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O solo frágil que prosperou
A redenção do Noroeste veio com a evolução do solo do arenito Caiuá
Durante muito tempo, a região do arenito Caiuá foi estigmatizada como uma grande área de terras inférteis por causa da fragilidade do solo arenoso. Felizmente, o tempo e as técnicas adequadas se encarregaram de dar ao Noroeste do Paraná a merecida redenção.
No passado, muitos agricultores tentaram produzir na região do arenito Caiuá o que se produzia no basalto, nas áreas de terra roxa. O resultado foi um grande prejuízo e a crença de que o solo era infértil. A desinformação incutiu na mente da classe rural a ideia de que a solução seria ocupar o solo somente com pastagens, e assim logo o campo foi tomado pelo gado. Uma das grandes consequências foi o êxodo dos colonos, transformando a zona rural em um espaço pouco habitado. “Os grãos do arenito não proporcionavam bons rendimentos, então a escolha pelo pasto foi quase unânime”, conta o pesquisador Pedro Auler, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
As dificuldades em se trabalhar com lavouras no arenito Caiuá perduraram por muito tempo, mas isso jamais significou que o solo fosse incapaz de evoluir. “Aos poucos, levando em conta condições diferenciadas de clima e solo para uma mesma cultura, ficou claro que o potencial de produtividade do arenito Caiuá poderia ser igual ao do basalto”, diz o pesquisador Jonez Fidalski, também do Iapar.
Os pesquisadores descobriram que as necessidades nutricionais do solo arenoso são mais fáceis de serem atendidas do que as da terra roxa. Fidalski explica que na região do arenito Caiuá é fácil reconhecer a deficiência nutricional da planta e repor o que ela precisa para produzir. “O nosso solo tem uma grande capacidade de resposta, ao contrário do solo basáltico”, avalia.
Segundo engenheiros agrônomos e pesquisadores, os gastos para se produzir no solo arenoso e no basalto podem ser tranquilamente equiparados. No entanto, é importante tomar algumas precauções. “No arenito Caiuá, recomendo que não se faça o trato cultural com herbicidas, e sim na base da roçada porque mantém mais umidade e segura os micronutrientes dos insumos”, destaca o gerente da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Paranavaí, Valter Martins Pessoa.
O pesquisador Jonez Fidalski afirma que é muito seguro investir em lavouras na região do arenito Caiuá graças as novas técnicas de plantio direto. “Além de ser uma prática bastante cômoda, o sistema de adubação da técnica proporciona a renovação do solo”, complementa Fidalski. O engenheiro florestal João Arthur de Paula Machado declara que apesar dos contratempos vividos pelos agricultores no passado, a região do arenito Caiuá pode ser considerada altamente próspera. “Representa muito bem a agricultura do Paraná e do Brasil”, enfatiza.
A importância da classificação do solo
Segundo o pesquisador Jonez Fidalski, do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), a partir do momento que um produtor rural conhece as classes de solo existentes em uma propriedade, ele evita principalmente a erosão hídrica. “A classificação de solos também é importante para se identificar qual é o tipo de cultura que melhor se adapta a determinada região. Por isso, levamos em conta o teor de argila”, justifica o pesquisador.
Segundo Fidalski, a melhor forma de definir as classes de solo é por meio da determinação granulométrica (areia, silte e argila) feita a partir da abertura de uma trincheira com dimensões de 1m por 1,50m. “É oportuno salientar que a região Noroeste do Paraná, com seus três milhões de hectares, apresenta outras classes de solos, principalmente nas áreas de transição com o basalto”, frisa o pesquisador.
Grama mato grosso é a ideal
A grama mato grosso ou batatais é a mais recomendada para agricultores da região Noroeste do Paraná. A planta oferece mais umidade do solo e também melhor taxa de fotossíntese, segundo estudos do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). “Ela age profundamente no solo, adquirindo mais nutrientes e usufruindo de recursos que outras plantas mais rasteiras não conseguem captar, como a leguminosa amendoim forrageiro”, explica o pesquisador Jonez Fidalski.
A escolha da grama inadequada para se trabalhar com determinada cultura na região do arenito Caiuá pode ter como consequência uma cobertura de solo comprometida. “O resultado é a grande perda de teores de carbono, o que culmina na incapacidade do solo em filtrar toda a água”, revela o pesquisador Pedro Auler.
Um pouco de história
O engenheiro civil Alcione Pacheco conta que nas décadas de 1960 e 1970, quando muitas cidades do Noroeste do Paraná estavam em expansão, faziam-se muitas construções errôneas, principalmente com espigões ou obras fluviais defletoras (dispositivos que servem para direcionar o fluxo de uma corrente e preservar ou recuperar a margem de um curso de água). O resultado a longo prazo foi a degradação do solo.
Décadas de voçorocas
As primeiras voçorocas surgiram em Paranavaí há mais de 40 anos
Nos anos 1980, Paranavaí, no Noroeste do Paraná, atraía muitos turistas interessados em ver de perto as voçorocas que surgiram nas décadas anteriores. Desde então, a cidade enfrentou muitas adversidades para conter as profundas erosões hídricas.
“Na década de 1980, a situação era alarmante, falavam que a região Noroeste desapareceria. A gente via que o problema era muito grande, inclusive muitas pessoas vinham de outras cidades e estados para fotografar as voçorocas”, conta o gerente da Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Paranavaí, Valter Martins Pessoa.
De acordo com o pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Jonez Fidalski, o maior agravante foi o desmatamento generalizado que se estendeu até a década de 1990. “Houve perdas de solo superior a 30 toneladas por hectare ao ano. Era uma quantia realmente alta”, frisa.
As voçorocas surgiram muito antes, nas décadas de 1960 e 1970, quando houve um processo de intensificação agrícola que resultou no aumento de erosões profundas. À época, a região ficou conhecida pelas voçorocas com mais de 50 metros de profundidade, consequência das práticas inadequadas de cultivo do solo aliadas aos grandes índices pluviométricos. “Por desinformação, era comum o produtor rural remover toda a vegetação da propriedade, logo a perda de solo era sempre acentuada”, explica Fidalski. Em 1980, o contraponto foi o aumento das áreas de pastagens, o que contribuiu para evitar situação ainda pior.
De acordo com o engenheiro civil da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) de Paranavaí, Alcione Pacheco, o que determina se o processo erosivo será acelerado ou não é a quantidade de chuvas. “Com o impacto das grandes precipitações é impossível escoar toda a água. A primeira consequência é a formação de pequenos buracos que deixam o solo mais frágil e suscetível a perda de material orgânico”, argumenta Pacheco.
Jonez Fidalski lembra que há quatro anos Paranavaí recebeu uma chuva de 130 milímetros ao longo de uma hora. “Em casos assim, sempre surgem erosões. O prejuízo é enorme”, afirma o pesquisador, acrescentando que na área rural o único meio de minimizar o problema é seguir técnicas para manter o solo com boa vegetação.
Para o engenheiro florestal João Arthur de Paula Machado, as voçorocas sempre exigem conscientização, pois quando a situação fica grave o ônus recai sobre o poder público municipal. “Há produtores que ainda precisam conhecer a importância do terraceamento e da mata ciliar”, destaca Machado que, somado a outros engenheiros, agrônomos e pesquisadores, afirma que todo cuidado é pouco quando o assunto são as voçorocas. Recentemente as secretarias municipais de Desenvolvimento Urbano e de Infraestrutura fizeram um levantamento e concluíram que Paranavaí precisa de R$ 168 milhões para resolver o problema das erosões.
Terraceamento evita erosões
Como forma de evitar erosões, a técnica mais recomendada aos agricultores é o terraceamento. Desenvolvida ao longo de curvas de nível, a prática é muito usada no sistema de plantio direto. Mesmo assim, até ser implantada na região do arenito Caiuá houve resistência por parte dos produtores rurais.
Os agricultores não gostaram da ideia pelo fato de demandar muita mão-de-obra e pouca mecanização. “O produtor preferia máquinas pesadas para fazer o terraço tipo murundus. Ele vislumbrava que seria o suficiente para segurar a água das precipitações, um ledo engano”, relembra o pesquisador do Iapar, Jonez Fidalski.
Aqueles que resistiram por muito tempo ao terraceamento alegavam também que a técnica impediria o bom desenvolvimento do trabalho na propriedade. “Diziam ser impossível transitar com as máquinas. Apesar das queixas, com o tempo os produtores decidiram adotar o terraceamento”, afirma Fidalski. Os agricultores perceberam que nas áreas de drenagem, onde escorre a água, surgem formações de canais que contribuem para a formação de voçorocas.
Além disso, fazer o terraceamento apenas uma vez, ou de acordo com a possibilidade, não é uma opção. “Em áreas onde só há pastagens, o terraço pode ser colocado em prática a cada três anos. Onde se faz a rotação de culturas, recomendamos que seja feito anualmente. É importante manter o terraceamento com capacidade para suportar as chuvas”, explica o gerente da Emater, Valter Martins Pessoa.