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Ephraim Machado presenciou a inauguração da TV em 1950

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“Ouvi muita gente dizendo: ‘Como é que pode, né? O cara lá e a imagem aqui; não dá pra acreditar!'”

Em 18 de setembro de 1950, uma multidão se reuniu em torno de um pequeno televisor (Foto: Divulgação)

Em 18 de setembro de 1950, uma multidão se reuniu em torno de um pequeno televisor (Foto: Reprodução)

O empresário Ephraim Marques Machado, de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, assistiu a inauguração da primeira estação de TV do Brasil. No evento, viu de perto celebridades da Rádio Tupi que migrariam para a televisão. A experiência foi tão marcante que o então jovem se apaixonou pela tecnologia.

No dia 18 de setembro de 1950, em meio a milhares de curiosos de diversas partes do Brasil e do mundo, lá estava Ephraim Machado, participando de um dos momentos mais célebres da história da televisão brasileira: o nascimento da Tupi, de Assis Chateaubriand, que consagrou o Brasil como o quarto país do mundo a ter TV.

“Eu não passava de um jacu que tinha um serviço de alto-falante e saiu do mato para ir a São Paulo ver a inauguração da TV”, conta, às gargalhadas, Machado. O empresário diz considerar esse dia como um dos mais incríveis de sua vida, e ratifica tais palavras com brilho nos olhos.

Ephraim relata que jamais imaginou como seria o primeiro contato com um televisor, objeto nunca visto, nem mesmo em fotografias. De televisão, o pioneiro só tinha ouvido falar. “O impacto foi muito grande, tanto para mim, quanto para outras pessoas. Ao meu lado, ouvi muita gente espantada dizendo: ‘Como é que pode, né? O cara lá e a imagem aqui; não dá pra acreditar!’”, relembra Machado.

Chatô, responsável por trazer a teledifusão ao Brasil (Foto: Reprodução)

Chatô, responsável por trazer a teledifusão ao Brasil (Foto: Reprodução)

À época, o empresário supôs que o televisor fosse simplesmente uma tela parecida com a do cinema. “Pensei também que um cara abria ela. Não tinha nada disso. Por isso me surpreendi tanto”, revela. Contudo, o susto de não foi apenas com o aparelho, mas também com o número de pessoas presentes na inauguração. “Tive uma dificuldade tão grande pra entrar no auditório que você nem queira saber. Tinha gente demais, muita gente mesmo, afinal São Paulo é São Paulo”, comenta.

A experiência foi tão significativa que ele admite ter se apaixonado instantaneamente pela televisão. Inclusive pensou em seguir o caminho do comunicador que tanto admirava: Assis Chateaubriand, proprietário dos Diários Associados. “É um sonho que gostaria de ter realizado. Fiquei muito interessado no produto quando vi. Se naquela época eu morasse numa cidade com potencial de uma metrópole, eu teria dado um jeito de montar uma estação”, assegura.

Quando o governo brasileiro lançou o primeiro edital para pleito de concessões, o pioneiro cogitou a possibilidade de enveredar pela teledifusão. Segundo Machado, havia um bom patrocínio e também inúmeros benefícios. Entretanto, depois de se inscrever para disputar o direito de montar uma emissora, o empresário soube que firmas estrangeiras estavam capitalizando o negócio no Brasil. “Não pude transformar meu desejo em realidade porque vi que não tinha recursos o suficiente para competir com o capital externo. Nunca gostei de sociedade, então desisti”, justifica.

Atraso para entrar no ar

A primeira emissora da TV Tupi, prefixo PRF-3, seria inaugurada às 21h com o programa TV na Taba, mas problemas técnicos causaram atraso de uma hora. “Entrou no ar e saiu do ar. Tudo isso porque a câmera às vezes parava de funcionar. Mesmo assim foi um evento espetacular. Dava gosto ver aquela minúscula telinha”, defende o empresário Ephraim Machado.

Uma das primeiras câmeras da TV Tupi; filme precisava ser revelado (Foto: Reprodução)

Uma das primeiras câmeras da TV Tupi; filme precisava ser revelado (Foto: Reprodução)

Além de assistir ao vivo o primeiro programa televisivo, comandado pelo emblemático Homero Silva, Machado viu de perto dezenas de artistas que fizeram história no rádio, teatro e cinema, como Lolita Rodrigues, Amácio Mazzaropi, Aurélio Campos, Walter Forster e Lima Duarte. “Fiquei deslumbrado quando vi a Hebe Camargo e o J.B. Junior. Deram um rosto para aqueles famosos que tanto ouvíamos na Rádio Tupi”, reitera.

A influência do rádio para a TV também foi explícita, tanto que o pioneiro se recorda de ter visto o apresentador com uma folha de papel em mãos, lendo tudo ao vivo. “Ele parecia não se importar com o que víamos”, brinca o pioneiro, se referindo a um fato de uma época em que ainda não existia videotape.

Tudo era filmado em 35 milímetros e depois o filme era revelado, para então ser transmitido por uma emissora de televisão. A precisão era algo tão distante da realidade na década de 1950 que a filmagem normalmente era veiculada cinco dias depois.

Saiba Mais

A TV Tupi foi a primeira emissora de televisão da América Latina

Todos os equipamentos usados na inauguração da TV eram de origem americana – da Radio Corporation of America (RCA).

No dia do evento, o transmissor foi colocado no topo do prédio do Banco do Estado de São Paulo.

O frei mexicano José Mojica, também cantor, foi a primeira pessoa a se apresentar na TV.

Assis Chateaubriand foi proprietário do Diários Associados, o maior conglomerado de imprensa do Brasil. As posses do comunicador incluíam 36 emissoras de rádio, 34 jornais, 18 estações de televisão, várias revistas infantis, uma agência de notícias, uma editora, a revista O Cruzeiro e a revista A Cigarra.

A trajetória de Brizola

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Um político que foi amado e odiado pelo Brasil

Filme explora a controversa figura do político gaúcho (Foto: Reprodução)

Filme explora a controversa figura do político gaúcho (Foto: Reprodução)

Lançado em 2007, o documentário Brizola – Tempos de Luta, do cineasta gaúcho Tabajara Ruas, embora tenha um título sugestivamente tendencioso, é uma biografia de Leonel Brizola sob a ótica de pessoas que, de algum modo, conviveram com o amado e odiado político, tido como louco por alguns e considerado visionário por outros. Em síntese, uma curiosa obra sobre o homem que por pouco não se tornou presidente do Brasil.

Brizola foi uma das mais controversas figuras públicas deste país e morreu aos 82 anos, em 21 de junho de 2004. Com uma trajetória política de seis décadas, o gaúcho entrou para a história como o único brasileiro a governar dois estados: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

O ex-governador conquistou fama no Brasil no início da década de 1960, após o episódio da “campanha da legalidade”, em que desafiou os militares e defendeu direitos constitucionais após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Além de trazer à tona muitas imagens de momentos importantes da política brasileira que nunca ganharam espaço na TV, o documentário Brizola – Tempos de Luta tem como epicentro um conflito entre o político e o empresário Roberto Marinho, então proprietário da Rede Globo de Televisão.

Brizola

Brizola teve o privilégio de ser governador de dois estados (Foto: Reprodução)

A briga girou em torno de ofensas pessoais que Marinho dirigiu ao desafeto Leonel Brizola em 1992, usando todos os seus veículos de comunicação. O direito de resposta do político, obtido judicialmente, foi levado ao ar dois anos depois por meio da sorumbática voz de Cid Moreira durante uma antológica edição do Jornal Nacional.

Para os defensores do ex-governador, o episódio foi uma vitória, pois pela primeira vez na história da televisão brasileira alguém teve a oportunidade, sob o respaldo da lei, de fazer críticas severas a um grande empresário da teledifusão.

Para evidenciar a forte personalidade de Leonel Brizola, Tabajara Ruas não esconde que o foco maior é a narrativa, inclusive em várias cenas não há riqueza de detalhes, mas sim apenas uma câmera que sem profundidade se fecha diante do político e do microfone. No filme, também há participações dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, além de um relato verossímil sobre o encontro de Brizola com o guerrilheiro argentino Che Guevara no Uruguai em 1961.