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Elizeu Moraes e a paixão pela música

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Elizeu Moraes: "Todo baterista precisa ter um estilo próprio"

Há dez anos, o designer gráfico Elizeu de Moraes Severino encontrou na bateria uma maneira particular de expressar a paixão pela música. O interesse surgiu muito antes, na infância, quando Elizeu conheceu o grupo Roupa Nova.

“Quando vi o Serginho Herval na bateria decidi que iria tocar aquele instrumento. Na época, ouvia muito pop-rock do final dos anos 80 e início dos 90”, lembra o designer.

Aos 17 anos, Elizeu começou a se apresentar em igrejas locais. Logo estava tocando com dezenas de músicos da cidade, dos mais variados gêneros como pop, rock, sertanejo, MPB, vanerão, entre outros.

“Percebi que muita gente legal precisava de baterista, então sempre tentei ajudar todo mundo”, explica Elizeu de Moraes que já chegou a tocar até 5h30 em um baile de formatura, o que ele admite exigir bastante condicionamento físico.

Segundo o baterista, quando o assunto é música, qualquer pessoa interessada em tocar bateria tem que querer conhecer de tudo um pouco. “É importante porque todo baterista precisa ter um estilo próprio, e isso a gente só cria tirando algo dos mais variados tipos de música”, afirma. Entre as pessoas que contribuíram para a evolução de Elizeu de Moraes como músico estão os bateristas Paulo de Castro, conhecido como Spock, e Glaudemir Ribeiro.

Moraes já tocou em várias edições da ExpoParanavaí, do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), gravou um DVD com a dupla sertaneja Edinho e Cristiano e também um CD com a dupla feminina Elen e Jessy.  “Também já gravei uma música da Sirlei Leonardo, uma grande parceira. Minha profissão mesmo é designer gráfico, mas tocar bateria é algo que faço por ser apaixonado por música”, enfatiza Elizeu em tom de satisfação.

Além de baterista, Moraes é percussionista; toca principalmente bongôs e tumbadoras. Atualmente está impossibilitado de tocar bateria em decorrência de uma lesão, mas garante que retorna até o meio do ano.

Entre a navalha e o acordeão

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Irineu Pantarotto, um barbeiro que atrai fregueses com o som cadenciado de uma gaita  

Seu Irineu emocionado "repassando o teclado" (Foto: David Arioch)

Seu Irineu emocionado “repassando o teclado” (Foto: David Arioch)

Na Rua Marechal Cândido Rondon, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o Salão Nossa Senhora Aparecida chama a atenção de quem passa pelas imediações. A atração é o barbeiro Irineu Pantarotto que além de cortar barba e cabelo anima a freguesia deslizando os dedos com maestria pelo teclado de um clássico acordeão Todeschini, instrumento pelo qual ostenta amor atemporal.

A barbearia do “Seu Irineu” não é frequentada por fregueses, mas por amigos, como faz questão de afirmar. “A gente vem aqui apreciar a música dele. Pra mim, ele é no mínimo um dos melhores músicos do Paraná”, elogia o comerciante Luiz Chemin, cliente da barbearia há 27 anos.

Para o aposentado Orlando Ferezin, também cliente há décadas, as canções de Irineu Pantarotto são de uma nostalgia inigualável. “Tudo que ele toca me lembra uma cultura antiga que infelizmente não volta mais”, justifica.

A qualidade técnica do músico também é ratificada por gaiteiros, como é o caso de Felisbino Alves que pelo menos três vezes por semana vai até a barbearia conversar sobre música. “A gaita contribui na atividade de barbeiro, desperta a atenção de muita gente que passa pelas imediações. Dessa forma, já conquistei muitos clientes e amigos”, garante Pantarotto.

A habilidade com o instrumento é resultado de uma dedicação iniciada aos 12 anos, antes mesmo de Irineu Pantarotto aparar barba ou cabelo. “Já tenho 50 anos de sanfona. Mesmo assim, toda vez que seguro o instrumento é como se fosse a primeira vez. Sinto uma energia muito boa”, revela.

Disco que deu visibilidade ao músico barbeiro (Foto: Reprodução)

Disco que deu visibilidade ao músico barbeiro (Foto: Reprodução)

Em 1982, o acordeonista teve um grande momento profissional, a oportunidade de gravar um disco. “Repassando o Teclado”, título do álbum, teve ótima repercussão no Paraná e em São Paulo. “Fiquei muito feliz de ouvir minha música em tantas emissoras de rádio. Me sinto vitorioso de ter gravado meu trabalho em vinil naquela época”, enfatiza Pantarotto que teve receio do trabalho ser desvalorizado, pois sempre se dedicou à música instrumental.

Sobre os lucros com a venda do disco, o gaiteiro põe a mão sobre a cabeça e lamenta. Contratado pela Gravadora Itaipu de São Paulo, Seu Irineu nunca recebeu pelo vinil. “O proprietário, Marcílio Castioni, vendeu o disco e não cumpriu o que constava no contrato. Não me deu os 10% das vendas. Não recebi nada”, reclama. Depois do incidente, o acordeonista nunca mais apareceu na gravadora.

Irineu Pantarotto não desanimou. Anos depois, regravou o álbum em CD, e a repercussão, mais uma vez, não deixou a desejar. “Receoso, decidi vender tudo sozinho, no meu salão mesmo. Vendi bem, tanto em Paranavaí quanto em outras cidades. Ainda tem gente querendo comprar, mas preciso fazer mais pedidos”, destaca o barbeiro que até hoje só gravou canções autorais.

Primeiro músico a tocar no Clube Idade Dourada

Irineu Pantarotto foi o primeiro músico a subir ao palco do Clube Idade Dourada, onde tocou por dois anos consecutivos. À época, tinha um grupo formado por mais três músicos e quatro bailarinas. “De destaque, tive três bandas: ‘O Patriota do Fandango’, ‘Irineu Pantarotto: malabarista do teclado’ e ‘Irineu Pantarotto e suas Pantaretes’, conta o acordeonista.

Irineu Pantarotto (o primeiro da direita para a esquerda) na época do Grupo Patriotas do Fandango (Foto: Reprodução)

Pantarotto (o primeiro da direita para a esquerda) na época do Grupo Patriotas do Fandango (Foto: Reprodução)

De 1982 a 1996, animou muitos bailes, tocando principalmente vanerão, xote, marchinha, rancheira, chorinho e quadrilha. À época, Seu Irineu se apresentava em programas de TV. “Ele quase sempre estava no programa do Matãozinho, em Apucarana”, relata o comerciante Luiz Chemin.

As apresentações deram visibilidade ao músico, inclusive uma das canções de Pantarotto é a mais executada nas comemorações locais de São João. “Gravei uma quadrilha que se chama Festa Junina e até hoje as escolas e os clubes tocam essa música do meu disco”, revela.

Irineu Pantarotto compôs mais de 300 canções. Do total, apenas 12 foram registradas. “Carrego as outras na cabeça e no coração. Pode ser que uma hora apareça a oportunidade de gravar um novo CD. Se acontecer, vou doar todo o dinheiro arrecadado para instituições de cariedade”, promete o músico barbeiro.

Saiba mais

O primeiro show do acordeonista Irineu Pantarotto foi em 6 de outubro de 1962, em Birigui, no Estado de São Paulo. O músico ainda lembra do evento com brilho nos olhos.

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