de muitas doenças, mas há equívocos substanciais no discurso de Varella. Normalmente quem opta por uma dieta vegetariana visando saúde ou qualidade de vida, dificilmente vai consumir quantidades estratosféricas de glicídios, alimentos industrializados – principalmente processados. Não se troca seis por meia dúzia quando se visa conscientemente a saúde.
Ademais, em 19 de agosto de 2016, a Fusion TV publicou uma matéria sobre um assunto também repercutido por muitos outros veículos de comunicação – “Last year americans ate meat like it was going out of style (it’s not)”, que mostra que houve um aumento no consumo de carne nos Estados Unidos em 2015, baseando-se em estudos do Rabobank. Ou seja, por si só, isso já é um indicativo de que as pessoas não estão trocando proteínas de origem animal por carboidratos ruins na velocidade apontada por Varella, mas sim consumindo os dois – que combinados são responsáveis pelo comprometimento da saúde humana.
Outra prova que refuta a posição de Drauzio é que nos Estados Unidos 5% da população se declara como vegetariana, e 2,5% vegana, segundo dados da organização One Green Planet. Sendo assim, onde está toda a população que ele afirma abdicar do consumo de proteínas de origem animal em favor dos maus carboidratos? O vegetarianismo e o veganismo tem crescido, mas, por enquanto, não na proporção desejada por vegetarianos e veganos. Ao mesmo tempo que diz que os críticos do consumo de carne se baseiam em generalizações, Varella parece ignorar que também faz o mesmo, principalmente quando diz que a crítica ao consumo de carne é meramente ideológica.
Então se não for por honestidade e visando o bem da população, por que o pesquisador T. Colin Campbell, filho de produtores de leite, se tornou um defensor da dieta vegetariana que ministra palestras contra o consumo de leite? Por que Howard Lyman, ex-pecuarista que tinha mais de sete mil cabeças de gado, abdicaria disso tudo para se manifestar contra o consumo de carne? Inclusive registrando em seu livro “Mad Cowboy” que ele mesmo tinha o hábito de mandar seus funcionários pulverizarem inseticidas na alimentação e na água do gado para afastar insetos e “pragas”.
Acredito que esses dois homens têm conhecimento mais profundo da realidade do sistema de produção de alimentos de origem animal e das suas consequências na alimentação humana do que o oncologista Dráuzio Varella que, embora seja um profissional respeitado no que diz respeito a vários assuntos, nunca realizou nenhum estudo relevante sobre o tema e incorre em análises equivocadas quando discorre sobre consumo de carne e vegetarianismo, que são áreas que fogem da sua competência.
Em 2006, o The New York Times qualificou o “The China Study” como o “Grande Prêmio da Epidemiologia”, e o “mais abrangente grande estudo já realizado sobre a relação entre a dieta e o risco de desenvolver doenças.” Drauzio pode discordar do conteúdo do livro, mas ele poderia apresentar algum outro estudo equivalente sobre o qual alguém tenha dedicado 20 anos de pesquisa?
E uma prova de que talvez ele não conheça a obra “The China Study” pode ser encontrada na entrevista para a Revista Globo Rural. Drauzio Varella, parafraseando o epidemiologista Walter Willet, da Universidade Harvard, assinala que somente um estudo com duração de 20 anos poderia trazer resultados realmente consistentes. Como mencionado anteriormente, o livro de T. Colin Campbell foi baseado em um projeto de pesquisa com duração de 20 anos.
E se o “The China Study” não for o suficiente para levar o leitor a refletir sobre a questão, é válido citar o artigo “Cutting red meat – For a longer life”, publicado em junho de 2012 pela Universidade Harvard, a mesma citada por Varella quando diz que não se pode associar o consumo de carne com o surgimento de doenças. “Este estudo fornece evidências claras de que o consumo regular de carne vermelha, especialmente carne processada, contribui substancialmente para a morte prematura”, disse Frank Hu, um dos principais cientistas envolvidos no estudo e professor de nutrição da Harvard School of Public Health.
Na pesquisa, publicada no Archives of Internal Medicine em 9 de abril de 2012, uma equipe de pesquisadores de Harvard procurou estabelecer ligações entre o consumo de carne e a as causas de mortalidade. Eles examinaram os casos de 84 mil mulheres e 38 mil homens em mais de duas décadas. Aqueles que consumiam principalmente carne vermelha, claramente se enquadravam nos grupos de risco de morte prematura.
Depois de 28 anos, aproximadamente 24 mil pessoas que participaram dos estudos da Harvard Medical School sobre a associação entre consumo de carne e mortalidade, faleceram em decorrência de doenças cardíacas e câncer. Analisando os questionários feitos pelos pesquisadores, constatou-se que essas pessoas tinham entre seus hábitos alimentares o consumo de bife, carne de porco, cordeiro e hambúrgueres.
Eles também comiam embutidos como bacon, cachorro-quente, salsicha e salame, entre outros. O estudo determinou que cada porção diária adicional de carne vermelha aumentou o risco de morte em 13%. O impacto subiu para 20% tratando-se de carne processada.
Na entrevista à Revista Globo Rural, Dráuzio Varella pontua que qualquer um tem o direito de ser vegetariano, mas que nem por isso evitará um ataque cardíaco, caso seja sedentário, tenha genética desfavorável, colesterol elevado e hábito de exagerar na comida. Bom, os vegetarianos e veganos que conheço não se veem como imune a todas as doenças do mundo, mas fazem o que está ao seu alcance para tentar evitá-las.
O vegetarianismo enquanto opção alimentar não é perfeito, e sabemos que há inúmeras variáveis, mas usar desse discurso para desconsiderar a dieta vegetariana é reverberar senso comum, já que ninguém está negando o fato de que sedentarismo e obesidade também podem ser prejudiciais para vegetarianos e veganos. No entanto, o que os estudos que mostram os malefícios do consumo de produtos de origem animal provam é que é mais fácil ser saudável não consumindo carne do que comendo. Ou seja, uma pessoa obesa que opta por uma dieta vegetariana tem mais chances de recuperar a própria saúde.
Outro artigo da Universidade Harvard, intitulado “Becoming a Vegetarian”, e publicado em outubro de 2009 e atualizado em 18 de março de 2016, explica que comparado com os consumidores de carne, vegetarianos tendem a consumir menos gorduras saturadas e colesterol, e mais vitaminas C e E. Também têm uma dieta mais rica em fibras, ácido fólico, potássio, magnésio, carotenoides e flavonoides.
Como resultado, eles têm níveis mais baixos de mau colesterol, pressão sanguínea mais baixa, e tudo isso pode ser associado à longevidade e redução do risco de muitas doenças crônicas. Em 2003, a Associação Dietética Americana (ADA) publicou um relatório afirmando que os vegetarianos têm 50% menos riscos de contrair diabetes, doenças cardíacas e amargar oscilações nos níveis de colesterol.
Outra citação de Drauzio Varella que merece atenção é a de que a carne é uma fonte maravilhosa de B12. Realmente, carne é uma fonte de B12, mas frisar que é uma fonte maravilhosa é algo contestável, porque dá a entender que o consumo de carne por si só sempre vai ser o suficiente para impedir a deficiência de vitamina B12, o que não é verdade.
O mito de que consumir carne sempre garante bons estoques de B12 foi derrubado em 2000, quando o Framingham Offspring Study, publicado pelo The American Journal of Clinical Nutrition, constatou que 39% dos participantes de uma pesquisa realizada com três mil homens e mulheres sofriam de deficiência de vitamina B12. A informação mais reveladora é que não foi percebida diferença entre quem consumia carne vermelha, aves, peixes ou nenhum desses alimentos.
A conclusão do estudo foi de que todos, vegetarianos ou não, devem fazer exames e, se necessário, consumir suplementos de vitamina B12. E quanto à carne ser uma grande fonte de ferro, é importante deixar claro que ela não é a única. Drauzio poderia ter citado também as leguminosas, castanhas, sementes, cereais integrais, couve, frutas secas e melado.
A minha intenção não é desmerecer o trabalho do médico oncologista Drauzio Varella, que é uma referência para tantos brasileiros, e com sua experiência e conhecimento trouxe luz a importantes debates ao longo de décadas. Porém, no que diz respeito ao vegetarianismo e à defesa do consumo de alimentos de origem animal, ele tem feito declarações, e não de hoje, ignorando todos os estudos que fazem oposição a uma dieta rica em proteínas de origem animal.
Fontes que comprovam que uma dieta vegetariana é mais saudável não faltam. Outro exemplo é a pesquisa “Vegetarian dietary patterns and mortality in Adventist Health Study 2”, da Universidade Loma Linda, referência em cardiologia, realizada com 70 mil pessoas nos Estados Unidos. Depois de seis anos, os pesquisadores concluíram que o número de morte entre vegetarianos foi 12% menor do que entre aqueles que consumiam carne.
Saiba Mais
O estudo “Comparison of Nutritional Quality of the Vegan, Vegetarian, Semi-Vegetarian, Pesco-Vegetarian and Omnivorous Diet”, concluído em 14 de março de 2014 por pesquisadores belgas concluiu que veganos têm os hábitos alimentares mais saudáveis.
O livro “The China Study” inspirou a criação do documentário “Forks Over Knives“, que conta a história do jornalista Lee Fulkerson, que teve a vida transformada depois de adotar uma dieta vegetariana.
Referências
http://revistagloborural.globo.com/Colunas/sebastiao-nascimento/noticia/2017/04/critica-carne-e-ideologica-diz-drauzio-varella.html
http://www.socakajak-klub.si/mma/The+China+Study.pdf/20111116065942/
http://www.health.harvard.edu/staying-healthy/becoming-a-vegetarian
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10648266
http://www.mdpi.com/2072-6643/6/3/1318
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23836264
https://www.andeal.org/vault/2440/web/JADA_VEG.pdf
http://www.mdpi.com/2072-6643/6/3/1318
http://tv.fusion.net/story/338095/last-year-americans-ate-meat-like-it-was-going-out-of-style-its-not/
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Drauzio Varella, consumo de leite e a Piracanjuba
O médico Drauzio Varella, que se tornou uma referência para milhões de brasileiros, tem realizado palestras incentivando as pessoas a consumirem mais leite. Não são palestras realizadas de forma independente, mas sim patrocinadas pela Piracanjuba, o que acaba por ser um pouco controverso vindo de um conceituado profissional.
A Piracanjuba, ou Laticínios Bela Vista, é uma grande empresa que não apenas investe na exploração de animais em níveis industriais, como também foi investigada em 2015 pela Operação Leite Compen$ado, do Ministério Público do Rio Grande do Sul. À época, descobriram que lotes de leite adulterados com água e soda cáustica chegavam às indústrias Piracanjuba.
Particularmente, não acho correta essa atitude de um médico, porque quando ministramos uma palestra com patrocínio de uma indústria, de algum modo estamos passando um atestado de que confiamos nela. Além disso, é importante considerar que nos últimos anos surgiram inúmeros estudos reprovando o consumo de leite, inclusive por parte da Universidade Harvard (referências ao final do artigo).
Outra importante referência no assunto é o médico estadunidense T. Colin Campbell, que é inclusive filho de ex-proprietários de laticínios e tem livros publicados no Brasil. Ele viaja o mundo falando sobre os malefícios do consumo de leite. Campbell é uma pessoa que dedicou décadas de pesquisa a isso, ao contrário do senhor Drauzio Varella, que embora tenha vasto conhecimento em outras áreas, fala de leite sem ser um especialista ou estudioso do tema, já que suas áreas de conhecimento são outras.
Também temos uma pesquisadora brasileira, a filósofa Sônia T. Felipe, que produziu um livro muito bom, também baseado em anos de pesquisa, que discute o impacto da produção de leite na sociedade e os efeitos dele na saúde humana. A obra intitulada “Galactolatria: Mau Deleite”, lançada em 2012, pode inclusive ser adquirida através de contato pelo site homônimo. Ademais, nunca vi o senhor Drauzio Varella discutindo abertamente sobre esse assunto, mas somente falando sobre os benefícios do alto consumo de leite, sem dar margem para contraposições em relação ao consumo.
Observação
Minha crítica não diz respeito a todo o trabalho do médico Dráuzio Varella, mas somente a esse caso em específico.
Saiba Mais
Para a produção de quatro litros de leite são necessários 3,8 mil litros de água, de acordo com informações do documentário “Cowspiracy – O Segredo da Sustentabilidade”. Essa é a quantidade necessária em todas as etapas de produção.
Referências
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/05/desta-vez-leite-adulterado-continha-so-agua-e-soda-caustica-4759744.html
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/05/mp-flagra-leite-azedo-e-faz-nova-operacao-contra-transportadora-e-cooperativa-4759677.html
http://www.galactolatria.org/
http://www.huffingtonpost.ca/2013/07/05/harvard-milk-study_n_3550063.html
http://nutritionstudies.org/provocations-casein-carcinogen-really/
http://nutritionstudies.org/provocations-dairy-protein-causes-cancer/
http://www.telegraph.co.uk/foodanddrink/healthyeating/10868428/Give-up-dairy-products-to-beat-cancer.html
Contribuição
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Como trocar a faca pelo garfo
Documentário mostra como a dieta vegetariana tem transformado vidas
Lançado em 2011, Forks Over Knives, conhecido no Brasil como Troque a Faca pelo Garfo, é um documentário contundente e muito bem embasado, produzido pelo jornalista estadunidense Lee Fulkerson. Na obra, o espectador é convidado a conhecer as grandes transformações que uma dieta vegetariana proporcionou na vida de muitas pessoas com doenças graves, algumas até mesmo desenganadas pelos médicos. E mais, mostra como a indústria de produtos de origem animal é capaz de manipular a política a seu favor, atribuindo a esses alimentos qualidades que fazem a população acreditar que eles são insubstituíveis, quando na realidade não são.
Com o lema “Que o seu alimento seja o seu remédio”, inspirado em Hipócrates, Forks Over Knives segue na mesma linha intimista de documentários como Super Size Me, de 2004, ou seja, um filme em que o realizador participa como personagem. Fulkerson é um homem com sobrepeso que descobre que possui inúmeros problemas de saúde em decorrência de seus maus hábitos alimentares. Como muitos ocidentais, tem uma alimentação rica em produtos industrializados – principalmente carboidratos ruins, carnes e laticínios.
Com o iminente risco de contrair doença arterial coronariana, o jornalista aceita o desafio de participar de um programa de reeducação alimentar baseado em uma dieta vegetariana. Em um mês, ele começa a perceber mudanças positivas. O mesmo acontece com muitas outras pessoas que participam do desafio proposto por profissionais como o cientista e bioquímico P.H.D. em nutrição T. Colin Campbell, o cardiologista Caldwell Esselstyn e o médico John McDougall, profissionais que se tornaram grandes autoridades do assunto nos Estados Unidos.
Para endossar os benefícios da dieta vegetariana, o documentário apresenta pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Ásia, trazendo informações alarmantes sobre a relação entre doenças e o grande consumo de carne e laticínios. Talvez um dos casos mais emblemáticos dos benefícios da dieta vegetariana seja o de uma atleta que após os 40 anos descobriu que tinha câncer de mama estado em avançado, atingindo os ossos e os pulmões.
Sem se deixar abater, ela adotou a dieta vegetariana e continuou praticando atividades físicas com a mesma intensidade, até que o câncer desapareceu, sem recidiva mesmo após décadas. Outros grandes exemplos são de homens e mulheres que se livraram do diabetes e de outras doenças que exigiam consumo regular de medicamentos. E tudo isso porque encontraram na dieta vegetariana a quantidade necessária de macro e micronutrientes que precisavam para ter uma vida realmente saudável.
Questionado sobre a deficiência de proteínas na alimentação vegetariana, Campbell deixa claro que isso é mito e que é possível sim encontrar em plantas, frutas e grãos tudo que o corpo humano precisa. A economia gerada pelo não consumo de produtos industrializados, carboidratos de baixa qualidade, carnes e laticínios também é outro ponto a se considerar, já que quem segue esse tipo de dieta acaba investindo em mais diversidade de alta qualidade.
Forks Over Knives desvela que a chamada dieta ocidental, rica em carboidratos ruins e grandes quantidades de carnes e lácteos também invadiu a Ásia no período pós-moderno. Enquanto as populações das pequenas cidades e vilarejos preservavam os mesmos hábitos por gerações, os moradores dos grandes centros urbanos foram seduzidos pela praticidade do fast food e pelos excessos no consumo de carne e laticínios.
Através de pesquisa, T. Colin Campbell e outros pesquisadores descobriram que muitos chineses que seguiam uma dieta vegetariana continuavam totalmente saudáveis após os 90 anos. Surpreendente também é o depoimento do homem que possuía 27 problemas de saúde e após adotar o vegetarianismo conseguiu eliminar 26.
O triatleta Rip Esselstyn, inspirado pelo pai, mudou a vida dos bombeiros de um batalhão do Texas depois que entrou para a corporação. E tudo isso sem qualquer imposição, somente mostrando os benefícios práticos do vegetarianismo na vida de colegas de trabalho com altos níveis de mau colesterol. Logo todos concordaram com a inclusão de um cardápio vegetariano. Outros atletas, incluindo um boxeador, também dão depoimentos endossando os benefícios desse estilo de vida. Citam melhor rendimento, melhor recuperação, mais disposição e refutam a afirmação de que há deficiência proteica na alimentação.
Revelador também é o fato de que T. Colin Campbell perdeu espaço em uma das universidades mais prestigiadas dos Estados Unidos por causa do seu posicionamento. A instituição sofreu pressão de uma multinacional do ramo de laticínios e eles optaram por dispensar o cientista. A falácia de que o leite é o alimento mais rico em cálcio é apontada por Campbell como um fator cultural que atravessa décadas e justamente porque as grandes indústrias tiveram sucesso em disseminá-la.
Forks Over Knives prova que direta ou indiretamente os maiores produtores de carnes e lácteos controlam até mesmo o que a população consome nas escolas, em repartições públicas e nas empresas. Ou seja, a influência da indústria é tão grande que foi legitimada como se fosse uma prática aceitável, em prol de um bem maior.
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