David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for August, 2017

Por que só reconhecemos a exploração animal quando envolve violência explícita?

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Foto: Jo-Anne McArthur

Basta um ser humano ser forçado a realizar um trabalho para que olhemos para sua situação com preocupação. Se uma pessoa é obrigada a algo, sem que ela assim o deseje, logo qualificamos isso como exploração ou escravidão. Não precisamos ver marcas de violência em seu corpo.

Então por que quando falamos de outros animais não nos preocupamos em analisar a situação da mesma forma? Não seria justo? Por que só reconhecemos a exploração animal quando envolve violência explícita, tortura ou outros terríveis exemplos de crueldade?

É cômodo demais analisarmos a realidade dessa forma. Afinal, normalmente toda exploração é vista com um olhar rasteiro, de quem não vê nada de errado caso um animal não traga em seu corpo as piores consequências da violência.

Um animal não precisa ser violentado para demonstrar que está sendo condicionado a algo que não é de sua vontade. Ele traz a expressão do seu descontentamento. Mesmo que não trouxesse, isso não significaria nada, já que o condicionamento bem aplicado traveste até a maldade de bondade.

Basta pensarmos em pessoas que são capazes de escravizar outras e ainda assim fazer com que os escravizados se sintam agraciados. A realidade dos animais não humanos não é diferente quando eles são considerados explorados bem tratados.

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Sobre miséria e crueldade contra seres humanos e não humanos

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Ausência de empatia, um dos agravantes da violência contra os animais

Pobreza, miséria, corrupção, crueldade contra seres humanos e não humanos, tudo isso tem relação com ausência de empatia, que deveria ser praticada não de forma seletiva, especista, antropocêntrica ou etnocêntrica. Em síntese, elementos de legítima iniquidade que surgem como consequência do anseio pela superioridade. Penso que a ideia da supremacia sempre vem embutida de um tipo implícito e explícito de conveniência e maldade que nos distancia da nossa melhor face enquanto humanidade.





Práticas violentas contra os animais só existem porque sempre há plateia e consumidores

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Em uma sociedade civilizada, não deveria haver espaço para tais práticas

Não é tão raro encontrar pessoas falando mal de toureiros. Sem dúvida, concordo que não há nada de bom a se falar a respeito, até porque ninguém deveria se “profissionalizar” em fazer mal a um animal e chamar isso de arte.

Porém, a tauromaquia, assim como qualquer atividade considerada tradicional, e que cause mal a outros seres vivos sencientes, só existe porque há plateia e consumidores. Enfim, pessoas que não racionalizam a própria maldade, ou que não são capazes de externalizá-la, pagam para que os outros façam o que elas não conseguem. Assim, tornando-se voyeurs de anseios desasseados e perigosos.

Qualquer atividade que impinge dor a um animal, seja chamada de “espetáculo” ou “esporte”, não passa de truculência, de uma expressão equivocada da ignorância e da insensibilidade humana. Se alguém convida uma pessoa para participar de algo e essa pessoa recusa, como você chamaria o ato de obrigá-la a fazer parte de algo que não é de sua vontade?

Não tenho dúvida de que alguém testemunhando tal ato, se motivado por um princípio probo de justiça, há de intervir ou se manifestar de alguma forma, porque isso também é inerente à natureza humana. E por que quando se trata dos animais não humanos continuamos a legitimar e encarar a violência até mesmo com sorrisos? Porque pessoas gargalham ao ver um animal sendo ferido?

Você rir de um touro ferido na arena, de um boi caído durante a vaquejada, de um bezerro laçado e arremessado ao chão, de um animal golpeado na farra do boi, não é diferente de rir de um gato ou um cão espancado na rua e diante dos seus olhos. Violência é violência, não importando se concordamos ou não com isso. Afinal, a vítima traz consigo a expressão da própria realidade, da consequência de nossos atos, independente se você está imerso em ilusão, negação ou dissimulação.

Não deveríamos repensar nossas relações com os animais? Não seria isso no mínimo bizarro e incoerente de nossa parte? Afinal, animais não humanos também sentem dor, agonizam, sofrem à sua maneira. Somos tão ardilosos em alguns aspectos da vida em sociedade que usamos eufemismos capciosos tentando mimetizar o impacto de nossas ações, tentando maquiá-las com algo inexistente e deletério.

Estamos tão imersos em nossos mundos particulares, em satisfazer nossos anseios obsoletos e desnecessários, travestidos de necessidades, que muitas vezes neutralizamos qualquer possibilidade natural de ver algo como ilegítimo, cruel e impraticável.

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Um bate-papo com a escritora Etel Frota

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Foto: Amauri Martineli

Ontem, tive o privilégio de mediar um bate-papo com a escritora Etel Frota, considerada uma das maiores letristas do Brasil. O evento realizado na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley fez parte do Mês da Literatura, realizado pela Secretaria Estadual de Cultura do Paraná. No final de julho, Etel lançou o seu primeiro romance na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

O livro intitulado “O Herói Provisório” conta, misturando realidade e ficção, a história do Incidente de Paranaguá, quando o capitão Joaquim Ferreira Barboza, um herói transformado em bode expiatório, comandou em 1º de julho de 1850 o ataque a um cruzador inglês que perseguia navios brasileiros na Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel.

Entre pesquisa e publicação, a obra levou 14 anos para ser concluída. Etel chegou a ter contato com descendentes do capitão. Ainda assim, fez questão de dizer que, como não se trata de um trabalho biográfico, ela prefere que os leitores o encarem como uma ficção inspirada por fatos históricos. “Que a memória de Joaquim Ferreira Barboza possa me absolver”, declarou.

Etel Frota, que despertou o interesse pela literatura aos seis anos quando ganhou o primeiro livro de seu pai, também falou sobre o seu livro de poesia “O Artigo Oitavo”, publicado em 2002, inspirado na obra do icônico poeta Thiago de Mello, autor do clássico “Estatutos do Homem”, que elogiou o trabalho da escritora e contribuiu declamando no CD anexo ao livro.

O romance de Etel Frota vai ser lançado hoje na Livraria da Vila, no Pátio Batel, em Curitiba. O livro já pode ser reservado no site http://www.etelfrota.com.br/o-heroi-provisorio/

 

 

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Sobre queijos preparados com um complexo de enzimas extraídas do estômago de bezerros mortos

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Com o surgimento de técnicas mais modernas, o estômago do bezerro passou a ser congelado, moído e colocado em uma solução de extração de enzimas

Você já pensou na possibilidade de estar consumindo ou já ter consumido algum queijo preparado com um complexo de enzimas extraídas do estômago de um bezerro morto? Pois é, isso pode parecer absurdo, mas não é e vou explicar o motivo baseando-me em três livros de referência sobre a produção de queijo.

Rennet ou coalho de origem animal é um complexo de enzimas produzidas no estômago de mamíferos ruminantes. É ele que facilita o processo de digestão dos bezerros durante a fase de amamentação. Há queijos industrializados que possuem essa enzima extraída da mucosa interna da quarta câmara de estômago (abomaso) dos bezerros após o desmame.

Se ele for extraído de bezerros mais velhos, que normalmente são alimentados apenas com pasto e grãos, naturalmente o Rennet terá pouca ou nada de quimosina. O que significa níveis elevados de pepsina, assim sendo destinado somente ao preparo de queijos e leites especiais. De acordo com o livro “Traditional Cheesemaking Manual”, de Charles O’Connor, como cada ruminante produz um tipo especial de coalho para digerir o leite de sua própria espécie, isso significa que o rennet de cabra é introduzido no leite de cabra e o rennet de cordeiro no leite de ovelha.

E de que forma o coalho de origem animal é extraído? Bom, no método mais clássico, defendidos principalmente por produtores mais tradicionais de queijo, os estômagos limpos dos bezerros são cortados em pedaços pequenos e imersos em água salgada ou soro de leite, juntamente com uma porção de vinagre ou vinho para reduzir o pH da solução. Após a filtragem, o rennet é usado para coagular o leite. Cerca de um grama de coagulante extraído de um pedaço do estômago de um bezerro serve no método tradicional para coagular dois a quatro litros de leite.

Com o surgimento de técnicas mais modernas, o estômago do bezerro passou a ser congelado, moído e colocado em uma solução de extração de enzimas. É importante entender que as enzimas no estômago do bezerro são produzidas de forma inativa. Por isso, só são ativadas através da acidez estomacal. Quando o ácido é neutralizado, o extrato de coalho é filtrado em vários estágios até atingir uma potência específica. Neste caso, um grama de extrato de rennet pode coagular até 15 quilos de leite.

Hoje em dia, é difícil dizer qual queijo possui ou não coalho de origem animal porque a indústria de laticínios demanda muito mais coagulantes do que a indústria de vitela poderia fornecer. Sendo assim, criou-se alternativas a partir de fungos, micróbios e plantas – como folhas secas de alcaparra, cardo e cynara, usados principalmente em países mediterrâneos, segundo informações do livro “Technology of Cheesemaking”, de Barry Law.

Porém, como o uso de vegetais e micróbios com finalidades coagulantes não é uma unanimidade no mercado de laticínios, há fabricantes que ainda fazem uso de coagulantes de origem animal. Sendo assim, o uso de enzimas extraídas do estômago de bezerros não é uma prática obsoleta, segundo informações do livro “Cheese: Chemistry, Physics, and Microbiology, Volume 1”, de Patrick F. Fox, Paul L.H. McSweeney, Timothy M. Cogan e Timothy P. Guinee, lançado em 2004. De qualquer modo, saiba que rennet ou coalho de origem animal está disponível à venda em qualquer site que comercialize produtos para a fabricação de queijo, inclusive no Ebay e Mercado Livre.

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Sobre ser visto como um inimigo por ser contra a exploração animal

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Você, de repente, é visto como um inimigo, e simplesmente porque não concorda com a morte desnecessária dos animais

Sou um cara pacífico, quem me conhece sabe disso. Tenho uma aparência que muitas vezes é interpretada pelas pessoas de forma totalmente equivocada, claro, porque até hoje as pessoas insistem em relacionar músculos e força com violência. Porém, a minha vida toda jamais bati em alguém. Sou avesso à violência, sempre fui.

Então pra mim é uma coisa surreal quando o fato de alguém defender os direitos dos animais à vida desperta algum tipo de cólera em outras pessoas. Há quem fique violento quando alguém manifesta abertamente a sua reprovação em relação à morte de seres vivos sencientes. É como se isso fosse algo execrável.

Você, de repente, é visto como um inimigo, e simplesmente porque não concorda com a morte desnecessária dos animais, e luta para que mais pessoas tenham essa consciência. Vivemos em um mundo estranho, onde a violência é tão naturalizada e romantizada que até intenções que visam reduzir a violência contra criaturas que não podem se defender são vistas com deboche, ódio e desprezo.

Quando me deparo com pessoas achando graça ou fazendo troça de certos discursos no contexto do veganismo, por exemplo, aqueles que criticam o consumo de peixes, “frutos do mar”, laticínios e ovos, logo penso que esses sujeitos estão tão imersos nesse universo de legitimação da exploração e da violência que qualquer sugestão de caminho em direção a uma relação mais pacífica e harmoniosa entre animais humanos e não humanos é encarada como ridícula.

Há momentos e situações em que sinto tristeza e frustração como qualquer ser humano. Mas uma coisa que não faço é usar isso como pretexto para agredir as pessoas. Essas emoções e sentimentos eu levo para a musculação. Afinal, halteres e barras não são seres vivos, e não vão se incomodar em me ajudar a direcionar essa negatividade para algo mais útil.

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Written by David Arioch

August 29th, 2017 at 1:39 am

Companhia das Letras lança “A Educação Sentimental”, de Flaubert, em parceria com a Penguin Classics

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Nova versão do clássico do realismo francês

A Companhia das Letras está lançando no Brasil uma versão de “A Educação Sentimental”, do Flaubert, em parceria com a Penguin Classics. Em tempo de muitas dúvidas, é uma leitura que vale a pena.

Nesse clássico do realismo francês, que tem como contexto um universo de volatilidade, Frédéric é um rapaz que, incapaz de se decidir sobre o que fazer da vida, começa a viver às custas da herança do tio. Nem mesmo o zeitgeist da Revolução de 1848 o inspira. Na realidade, faz com que ele se sinta ainda mais confuso em um período de sublevações políticas e sociais.

Frédéric e outros personagens estão imersos em conflitos pessoais em que o materialismo e a exaltação ao poder não lhes interessa. Por causa da publicação de “Madame Bovary” e “A Educação Sentimental”, Flaubert seria reconhecido mais tarde como o criador de um novo estilo de escrita, combinando rítmica versada e precisão.

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Written by David Arioch

August 29th, 2017 at 1:30 am

O veganismo não reconhece nada de origem animal como alimento

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Arte: Vegan Future Now

O veganismo não reconhece nada de origem animal como alimento. Achar um absurdo, ou aceitar ou não, não muda o fato de que o veganismo desde sempre preconizou isso. Ademais, ninguém é obrigado a ser vegano. É uma questão de consciência. Se tiver dúvidas, sugiro que se aprofunde na literatura vegana, ou no mínimo respeite isso.





Written by David Arioch

August 29th, 2017 at 1:26 am

Se sou vegano, é claro que a minha defesa é pelo abolicionismo animal

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Veganismo é isso, independente se alguém o considera visceral ou não. E ele não se tornou assim hoje.

Se sou vegano por crer que os animais não devem ser explorados de modo algum, é claro que a minha defesa é pelo abolicionismo animal. Diariamente, me deparo com pessoas surpresas quando meus textos vão por esse caminho, os considerando exagerados ou radicais. Veganismo é isso, independente se alguém o considera visceral ou não. E ele não se tornou assim hoje.

Essa é a essência do veganismo desde 1944. Inclusive ele foi formatado como uma reação aos muitos autodenominados vegetarianos ingleses da época. Isto porque estes herdaram dos vitorianos o hábito de consumir laticínios e ovos, reprovado pelos vegetarianos estritos e éticos que encaravam esses hábitos como comodismo e legitimação da exploração romantizada; o que justifica a origem do veganismo.

O veganismo desde o seu princípio já não reconhecia nada de origem animal como alimento. Sendo assim, não há nada que deveria chocar ou surpreender nos meus discursos. É tudo uma questão de informação e desinformação. Tudo que escrevo vai ao encontro de algo que foi proposto pelos veganos antes da metade do século XX.

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Written by David Arioch

August 28th, 2017 at 12:23 am

Pawel Kuczynski e o uso de bexiga de peixe na indústria de cerveja e vinho

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Arte: Pawel Kuczynski

Isinglass ou ictiocola é uma substância obtida a partir das bexigas natatórias de peixes que são removidas, processadas e desidratadas, tornando-se muito parecida com o colágeno. A indústria de cerveja e vinho a usa no processo de clarificação de bebidas. Quando cozida, a ictiocola se torna um composto semelhante à cola, o que justifica o nome em português. Baseado nessa realidade, o artista polonês Pawel Kuczynski criou uma obra em que lança uma questão: “Como você se sentiria no lugar de um peixe?”

Quem quiser checar se está consumindo cerveja com ingredientes de origem animal, basta fazer uma pesquisa no site Barnivore ou tirar dúvidas no grupo CerVeganos no Facebook.