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Dorian Gray e a homossexualidade de Oscar Wilde
“De todos os homens na Inglaterra, sou o que menos necessita de propaganda”
Sua frivolidade afeminada, sua insinceridade estudada, seu cinismo teatral, seu misticismo de mau gosto e sua filosofia irreverente estão deixando um rastro de vulgaridade espalhafatosa. Foi com estas palavras que os mais conservadores definiram o romance The Picture of Dorian Gray (O Retrato de Dorian Gray), do irlandês Oscar Wilde, quando a obra apareceu pela primeira vez em 24 de abril de 1891 em uma edição da Lippincot’s Monthly Magazine, sediada na Filadélfia, nos Estados Unidos.
Na revisão para a publicação do livro, Wilde atenuou um pouco a evidente homossexualidade e a decadência enquanto tema, mas adicionou comentários introdutórios que foram vistos como ofensivos na Inglaterra pós-vitoriana. Ele escreveu que não existe tal coisa como um livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo.
Se por um lado, o livro vendeu bem. Por outro, Wilde se viu obrigado a aperfeiçoar a sua arte do desprezo, já que as pessoas começaram a apontar o dedo para ele nas ruas, tornando-o um dos escritores mais controversos da época. Sua esposa, Constance Lloyd, reclamava que desde que Oscar escreveu O Retrato de Dorian Gray, ninguém mais queria falar com eles.
O escritor pouco se importou com o fato. “Eu acredito que posso dizer sem vaidade que, de todos os homens na Inglaterra, eu sou o que menos necessita de propaganda. Estou extremamente cansado de toda essa propaganda. Não sinto nenhuma emoção quando vejo meu nome no papel, porque escrevi o livro inteiramente para o meu próprio prazer. Sou indiferente ao fato dele se tornar popular ou não”, declarou Oscar Wilde na época.
O escritor negou sua homossexualidade até que a correspondência veio à tona. Por causa do escândalo, sua família se mudou para a Suíça e trocou o sobrenome para Holland. Condenado a dois anos de prisão por “indecência grave”, Wilde escreveu na cadeia a obra The Ballad of Reading Gaol (A Balada do Cárcere de Reading), eternizada através da citação: “Para cada homem que mata a coisa que ele ama.” Antes de falecer em 30 de novembro de 1900, aos 46 anos, Oscar Wilde passou os últimos meses de vida em completo abandono. Até mesmo Alfred Douglas virou-lhe as costas.
Saiba Mais
Oscar Wilde nasceu em Dublin em 16 de outubro de 1854.
Suas obras mais notáveis são The Picture of Dorian Gray, The Importance of Being Earnest, The Happy Prince and Other Tales e Salome.
Trecho de O Retrato de Dorian Gray (Página 59)
As cenas pintadas eram o meu mundo. Eu não conhecia nada além de sombras e acreditava que fossem reais. Você veio – oh, meu belo amor! – e libertou minha alma da prisão. Você me ensinou o que a realidade é, de fato. Esta noite, pela primeira vez em minha vida, vi além do vazio, do blefe, da puerilidade, da oca cerimônia que eu sempre interpretei. Esta noite, pela primeira vez, me tornei ciente de que Romeu era horrível, e velho, e pintado, que a luz da lua sobre o pomar era falsa, que o cenário era vulgar e que as palavras que eu tinha de falar eram irreais, não eram as minhas, não eram o que eu queria dizer. Você trouxe algo mais elevado, algo do qual a arte é apenas um reflexo. Você me fez entender o que é realmente o amor. Meu amor! Meu amor! Estou farta de sombras. Você é mais para mim do que toda arte pode ser. O que tenho eu a ver com as marionetes de uma peça? Quando cheguei esta noite, eu não podia entender como foi que tudo isso fugiu de mim. Subitamente, o significado disto amanheceu em minha alma.
Referências
http://www.todayinliterature.com/
Pearce, Joseph. The unmasking of Oscar Wilde. Ignatius Press, 2004.
Oscar Fingal O’Fflahartie Wills Wilde, Alfred Waterhouse Somerset Taylor, Sexual Offences > sodomy, 20th May 1895“. Old Bailey Proceedings Online. Acessado em 3 de junho de 2016.
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