David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for April, 2010

Escritor paranavaiense terá obra publicada pelo Governo do Paraná

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O livro “Viagens”, de Altair Cirilo dos Santos, será lançado até o final do ano

Altair Cirilo: “Há desde sonetos até poemas concretos”

Anualmente, a Secretaria de Estado da Cultura seleciona 40 livros de autores paranaenses a serem publicados. Este ano, um dos contemplados é o escritor Altair Cirilo dos Santos com a obra “Viagens” que reúne 50 poemas.

Altair Cirilo dos Santos conta que tudo começou no ano passado, quando recebeu apoio da Fundação Cultural para encaminhar sua obra a apreciação da Secretaria de Estado da Cultura. “Deu tudo certo e meu trabalho foi um dos escolhidos. Agradeço muito a Fundação Cultural porque sozinho seria muito difícil conseguir publicar esse livro”, explica.

Altair Cirilo reuniu vários trabalhos em um. A obra consiste em 50 poemas selecionados pelo próprio autor. “Há desde sonetos até poemas concretos. Tentei dar uma unidade ao trabalho, então peguei aqueles que foram premiados nos concursos que participei”, conta o escritor. A obra “Viagens” soma 75 páginas e deve ser publicada até o final deste ano.

Um apanhado do estilo literário de Santos nos mais diversos períodos da sua trajetória como escritor, o livro sintetiza reflexões políticas e rigor formal poético. “É preciso ter um pensamento sobre o que é poesia”, afirma Altair Cirilo que além de poeta também é cronista.

Conhecido por uma escrita heterogênea, o escritor passeia por diversas correntes literárias, influências que ele admite como referências para o surgimento de um estilo sólido e próprio de escrever. “Da prosa e da poesia posso citar Osman Lins, Rubem Fonseca, António Lobo Antunes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Mário de Andrade e todos os outros modernistas”, exemplifica.

O interesse de Altair Cirilo pela literatura surgiu na escola, quando visitas regulares a biblioteca despertaram o interesse por contos. “Lembro quando li pela primeira vez ‘A Terra dos Meninos Pelados’, de Graciliano Ramos’”, enfatiza. O interesse pelos contos se deu pelo fato de serem histórias curtas, algo atrativo para crianças e adolescentes. “Desde então se passou muito tempo, já faz 30 anos que escrevo. Quando a gente lê bastante o interesse por escrever sempre aparece”, assinala.

Santos teve suas primeiras obras publicadas no início dos anos 90, a mais conhecida, segundo o próprio autor, é “Passarim, Passarão”, um livro infantil lançado em 2003 que teve o apoio do Serviço Social do Comércio (Sesc) e Fundação Cultural. Entre as outras obras estão “Viver Enquanto Amar”, de haicai até sonetos, “As Encruzilhadas”, “Por instantes lembrei de mim” e “Um conto, uma espada e uma sombra”.  “Três das minhas obras podem ser encontradas na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley”, revela Santos.

Altair Cirilo já participou de pelo menos 25 antologias

O escritor Altair Cirilo dos Santos tem poemas e contos publicados em pelo menos 25 antologias. Além disso, coleciona prêmios em concursos literários de todo o Brasil. “Minha primeira vitória foi em Brasília”, lembra sem esconder o sorriso nostálgico. Dentre as grandes conquistas, Altair cita o primeiro lugar na fase nacional da categoria poesia no Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) em 2005.

Diariamente, Santos escreve pelo menos um parágrafo. Tal hábito e amor pela literatura permitiu que ao longo dos anos reunisse grande volume de trabalhos inéditos. “Tenho muito material que ainda quero publicar, tanto poemas quanto contos. Penso também em escrever uma novela ou um romance”, declara. Altair Cirilo dos Santos é policial militar, escritor, graduado em letras e direito, além de membro da Academia de Letras e Artes de Paranavaí (A.L.A.P.)

Frase do escritor Altair Cirilo dos Santos

“Quem mexe com arte, sem apoio não é ninguém”

Paranavaí terá “Conversa Entre Amigos” em junho

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Programa literário visa estimular não apenas a leitura, mas também o senso crítico

Dia 11 de junho, às 18h, será realizado mais um encontro do programa de incentivo a leitura Conversa Entre Amigos na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley. O livro a ser discutido é “Terra Vermelha”, do escritor paranaense Domingos Pellegrini. O evento vai contar com a participação do deputado federal Marcelo Almeida, idealizador do programa.

O programa Conversa Entre Amigos é voluntário e gratuito, e visa facilitar o acesso às grandes obras da literatura brasileira e internacional, além de formar uma rede de grupos de discussão. Criado em Curitiba em fevereiro de 2004, o programa já conta com mais de 1,5 mil leitores cadastrados, divididos em grupos por todo o Paraná.

O Conversa Entre Amigos não impõe nenhuma restrição quanto a faixa etária, profissão, crença e origem. Inclusive tal diversidade contribui para o enriquecimento dos debates, segundo o deputado federal Marcelo Almeida, conhecido pelo trabalho que desenvolve em prol da cultura. Almeida é o responsável por disponibilizar gratuitamente livros aos grupos de leitura espalhados pelo Paraná.

Em Paranavaí, o primeiro encontro do programa Conversa Entre Amigos foi em março, quando houve discussão da obra “O Caçador de Pipas”, de Khaled Hosseini. Os encontros são realizados a cada dois meses na Biblioteca Municipal Júlia Wanderley. “A escolha de cada livro é definida pelo próprio grupo. Atualmente, temos 56 pessoas participando do programa”, revela a assessora de projetos culturais da Fundação Cultural, Ivonete Almeida.

Programa foi criado em Curitiba há seis anos (Foto: Programa Conversa Entre Amigos)

O livro da vez, “Terra Vermelha”, a ser debatido às 18h do dia 11 de junho na Biblioteca Municipal, foi escrito por Domingos Pellegrini que conta a trajetória de um casal de migrantes durante a colonização do Norte do Paraná. A história de José e Tiana, no entanto, é apenas simbólica, pois o que Pellegrini faz com profundidade é traçar reflexões sobre temas atemporais da existência humana. Paixões, valores e conflitos servem de alicerce a obra que se tornou um clássico da literatura brasileira.

Entre os livros que o grupo de leitura do programa “Conversa Entre Amigos” de Paranavaí tem disponível para leitura e debate estão: “1808”, de Laurentino Gomes; “O Advogado”, de John Grisham”; “A Distância Entre Nós”; de Thrity Umrigar; “Um Doce Aroma de Morte”, de Guilhermo Arriaga; “A Eternidade e o Desejo”, de Inês Pedrosa; “O Filho Eterno” e “O Fotógrafo”, de “Cristovão Tezza; “O Guardião de Memórias”, de Kim Edwards; “Herdando uma Biblioteca”, de Miguel Sanches Neto; “O Livreiro de Cabul”, de Asne Seierstad; “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zuzak; “Os Meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Mólnar; “Rota 66 – A História da Polícia que Mata”, de Caco Barcellos; “Sua Resposta Vale Um Bilhão”, de Vikas Swarup; e “Tocquevilleanas”, de Roberto da Matta.

Saiba Mais

Cada participante tem o prazo de um mês para ler o livro a ser debatido.  Os exemplares estão disponíveis na Fundação Cultural. Para mais informações, ligar para (44) 3902-1128

O cotidiano do boia-fria

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Tio Zé: “Sou de outro tempo. A gente prefere sentir a cana nas mãos” (Foto: Daniella Rosário)

Falta pouco para as 6h, e no horizonte já é possível avistar os boias-frias descendo do ônibus em uma propriedade rural próxima a Paranacity, no Noroeste do Paraná. Há homens e mulheres das mais diversas faixas etárias.

Primeiro eles participam de uma aula de ginástica laboral, um momento do dia que inspira confraternização. Depois se dividem em turmas e caminham em direção ao eito do canavial. Os melhores no manejo do facão seguem na frente. Os outros vão atrás. Essa metodologia de trabalho foi criada para que os mais experientes abram caminho para os demais.

O tempo não dá trégua e os boias-frias trabalham em ritmo acelerado, tanto que por volta das 9h o chão já está forrado. “Ninguém pode perder tempo porque o tanto que a gente recebe no fim do mês depende da quantidade de cana cortada por dia”, explica o experiente cortador de cana Geraldo Soares dos Santos enquanto enxuga o suor da testa com a manga da camiseta. Geraldo ganha cerca de R$ 980 por mês. É apontado pelos outros boias-frias como um sujeito bom de facão.

Santos, assim como os demais colegas, não abre mão dos óculos de proteção durante o trabalho. O equipamento evita irritação nos olhos e também protege contra a fuligem. “É a única parte do rosto que não fica escura”, brinca o cortador de cana José Luiz do Prado que herdou o ofício dos avós e dos pais. No canavial, os homens estão sempre vestidos com calça e camiseta de manga longa.

Muitas mulheres cortam tanta cana quanto os homens (Foto: Daniella Rosário)

As mulheres também, mas usam saia por cima da calça. Muitas cortam tanta cana quanto os homens. Contudo, o que mais chama atenção no campo é a vaidade. A ala feminina faz questão de trabalhar com unhas e até rostos pintados. Batons e brincos são considerados essenciais. Questionadas se o sol não destoa a beleza, uma delas é enfática. “O chapéu ajuda a segurar a maquiagem. É nosso porto seguro”, declara a jovem Maria Fernanda Silvestre com um largo sorriso que destaca um suave batom rosáceo.

O trabalho é pesado, doloroso, mas pra quem já se acostumou com a atividade o tempo passa mais rápido com as cantorias e as piadas. As brincadeiras são constantes e quase sempre inofensivas. Às 10h, o motorista do ônibus aciona a buzina indicando que é a hora da boia. Todos, independente da localização, abrem suas bolsas e mochilas. Alguns parecem até ter ensaiado o movimento, tamanha é a sincronia.

Para alguns bóias-frias, o almoço é um momento solitário (Foto: Daniella Rosário)

Na marmita, o básico de sempre. O almoço é bem tranquilo, tanto que em alguns pontos se ouve o atrativo som de uma brisa repentina. Dependendo da localidade, alguns almoçam sozinhos, sentados sobre o cantil. Já outros, em duplas ou grupos. A solidariedade também chama atenção no canavial. Parte dos boias-frias sempre leva mais comida, no caso de algum colega continuar com fome. É uma atitude que corrobora o companheirismo no campo.

Terminado o almoço, o cantil vira travesseiro na hora da sesta. Mas nem todos cochilam. Alguns optam por fazer uma roda para conversar com os amigos e colegas de trabalho. “Prefiro ficar acordado porque senão depois fico indisposto”, justifica Geraldo Soares. Passado um curto período de descanso, a buzina toca de novo. Alguns cortadores logo desaparecem em meio ao canavial enquanto outros começam a amolar os facões.

José Pedro de Oliveira, conhecido como Tio Zé, é um dos que afiam a lâmina da ferramenta. O homem atua como boia-fria há mais de 45 anos. Hoje, com 64, admite que o vigor não é mais o mesmo. “A mente sempre resiste, mas o corpo não obedece, né?”, comenta em tom de resignação.

Enquanto observa e manipula o facão com as mãos cobertas de fuligem, Tio Zé rapidamente relembra fatos da juventude, momentos da época em que trabalhava nas lavouras de café. “Eu era muito forte, não tinha pra ninguém. Agora consigo apenas cortar o suficiente pra não perder o serviço”, revela o boia-fria de mãos completamente calejadas. Os cortadores mais jovens costumam usar luvas, algo que Tio Zé descarta. “Sou de outro tempo. A gente prefere sentir a cana nas mãos”, justifica com um sorriso tímido e um olhar disperso.

O serviço é pesado, doloroso, até pra quem apenas vê (Foto: Daniella Rosário)

Mesmo acostumados a elevadas temperaturas, no início da tarde o Sol afeta os boias-frias com muita intensidade. Para aguentarem a jornada de trabalho, recorrem a um isotônico conhecido como “sorinho”. O produto que tem consistência de suco artificial ajuda a evitar câimbras e desidratação.

O intervalo pra tomar o repositor energético é rápido. Mesmo sob o calor escaldante, seguem na lida. Para quem não está acostumado a se expor tanto aos raios solares, o calor chega às raias do insuportável. No meio da tarde, é comum sentir a pele queimando, mesmo usando camiseta de manga longa.

O corte de cana prossegue até as 16h30, quando os boias-frias ouvem novamente a buzina do caminhão e deixam o eito. Ao fundo, atrás da grande massa de trabalhadores, o canavial parece menor após mais um dia de trabalho. Todos recolhem seus pertences e rumam em direção ao ônibus. É hora de ir pra casa e passar o pouco que restou do dia com a família.

O trabalho no canavial vai até as 16h30 (Foto: Daniella Rosário)

Muitos dos boias-frias não demonstram tristeza pelo trabalho no campo, inclusive afirmam que, apesar da atividade braçal ser muito desgastante, é possível ganhar mais do que muitos que trabalham na área urbana.

“Quem trabalha em uma loja no centro da cidade não é capaz de deixar o emprego que tem pra trabalhar no campo, mesmo que o salário seja melhor. Isso acontece porque hoje em dia as pessoas têm tanta preguiça quanto vergonha do serviço rural. Se preocupam demais com a aparência”, desabafa o cortador de cana Jonas Cabral.

Ter como horizonte os limites que vão do cabo do facão até o toco da cana-de-açúcar não impede os boias-frias de almejarem um futuro melhor, se não para si, pelo menos às próximas gerações. “Todo mundo aqui tem filhos na escola. Nosso trabalho é digno, mas ninguém deseja ver sua criança tendo que pegar no pesado. Queremos que eles estudem e tenham uma vida melhor”, finaliza a cortadora de cana Paula Roberta dos Campos.

Curiosidade

Os boias-frias que cortam menos cana-de-açúcar são chamados de “borracheiros”. Já os bons de facão são conhecidos como “facãozeiros”.

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Elizeu Moraes e a paixão pela música

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Elizeu Moraes: "Todo baterista precisa ter um estilo próprio"

Há dez anos, o designer gráfico Elizeu de Moraes Severino encontrou na bateria uma maneira particular de expressar a paixão pela música. O interesse surgiu muito antes, na infância, quando Elizeu conheceu o grupo Roupa Nova.

“Quando vi o Serginho Herval na bateria decidi que iria tocar aquele instrumento. Na época, ouvia muito pop-rock do final dos anos 80 e início dos 90”, lembra o designer.

Aos 17 anos, Elizeu começou a se apresentar em igrejas locais. Logo estava tocando com dezenas de músicos da cidade, dos mais variados gêneros como pop, rock, sertanejo, MPB, vanerão, entre outros.

“Percebi que muita gente legal precisava de baterista, então sempre tentei ajudar todo mundo”, explica Elizeu de Moraes que já chegou a tocar até 5h30 em um baile de formatura, o que ele admite exigir bastante condicionamento físico.

Segundo o baterista, quando o assunto é música, qualquer pessoa interessada em tocar bateria tem que querer conhecer de tudo um pouco. “É importante porque todo baterista precisa ter um estilo próprio, e isso a gente só cria tirando algo dos mais variados tipos de música”, afirma. Entre as pessoas que contribuíram para a evolução de Elizeu de Moraes como músico estão os bateristas Paulo de Castro, conhecido como Spock, e Glaudemir Ribeiro.

Moraes já tocou em várias edições da ExpoParanavaí, do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), gravou um DVD com a dupla sertaneja Edinho e Cristiano e também um CD com a dupla feminina Elen e Jessy.  “Também já gravei uma música da Sirlei Leonardo, uma grande parceira. Minha profissão mesmo é designer gráfico, mas tocar bateria é algo que faço por ser apaixonado por música”, enfatiza Elizeu em tom de satisfação.

Além de baterista, Moraes é percussionista; toca principalmente bongôs e tumbadoras. Atualmente está impossibilitado de tocar bateria em decorrência de uma lesão, mas garante que retorna até o meio do ano.

Ralph Oliveira: referência em bateria e percussão

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Ralph Oliveira é músico profissional há oito anos

Há nove anos, Ralph André Rangel de Oliveira descobriu o talento para tocar bateria. O tempo de dedicação ao instrumento se encarregou de transformar o músico em referência quando o assunto é bateria e percussão em Paranavaí.

Ralph lembra que profissionalmente já atua como baterista há oito anos, mas admite que na atualidade dedica-se mais a percussão. “Isso acontece porque aqui me procuram mais pra tocar música regionalista, que tem tudo a ver com o instrumento, além disso, existe uma carência local, principalmente nos festivais”, frisa Rangel de Oliveira que participa do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup) desde 2001.

Já em outras cidades a realidade é diferente, o músico quase sempre é chamado para tocar bateria. Ralph conta que sua experiência com a percussão inclui a execução de instrumentos como cajóns, bongôs, bumbos legueros, carrilhões de chaves, além de outros.

“Quando montamos uma música, a escolha de cada instrumento de percussão é feita de acordo com o que queremos. Por exemplo, se queremos um som suave dá pra encaixar o carrilhão de chaves”, explica Ralph Rangel que é bastante procurado por bandas de pop, rock e MPB.

Atualmente, o músico integra o projeto Marcela Martins do qual faz parte há três anos. Ralph conta que se apresentam todo final de semana em bares e pubs de Paranavaí e região. “Nossa música tem uma levada bem brasileira, é um tipo de música bem agradável e que dá pra tocar em qualquer lugar”, ressalta, acrescentando que em locais pequenos a apresentação é sempre acústica – somente voz, violão e percussão.

Em parceria com Marcela Martins, o músico já se apresentou em Rosana (interior de São Paulo), Curitiba, Foz do Iguaçu, entre muitas outras cidades. Quem quiser entrar em contato com o projeto Marcela Martins, do qual Ralph Rangel de Oliveira faz parte, basta ligar para (44) 9113-9581.

Benzedeira já foi presenteada com carro zero-quilômetro

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Pela cura de graves enfermidades, mãe-de-santo ganhou três automóveis novos

Mãe-de-Santo segue a umbanda há mais de 40 anos

A benzedeira baiana Clarice Pereira Eurinice é umbandista em Paranavaí há mais de 40 anos. Ao longo da carreira, a médium foi presenteada com três carros zero-quilômetro em retribuição pela cura de enfermidades.

A mãe-de-santo Clarice Pereira Eurinice adotou a umbanda como religião antes de sair da Bahia para vir ao Paraná. “Desde então eu olho o tarô, jogo os búzios, benzo e resolvo problemas espirituais e materiais. O nome do meu terreiro é Senhor O Bom Jesus de Nazaré e a minha guia é a Mãe Regina de Aruanda”, explica. O guia é o espírito que a ajuda a resolver os problemas daqueles que a procuram.

Para benzer, Clarice informa que não cobra. “Sempre benzo de graça. Cobro apenas quando querem que eu faça algum trabalho que exige despesas”, conta, acrescentando que por muito tempo sofreu pelo fato das pessoas verem a umbanda como uma prática maligna.

Idéias equivocadas já levaram pessoas com propósitos criminosos a procurarem a mãe-de-santo. “Queriam que eu fizesse trabalhos para assassinar inimigos, algo que vai contra os princípios da umbanda que é fazer o bem”, frisa. Por curar graves enfermidades, a mãe-de-santo já foi presenteada com três automóveis zero-quilômetro.

Clarice Eurinice: "O princípio da umbanda é fazer o bem"

“Ganhei esses carros de pessoas que foram desenganadas pelos médicos, a enfermidade deles não era física, mas sim espiritual. Quando o problema é apenas físico, só a medicina pode resolver”, enfatiza Clarice.

A mãe-de-santo também se destaca pela habilidade em qualificar médiuns. A umbandista já formou 80. A maior parte dos discípulos exerce a atividade em outros estados e países, principalmente nos Estados Unidos.

Anualmente a benzedeira realiza doze festas que atraem aproximadamente 400 pessoas de Paranavaí e região. “Faço tudo no meu terreiro mesmo com a contribuição da comunidade. Dia 8 de dezembro sempre fazemos uma homenagem a Nossa Senhora da Conceição”, completa.

Clarice já atendeu pessoas de diversas regiões do Brasil

Clarice já atendeu pessoas de Londrina, Umuarama, Campo Mourão, Apucarana, Cianorte, Jandaia do Sul, Maringá, Nova Esperança, Alto Paraná e muitas outras cidades do Paraná. “Também já fiz trabalho para muitos de São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Dourados e até norte-americanos”, afirma a mãe-de-santo que obteve até reconhecimento do poder público. Há alguns anos, Clarice foi convidada a apresentar a umbanda em eventos do município.

Em dias de grande movimentação, a benzedeira atende até 20 pessoas. Caso o trabalho tenha relação com a luz branca, Clarice cobra cerca de R$ 10 por consulta, se necessário. “Se for de esquerda, não cobro menos de R$ 50. Nestes casos, sou procurada para desfazer trabalhos errados ou mandingas”, ressalta.

Toda última quinta-feira do mês, Clarice trabalha gratuitamente. “É o dia em que faço qualquer caridade, independente da dificuldade”, assinala. Nos outros dias, o preço do trabalho pode custar até R$ 3 mil. Segundo a benzedeira, para preparar um santo é exigido muito tempo e inúmeros médiuns, o que para ela justifica o valor. Para quem tem interesse em seguir a mediunidade, Clarice informa: “O primeiro passo é receber as ordens dos guias para preparar a vestimenta. Então depois de oito meses na corrente é feito o batismo e o juramento”, pontua.

Umbanda X Preconceito

A benzedeira Clarice Eurinice conta que aos 23 anos trabalhava em uma fazenda local quando foi mandada embora por ser umbandista. “Eu e minha família pegamos todos os nossos bens e fomos pra outra fazenda. Ao chegar lá também não nos aceitaram. Eu, meu marido e filhos ficamos sem ter pra onde ir”, relembra a benzedeira que mais tarde conseguiu abrigo em uma propriedade rural próxima ao Aeroporto Edu Chaves.

Segundo Clarice, foi com a renda do novo trabalho que conseguiu guardar dinheiro para comprar o terreno onde atualmente está construída a residência da família e o terreiro. “No início, era pequenininho e de madeira”, relata. Antes de ingressar na umbanda, o marido de Clarice era alcoólatra, porém, por influência da benzedeira o homem mudou de vida. “Se tornou um pai-de-santo de muita fé”, assegura. Hoje em dia, a família toda de Clarice segue a umbanda. São 14 pessoas ligadas a religião.