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O Garganta de Ouro de Terra Rica
Antes do estrelato, José Rico cantava em troca de doces em Terra Rica
Na infância, o pequeno José Alves dos Santos começou a se destacar em Terra Rica ao cantar em troca de doces. Quando cresceu, a necessidade o obrigou a exercer serviços braçais para sobreviver. Porém, como profetizara um padre, José ainda seria rico.
O músico José Alves dos Santos, conhecido como José Rico, nasceu em São José do Belmonte, Pernambuco, em 1946, mas em 1948 se mudou com a família para Terra Rica, onde viveu até os 19 anos. De acordo com Wilson Alonso, amigo de infância do cantor, José Rico, o Garganta de Ouro do Brasil, é um grande personagem da cidade. “Ele não é como aqueles artistas que esquecem da própria origem. Não fica mais de seis meses sem aparecer aqui”, defende.
Ao se mudar para o Noroeste do Paraná, no início, o pai de José Rico conseguiu manter a família com o ofício de barbeiro. No entanto, logo surgiram dificuldades e, ainda criança, José Alves dos Santos teve de trocar a chupeta por uma enxada. “Ele trabalhou muito na lavoura. Também atuou como pintor, sorveteiro, engraxate e servente de pedreiro. Lembro como se fosse hoje”, informa Alonso que durante alguns segundos se cala, disperso em pensamentos.
Quando não estava trabalhando, o pequeno José gostava de cantar. A boa voz foi determinante para ser convidado a participar de eventos locais em troca de um cachê baseado em paçoquinha e sorvete. “Era uma figurinha carimbada nas quermesses e festas juninas. Quem tinha muito dinheiro na época, sempre o chamava para se apresentar”, conta Alonso, sem velar o sorriso nostálgico.
O interesse pela música sertaneja foi precoce, mas o desconhecido José dos Santos embalava mesmo o público com canções românticas e boêmias. “Eram composições de Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. O pessoal gostava mais desses cantores que estavam no auge”, relembra Alonso. No fim da adolescência, José Alves dos Santos começou a participar de programas de rádio. Alonso rememora um episódio em que o cantor veio a Paranavaí participar de um programa de auditório. “Ele conseguiu chegar a tempo de se apresentar na Rádio Paranavaí graças ao sargento Vieira”, reitera.
Na época em que sequer cogitava a possibilidade de gravar um disco, o jovem José conheceu o pároco Eduardo Bassil que lhe deu incentivo no início da carreira. “O padre falou que ele seria um José Rico, ficaria realmente rico, e isso aconteceu. Foi merecido porque ele lutou muito por isso, não caiu do céu”, finaliza Wilson Alonso.
José Rico gostava de lutar
Na adolescência, as mãos do cantor sertanejo José Rico não se sentiam atraídas apenas pelas cordas do violão. “Briga era com ele. Lembro que antigamente tinha luta em circo, então normalmente no segundo dia ele já estava lá na arena lutando. O Zé gostava muito disso”, garante o amigo Wilson Alonso.
Emocionado, Alonso destaca a simplicidade como a principal característica do cantor. “O Zé chegava aqui em casa e dizia que queria comer arroz, feijão, ovo frito e quiabo. Além disso, adorava sair na rua de bermuda, camiseta e tênis”, relata o amigo.
Apesar de não tocar nenhum instrumento, Wilson Alonso guarda com esmero um violão cuidadosamente envernizado e sempre brilhante. O instrumento está sempre afinado, à espera de José Rico, que ao toque do primeiro acorde leva à tona a mesma nostalgia e graça da época em que usava o talento para ganhar um pedaço de doce.
Saiba Mais
Além da música sertaneja, José Rico apreciava música gaúcha, mexicana, paraguaia e cigana. Tais influências são perceptíveis nas composições do artista.
A música “Estrada da Vida”, de autoria de José Rico, rendeu a venda de mais de dois milhões de discos para a dupla.
A dupla Milionário e José Rico surgiu em 1973. Desde então, lançaram 28 discos e dois filmes: “Na Estrada da Vida” e “Sonhei com Você”.
O filme “Na Estrada da Vida” foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos, expoente do cinema novo brasileiro.