O menino que matava porcos

“Mato mesmo!”, confirmou o menino rindo e ouvindo o comentário do sobrinho do meu avô (Foto: Reprodução)
Quando eu tinha oito anos, viajamos para Batayporã, no Mato Grosso do Sul. Lá, conheci outros familiares do meu avô. Mas naquela viagem só uma pessoa me chamou a atenção – um primo de terceiro grau. Ele tinha sete anos e olhos avermelhados.
Na fazenda, o vi de longe, expulsando alguns animais que circulavam pela casa principal. Me falaram que ele matava porcos desde os cinco anos, e que gostava de eviscerá-los com um punhal resguardado por gerações. “Mato mesmo!”, confirmou o menino rindo e ouvindo o comentário do sobrinho do meu avô.
Caminhando pela fazenda, eu evitava ficar sozinho, e sempre olhava ao meu redor, na tentativa de saber se o menino de olhos avermelhados estava por perto. Criança, eu nunca tinha visto ou ouvido falar de alguém que tivesse matado um porco.
Com o cair da tarde, e o sol despontando baixo e avermelhado no horizonte, assim como os olhos do menino, fiquei sabendo que meus pais pretendiam passar a noite na fazenda. Me aproximei de minha mãe e a questionei, garantindo a nossa partida: “Não quero dormir aqui. Se esse menino mata porco, um bicho que não fez nada pra ele, quem garante que ele não é capaz de fazer o mesmo comigo de madrugada?”
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