David Arioch – Jornalismo Cultural

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Sobre “O Som e a Fúria”, de Faulkner

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O Som e a Fúria (Companhia das Letras) – Clássico de Faulkner e divisor da literatura norte-americana. Ficou bonitão. Veremos qual versão ficou melhor. Esta ou a da Cosac & Naify. Interessante como a construção em torno da decadência de uma família pode marcar o fim e o limiar de tantas coisas; das incertezas à obscuridade e à falsídia. Assim penso também na mente que mente.

Figuras de hábitos enredadas nas próprias ruínas, incapazes de um olhar além, mas que tentam (ou não)…; e que são também o próprio som e fúria materializado em conflitos humanos, assim como a própria narrativa, naturalmente furiosa.

Como escreveu Shakespeare em “Macbeth”, os nossos ontens simplesmente iluminaram para os tolos o caminho que leva ao pó da morte, porque a vida não passa de uma sombra que caminha um pobre ator que se pavoneia e se aflige no palco. Esse caminho é trilhado pela Família Compson de Faulkner, que numa subjetiva universalização poderia ser muitas outras famílias, de outras partes do mundo.

Creio que uma das coisas mais instigantes em “The Sound and the Fury” é o fluxo de consciência, que marcaria sua trajetória como escritor. É interessante como a narrativa começa linear e torna-se avessa à linearidade. A sintaxe incompleta também ajuda a endossar os conflitos, as limitações, os costumes e as falhas dos personagens. Em síntese, um bálsamo e um terror para a mente.

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Written by David Arioch

September 26th, 2017 at 1:55 am

Ser tímido

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Kafka, por exemplo, era tímido, e sua força literária tinha relação com a sua timidez (Foto: Reprodução)

Não vejo como ser tímido pode ser tão ruim. Muito do que faço na minha vida tem justamente a timidez como motriz. As pessoas subestimam a timidez quando a relacionam apenas aos aspectos negativos da vida em sociedade. Pessoas tímidas naturalmente ouvem mais e observam mais. Também refletem muito.

Kafka, por exemplo, era tímido, e sua força literária tinha relação com a sua timidez. Hermann Hesse, William Faulkner, Edgar Allan Poe, Marcel Proust, Emily Dickinson, Emily Brontë, George Bernard Shaw, Hunter Thompson e Nathaniel Hawthorne também eram tímidos. São nomes que hoje ocupam posição de destaque na literatura mundial. Logo ser tímido não é uma forma de fracasso.

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Quando William Faulkner trabalhou em Hollywood

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O escritor só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte

Entre idas e vindas, o escritor trabalhou em Hollywood ao longo de 30 anos (Cortesia de Robert Hamblin, Center for Faulkner Studies, Southeast Missouri State University)

Entre idas e vindas, o escritor trabalhou em Hollywood ao longo de 20 anos (Cortesia de Robert Hamblin, Center for Faulkner Studies, Southeast Missouri State University)

Em 7 de maio de 1932, William Faulkner chegou a Hollywood para atuar como roteirista, um trabalho que entre idas e vindas durou 20 anos. Na época o escritor estadunidense estava com apenas 34 anos e já tinha publicado quatro de suas novelas baseadas no Condado de Yoknapatawpha, incluindo The Sound and the Fury (O Som e a Fúria) e As I Lay Dying (Enquanto Agonizo).

Embora ainda estivesse distante de se tornar popular, Faulkner foi considerado por seus pares como o mais talentoso dos jovens escritores dos Estados Unidos. Àquela altura, ele tinha vivido a maior parte de sua vida em Oxford, Mississippi, e recentemente havia se casado e comprado a velha mansão Rowan Oak, de inspiração neogrega e construída antes da Guerra de Secessão.

Faulkner não era um homem sociável, nem gostava de trabalhar em equipe. O que o fez aceitar o contrato de 500 dólares por semana oferecido pela MGM foi uma experiência que ele teve em uma loja de artigos esportivos, onde o balconista se recusou a receber um cheque dele no valor de três dólares.

Depois que o escritor alegou que sua assinatura ainda valeria mais do que isso, o dono da loja se aproximou e disse a toda a sua equipe para não permitir que o jovem Faulkner pagasse por nenhum artigo que o interessasse. De acordo com o biógrafo Joseph Blotner, os primeiros dias de Faulkner em Hollywood foram incríveis.

Faulkner: "“Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um" (Foto: Reprodução)

Faulkner: “Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um” (Foto: Reprodução)

Em um sábado, ele se aproximou do seu chefe, Sam Marx, e o homem logo percebeu que o escritor cheirava a álcool e tinha um corte na cabeça. Então Faulkner explicou que ele foi atingido por um táxi quando estava trocando de trem em Nova Orleans. Apesar de tudo, justificou que se sentia bem e queria começar o seu trabalho corretamente.

“Nós vamos colocá-lo em uma foto com o Wallace Beery”, disse Marx. Confuso, Faulkner perguntou quem era o sujeito. “Eu tenho uma ideia de quem seja o Mickey Mouse”, comentou o escritor, recebendo a explicação de que os filmes do Mickey Mouse são feitos nos estúdios da Disney.

Em seguida, Sam Marx pediu que o seu office boy levasse Faulkner até a sala de projeção para ver Beery atuando como um pugilista em The Champ, de King Vidor, e no recente Flesh, de John Ford, em que Wallace interpreta um lutador alemão. Faulkner se recusou a assisti-los e preferiu bater um papo com o office boy.

Quando o escritor perguntou se o garoto tinha um cachorro, ele respondeu que não. Faulkner estranhou e enfatizou que todo garoto deveria ter um cão. “Você deveria se envergonhar por não ter um cão, assim como todos aqueles que não têm um”, insistiu. Sem muita demora, Faulkner saiu da sala de projeção justificando que sabia o final da história.

Quando Marx foi informado que o escritor já tinha saído do estúdio, ele iniciou uma busca sem sucesso. William Faulkner só reapareceu depois de nove dias, confidenciando que vagou pelo Vale da Morte. “Mas agora já estou pronto para o trabalho”, garantiu.

A atuação de Faulkner como roteirista incluiu também adaptações de To Have and Have Not (Uma Aventura na Martinica), de Ernest Hemingway, e The Big Sleep (À Beira do Abismo), de Raymond Chandler. Muitos aspectos de sua vida em Hollywood foram incorporados ao filme Barton Fink, dos Irmãos Coen, lançado em 1991.

No outono, o escritor retornou para sua casa em Oxford, Mississippi, onde corrigiu as provas tipográficas do seu novo romance gótico sulista – Light in August (Luz em Agosto) enquanto comia melancia e assistia a chuva caindo ao redor da varanda. Com o dinheiro que ganhou da MGM, fez importantes reparos na mansão Rowan Oak.

Referências

http://www.todayinliterature.com/

Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1974.

Blotner, Joseph. Faulkner: A Biography. New York: Random House, 1984.

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A simplicidade de Faulkner

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William Faulkner

Faulkner preferia a simplicidade ao luxo (Foto: Revista Life)

Sem luxo, era assim que o escritor William Faulkner, um dos maiores nomes da literatura dos EUA, autor de clássicos como “As I Lay Dying”, “Sanctuary”, “The Sound and the Fury”, “A Rose for Emily”, “Light in August” e “Absalom, Absalom!”, gostava de produzir –  imerso num estilo de vida que aspirava à simplicidade.





Written by David Arioch

January 18th, 2016 at 11:24 pm