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Um porto realmente rico
Porto Rico é uma cidade onde a cultura nativa contrasta com a modernidade
Graças à proximidade com o Rio Paraná, Porto Rico, uma pequena cidade com cerca de 2,5 mil habitantes, figura como destaque turístico do Noroeste do Paraná, onde a cultura nativa contrasta com a modernidade.
Na cidade de clima aprazível, a cada rua é possível se deparar com dois universos dividindo o mesmo espaço – o folclórico e regionalista dos nativos e o moderno e emergente dos investidores. Nada mais emblemático que os velhos pescadores que ainda preservam uma mística relação com o rio e com a terra, herança da cultura ribeirinha.
É fácil encontrá-los ao entardecer. Estão próximos da margem, namorando a paisagem enquanto os nativos mais jovens, cativados pela luz solar que parece descortinar as águas do rio, acionam os motores dos barcos para fazerem a travessia até a praia, perdida como um oásis, no coração do Paranazão.
Paralelo a essa realidade cotidiana, empresários que acreditaram no potencial turístico local reconstruíram Porto Rico. Investiram em condomínios, parque aquático, marinas, pousadas, hotéis e restaurantes, tudo com a intenção de atrair turistas de todo o país. E o objetivo está sendo alcançado, tanto que há 10 anos um terreno que custava em torno de R$ 4 mil, hoje dificilmente é vendido por menos de R$ 90 mil.
Na pequena cidade, obras estão sempre em andamento, vetorizadas pela relação satisfatória entre poder público e privado. Reflexo disso é que enquanto municípios vizinhos, ou do mesmo porte, comercializam casas na região central por R$ 40 mil, em Porto Rico as residências mais bem localizadas custam de R$ 200 mil a R$ 1 milhão.
Quase todas as casas de veraneio de grande valor estão situadas em três condomínios de luxo e pertencem a proprietários não apenas do Paraná, mas de outros estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já na área comercial, a maior parte dos investimentos parte de empresários de Paranavaí, Maringá e Cianorte.
São obras que depois de concluídas melhoraram a arrecadação tributária do município, algo que reflete na qualidade de vida dos moradores. Atualmente, Porto Rico está completamente pavimentada e a quantidade de galerias pluviais já cobre 100% do perímetro urbano.
Sobrevivendo do Paranazão
Apesar da queda do volume de peixes, pescadores continuam na ativa e complementam a renda atuando como guias
Apesar da queda do volume de peixes, pescadores do Porto 18, há 22 km de Querência do Norte, no Noroeste do Paraná, dizem acreditar que a pesca no Rio Paraná ainda é compensatória. Se faltar peixe no rio, a valorização do preço garante a lucratividade. Com tal perspectiva otimista, dois ribeirinhos sustentam a família sem precisar se mudar para a cidade.
Antônio Medina de Souza Neto, 29, e Sebastião Pedro da Silva, 39, conhecido como Tião Paçoca, percorrem, do interior de dois pequenos barcos de madeira, as águas do Rio Paraná de segunda à sexta. “Comecei a pescar com 12 anos. Sinto falta de quando pescava bastante peixe. Mas estou feliz porque os 10 kg de hoje equivalem aos 50 kg de outros tempos. Ou seja, se pesca menos, mas o lucro é o mesmo”, assegura Neto.
Tião Paçoca lembra a época em que pescava mais de 100 kg de peixe. Emocionado, jura que não é apenas história de pescador. “Pegava até 14 dourados no mesmo dia. Foi assim durante dois meses em 2002. Não ganhava menos de R$ 1 mil com a pescaria”, relata. Com a construção das barragens, a queda no volume de peixes atingiu todos os pescadores locais, segundo Tião. Por outro lado, contribuiu para a alta no preço da carne branca. “Ainda dá pra tirar uns R$ 800 por mês. O lucro é garantido pra quem pesca piapara e dourado”, comenta o pescador.
Entre os pescadores de Querência do Norte e região há unanimidade com relação à pesca nas imediações do Porto 18. “Não há melhor lugar. Tem dia que ainda pegamos 20 kg de peixe”, afirma o sorridente e bem-humorado Tião Paçoca. Setembro é considerado o melhor mês para a pesca, quando se torna fácil encontrar peixes realmente grandes. Na primavera, turistas aproveitam a oportunidade para conhecer a área. “Abril também é um ótimo mês para pescar”, pontua Antônio Medina, em referência que também remete ao fim da piracema, período em que a pesca é proibida para não atrapalhar a cadeia reprodutiva dos peixes.
Recursos naturais impulsionam o turismo
Quem já teve a oportunidade de conhecer alguns dos portos que circundam Querência do Norte, se sente enfeitiçado pelas belezas naturais da região. Cientes da atenção que a fauna e a flora local atraem, pescadores encontraram no turismo uma alternativa para agregar mais renda.
De segunda à sexta, é fácil ver sobre as águas do Rio Paraná um grande número de barcos procurando os melhores cardumes da região. Os pescadores só deixam as varinhas de lado aos sábados e domingos, quando assumem o papel de guias turísticos. “Em média, atendo 25 pessoas por mês e cobro R$ 50 reais de cada grupo”, assinala o pescador Antônio Medina de Souza Neto. O pescador Tião Paçoca cobra o mesmo valor e considera o trabalho prazeroso. “Aqui a gente mostra que realmente conhece tudo”, frisa.
Em Querência do Norte, muita gente disponibiliza o barco com motor por diárias de R$ 100, preço fixado pelos pescadores. “É uma alternativa para quem prefere um programa mais calmo, como pescar. Já os aventureiros optam por conhecer as ilhas”, diz Neto. A experiência de Tião Paçoca e Medina de Souza Neto faz com que turistas de cidades bem distantes sempre os escolham como guias. “Já auxiliei muita gente de Ribeirão Preto, Sertãozinho, Marília, Curitiba, Londrina, Maringá e Paranavaí”, exemplifica Tião.
A única queixa dos pescadores diz respeito a precariedade da estrada que os turistas têm de percorrer para chegar até o Porto 18. “O caminho é muito ruim. Muita gente desiste de vir aqui. Se algo fosse feito, ganharíamos muito mais dinheiro”, avalia Antônio Medina de Souza Neto.