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Considerações sobre os mais de 25 mil bois enviados à Turquia
Mais de 25 mil bois estão indo para a morte na Turquia e isso é lamentável, mesmo sabendo que aqui o destino deles não seria outro. Mas pelo menos isso está servindo para mostrar a quem quiser ver que tipo de tratamento “humanitário” que são dispensados aos animais, que antes de partirem já passavam por situações de privação envolvendo fome e sede, além de mortes registradas no Navio Nada, segundo laudos veterinários. Isso sem citar ainda o fato de que já havia bovinos bem “acomodados” entre as próprias fezes.
Outro ponto a se considerar é que a Bancada Ruralista, que em conjunto com a Bancada Evangélica domina a Câmara dos Deputados em Brasília, mais uma vez está mostrando a sua face, que não tem nada a ver com os interesses da população, mas sim uso de ferramentas políticas a serviço dos próprios interesses. Algo que, sem dúvida, vê quem quiser ver, já que informações disponíveis não faltam.
O episódio também está servindo para chamar a atenção para a Minerva Foods, que não muito diferente da JBS/Friboi, é apenas mais uma empresa envolvida em maus-tratos contra animais, exportação de carne contaminada, boicote no Chile, exploração de trabalho análogo ao escravo e pagamentos de propina para fiscais das superintendências federais de agricultura .
Tratando-se de grandes empresas produtoras de alimentos de origem animal, podemos perceber mais uma vez, com esse e com outros exemplos, que o que muda, de tempo em tempo, são os nomes em maior evidência, porque o modus operandi parece sempre o mesmo – sujeira para quem quiser ver.
Será que isso não deveria levar as pessoas a repensarem o consumo de animais e as nossas relações com seres não humanos? Será que deveríamos ser realmente individualistas em relação a isso? O que esperar de bom em longo prazo de um processo que começa impondo privação aos animais e que culmina em milhares, milhões e bilhões de mortes? O prazer efêmero do paladar vale tudo isso?
Dado Dolabella fala sobre o envio dos 25 mil bois enviados à Turquia
Dado Dolabella foi preso por falta de pagamento de pensão, uma dívida que dizem ser de R$ 200 mil, e, claro, não cabe a mim julgá-lo porque não conheço a situação. Mas achei legal ele falar brevemente sobre a realidade dos bois que foram enviados em situação degradante para serem mortos na Turquia. Fez uma crítica bem interessante sobre o assunto, mas cortaram o discurso dele na Record. O apresentador Reinaldo Gottino disse que não tinha nada a ver o discurso dele. No entanto, a pergunta que permitiu tal comentário partiu da própria jornalista.
Achei lamentável a falta de perspectiva do apresentador. Dado Dolabella é vegano e aproveitou a oportunidade para falar de outra situação que ele considera muito mais relevante que a prisão dele, já que foi dada a oportunidade dele fazer o que quisesse sobre a justiça brasileira. Talvez por Gottino estar imerso em uma consciência especista seja difícil entender algo assim, mas não vejo razão para fazer o cara parecer “louco”. Mesmo curto, o discurso dele foi bem lúcido e coerente.
Talvez o corte, que provavelmente eles alegariam que pode ser justificado como uma descontextualização, mesmo não sendo aleatório, tenha relação com o fato de que o Beto Mansur (PRB-SP), da Bancada Ruralista, e um dos envolvidos na intervenção que garantiu a liberação do navio com os mais de 25 mil bois, possua estreita relação com a Bancada Evangélica, que não é novidade para ninguém que em diversas situações já fez dobradinha com os ruralistas, até porque há deputados que estão nas duas bancadas. Logo, mesmo que eu esteja errado, isso é no mínimo suspeito, levando em conta que a Record aparenta ter um relacionamento de conveniência com a Bancada Evangélica.
Bancada Ruralista se mobilizando para fazer o navio com 25 mil bois seguir viagem para a Turquia
A Bancada Ruralista está se mobilizando para fazer o navio seguir viagem para a Turquia com os mais de 25 mil bois em situação degradante no Porto de Santos. Se isso acontecer, será apenas mais uma prova de que definitivamente vivemos em um país onde manda quem pode mais.
Provavelmente, essa vai ser uma das manifestações mais determinantes dos últimos anos no Brasil, e é vergonhoso ver a pouca valorização por parte da imprensa e até mesmo da população. A situação está sendo praticamente ignorada por quem não se importa com a causa animal.
Só a mídia independente e os ativistas, que não devem nada a Minerva Foods e a esses políticos oportunistas, que estão trabalhando a favor do verdadeiro bem-estar animal. Muitas pessoas vivem, de fato, em uma condição egoica, imersas em si mesmas e nos seus; e aqueles, de outras espécies, que são diferentes de nós, são tratados não apenas como produtos – mas como lixo também.
É muito triste ver tantas pessoas não dando a mínima para a situação, não reconhecendo que isso já não se trata apenas de uma questão de valorização da vida animal, mas obviamente também de justiça social. Se esse navio seguir viagem, será mais uma derrota para a dignidade animal – humana e não humana e uma grande vitória do oportunismo e da desconsideração à vida. Se isso acontecer, a frase do Tim Maia de que o Brasil não é um país sério deve reverberar mais um pouco.
Para além do destino final que é a morte para ser reduzido a alimento
Para além do destino final que é a morte para ser reduzido a alimento, os bezerros enviados para a Turquia levaram choque no momento do embarque e seguem viajando em pé por um percurso que deve levar no mínimo 15 dias. Que tal se colocar um pouquinho no lugar deles? Isso é realmente aceitável? Será que deveríamos colaborar com isso?
E logo mais eles serão abatidos por degola com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago – abate halal. Esse é o destino que deveríamos dar aos animais? Infelizmente, esse é o tipo de prática que endossamos por meio do consumo de carne.
Envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica
O envio de 27 mil bezerros para a Turquia pode abrir um precedente para uma situação ainda mais crítica. Se essa megaoperação for considerada “bem-sucedida” o Brasil pode se tornar um grande fornecedor de bezerros para a indústria estrangeira de carne. O que isso significa? Que no futuro a vida dos bovinos, que já é terrível partindo da objetificação, pode ser ainda mais curta.
Vivemos em um país onde os produtores de carne sempre alegam desvantagem quanto ao abate de bezerros. Porém, com um mercado estrangeiro ávido por esse tipo de carne, e que “paga bem”, tanto que a Turquia reduziu de 60% para 10% a tarifa sobre importação de gado, provamos que nossos subjetivos escrúpulos, que já ignoram o direito dos animais à vida, são sempre negociáveis. Sendo assim, podem tornar-se um pouco mais deletérios.
Por outro lado, essa situação também traz luz à desonestidade da indústria da carne. Qual seria? Essa ação reforça o fato de que o “abate humanitário” sempre foi um engodo, já que não apenas enviamos animais para a morte, mas também de acordo com o “gosto do cliente”. Se isso significa degolar crianças de outras espécies, que assim seja, não é mesmo?
Para quem lucra com esse tipo de negociação, desde que tenha sido muito bem pago, pouco importa o destino desses animais. Já os bezerros, enviados para uma jornada que termina com suas cabeças separadas dos corpos, em breve serão consumidos e esquecidos como se jamais tivessem existido. Se nada for feito, muito mais bezerros terão o mesmo destino.
O que a grande mídia fez para favorecer o transporte dos 27 mil bezerros para a Turquia:
— A maioria não citou que são bezerros, o que acredito que, por estranhamento e associação, poderia ter despertado alguma reflexão sobre a exploração e o consumo de animais.
— Falou do que isso pode representar economicamente.
— Citou como a exportação de animais vivos pode beneficiar o Porto de Santos
— Ouviu somente os envolvidos na megaoperação.
— Publicou apenas fotos do navio ainda vazio e de poucos animais no Porto de Santos.
— Deu ênfase no trabalho da Minerva Foods, destacando a grandiosidade da exportadora responsável pelo envio dos animais.
— Descreveu positivamente a estrutura do navio, endossando o embarque dos animais. Porém, não citou a área destinada a cada animal.
— Citou cifras, cifras e mais cifras para fazer todo o resto parecer insignificante.
Sobre o envio de 27 mil bezerros para a morte na Turquia
Em 15 dias, ou talvez um pouco mais, o Porto de Iskenderun, no Mar Mediterrâneo, na Turquia, espera receber 27 mil bezerros que embarcaram no Porto de Santos. São jovens animais que antes enfrentaram uma viagem desgastante de 500 quilômetros confinados em carretas. Tanto que muitos embarcaram visivelmente cansados.
Em entrevista, o representante do navio libanês Nada, responsável pelo transporte, disse que tudo foi feito para que os bezerros não sofram durante a viagem. Mas a objetificação desses animais reduzidos a alimentos e a própria viagem em si não são atos de violência? Será que os 27 mil bezerros têm condições de suportar uma viagem desse tipo? Com duração de no mínimo 15 dias em um ambiente totalmente fechado, e privados da luz solar. Pense no nível de estresse desses animais nos próximos dias.
Viagens de carreta já são desgastantes, agora imagine ser enviado em seguida para uma viagem de navio. Além disso, é importante ponderar que embora os animais estejam viajando dentro de um navio, os bezerros ficam bem próximos uns dos outros, e partilhando de um espaço bem reduzido e do mesmo sentimento de estranhamento. Imagine esses animais, cada um pesando 450 quilos, desembarcando na Turquia depois de tanto tempo sem espaço para se locomover adequadamente.
Isso é saudável? Qualquer animal condicionado, logo forçado a passar dias sem se movimentar, está sendo privado de sua natureza, já que corpos foram feitos para o movimento. Após 17 anos, estamos vivendo um retrocesso, já que o último transporte com “carga viva” registrado no Porto de Santos foi em 2000. E quando falamos em bezerros não podemos esquecer que são animais precocemente afastados do convívio com os seus. Isso é justo? Viver para ser reduzido a pedaços de carne? Infelizmente é isso que financiamos quando nos alimentamos de animais. Outro ponto que parece ter sido ignorado é que esses bezerros estão sendo enviados para um país onde o abate predominante é o halal.
Nesse tipo de abate, o animal é degolado com um golpe em forma de meia lua, que consiste em cortar os três principais vasos – jugular, traqueia e esôfago. Há quem diga que um “bom golpe” pode não gerar “sofrimento ao animal”, o enquadrando inclusive como “abate humanitário”, embora registros de ações em matadouros mostrem exatamente o oposto.
O chamado “abate humanitário” é hoje a bandeira da indústria de carne visando persuadir os consumidores a acreditarem que estão se alimentando de uma carne “sem dor”, o que é uma ilusão, já que qualquer tipo de privação precedente a morte já é uma forma de violência que gera sofrimento em diversos níveis. Alguma dúvida? Veja o desespero de um animal quando ele reconhece que está em um ambiente de onde não sairá com vida. Outra notícia desalentadora é que se a viagem for “bem-sucedida” a tendência é que o Porto de Santos seja usado com mais frequência para o transporte de “cargas vivas”.