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Insane Clown Posse e a mitologia da violência nos guetos
“Criamos o Dark Carnival para que as pessoas entendam o peso de suas ações”
Fundado em 1989 por Violent J (Joseph Bruce) e Shaggy 2 Dope (Joseph Utsler), o duo de horrorcore Insane Clown Posse, de Detroit, nos Estados Unidos, se popularizou nos anos 1990 por misturar rock e hip-hop, criando um estilo autoral que influenciou músicos e bandas de vários gêneros dentro e fora dos EUA. O que mais chama atenção no trabalho do ICP é que eles são praticamente os únicos a difundirem o horrorcore além do cenário alternativo norte-americano.
A maior parte das músicas do Insane Clown Posse têm relação com o Dark Carnival, uma curiosa mitologia autoral que se baseia na ideia de que as almas das pessoas são enviadas ao limbo, onde aguardam seu destino: céu ou inferno. Para onde cada um vai é determinado pelas suas ações individuais. Entre as músicas apontadas como as mais clássicas do duo estão “The Great Milenko”, “Hokus Pokus”, “The Neden Game”, “Halls of Illusions”, “Boogie Woogie Wu”, “What is a Juggalo?” e “Tilt-A-Whirl”.
Em 2000, quando Violent J estava viajando de Cleveland para Detroit, ele parou em um posto de combustíveis e comprou uma fita K7 com a música “Let’s Go All the Way”, do duo de new wave Sly Fox, de Miami, na Flórida. Joseph Bruce gostou tanto do som que quis regravá-lo. E o resultado foi que a nova versão entrou para a lista de melhores do Insane Clown Posse. Disponibilizada no YouTube em 2007, ultrapassou mais de quatro milhões de visualizações e agradou até quem não simpatizava com o trabalho do ICP.
Ao longo da carreira, o duo já lançou 13 álbuns. O primeiro e que marcou a criação do Dark Carnival foi o “Carnival of Carnage” que usa a mitologia como uma representação da violência dentro dos guetos dos Estados Unidos. E não somente isso. A partir de satíricas críticas sociais, o duo criou um cenário de carnaval itinerante onde a brutal realidade da periferia também é levada para os bairros de classe alta, como desdobramento da miséria e da indiligência. Sendo assim, nas letras do ICP, a violência se desenvolve como prognóstico de um caos mais do que iminente e financiado pelas esferas mais altas do poder.
No início da década de 1990, Violent J e Shaggy 2 Dope desenvolveram um conceito intitulado “Joker’s Cards” que abrange os álbuns “Carnival of Carnage”, de 1992; “The Ringmaster”, de 1994; “The Riddle Box”, de 1995; “The Great Milenko”, de 1997; “The Amazing Jeckel Brothers”, de 1999; “Bang! Pow! Boom!”, de 2009; “The Mighty Death Pop!”, de 2012; e “The Marvelous Missing Link: Lost”, de 2015.
As cartas do Coringa (Joker’s Cards) são enviadas como aviso pelo Insane Clown Posse aos representantes das classes mais altas e também aos políticos que ignoram os apelos das classes baixas. “Nós a entregamos a quem ignora os gritos das cidades. Cada uma das nossas cartas têm um papel específico dentro do Dark Carnival. Falamos da maldade cotidiana para que as pessoas entendam a importância de salvar a alma humana”, explicam Bruce e Utsler.
O conteúdo pesado das letras já chamou a atenção de muitos jornalistas e críticos que apontaram o duo como um paradoxo em essência, já que o ICP tenta ser espiritualista ao mesmo tempo que aborda a violência sem ressalvas. “Sobre isso, só posso dizer que o mais importante é falar a língua das ruas. Tentamos soar interessante para o público, nos aproximando da realidade deles e ganhando sua confiança. Se você é uma pessoa das ruas, é claro que você tem que trilhar esse caminho. Criamos o Dark Carnival para que as pessoas entendam o peso de suas ações”, argumentam.
Conhecidos como juggalos, os fãs do Insane Clown Posse possuem expressões, gírias e costumes bem próprios, tanto na forma de agir quanto de se vestir, como se fizessem parte de uma tribo. E todos os anos milhares de fãs se reúnem no The Gathering, inicialmente sediado em Cave-In-Rock, Illinois, e atualmente em Thornville, Ohio. O evento realizado pelo duo através da Psychopathic Records tem o apoio de astros do rap e do cinema como Ice Cube, Coolio, Vanilla Ice, MC Hammer, Busta Rhymes e Charlie Sheen, além de bandas como Cypress Hill, Drowning Pool, Gwar, Fear Factory, Cannibal Corpse, Andrew W.K., Soulfly e Mushroomhead.
Cover que rendeu mais popularidade ao duo:
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