O linchamento de dois jovens negros em 1930
Foto do crime foi transformada em cartão postal
Em 7 de agosto de 1930, um adolescente branco de Marion, Indiana, nos Estados Unidos, acusou Shipp Thomas e Abram Smith, dois jovens negros, de terem estuprado a sua namorada. A falsa acusação foi o suficiente para gerar uma comoção que reuniu 10 mil homens brancos armados com marretas em frente a delegacia do condado.
Depois de tirarem os rapazes da prisão, os espancaram e os enforcaram com a conivência da polícia. Por sorte, um terceiro rapaz negro, James Cameron, escapou de ser assassinado porque o tio da moça insistiu na afirmação de que ele era inocente.
À época, as fotos de linchamentos de negros eram transformadas em cartões postais com a intenção de mostrar o “orgulho da supremacia branca”. A imagem do fotógrafo Lawrence Beitler vendeu milhares de cópias, tanto que ele passou dez dias sem dormir para reproduzi-las. Mais tarde, as fotos de violência contra negros tiveram efeito reverso. As cenas de tortura e mutilação irritaram muito mais do que agradaram; despertaram medo até na população branca.
Era um crime tão comum naquele tempo que ganhou um novo termo: “Judge Lynch”. A foto da morte de Thomas e Smith, que mostra apenas um linchamento dentre os mais de cinco mil documentados até o final dos anos 1960, tornou-se icônica, tanto que surgiram poemas, livros e canções baseados na imagem. Um exemplo é o poema “Strange Fruit”, do poeta judeu Abel Meeropol, transformado em música por Billie Holiday. Outro clássico é “Desolation Row”, de Bob Dylan, que será eternamente lembrada pelo trecho “Eles estão vendendo cartões postais do enforcamento”.
São informações que se tornaram públicas somente em 1982, quando o sobrevivente James Cameron, o terceiro jovem que escapou do enforcamento, publicou o livro “A Time of Terror: A Survivor’s Story”.
Referência
Cameron, James. A Time of Terror: A Survivor’s Story, 1994. Black Classic Press.
Será que acabou? Só não se fazem mais cartões postais, mas a matança de jovens negros e pobres, no Brasil, corre à solta; sejam eles culpados de algum delito ou não!
Antonio Neto
21 Jan 15 at 12:35 pm