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Elsie Shrigley, uma mulher de destaque na história do veganismo na Inglaterra
Sally ajudou a fundar a Vegan Society e assumiu a presidência da entidade a partir de 1960
Elsie Beatrice Shrigley é um nome pouco conhecido entre veganos do mundo todo, embora tenha sido uma das cofundadoras da Vegan Society, na Inglaterra, e desempenhado importante papel na história do movimento vegano, que passou a existir formalmente em 1944, após a idealização dos termos “vegan” e “veganism”.
Normalmente quando se fala na história do veganismo na Inglaterra, o nome que desponta com mais frequência é o do carpinteiro Donald Watson, que passou a ter a sua imagem associada à Vegan Society desde o início. No entanto, Elsie Shrigley, mais conhecida como Sally, uma possível referência ao seu sobrenome de solteira – Salling, não teve um papel de pouca relevância na articulação do movimento vegano inglês que se espalharia pelo mundo.
A pesquisadora Samantha Calvert, coordenadora de comunicação e relações públicas da Vegan Society, que tem contribuído no resgate de aspectos históricos pouco claros da entidade, aponta Elsie Shrigley como uma mulher que em parceria com Donald Watson articulou uma coalizão com os vegetarianos da época que não concordavam com o consumo de laticínios, mel e outros alimentos e produtos de origem animal – ou seja, indo muito além da abstenção do consumo de carne, que fazia parte da típica realidade dos vegetarianos britânicos.
Antes, Donald Watson e Sally tentaram criar um grupo com essa proposta como uma ramificação dentro da tradicional Vegetarian Society, de Londres, fundada em 30 de setembro de 1847, e da qual já faziam parte. Porém o pedido foi declinado pelo conselho consultivo da entidade. Talvez especialmente porque Watson, Sally e outros vegetarianos estritos solicitaram também um espaço no principal veículo de divulgação das ideias da inglesa Sociedade Vegetariana, ou seja, o periódico Vegetarian Messenger, onde imaginavam ter a oportunidade ou abertura de discutir o paradoxo do consumo de outros alimentos de origem animal – e não apenas sobre as implicações do consumo de carne.
A proposta também foi rejeitada, e assim surgiu um grupo dissidente em agosto de 1944, mas que começou a se consolidar após a fundação da Vegan Society no The Attic Club, no distrito londrino de Holborn, em novembro de 1944. Na ocasião, apenas meia dúzia de pessoas participaram da reunião organizada por Donald Watson e Elsie Shrigley, embora a sociedade já somasse 25 membros registrados após a sua fundação.
Segundo Samantha, talvez a Vegan Society não teria sobrevivido se não fosse pelo trabalho duro de Donald Watson nos primeiros anos – inclusive a idealização da revista The Vegan foi uma iniciativa dele. Contudo, Sally já despontava também como uma liderança, inclusive mais tarde assumindo a presidência da Vegan Society.
Uma informação praticamente desconhecida sobre Elsie Beatrice Shrigley é que possivelmente ela foi a primeira pessoa a criar uma lista de produtos livres da exploração animal – isto em 1947. Entre os produtos que ela pesquisou e listou como liberados para veganos estavam biscoitos e chocolates. A lista foi publicada no periódico The Vegan, e contribuiu consideravelmente para facilitar a vida dos veganos da época.
Tendo participado ativamente da Vegan Society desde o princípio, Sally foi eleita para assumir a presidência da Vegan Society a partir de 1960. De acordo com Samantha Calvert, Elsie Shrigley era tão engajada nos ideais do movimento vegano que ocupou todas as posições oficiais da Vegan Society, entidade a qual serviu até 13 de maio de 1978, quando faleceu em Tonbridge, no condado de Kent. “Foram incríveis 33 anos de serviço. Ela também foi delegada da Vegan Society para muitos congressos internacionais da União Vegetariana Internacional”, garante a pesquisadora e coordenadora de comunicação da Vegan Society.
Ainda assim, não há tantas informações disponíveis sobre a vida de Sally. Um artigo publicado no periódico The Vegan, no verão de 1967, revela que ela viveu com os pais em Hampstead, a noroeste de Charing Cross, até casar-se com o dentista Walter Shrigley em 1939, de quem adotou o sobrenome. Embora tenha nascido em Londres, Elsie era de origem escandinava e falava dinamarquês fluentemente. Depois de passar pela Chelsea College of Physical Training, onde estudou educação física com enfoque em ginástica, ela decidiu enveredar pelo caminho da música e passou a dar aulas de piano de 1932 a 1939.
No início da Segunda Guerra Mundial, Sally Shrigley morava em Purley, ao Sul de Londres, onde atuou como bombeira voluntária para a Fire Guard Services. Também trabalhou na unidade móvel de Swiss Cottage, em Hampstead, onde dava suporte às enfermeiras. De 1940 a 1958, ela foi Secretária honorária da Sociedade Vegetariana de Croydon, e mais tarde ocupou o mesmo cargo na Sociedade Vegetariana de Surrey.
“Seus serviços foram solicitados pela Sociedade Vegetariana de Londres [que era uma organização nacional separada na época, comparável à Sociedade Vegetariana do Noroeste] que a convidou para ser a sua secretária-adjunta por três meses antes da nomeação de um novo secretário. Sally foi uma figura importante no início do movimento vegano e acabou relegada à sombra de Donald Watson. Indiscutivelmente, as contribuições de muitas mulheres para os movimentos reformistas sociais são ofuscadas dessa maneira”, avalia Samantha Calvert.
Saiba Mais
Elsie Beatrice Shrigley (Elsie Beatrice Salling) nasceu 30 de outubro de 1899 e faleceu em 13 de maio de 1978.
Referências
Calvert, Samantha. In Search of Sally – The lesser known founder of the Vegan Society with Donald Watson (2016)
Know Your Roots. The Vegan Society (2 de setembro de 2016)
The Vegan. Páginas 2 a 5 (Verão de 1967).
Fox, Sarah W. Elsie Shrigley: The woman behind the word veganism (30 de abril de 2017).
Peter Cushing, do cinema de terror para a Sociedade Vegetariana
“Amo os animais, e quando estou no país [Inglaterra], sou um dedicado observador de pássaros”
O ator britânico Peter Cushing foi um dos maiores nomes do cinema de terror, além de um dos artistas mais celebrados da Hammer Films, produtora que lançou clássicos como “Dracula”, “The Mummy” e a franquia Frankenstein, iniciada com “The Revenge of Frankenstein”.
Cushing sempre contracenava com outros nomes de peso da arte cinematográfica, como Christopher Lee e Vincent Price. Embora interpretasse muitos personagens incomuns, enigmáticos e assustadores, Cushing era um sujeito bastante agradável, educado e que gostava tanto de animais que abdicou do consumo de carne na juventude.
“As pessoas olham para mim como se eu fosse algum tipo de monstro, mas não consigo entender o porquê. Em meus filmes macabros, fui um criador de monstros ou um destruidor de monstros, mas nunca um monstro. Na realidade, sou um camarada gentil. Nunca prejudiquei uma mosca. Amo os animais e, quando estou no campo, sou um dedicado observador de pássaros”, disse em entrevista publicada na ABC Film Review em novembro de 1964.
De acordo com informações do livro “Living Without Cruelty”, de Lorraine Kay, entre as comidas preferidas do ator britânico estavam torradas de pão integral com Olde English Marmalade. Em 1965, ele interpretou o inesquecível Dr. Who em “The Dr. Who and the Daleks”. Em 1977, viveu o personagem Grand Moff Tarkin, comandante da “Estrela da Morte” no filme “Star Wars Episode IV: A New Hope”.
Em 1966, o ator britânico revelou novamente o seu incômodo em ser confundido com seus personagens, o que na realidade era uma consequência dele ter participado de muitos filmes de terror: “Fico terrivelmente cansado com as crianças do bairro dizendo: ‘Minha mãe diz que ela não gostaria de encontrá-lo em um beco escuro.’”
Em 1971, Peter Cushing perdeu sua esposa Violet Helene Beck, o que provavelmente foi a maior perda de sua vida, deixando-o inconsolável. Em 1982, foi diagnosticado com câncer de próstata, mas optou por não fazer nenhum tratamento agressivo. Em 1987, o ator recebeu um convite para assumir a função de patrono da Vegetarian Society (Sociedade Vegetariana), sediada em Manchester, na Inglaterra. Assumiu o cargo orgulhosamente até 11 de agosto de 1994, quando faleceu aos 81 anos.
“Um vegetariano apaixonado a maior parte de sua vida. Peter Cushing será lembrado como um homem de fala mansa e gentil. Ele amava os animais selvagens e era um dedicado ornitologista. Quando sua esposa faleceu em 1971, ele sentiu que sua vida também acabou. Sua autobiografia, publicada somente 15 anos depois, não faz menção à sua vida após a morte de Helena. Em 11 de agosto de 1994, depois de uma longa doença que ele carregou com característica dignidade, ele se juntou a ela. Seus amigos vão sentir falta de seu deslumbrante intelecto e sagacidade. Sua vida, pela qual damos graça, é um bom testemunho do vegetarianismo. Estamos orgulhosos de ter Peter Cushing como nosso patrono”, publicou a Vegetarian Society no jornal “The Vegetarian” em 1994.
Saiba Mais
Peter Cushing nasceu em 26 de maio de 1913 em Kenley, Surrey, na Inglaterra.
Em 2016, 22 anos após sua morte, Cushing apareceu em “Rogue One: A Star Wars Story”, novamente como Grand Moff Tarkin, por meio do uso de CGI.
Sua carreira como ator começou em 1939 e terminou em 1986.
A Vegetarian Society é a entidade vegetariana mais antiga ainda em atividade. Ela foi fundada em 30 de setembro de 1847.
Referências
Gullo, Christopher. In All Sincerity, Peter Cushing. XLIBRIS (2004).
Kay, Lorraine. Living Without Cruelty. Sidgwick & Jackson Ltd; 1st edition (1990).
http://web.archive.org/web/19981205075607/www.vegsoc.org/HQdata/cushing.html
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