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Sobre trabalhar de graça
Toda semana, recebo propostas para produzir conteúdo. O problema é que muitas dessas propostas são de produção gratuita de conteúdo. Ou seja, querem que eu produza conteúdo de graça. Sei que algumas dessas pessoas não têm condições de pagar por tal serviço, embora outras realmente não se importam em lucrar em cima do trabalho dos outros sem pagar por isso.
Sim, se eu pudesse eu trabalharia de graça o tempo todo, mas a verdade é que eu já realizo bastante trabalho independente e voluntário. Quem me conhece, sabe muito bem disso. Não passo um dia sem realizar alguma atividade profissional que não me traga retorno financeiro. Um exemplo é o meu trabalho produzindo conteúdo sobre veganismo e direitos animais, além das minhas receitas. Fora os trabalhos sociais que realizo quase sempre sem apoio. Sendo assim, quando uma pessoa pede que eu escreva de graça, ela está dizendo: “O seu trabalho é bom, mas não vou pagar por ele.”
Bom, não sou estagiário do curso de jornalismo. Trabalho profissionalmente como jornalista há 12 anos. Sendo assim, posso dizer que tenho alguma experiência e já passei da fase de buscar aprovação para ser pago pelo que faço. Claro, já produzi bastante conteúdo gratuito para os outros. Se for algo realmente necessário, ainda faço isso dependendo do caso.
Sim, há pessoas que produzem conteúdo de graça para os outros. Mas muitos não são profissionais da escrita. São pessoas que escrevem eventualmente ou que têm a escrita como algo secundário, logo a fonte de renda delas não é escrever. Jornalistas escrevem diariamente e ganham para escrever porque foram qualificados para isso.
Quando se trata de freelance, ganhamos por laudas, quantidade de caracteres, despesas envolvidas no processo de produção; há uma série de fatores que devem ser levados em conta quando se quer que um jornalista produza algum tipo de conteúdo. Então quando as pessoas insistem em dizer que não custa nada escrever um texto de graça, ainda mais sem ponderar sobre a realidade desse profissional, elas o estão desrespeitando; e muitas vezes nem se dão conta disso. Tanto que há aqueles que torcem o nariz diante da recusa e talvez até falem mal de você.
O que você faria se alguém disponibilizasse um livro seu para ser baixado gratuitamente?
Vi que você fez divulgação de um site que compartilha livros gratuitamente. Agora me tire uma dúvida. O que você faria se alguém disponibilizasse um livro seu para ser baixado gratuitamente?
Eu não faria nada. A ideia de comercializar um livro meu não tem relação com uma imposição ou com uma prerrogativa de limitação ou balizamento de conteúdo. Não existe esse atrelamento entre acesso e pagamento. Se comercializo um livro, é partindo da ideia de uma atribuição voluntária de valor.
Por exemplo, muito do que faço está na internet, disponível para quem quiser, sejam meus textos ou minhas receitas. Tenho uma consciência que não tem nada a ver com essa consciência tradicional de mercado. Dissemino primeiro o conteúdo e depois transformo isso em algo, possibilitando que as pessoas possam comprar o que produzo.
Claro, se elas julgarem que vale a pena. Sendo assim, elas pagam se considerarem válido. E não pagam também se não considerarem. Até quem não quer pagar pode ter acesso ao que produzo, já que continuo gerando conteúdo regularmente e disponibilizando em meio virtual.
Inclusive acho legal a ideia da publicação do livro físico, mas não me importo tanto com ela. Claro que é interessante ter um livro em mãos, há algo de palpável nisso que é significativo aos nossos sentidos, ao mesmo tempo que nos envaidece. Porém, isso não é uma prioridade, não é algo que faça tanta diferença para mim. Além do custo, às vezes penso também na possibilidade do impacto ambiental desse trabalho. A verdade é que basicamente estou aqui para compartilhar informações e isso independe de meio.
Se vou ganhar alguma coisa ou nada produzindo determinado conteúdo, isso depende de uma série de fatores, mas quero continuar compartilhando, se possível. Para se ter uma ideia, muitas das minhas receitas estão registradas, e sei que há pessoas que usam algumas para ganharem dinheiro, de acordo com relatos de conhecidos e amigos.
E o que acho disso? Desde que ninguém seja prejudicado, acho muito bom! Se eu não achasse, isso significaria que a minha preocupação estaria mais voltada para o meu ego do que para a minha intenção que é dividir o que sei com os outros. Por isso, digo que me vejo mais como um compartilhador.