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A lição de Memo em “Milagre na Cela 7”
Lançado em outubro de 2019 pela Netflix, “Milagre na Cela 7”, dirigido por Mehmet Ada Öztekin, é a versão turca do filme homônimo coreano de 2013 e conta a história de um jovem pai com necessidades especiais que é condenado a morte após ser acusado de matar a filha de um coronel do Exército.
Memo acompanhava Seda, colega de escola de sua filha Ova, em suas brincadeiras quando ela sofre um acidente e acaba falecendo. Com dificuldade em se defender das acusações, já que ninguém o ouve por causa das suas limitações cognitivas, Memo é condenado por assassinato e sofre diversos tipos de violência – física, moral e espiritual.
Muitas vezes chamado de “retardado” pela sua própria condição, o protagonista vive em um mundo particular e alheio à maldade, logo diverso à realidade, o que o impede de reconhecer malícias e intenções. Prova disso são os momentos na cadeia em que ele pergunta quando poderá voltar para casa – sem ter real dimensão da situação em que o colocaram.
Mas se Memo parece não saber nada sobre as antipatias e perversidades do mundo, por outro lado, ele dá mostras de muita sabedoria nas relações familiares e na capacidade de transformar o mundo de quem permite uma pequena aproximação.
Assim, a partir da sua própria percepção fluída, sensível e singela de uma realidade em que muitas vezes as pessoas se negam a celebrar o que realmente deveria dar sentido ao viver, ele modifica sem muito esforço a mente e o coração de pessoas – e mais por suas ações do que por suas palavras pouco compreendidas.
Em “Milagre na Cela 7”, Memo, condenado à morte, se torna um guia involuntário para aqueles que até então não conheciam a força e gratidão do perdão e da redenção. A fotografia do filme é digna de destaque em diversos momentos, principalmente quando a vida e a simplicidade são celebradas na natureza – onde as cenas bucólicas ganham um ritmo diferenciado.
Um dos pontos negativos, mas que não anula o valor do filme, são alguns subsequentes momentos melodramáticos que lembram as telenovelas. No mais, “Milagre na Cela 7” soa como um manifesto à vida no seio da injustiça e um respiro de esperança para aqueles que acreditam que foram esquecidos por ela – ou que a esqueceram sem perceber.