David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Meio Ambiente’ Category

Maiores fornecedores de proteína animal não estão reduzindo as emissões de gases do efeito estufa

without comments

“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público”

Empresas precisam investir menos em proteínas de origem animal e mais em proteínas de origem vegetal (Foto: Eduard Korniyenko/Reuters)

Um novo indicador de sustentabilidade global divulgado esta semana revelou que os maiores fornecedores de carnes e laticínios não estão conseguindo gerenciar efetivamente as contribuições às mudanças climáticas, colocando em risco as metas da missão do Acordo de Paris, que rege medidas de redução de emissões de gases do efeito estufa. O indicador é resultado de um levantamento intitulado “The Coller FAIRR Protein Producer Index”, feito pela Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR), sediada em Londres.

O indicador, que serve como referência para investidores, avaliou as 60 maiores empresas fornecedoras de proteínas de origem animal – incluindo McDonald’s, KFC, Nestlé, Danone e Walmart. A conclusão foi que 60% dessas empresas foram classificadas como de alto risco se tratando de gerenciamento de sustentabilidade em todas as categorias – incluindo emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e perda de biodiversidade, uso de água, bem-estar animal, desperdício, poluição, compromisso com a produção sustentável de proteínas vegetais e segurança dos trabalhadores. Tudo isso é apontado como bastante problemático para o meio ambiente.

Tratando-se especificamente de emissões de gases do efeito estufa, o percentual é ainda mais preocupante – 72%. Apenas uma das empresas que compõem o indicador conseguiu atingir pontuações consideráveis na redução de emissões. “Está claro que as indústrias de carne e laticínios permaneceram fora do escrutínio público em relação ao seu significativo impacto climático. Para que isso mude, essas empresas devem ser responsabilizadas pelas emissões e devem ter uma estratégia confiável e verificável de redução de emissões”, disse ao The Guardian a diretora do Instituto Europeu de Agricultura e Política Comercial, Shefali Sharma.

No total, segundo o indicador, 87,5% das empresas de carne bovina e laticínios não têm divulgado dados sobre as suas emissões e gerenciamento de GEE, o que é apontado como um risco ao Acordo de Paris. O FAIRR destaca que a diversificação na produção de proteínas alternativas, ou seja, de origem não animal, é fundamental tanto para o gerenciamento dos riscos da cadeia de suprimentos com restrição de recursos quanto para aproveitar as oportunidades de crescimento do mercado. Ou seja, essas empresas precisam investir menos em alimentos de origem animal e mais em alimentos de origem vegetal.

“É sempre bom lembrar que não existe carne barata. Essas indústrias são subsidiadas há anos pelo público porque pagamos por sua poluição ambiental, custos de saúde pública que não são contabilizados em seu modelo de negócios. É aí que os governos precisam intervir”, enfatiza Sharma.

Referências

The Coller FAIRR Protein Producer Index. Farm Animal Investment Risk and Return (FAIRR)

Zee, Bibi van der; Wasley, Andrew. Meat and fish multinationals ‘jeopardising Paris climate goals’. The Guardian (30 de maio de 2018).





 

Segundo estudo da Universidade de Oxford, não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta

without comments

“Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”

Poore: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problema” (Acervo: Irish Times)

Um estudo intitulado “Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers”, publicado na conceituada revista Science, conclui que não consumir alimentos de origem animal é a forma mais eficaz de reduzir o impacto no planeta.

Considerada pelo jornal britânico The Guardian como a maior análise já feita sobre os efeitos da produção agrícola, a pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, que reuniu dados de quase 40 mil fazendas que produzem 40 produtos agrícolas em 119 países, informa que 80% das áreas agrícolas do mundo são destinadas à criação de animais para consumo.

A atividade, que segundo o trabalho têm grandes consequências se tratando de alocação de terras e uso de água doce, é responsável por 58% das emissões de gases do efeito estufa, 57% da poluição da água e 56% da poluição do ar. A pesquisa, disponibilizada no site da revista Science, enfatiza que o impacto pode variar em até 50 vezes entre os produtores de um mesmo produto, criando oportunidades substanciais de mitigação.

No entanto, mesmo que os produtores de alimentos de origem animal se esforcem para alcançar baixos impactos ao longo da cadeia de produção e fornecimento, a redução ainda é limitada, de acordo com os cientistas. Isto porque “o impacto dos produtos de origem animal de menor impacto normalmente excede os dos seus substitutos de origem vegetal, fornecendo novas evidências para a importância da mudança na dieta” — explica.

Em entrevista ao The Guardian, o coordenador da pesquisa, Joseph Poore, disse que “uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir o impacto no planeta, não apenas por causa dos gases do efeito estufa, mas também por causa da acidificação global e eutrofização, além do uso de terra e água.”

O estudo também comparou o impacto da produção de carne bovina com a proteína baseada em vegetais e revelou que até mesmo a carne orgânica ou considerada sustentável pode requerer 36 vezes mais terra e gerar seis vezes mais emissões de gases do efeito estufa do que a produção de ervilhas.

Poore frisa que, para quem se preocupa com o meio ambiente, é muito melhor abdicar do consumo de alimentos de origem animal do que reduzir viagens de avião ou comprar um carro elétrico: “Realmente são os produtos de origem animal que são responsáveis por muitos desses problemas. Evitar o consumo desses produtos traz benefícios ambientais muito melhores do que comprar carnes e laticínios sustentáveis”.

Referências

Poore, J; Nemecek, T. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science Magazine (1º de junho de 2018).

Carrington, Damian. Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth. The Guardian (31 de maio de 2018).




 

Ibama vai multar em mais de R$ 105 milhões os fornecedores do McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever e Nestlé por destruírem áreas de preservação permanente

without comments

As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal

A ação do Ibama é consequência de uma investigação realizada pela organização ambiental Might Earth em 2017 (Acervo: Ibama)

O Ibama anunciou esta semana que vai multar em mais de R$ 105 milhões a Cargill e a Bunge, fornecedores de alimentos para animais criados para consumo, por destruírem áreas de preservação permanente, causando grande impacto no cerrado brasileiro. A ação do Ibama é consequência de uma investigação realizada pela organização ambiental Mighty Earth em 2017, expondo as práticas da Cargill e da Bunge, que fazem parte da cadeia de fornecimento de carnes e produtos lácteos de corporações como McDonald’s, Burger King, Walmart, Unilever, Nestlé, Tesco e Carrefour.

Para se ter uma ideia do impacto, foi comprovado que a Cargill e a Bunge, que atendem 61 grandes companhias, financiaram ativamente a destruição de áreas úmidas nativas, obrigando populações inteiras a se deslocarem para favorecer um desmatamento equivalente ao tamanho da Inglaterra – comprometendo a biodiversidade e a sobrevivência de animais como a onça-pintada, tamanduá-bandeira, lobo-guará e cervo-do-pantanal. As áreas foram usadas para o plantio de soja destinado à pecuária, ou seja, à ração animal.

Glenn Hurowitz, CEO da Mighty Earth, diz que, embora a responsabilidade esteja recaindo somente sobre a Cargill e a Bunge, é importante questionar também por que as grandes corporações e empresas continuam se beneficiando dessa prática criminosa. A Bunge se defendeu dizendo que achava que destruir essas áreas era uma prática legal. “O governo brasileiro claramente não concorda. Mas se a Bunge apenas adotasse o simples passo de proibir todo o desmatamento em sua cadeia de fornecimento, não estaria enfrentando esses riscos”, enfatiza Hurowitz.

Referência

Breaking: Cargill and Bunge Fined for Destroying Protected Natural Areas. Mighty Earth (24 de maio de 2018)





Written by David Arioch

May 25th, 2018 at 1:27 pm

60% dos mamíferos do mundo são produtos da pecuária

without comments

“Nossas escolhas alimentares têm um grande efeito sobre os habitats dos animais, plantas e outros organismos”

Milo: “Considero o impacto ambiental na minha tomada de decisão, então isso me ajuda a pensar se quero escolher bife ou frango ou usar tofu?” (Foto: Creative Commons)

Um estudo intitulado “A Distribuição de Biomassa na Terra”, publicado esta semana pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, revelou que 60% de todos os mamíferos do mundo são produtos da pecuária. Ou seja, existem para serem comercializados como alimentos ou fontes de alimentos.

Desses 60%, a maioria é formada por suínos e bovinos. Tratando-se de animais não mamíferos, 70% das aves do mundo todo são criadas para consumo, e apenas 30% são silvestres. Os seres humanos, que somam 7,6 bilhões na atualidade, não representam mais do que 0,01% de todos os seres vivos que habitam a Terra. Ainda assim, a humanidade conseguiu provocar o desaparecimento de 83% de todos os mamíferos selvagens desde o início da civilização, segundo a pesquisa.

Ron Milo, do Instituto de Ciência Weizmann, de Israel, que liderou o trabalho, declarou que ficou chocado ao descobrir que não havia uma estimativa abrangente de todos os diferentes componentes da biomassa. “Espero que isso dê às pessoas uma perspectiva sobre o papel dominante que a humanidade desempenha agora na Terra”, enfatizou.

Para o pesquisador, a maneira como nos alimentamos exige uma profunda reflexão. “Nossas escolhas alimentares têm um grande efeito sobre os habitats dos animais, plantas e outros organismos. Considero o impacto ambiental na minha tomada de decisão, então isso me ajuda a pensar se quero escolher bife ou frango ou usar tofu?”

Referência

The Biomass Distribution on Earth. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (21 de maio de 2018)

 



Written by David Arioch

May 24th, 2018 at 3:28 pm

Estudo mostra que a pecuária é a atividade com maior apropriação de solo em áreas desmatadas da Amazônia

without comments

Foto: Daniel Beltrá

O artigo “Pecuária e desmatamento: uma análise das principais causas diretas do desmatamento na Amazônia”, publicado pela revista Nova Ecnonomia, do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), avalia a evolução das causas imediatas do desmatamento da Amazônia, utilizando-se de regressões lineares.

O estudo mostra que nos estados da Amazônia não há atividade com maior apropriação de solo do que a pecuária, e exatamente por desempenhar papel tão determinante na região está fortemente associada com o desmatamento, inclusive sendo apontada como principal causa. E a agricultura em larga escala em vez de reduzir o impacto da pecuária no desflorestamento tem ajudado a ampliá-lo, até porque as duas culturas estão intrinsecamente relacionadas na região, já que uma depende da outra.

O artigo aponta que o crescente investimento em pecuária na região não tem previsão de desaceleração, até porque a pecuária exige baixos níveis de capital, pouco preparo para o solo e poucas restrições associadas ao relevo e áreas livres de troncos em florestas onde o desmatamento é extremamente acentuado.

Na área, a criação de gado normalmente é extensiva, o que significa que há grandes latifúndios contando com até uma cabeça por hectare. O estudo sugere que é preciso agir sobre a lógica dessa expansão, reduzindo o seu avanço sobre novas áreas da Amazônia. Para isso, é preciso com urgência que sejam estabelecidas novas políticas ambientais.

“É necessário também reduzir a motivação da expansão da pecuária nas áreas onde a propriedade da terra é incerta ou se encontra sob o controle formal do governo (as chamadas áreas devolutas). Sem o aumento do grau de ordenamento sobre a propriedade da terra e do aumento da legalidade nas áreas ocupadas, a pecuária de baixa produtividade e baixo investimento de capital vai continuar fazendo parte da lógica de expansão da ocupação da terra na Amazônia”, informa o artigo “Pecuária e desmatamento: uma análise das principais causas diretas do desmatamento na Amazônia”.

 

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Written by David Arioch

August 21st, 2017 at 1:55 am

Google lança vídeo denunciando o papel da pecuária no desmatamento da Amazônia

without comments

20% das florestas da Amazônia desapareceram com o desmatamento (Foto: Reprodução)

Este mês, o Google lançou um vídeo em seu canal no YouTube intitulado “Eu Sou Mudança – Consumo Consciente”. O trabalho bastante objetivo, que não chega a um minuto e meio de duração, denuncia, de maneira bem simples e didática, como a pecuária tem contribuído com o desmatamento na Amazônia. Ao final, enfatiza que “o desmatamento pode estar no prato de quem consome carne”, relacionando esse hábito com o impacto ambiental.

De acordo com o vídeo, na Amazônia, mais de 750 mil quilômetros quadrados de floresta foram destruídos, dois terços foram transformados em pasto, o equivalente ao tamanho da Espanha. Tudo começa assim, uma pequena estrada de terra é aberta na floresta, por onde entram madeireiros interessados no corte das árvores com maior valor comercial. Quando acabam de cortar, e deixam a área, chega o fazendeiro de gado pela mesma estrada, corta todas as árvores remanescentes e bota fogo em tudo para fazer pasto.

Aí o gado se espalha, em uma imensidão de território só ocupado por ele. Segundo informações do filme, a pecuária extensiva ainda é a maior responsável pela derrubada de floresta na Amazônia brasileira. É um ciclo vicioso. Após a derrubada da floresta, o pasto se degrada rapidamente, exigindo assim novas aberturas na floresta.

O vídeo diz também que 38% de toda a carne produzida no Brasil vem da Amazônia. Somos o maior exportador de carne do mundo. “Não seria exagero dizer que o desmatamento pode estar no seu prato. Até agora já são 20% de toda a Amazônia que se foi. Todo esse pasto, e pensar que era tudo floresta”, termina.

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Written by David Arioch

July 30th, 2017 at 6:14 pm

Relatório denuncia Burger King como comprador de ração animal produzida em áreas desmatadas da Amazônia

without comments

p0nF8Bj8Relatório divulgado recentemente pelo grupo ambiental Mighty Earth (ME), dos Estados Unidos, denuncia que a cadeia de fast food Burger King compra importante parcela da ração animal produzida em áreas desmatadas da floresta amazônica.

O objetivo da Mighty Earth ao denunciar o Burger King é garantir transparência na atuação das grandes corporações que estão envolvidas em ações que prejudiquem o meio ambiente. Por isso, eles usaram tecnologia de mapeamento por satélite, entrevistaram agricultores e visitaram 28 fazendas ao longo de três mil quilômetros de áreas que pertencem ao Brasil e à Bolívia.

Um dos grupos apontados pela ME como um dos grandes financiadores do desmatamento na Amazônia é a multinacional Cargill, sediada em Minnesota, nos Estados Unidos, e uma das principais fornecedoras do Burger King. “Burger King não é a única empresa cuja falha de políticas e práticas estão causando grandes problemas ambientais. Tanto a indústria de fast food quanto de vendedores de carne, como supermercados, obtêm suas matérias-primas de muitas fontes questionáveis”, alega a Mighty Earth, acrescentando que o ponto mais crítico da situação é que o Burger King se recusa a mudar suas práticas.

A destruição da floresta amazônica tem forçado a migração de populações locais, queima de áreas nativas e destruição de aproximadamente 200 milhões de hectares de florestas naturais e pastagens, o que equivale a 15 vezes o tamanho da Inglaterra, segundo informações obtidas por Anna Starostinetskaya, da Veg News.

“Hambúrgueres e batatas-fritas não valem a destruição das florestas tropicais”, informa o relatório. De acordo com Anna Starostinetskaya, embora a organização ambiental tenha feito um bem em denunciar o problema, não foi tão feliz na sugestão para resolvê-lo:

“Eles identificaram uma solução equivocada, que seria cultivar mais soja e gado em menos terra, uma prática que resulta em operações concentradas de alimentação animal nos moldes das fazendas industriais, o que, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação [FAO] ,já provou ser algo nocivo para o ambiente, bem-estar animal e saúde humana”.

Referências

http://vegnews.com/articles/page.do?pageId=9121&catId=1

http://www.mightyearth.org/mysterymeat/

Contribuição

Este é um blog independente, caso queira contribuir com o meu trabalho, você pode fazer uma doação clicando no botão doar:





Written by David Arioch

March 14th, 2017 at 1:17 pm