David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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População começou a pagar impostos em 1953

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Moradores não precisaram pagar tributos por mais de duas décadas

Paranavaí foi distrito de Tibagi, Apucarana e Mandaguari até 1951 (Acervo: Fundação Cultural)

A colonização de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, teve início em 1924, mas a população começou a pagar impostos em 1953,  quando houve a emancipação política que culminou na primeira eleição municipal, de 1952, que elegeu o médico José Vaz de Carvalho como prefeito.

Até 1951, ao longo de mais de duas décadas, Paranavaí foi distrito de Tibagi, Londrina, Rolândia, Apucarana e Mandaguari. Naquele tempo, como era importante para os prefeitos que as colônias se desenvolvessem, permitiam que qualquer tipo de estabelecimento fosse aberto, sem rigor e necessidade de se pagar impostos.

“Uma vez o prefeito de Apucarana criou um decreto que permitia ao comerciante desempenhar atividade por dez anos sem pagar nenhum tipo de tributo”, relatou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho. Ainda assim, é importante lembrar que nenhum dos municípios aos quais Paranavaí pertenceu desempenhou qualquer trabalho voltado ao progresso da colônia.

“Todo povoado tinha que ter uma origem, fazer parte de algum município, então era só algo formal, tanto é que a gente não conhecia essas cidades e quase nunca recebia algum político, investidor ou morador desses lugares. Aqui era bem abandonado”, garantiu o pioneiro cearense João Mariano.

Com o empenho do primeiro vereador de Paranavaí em Mandaguari, Otacílio Egger, que teve ajuda do pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros, a colônia conquistou a emancipação política em 14 de dezembro de 1951, por meio da lei estadual nº 790. Só que foi necessário esperar mais um ano para a realização da primeira eleição que transformou Paranavaí em município.

Ferreira de Araújo lembrou que os impostos começaram a ser cobrados em 1953, após a posse de José Vaz de Carvalho, que assumiu a prefeitura em 14 de dezembro de 1952. “O dinheiro do imposto era nosso, então todo mundo pagava”, comentou. A eleição municipal que elegeu Carvalho como prefeito foi coordenada por um juiz eleitoral de Mandaguari.

Em 1953, ninguém reclamou por ter de pagar impostos (Acervo: Ordem do Carmo)

Segundo o pioneiro catarinense José Matias Alencar, ninguém reclamou por ter de pagar os tributos, pois a população já tinha algum conhecimento sobre o assunto. “Havia muita gente humilde e simples em Paranavaí, mas ninguém era ignorante a ponto de não saber que o investimento era revertido pra gente mesmo, que seria usado para investir em infra-estrutura e mais qualidade de vida”, argumentou Alencar.

Houve grande comemoração quando Paranavaí se tornou município, o que estimulou a comunidade a crer no progresso da cidade. “Quando isso aqui ainda era um povoado ninguém tinha certeza de nada. A gente achava que a qualquer momento Paranavaí podia ser abandonada pelo Governo do Paraná e todo mundo ficaria na mão, perderia tudo que investiu”, revelou João Mariano.

O que aconteceu foi exatamente o contrário do que temiam os moradores. “Quando virou município, a cidade começou a melhorar. Muita gente do Paraná e de outros estados ficaram sabendo e quiseram conhecer. O interesse era bem maior do que na época da Brasileira. Acredito que a maioria nunca mais saiu daqui. Graças a toda essa gente que Paranavaí existe até hoje”, enfatizou o pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza.

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Montoya tinha a estrutura de uma cidade

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População da colônia era de mais de seis mil habitantes

O contato com outras cidades do Paraná só era possível através da Sorocabana (Foto: Reprodução)

Em 1928, a Vila Montoya, atual Paranavaí, no Noroeste do Paraná, ganhou contornos de cidade. A colônia oferecia tudo que era necessário à sobrevivência dos mais de seis mil moradores. No entanto, o único acesso ao lugarejo era a estrada do Porto São José, na divisa com o atual Mato Grosso do Sul.

À época, todos que chegavam a Montoya usavam a mesma via que servia também para ligar a colônia ao Porto Ceará e a Presidente Prudente, no Oeste Paulista, de acordo com dados do livro “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo Soares Silva. No passado, pela mesma estrada se chegava à Gleba-1 Ivaí, Piracema e Povoado de Cristo Rei.

Montoya ficava na Fazenda Brasileira, de Geraldo Rocha (Acervo: História de Barreiras)

Quem precisava viajar para outras cidades do Paraná era obrigado a atravessar a divisa com São Paulo, embarcar em um trem que percorria a antiga Estrada de Ferro Sorocabana até Ourinhos, e de lá partir para Tibagi, no Centro Oriental Paranaense, a quem Montoya pertencia. “Depois a pessoa ia pra onde quisesse, mas não tinha outro jeito. O peão tinha que dar toda essa volta”, afirmou o pioneiro catarinense José Matias Alencar.

Naquele tempo, a colônia tinha 1,2 milhão de cafeeiros, aproximadamente 60 mil ficavam em área onde se situa o Colégio Estadual de Paranavaí (CEP), Cemitério Municipal e Fazenda Experimental do Estado. A colônia ainda contava com uma frota de 25 caminhões, 60 mulas-cargueiras, máquinas de beneficiar arroz, farmácia, serraria com motor a vapor de 50 HP e uma caldeira, armazém, Cartório de Paz e Registro Civil, além de mil casas cobertas de zinco situadas no Jardim Ouro Branco, Fazenda Carneiro Ribas e outras localidades, conforme informações dos livros “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo, e “Pequena História de Paranavaí”, do juiz de direito Sinval Reis.

A Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco), que tinha o direito de concessão da área, investia ao máximo no povoado para evitar que os trabalhadores deixassem o distrito, pois como as viagens eram longas o colono podia perder dias de serviço ou nem mesmo voltar, caso estivesse insatisfeito. Montoya fazia parte da Fazenda Brasileira, de propriedade do jornalista Geraldo Rocha que, além de proprietário de importantes veículos de comunicação situados no Rio de Janeiro – Rádio Nacional e jornais “A Noite” e “O Mundo”, era dono da Braviaco, responsável pela administração de uma área total de 317 mil alqueires no Sudoeste, Oeste e Norte do Paraná.

Trabalho da Braviaco em Montoya era comandado por Landulpho Alves (Foto: Reprodução)

Quem cuidava dos negócios de Rocha na colônia e em toda a região era o vice-diretor da Braviaco, o engenheiro agrônomo Landulpho Alves de Almeida – que se tornaria senador e interventor federal da Bahia – cargo que equivalia ao de governador, Humberto Alves de Almeida e Joaquim da Rocha Medeiros. Humberto Alves, irmão de Landulpho Alves – sócio da Companhia Brasileira, era o responsável pelos serviços de transporte da fazenda e tinha como empregado de confiança o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, considerado o primeiro cidadão de Paranavaí.

Concessão das terras da colônia foi repassada a Lindolfo Collor (Foto: Reprodução)

Salles chefiava um grupo de peões, ajudava a ensacar o café e cuidava para que o produto fosse transportado de forma segura. A Vila Montoya tinha uma população de centenas de famílias que somavam mais de seis mil moradores. A maior parte prestava serviços a Braviaco e aos empreiteiros Gonzaga, João Gomes e Coronel João Antônio. Foram muitos os peões que se casaram em Montoya, alguns até registraram os filhos no distrito, segundo o juiz de direito Sinval Reis.

O responsável por impor a ordem na colônia era o Cabo Simão que trabalhava em parceria com dois soldados da Polícia Militar do Paraná. É importante destacar que Montoya se desenvolveu muito bem até a chegada da Revolução de 1930, quando o Governo Provisório rompeu todos os negócios com a Braviaco. Mais tarde, Getúlio Vargas repassou a concessão das terras da região ao político gaúcho Lindolfo Collor, avô do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Joaquim Medeiros conheceu a região em 1923

A Vila Montoya fazia parte da Gleba Pirapó que somava 100 mil alqueires, cerca de 108 quilômetros de extensão. Começava no Rio Paranapanema e ia até a margem direita do Rio Ivaí. A Gleba fazia divisa ao leste com as propriedades da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), de capital inglês, e a oeste com uma área destinada a Brazil Railway Company, de origem estadunidense.

“Em 1923, abri um picadão com dez metros de largura por sessenta quilômetros de extensão que começava na Fazenda Laranjeira e ia até o Rio Paranapanema. A estrada ficava a duzentos metros da propriedade de Adão Medeiros”, disse o engenheiro agrônomo Joaquim da Rocha Medeiros em entrevista à Prefeitura de Paranavaí em 5 de julho de 1975.

O som dos colonos capinando nas imediações era tão alto que se ouvia mesmo de longe, segundo Medeiros. Encerrada a etapa de abertura do picadão até a divisa com o Paraná, o engenheiro agrônomo embarcou em uma canoa e atravessou o Rio Paranapanema. Já no extremo Norte do Paraná, Medeiros coordenou a derrubada de um alqueire para a construção de um rancho que recebeu o nome de Porto Itaparica que ficava numa área de 20 mil alqueires da Companhia Alves de Almeida. A iniciativa visava facilitar o escoamento do café para o Mato Grosso e Argentina.

Curiosidades

Os migrantes trazidos à Vila Montoya pela Braviaco eram de Minas Gerais, Piauí, Ceará, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Bahia. Porém, é bem provável que pessoas de outros estados e países também já viviam no povoado.

A intenção da Braviaco era explorar o café da Fazenda Brasileira por 20 anos e depois migrar para a pecuária.

Saiba Mais

Antônio Geraldo Rocha nasceu em Barra, Bahia, em 14 de julho de 1881 e faleceu aos 78 anos em 19 de junho de 1959. Em 1931, deixou de representar os interesses da empresa norte-americana Brazil Railway Company e foi obrigado a hipotecar parte dos bens. Rocha é autor do livro “O Rio São Francisco: fator precípuo da existência do Brasil” que contribuiu para a implantação da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF).

Landulpho Alves de Almeida nasceu em Santo Antônio de Jesus, Bahia, em 4 de setembro de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro, capital, em 15 de outubro de 1954. Como político, Landulpho Alves é sempre lembrado como defensor da estatização do petróleo e relator da lei N 2.004, de 1953, que deu origem a criação da Petrobrás.

Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor nasceu em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, em 4 de fevereiro de 1890 e faleceu em 21 de setembro de 1942, no Rio de Janeiro, capital. Apesar de ter sido correligionário de Getúlio Vargas durante o Governo Provisório que sucedeu a Revolução de 1930, Collor se tornou um combatente da política ditatorial do Governo Vargas, chegando a ir para o exílio. Tornou explícito o desprezo pela ditadura em muitos jornais do Brasil, inclusive no semanário “Diretrizes”, do jornalista Samuel Wainer.

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Vila Montoya estava abandonada em 1932

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Landulpho Alves encontrou a Vila Montoya destruída (Foto: Reprodução)

Em 1932, o tenente-coronel Palmiro, da Polícia Militar do Paraná, e o vice-diretor da Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco), o engenheiro agrônomo Landulpho Alves de Almeida, encontraram a Vila Montoya, hoje Paranavaí, no Noroeste do Paraná, destruída, com muitas casas queimadas.

De acordo com informações do livro “Pequena História de Paranavaí”, de autoria do juiz de direito Sinval Reis, Palmiro e Almeida se surpreenderam ao ver a colônia desabitada. Os dois se depararam com centenas de casas destruídas, completamente queimadas. Na fazenda que recebeu o nome de Vila Montoya restaram poucos moradores, dispersos por vários pontos. “Estavam aqui Frutuoso Joaquim de Salles, José Firmino da Silva, João Clariano, Velho Caboclo, Marins, Velho Roque e mais alguns”, afirmou o juiz.

Os remanescentes continuaram na fazenda porque não achavam que valeria a pena migrar novamente, reviver as mesmas dificuldades que tiveram quando chegaram à região. Além disso, ainda havia cafeeiros para serem explorados. Na fazenda, os poucos colonos deram continuidade a produção, levando-a para ser comercializada em Presidente Prudente, no Oeste Paulista, conforme já o fazia a Braviaco antes de ter a concessão de terras da colônia revogada.

Quem também veio à região em 1932 foi o arrendatário Mario Pereira que construiu em Montoya a residência mais luxuosa do Noroeste Paranaense, criada sob o padrão estético europeu. A mansão também foi consumida pelas chamas. Sobre tal fato, ao longo de décadas, os pioneiros de Paranavaí levantaram três possíveis suspeitas. A primeira atribui ao presidente Getúlio Vargas o fim de Montoya.

Sinval Reis (de óculos): “Estavam aqui Frutuoso Joaquim de Salles, José Firmino da Silva, João Clariano, Velho Caboclo, Marins, Velho Roque…” (Acervo: Ordem do Carmo)

Especula-se que o Governo Vargas tenha enviado uma tropa do Exército Brasileiro à Vila Montoya para promover a destruição das residências, além da queima de milhares de pés de café. “O presidente Vargas anulou o contrato com a Braviaco e pegou todas as terras de volta porque a colonizadora apoiou um adversário político, o Júlio Prestes. Então mandar soldados para fazer esse tipo de serviço era uma forma de mostrar a companhia quem mandava aqui, caso alguém da Braviaco aparecesse de novo por essas bandas”, disse o pioneiro cearense João Mariano.

A segunda hipótese culpa a Companhia Brasileira de Viação e Comércio pelo que aconteceu. “A própria Braviaco poderia ter feito isso para se vingar do Governo Federal e também evitar que outros usufruíssem de suas benfeitorias. Muito dinheiro foi gasto. Você acha que eles deixariam outro se beneficiar disso? Acho que não!”, justificou o pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza. Já a terceira suspeita diz respeito a grupos de criminosos que viajavam pelo Oeste Paulista e Norte do Paraná no princípio dos anos 1930, realizando atos de vandalismo, assaltos e saques. “Esses bandos visavam apenas colônias abandonadas e povoados que não contavam com força policial”, comentou o pioneiro catarinense José Matias Alencar.

Sobre a destruição de Montoya, há apenas inferências, pois os pioneiros que viveram esse período faleceram há muito tempo e nunca se dispuseram a falar abertamente sobre o assunto, nem mesmo o pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, homem que participou de praticamente todos os acontecimentos mais importantes do princípio de Paranavaí.

O que aconteceu com a população de Montoya?

Como o direito de concessão de terras da Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) foi revogado em 1931, os mais de seis mil colonos que viviam na Vila Montoya ficaram sem trabalho. Muitos eram analfabetos e jamais desempenharam qualquer atividade que não a de empregado em lavouras. Por isso, sem terem como se sustentar, foram obrigados a partir em busca de serviço em outras colônias e cidades.

Supostamente, em vez de assegurar o emprego dos milhares de trabalhadores de Montoya, assumindo a colonização da região ou repassando a concessão a uma nova colonizadora, o Governo Federal preferiu, por questões ideológicas políticas, ignorar toda a problemática socioeconômica que surgiu naquele momento. A área só voltou a ser colonizada em 1935.

Há quem acredite que foi uma tentativa de mais tarde negar a existência do lugarejo, a partir da anulação histórica, já que restariam poucas testemunhas para futuramente relatarem o que aconteceu. Tal iniciativa pode ter contado com a conivência dos primeiros pioneiros de Paranavaí que ao longo da vida sempre evitaram falar sobre o assunto.

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A velha jardineira deixou saudades

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Catita e Pavão foram os principais meios de transporte em Paranavaí nos anos 1940 e 1950

Jardineira chegou a Paranavaí graças ao empresário Celso Garcia (Foto: Reprodução)

Jardineira chegou a Paranavaí graças ao empresário Celso Garcia, de Londrina (Foto: Acil)

O antigo ônibus jardineira da Viação Garcia deixou muitas saudades para os pioneiros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. São lembranças que começam em 1939, quando a empresa de transporte londrinense começou a investir na Fazenda Brasileira, atual Paranavaí.

Até 1938, todos os pioneiros que se aventuravam na Brasileira chegavam ao povoado de jipe, caminhão, carroça, cavalo ou a pé. A escassez de estradas, e também o fato da colônia se situar em uma área isolada, fazia com que somente os corajosos viessem para cá.

O pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles contou em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás que o povoado estava distante do resto do Paraná. “A gente tinha que viajar até Presidente Prudente [interior de São Paulo], daí lá pegava um trem até Ourinhos e depois a cavalo ou a pé ia pra Tibagi [no Centro Oriental Paranaense]. Dava toda essa volta pra chegar em outras cidades do Paraná”, contou.

Foi assim até 1936, quando o Capitão Telmo Ribeiro reabriu a Estrada Boiadeira ligando Paranavaí ao resto do Paraná. Três anos depois, a iniciativa despertou o interesse do empresário Celso Garcia Cid que viu grande viabilidade comercial no povoado. Em 16 de dezembro de 1939, o empreendedor que atuava no ramo de transportes há cinco anos inaugurou a linha Londrina-Fazenda Brasileira. Naquele dia, Celso Garcia conduziu a jardineira “Catita”, adaptação de um caminhão Ford TT de 1933, até o seu destino.

Muitos pioneiros chegaram à Brasileira no “Pavão”

Segundo o ex-prefeito Ulisses Faria Bandeira, em entrevista à prefeitura há algumas décadas, a viagem teve início às 17h30. “Chegamos aqui por volta das 14h do dia seguinte”, afirmou. Além de Faria Bandeira, entre os passageiros da primeira viagem da Viação Garcia a Paranavaí, estavam o prefeito de Londrina, João Lopes, e o fazendeiro Humberto Alves de Almeida.

Os viajantes logo apelidaram a estrada Londrina-Fazenda Brasileira como “Túnel Verde” por causa da mata densa e virgem que predominava na região Noroeste do Paraná. De acordo com pioneiros, o cenário era tão bonito que chegava a ser inacreditável. Durante o percurso era comum muitos mosquitos e borboletas invadirem a jardineira nas imediações da Capelinha, atual Nova Esperança.

Os insetos circulavam livremente no interior do veículo. “Isso acontecia porque os ônibus eram abertos como bondes”, relatou o pioneiro Oscar Gerônimo Leite. Por um bom tempo, o Governo do Paraná bancou as despesas da Viação Garcia, pois a demanda era pequena e a realização de duas viagens por mês não cobria o investimento.

O “Pavão” da Brasileira

Durante a Segunda Guerra Mundial, o ônibus que mais fez a linha Londrina-Paranavaí era conhecido como “Pavão”. O ônibus movido a gasogênio era econômico, ideal para o período de guerra que ficou marcado pelo racionamento de combustível. Na década de 1940, o veículo chegava a Paranavaí em 16 horas.

Viagem de Londrina a Paranavaí durava até 18 horas

Por vários anos, a Viação Garcia transportou passageiros que não tinham condições de comprar passagem. Cada um pagava conforme podia, até mesmo com galinhas. Quando chovia durante a viagem, o motorista encostava o ônibus e amarrava correntes nos pneus para evitar que atolasse. “Lembro que uma vez a gente levou oito dias de Londrina até aqui. Cheguei com os peitos doendo de ajudar a empurrar um carro velho da Garcia pelo picadão”, revelou o pioneiro José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão.

O pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros disse que nunca se esqueceu das viagens com o “Pavão”. “A gente tinha que atravessar um barro preto lá perto de Mandaguari e depois o areião de Maringá pra cá”, assinalou. Muitos pioneiros chegaram a Paranavaí com a jardineira. Alguns exemplos são o catarinense Carlos Faber, o gaúcho Severino Colombelli e os mineiros Enéias Tirapeli e José Antonio Gonçalves.

Naquele tempo em que as viagens duravam de 17 a 18 horas, o “Pavão” nunca deixou de cumprir a linha, nem quando havia só dois ou três passageiros. Com o passar dos anos, a demanda aumentou e a Garcia quadruplicou o número de viagens. “Em vez de duas por mês, ampliou para duas por semana”, enfatizou a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger.

Ônibus também trazia notícias (Foto: Francisca Schueroff)

Com as jardineiras não chegavam apenas pessoas, mas também informações, conforme palavras da pioneira Inês Colombelli. “Sempre às 11h e às 14h, mulheres e crianças corriam até os ônibus para saber das notícias”, explicou. Era o único jeito da população se informar sobre o que acontecia no Paraná, no país e no mundo.

Frases dos pioneiros sobre a época das jardineiras

Joao da Silva Franco

“A jardineira era velha, não era estofada, e se entrasse de um lado saía do outro.”

Cincinato Cassiano Silva

O ônibus era todo aberto e só com as bancadas pregadas, e duro que nem pau.”

Salatiel Loureiro

“O fundador da primeira empresa de ônibus da Brasileira foi o Manezinho. Esse coitado acabou em nada e os ônibus dele não aguentavam nem fazer daqui até o Porto São José.”

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