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Morro Três Irmãos era usado por criminosos
Na década de 1950, o Morro Três Irmãos, em Terra Rica, mais conhecido como Três Morrinhos, era usado por criminosos como refúgio. No local, dizem que foram assassinadas muitas pessoas. Uma senhora que ainda mora na cidade me contou que nos tempos da colonização de Terra Rica, o tio dela torturou, matou e escondeu o cadáver de um homem em uma caverna de difícil acesso no terceiro morro. Outros pioneiros relataram que dependendo do dia, quando se passa perto do morro à noite, é possível ver uma “luzinha” seguindo os passantes. Por tal motivo, muitos moradores de Terra Rica se recusam a frequentar o local quando escurece.
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Três Morrinhos: dos índios aos esportistas
Morro Três Irmãos foi cenário de importantes acontecimentos envolvendo a civilização indígena
Com uma geomorfologia que ultrapassa milhares de anos, o Morro Três Irmãos, em Terra Rica, é o ponto mais alto do extremo Norte do Paraná. Além do atrativo turístico, surpreende também pelos fatos, mitos e lendas relatados por quem, de forma abnegada, se dedica a perpetuar a história da própria terra.
Na microrregião de Paranavaí, é raro encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar do Morro Três Irmãos, mais conhecido como “Três Morrinhos”. Com 190 metros de altura, o pico desponta como o ponto turístico mais importante de Terra Rica. Nem poderia ser diferente, já que desde 1985 sedia campeonatos de voo livre com participantes do Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Argentina, Paraguai e Bolívia.
O fato do morro existir em uma região totalmente plana desperta curiosidade em quem o visita pela primeira vez. “É um extra na paisagem. Desde criança isso já me chamava a atenção”, afirma o pesquisador Edson Paulo Calírio que na infância passava horas observando no horizonte, a uma altitude de 640 metros, a imponência hipnotizante da natureza.
Motivado em conhecer mais sobre a história de Terra Rica e das belezas naturais que a circundam, Calírio pesquisou sobre o assunto. Entre as surpresas, a descoberta de que o “Morro Três Irmãos”, antes de ser patrimônio do Paraná e até mesmo do Brasil, pertenceu ao Paraguai. Fazia parte de um dos mais valorizados pontos turísticos do Estado de Guairá.
À época, a região era habitada por índios guaranis catequizados pelos espanhóis. Segundo Calírio, a situação ficou tensa quando os portugueses chegaram ao local. Houve um grande confronto e, vitoriosos, os lusos expulsaram os espanhóis.
A justificativa para milhares de índios vivendo em torno dos Três Morrinhos era o fácil acesso aos recursos necessários à subsistência, além da privilegiada perspectiva do Pontal do Paranapanema. “Aqui servia como um ponto de referência para eles. O município de Terra Rica é rico em rios, então podemos perceber que eles quiseram desfrutar deste privilégio”, enfatiza o pesquisador apontando, de cima do primeiro morro, as correntes fluviais mais próximas.
Há algumas décadas, apesar da falta de bibliografia, e partindo de uma experiência empírica ou relativamente in loco, moradores de Terra Rica tiveram os primeiros contatos com materiais que confirmam a presença espanhola e indígena na área.
O pai de Edson Calírio, por exemplo, encontrou, às margens do Rio Paranapanema, uma espada que há centenas de anos pertenceu a um espanhol. A confirmação veio após o instrumento ser enviado para análise em São Paulo. “Ele não sabia do que se tratava na época. Pensou que fosse um facão ou algo do tipo. Curioso, decidi buscar mais informações”, explica o pesquisador.
Estrutura rochosa impede definhamento
Sobre o passado, uma prova que ratifica a existência de índios no Morro Três Irmãos, em Terra Rica, é uma machadinha encontrada pelo pesquisador Edson Paulo Calírio. A arma, feita a partir de uma rocha, é relativamente arredondada e possui um corte lateral. “É bem provável que tenha sido utilizada em batalhas. Aqui mesmo do alto deste morro”, avalia o pesquisador.
Naquele tempo, era uma prática indígena comum a de conceber armas a partir de rochas. A justificativa são os três morros que existem justamente em função desse mineral tão abundante. “Aqui temos apenas rocha matriz do arenito Caiuá, e todas têm aproximadamente cinco mil anos. É muito resistente. Você percebe que o relevo se desgastou, mas não os Três Morrinhos que são formados por esse material rochoso”, argumenta.
História X Lenda
Com o passar dos anos, moradores locais se interessaram em conhecer de perto os Três Morrinhos. A vontade foi impulsionada por uma vigorosa resistência física, já que era necessário pensar nas adversidades envolvendo a fauna e a flora local. “Antigamente tinha que subir isso aqui passando pela mata. O povo sofria muito porque não havia nenhum caminho delimitado”, conta o pesquisador Edson Paulo Calírio.
Com a oportunidade de conhecer o Morro Três Irmãos, vieram histórias que contrastam com lendas. De acordo com o pesquisador, houve uma época, há 50 anos, em que muitos capangas eram designados por grileiros a roubarem terras nas imediações. “Temos uma senhora de Terra Rica que quando era criança o tio dela lhe contou que matou um homem e colocou o corpo dele dentro de uma caverna no terceiro morro”, afirma Calírio.
Um dos melhores pontos do Paraná
No início da década de 1980, a construção de um pequeno caminho cimentado, dando acesso aos Três Morrinhos, foi determinante para atrair centenas de praticantes de voo livre. Por se situar em uma região, a probabilidade de riscos durante o salto é menor.
Em 1985, quando o primeiro campeonato de voo livre foi realizado em Terra Rica, pouco tempo depois a cidade se tornou parada obrigatória para os amantes do esporte radical. Foram sete anos consecutivos como sede do Campeonato Brasileiro e Paranaense.
Todos esses eventos, aliados à condição topográfica, tiveram grande importância para que o Morro Três Irmãos, de acordo com especialistas em voo livre, fosse visto como um dos melhores lugares do Paraná para a prática do esporte. “Terra Rica é a capital paranaense do voo livre”, diz orgulhoso o pesquisador Edson Paulo Calírio.
Outro motivo de orgulho para os 15 mil habitantes de Terra Rica é o fato de nunca ter acontecido nenhuma fatalidade durante um campeonato ou curso de voo livre. “Tivemos alguns acidentes, mas poucos de alta gravidade. Quem vem pra cá é profissional. Além disso, temos instrutores muito bem preparados”, assegura Calírio.