Uma premiada Estrela da Guia
Grupo de folia de reis mantém-se na ativa vencendo dezenas de concursos
Parte de uma tradição que une religião e folclore, o grupo de folia de reis Estrela da Guia, de Paraíso do Norte, surgiu há quase 30 anos. À época, foi criado para honrar uma promessa envolvendo doença. Mas desde o princípio houve tanta dedicação que além de cumprir compromissos religiosos o grupo venceu mais de 50 concursos no Paraná.
Tudo começou na década de 1980, quando o irmão de Hilda Maria da Silva descobriu um grave problema cardíaco. “Ele foi desenganado pelo médico e começou a viver como se esperasse pela morte. Então lembrei que quando nosso pai ficou paralítico, ele fez uma promessa para os três reis magos. Deu tudo certo, e meu irmão foi curado, assim como meu pai”, conta Hilda que em seguida assumiu o compromisso de fundar o primeiro grupo de folia de reis de Paraíso do Norte.
Após a convalescença, o irmão de Hilda cumpriu a promessa de sair com a companhia de reis durante sete anos consecutivos. Gostou tanto da experiência que continuou e se tornou embaixador do grupo. “Fiquei doente pouco tempo depois. Então todos os membros do grupo se ajoelharam e assumiram um novo compromisso”, relata Maria da Silva. No dia seguinte à promessa, Hilda recebeu alta médica e passou o Natal em casa com os familiares.
Ainda com dificuldades para caminhar, a coordenadora da companhia estimulou os confrades a continuarem a tradição. Porém, antes de deixarem a casa, os membros do grupo iniciaram uma cantoria, um ato que representou o desejo de que Hilda carregasse a bandeira da companhia. “Quando a segurei, consegui andar normalmente”, garante a coordenadora que participa todos os anos de concursos de folia de reis.
Festivais
O grupo formado por 14 integrantes já conquistou mais de 50 prêmios em inúmeros municípios do Norte do Paraná. “Vencemos em Paranavaí, Maringá, Sarandi, Nova Esperança, Campo Mourão, São Tomé, Paraíso do Norte, Apucarana, entre muitas outras cidades. A gente sempre ganha algum prêmio. Significa que o nosso grupo é bem aceito”, declara Hilda. Cada concurso de folia de reis tem, em média, 30 companhias. Quando o Estrela da Guia participa de algum festival fora de Paraíso do Norte, a prefeitura se responsabiliza pelas despesas.
Qualquer pessoa pode participar do grupo que tem integrantes de 7 a 70 anos. A diversificação da faixa etária é importante para uma boa encenação que inclui saltos acrobáticos, danças, cantos e declamações. A coordenadora da companhia é a responsável pela confecção da bandeira e dos trajes de todos os membros do grupo: embaixador, contra-embaixador, bastiões e marungos (palhaços).
Doze dias de folia
O grupo de folia de reis Estrela da Guia, de Paraíso do Norte, inicia os festejos em 25 de dezembro e os encerra no dia 6 de janeiro. “Na primeira hora, eu corto um bolo, eles comem e seguem viagem”, conta a coordenadora Hilda Maria da Silva. Ao meio-dia do Natal, depois de passarem a noite em claro, cantando e batendo nas portas, os foliões param pela primeira vez. “Onde estiverem, eles deixam a bandeira e vão almoçar, retornando às 16h”, explica Hilda. Para a companhia, o mais importante não é o morador dar algo para os foliões, mas sim aceitar a bandeira dos três reis magos.
Durante a encenação que tem como trilha de fundo o som do cavaquinho, viola e caixa, o grupo Estrela da Guia já se deparou com outros grupos pelas ruas; momentos em que o duelo é inevitável. “Quando isso acontece, os palhaços se escondem. A gente canta pedindo a bandeira. Quem vencer no verso fica com ela. Enquanto isso os foliões fazem pedidos e os palhaços ficam chorando e enrolando. É uma bagunça”, frisa sorrindo Hilda Maria.
Saiba Mais
O respeito e carinho pelo grupo Estrela da Guia é tão grande que mais de mil pessoas participam das anuais festas realizadas por Hilda Maria.
Folia de reis é um festejo folclórico de tradições cristãs que celebra o encontro dos três Reis Magos com o menino Jesus.
Os reis Baltazar, Belchior e Gaspar, guiados pela estrela de Belém, são os personagens centrais da festa trazida pelos colonos portugueses. A comemoração brasileira foi semelhante a portuguesa até o século XVII, quando o folclore de cada região do Brasil se misturou, de modo peculiar, a folia de reis.