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Médium por vocação

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O dom de Maria Noêmia atrai pessoas do Paraná e de outros estados

Caboclo Pena Branca é o guia que acompanha Maria Noêmia

Pena Branca acompanha Maria Noêmia há mais de 30 anos

Maria Noêmia dos Santos, de São João do Caiuá, ficou conhecida na região Noroeste do Paraná pelos trabalhos que desenvolve como médium da umbanda branca. Os resultados positivos com a atividade atraem pessoas do Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Catarina, além do Paraná. Mas o fato mais curioso é que a benzedeira não exige remuneração; diz ter sido designada a cumprir uma missão.

De uma hospitalidade inigualável, Maria Noêmia, que vive com o marido em uma humilde residência, recepciona qualquer visitante com um largo sorriso. Em um primeiro contato, ela já avisa: “Não cobro nada. Apenas gosto de fazer a coisa certa. Caso a pessoa ache que mereço alguma gratificação, aí tudo bem.” Pelos serviços prestados, os visitantes dão de R$ 10 a R$ 30 para Maria Noêmia. Quem visa lucro com a umbanda branca, cobra de R$ 100 a R$ 200 por consulta.

Motivada por sentimento de abnegação, durante anos a benzedeira atendeu centenas de pessoas em um quarto tão pequeno que em dia de grande fluxo de visitantes, muitos tinham de esperar a vez na entrada da residência. “Minha vida mudou há 10 anos, quando o prefeito veio aqui e disse que me daria um presente; a construção de um local pra eu trabalhar. Agradeci, e até hoje esta tenda é o meu local de serviço”, relata a sorridente Noêmia dos Santos.

O reconhecimento do prefeito dá a dimensão da importância do trabalho da médium. “Já atendi a região toda de Paranavaí. Também benzi muita gente do Mato Grosso do Sul, São Paulo e até de Santa Catarina”, relembra. Maria Noêmia deixa claro que ela e o marido são aposentados, de onde provém o sustento familiar. “Não vivo da tenda, não tem como viver disso, porque não cobro. Se cobrasse, estaria rica”, frisa, às gargalhadas.

A médium é muito conhecida em São João do Caiuá, mas os moradores locais a procuram apenas em último caso. “Geralmente o pessoal vai atrás de outras benzedeiras, daí quando não dá resultado, eles vêm aqui”, declara. O trabalho de Maria Noêmia é baseado em um guia, espírito do caboclo Pena Branca que a benzedeira recebeu há mais de 30 anos. Desde então, segundo ela, adquiriu o poder de resolver problemas e curar enfermidades.  “É uma missão que não escolhi. Mesmo assim, só faço o bem. Meu objetivo sempre foi ajudar as pessoas. Ninguém deve passar o pé diante da mão”, reitera a benzedeira.

No cotidiano, Noêmia dos Santos benze muitas crianças, contudo, também é procurada para resolver problemas sérios de saúde e quebrar mandingas. A médium cita o exemplo de um idoso que, incapaz de dirigir, foi levado até a tenda pelo genro. “Ele estava com os olhos bem vermelhos, pareciam duas bolas de fogo, e pediu para eu lhe benzer. No outro final de semana, retornou sozinho e me agradeceu. O velhinho já estava até dirigindo”, assegura a benzedeira.

A descoberta de um dom

Maria Noêmia dos Santos nasceu nas imediações de Nossa Senhora da Glória, no Sergipe. Em busca de melhores condições de vida, certo dia, subiu na carroceria de um caminhão pau de arara e partiu para São Paulo. No sudeste, aos 17 anos, começou a trabalhar na colheita de algodão.

Porém, com 25 anos, Maria Noêmia adoeceu. Os médicos foram incapazes de identificar a doença. Segundo a benzedeira, que à época já tinha três filhas, suas pernas e braços incharam muito e ao longo de meses pensou somente na morte. “Todo mundo já me imaginava morta. Mas a surpresa veio durante uma noite de sono. Foi quando senti algo diferente. Acordei recuperada e achei que não fosse eu mesma, até ouvi algumas vozes estranhas”, lembra.

Durante visita, um médium disse a Maria Noêmia que ela recebeu um guia (espírito mensageiro). O visitante alertou que a médium não sobreviveria se rejeitasse o espírito. Até então, Noêmia dos Santos nunca ouvira falar em umbanda branca. “Isso acontece sem que alguém peça. É algo inconsciente”, afirma.

Saiba mais

Umbanda Branca ou de Mesa – Não há presença de elementos africanos como Orixás, Exús ou pombas-giras, nem mesmo utilização de atabaques, fumo, imagens e bebidas. A linha doutrinária se restringe ao trabalho de caboclos, pretos-velhos e crianças.