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A importância do ensino superior de música

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Em trabalho acadêmico, Rafael Torrente defende que saber tocar não é o suficiente para lecionar música

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“É preciso compreender a educação sob aspectos filosóficos, antropológicos, sociológicos e pedagógicos para lecionar” (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2015, quando precisou escolher o tema de um artigo, o músico profissional Rafael Torrente, então acadêmico do curso de licenciatura em música-MPB, do UniCesumar, de Maringá, decidiu fazer uma pesquisa sobre a formação do professor de música e a área de atuação em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que mostra a importância do ensino superior de música.

Em 2008, com a criação da lei 11.769, o governo federal abriu espaço para a inclusão de música como disciplina ou conteúdo da disciplina de artes nas escolas. Porém a responsabilidade sobre a aplicação foi repassada aos estados e municípios. “Foi uma boa iniciativa, visando beneficiar principalmente as escolas de tempo integral. O problema é que no Brasil esbarramos na falta de profissionais com formação superior em música”, explica Torrente.

Tendo como referência pesquisadores como Cláudia Bellochio, Vânia Malagutti e Maura Penna, o músico declara que a qualificação do professor é um assunto sempre controverso, até porque em âmbito acadêmico há uma constante preocupação em ampliar a percepção de que para ensinar música já não basta simplesmente saber tocar um instrumento. “Esse é um modelo tradicional que muitos estudiosos apontam como insuficiente porque é preciso compreender a educação sob aspectos filosóficos, antropológicos, sociológicos e pedagógicos para lecionar”, argumenta.

No artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso em 2015, Rafael Torrente realizou em Paranavaí uma pesquisa com 21 músicos profissionais que atuam em projetos de oferta de ensino gratuito de música – a maioria com faixa etária de 24 a 40 anos. Desse total, 94% têm interesse em cursar música. “Quando fiz a pesquisa, havia apenas dois professores com graduação. Descobri que 30% já cursaram ensino superior e outros 30% estão cursando, mas em outras áreas. O ponto positivo é que são profissionais interessados em buscar conhecimento. Não estão acomodados. E 90% deles trabalham com música há pelo menos seis anos”, garante.

Em Paranavaí, uma das grandes dificuldades para esses profissionais é a ausência de um curso superior de música. No Paraná, apenas nove instituições de ensino oferecem graduação na área. “95% dos músicos entrevistados defendem que Paranavaí deveria ter curso superior de música – 71% buscam licenciatura e 23% o bacharelado. Os indecisos somam só 6%. E mais da metade prefere curso presencial. Paranavaí é uma cidade que ‘respira’ música, então isso diz muito sobre a nossa realidade. Você encontra aulas em 9 escolas regulares, 11 projetos sociais, igrejas e inúmeros conservatórios”, enfatiza, lembrando que iniciativas sociais têm beneficiado centenas de jovens interessados em aprender música.

No artigo, Torrente enaltece o trabalho da Fundação Cultural de Paranavaí que incentiva o interesse pela música através do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), Orquestra de Sopros Paranavaí, Banda Sinfônica Clave de Luz, oficinas da Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade e Escola Municipal de Música Luzia Guina Machado, além do projeto Oficinas nos Bairros. “Optei por fazer esse trabalho como uma maneira de dar um retorno para minha cidade, onde tenho o privilégio de trabalhar com música. É uma pesquisa pequena, mas já é um começo”, avalia.

Saiba Mais

Dos 17 músicos profissionais da Orquestra de Sopros Paranavaí, 12 trabalham exclusivamente com música.

Dos 21 entrevistados, apenas dois exercem outra atividade que contribui de forma significativa na complementação de renda.

Do total, 19 fazem freelance em eventos e 14 têm formação em cursos livres de música.

Written by David Arioch

February 18th, 2016 at 6:14 pm