Archive for the ‘Terra Avulsa’ tag
Os acasos da literatura e da vida
No dia 5 de agosto de 2015, mediei um bate-papo com os escritores Altair Martins, de Porto Alegre, e Noemi Jaffe, de São Paulo, durante o projeto Autores e Ideias, do Sesc, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná. Antes do evento começar, eu disse a eles que a cidade teve um personagem com características de dois protagonistas de seus romances mais recentes – “Terra Avulsa” e “Írisz”.
O artista plástico húngaro Bálint Fehérkúti, que produziu as obras mais importantes da Igreja São Sebastião entre os anos de 1966 e 1971, foi perseguido pelos soviéticos e se refugiou no Brasil. Mais tarde, se isolou em um quarto no Santuário do Carmo, de onde ele não saía para nada. Inclusive trabalhava, comia e se embriagava no mesmo ambiente. Ou seja, aquele era o seu mundo.
No livro “Írisz: As Orquídeas”, a protagonista Írisz sofre com a perseguição soviética, mas isso dez anos depois do que sofreu o húngaro Bálint Fehérkúti, acossado em 1946. Írisz também foge para o Brasil, onde decide recomeçar a vida. Assim como Bálint, ela tem alma de artista e tenta se distanciar do passado, mas não consegue por causa da sua natureza extremamente humana e sensível. Bálint viveu o mesmo dilema, tanto que sucumbiu mais tarde em decorrência de uma cirrose hepática.
No livro “Terra Avulsa”, após um trauma, o protagonista Pedro Vicente toma a decisão de não sair mais do seu apartamento. Na tentativa de se desconectar do mundo, ele cria um país dentro de casa. Curiosamente, Fehérkúti fez o mesmo, mas de forma mais interiorizada do que exteriorizada – não tão visualmente visceral. Interpreto tudo isso como os acasos da literatura e da vida.
Para conhecer a história do húngaro na íntegra, acesse: //davidarioch.com/2015/02/19/artista-hungaro-escapou-de-um-dos-piores-campos-de-concentracao-da-uniao-sovietica/