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Breves reflexões sobre a vida hipermoderna
Gilles Lipovetsky disse que a vida hipermoderna nos moldes atuais poderá nos destruir; e em algum nível isso vem acontecendo há muito tempo. Infelizmente, parece-me que a vida moderna não foi planejada como deveria, e as consequências disso estão por todos os lados.
Acordei pensando em suas teorias hoje e me recordei de Knut Hamsun, vencedor do Nobel que era anti-civilização, que acreditava que quanto mais distante da sua própria natureza, mais o ser humano se tornaria alheio às próprias necessidades, se apegando à superficialidade daquilo que ele considera viver sem ser viver. Viver para comprar em vez de comprar para viver é um exemplo clássico disso.
O mundo pode ser um lugar estranho se pensarmos que vivemos para atender necessidades que nunca foram primárias, ou nem mesmo necessidades. As pessoas estão cada vez mais doentes porque já não reconhecem o seu papel no mundo, que parece implacável e sempre disposto a engolir quem não se adapta à velocidade e ferocidade da vida moderna.
Muitas pessoas respiram muito mal, pouco observam à sua volta, não sabem dizer qual era a cor do céu numa tarde ensolarada. Em muitos casos, não enxergam a si mesmas, ou têm uma visão distorcida de quem são, porque tudo isso parece insignificante quando se tem um objetivo que é sacrificar a própria vida para se destacar mais do que os outros, para ter muito mais dinheiro do que os outros. Existe sempre uma competição, porque competir significa vencer alguém; e muitos realmente veem isso como o sentido da vida, um respiro de glória, até mesmo de superioridade.
Não raramente falamos em igualdade e redução das desigualdades sociais, mas jogamos na loteria. E poucos, ainda sendo otimista, mesmo que ganhassem um grande prêmio, realmente teriam a coragem de destinar pelo menos uma parte desse dinheiro para ajudar a reduzir as mazelas que tanto criticam. Parece que estamos imersos na demagogia, na contradição…na hipocrisia, embora ainda haja esperança. E nem sempre por má-fé, mas sim porque é uma cultura já entranhada no cerne da nossa vida em sociedade.
Sempre vejo pessoas vendendo a fórmula do sucesso, e a maioria delas prometem muitas riquezas materiais e dão dicas de como vencer os outros, ser melhor do que os outros. A fórmula quase sempre envolve superar os outros mais do que a si mesmo; como se os outros fossem nossos inimigos. É como se sempre tivéssemos inimigos – no trânsito, na internet, nas filas, na escola, na faculdade, no trabalho.
Cremos que somos livres quando na realidade somos servos de uma cultura já consolidada que vende a ideia de que somos senhores de nós mesmos, quando às vezes não somos senhores nem de nossas menores decisões. As armadilhas há muito foram instaladas, mas nossos olhos talvez ainda não sejam tão treinados para enxergá-las.
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A revolução musical da Usina de Energia
Kraftwerk, a banda mais influente da industrial music
Düsseldorf, Alemanha, às margens do Reno, foi onde em 1970 surgiu a banda mais influente de todos os tempos no cenário da música eletrônica com ramificações na industrial music, synthpop e dance music: a Usina de Energia, Kraftwerk, que fez uma revolução musical estendida pelo mundo todo ao longo de décadas.
O grupo estimulou o surgimento de milhares de bandas que inspiradas na independência autoral dos precursores do Krautrock, movimento de música experimental alemã, começaram a interpretar a música e o mercado fonográfico sob uma perspectiva mais moderna, que não se abatia pelas restrições e sanções econômicas surgidas com a Guerra Fria.
De um pequeno estúdio em Colônia, na Renânia, Florian Schneider, Ralf Hütter, Wolfgang Flür e Karl Bartos extraíam composições que como cascatas de timbres alusivos à vida moderna versavam sobre a desconstrução humana no pós-guerra, a sujeição ao consumismo e a distorção de valores estéticos, como o kitsch, embora nem sempre atrelados à Indústria Cultural. Iam além e recriavam amores eletrônicos em belos universos desconexos com seus sintetizadores e outros equipamentos analógicos que a própria banda inventava ou personalizava.
Já dizia Florian Schneider na inesquecível Das Modell: “Ela é tão bela que por sua beleza teremos de pagar.” Kraftwerk fez muito sucesso pela genialidade em unir criatividade, até mesmo se tratando dos figurinos, perspectivas e prognósticos sobre o homem do futuro, deixando um legado musical que inclui obras primas como Autobahn, de 1974, e a trilogia Radio-Activity, Trans-Europe Express e The Man Machine, de 1975, 1977 e 1978. Kraftwerk é um exemplo de que há mais profundidade na música industrial/eletrônica do que se imagina. Claro, mas não é algo aplicado a todas as bandas e subgêneros vinculados.