Bandido bom é bandido morto?
Vocês nunca me verão reproduzindo o discurso “Bandido bom é bandido morto”, até porque penso que toda generalização é equivocada. Acompanho a realidade da periferia de Paranavaí de perto desde 2009. Nesse período, conheci muitas crianças e adolescentes que se afastaram do crime e das drogas graças à intervenção de voluntários, pessoas que decidiram ajudar em vez de criticar. Se ninguém tivesse feito nada, esses jovens teriam morrido, rendidos às drogas ou assassinados por desafetos, já que é mais comum a morte entre eles do que em confrontos com a polícia.
Na periferia de Paranavaí, a polícia costuma atuar de forma bastante consciente e são mais comuns e recorrentes os casos de prisões, não de mortes, o que acredito ser muito positivo. Ademais, falando no geral e baseando-me na minha própria experiência, quero dizer, de alguém que acompanha a realidade da periferia há quase sete anos, inclusive estudando e escrevendo sobre isso, posso dizer que a maioria das crianças e adolescentes que conheci e que se envolveram com o mundo do crime praticavam pequenos delitos. Creio que esse seja o momento mais crucial para fazer um trabalho de recuperação social.
Acredito sim que a mudança ainda é possível. Apostar todas as fichas no exercício máximo da violência, sustentada na premissa de que todo bandido deve ser morto, me parece radical demais, e não contempla todas as variáveis envolvendo a criminalidade no Brasil. Creio que a punição deve ter sempre o respaldo da lei, mesmo que ela ainda seja falha e precise de revisões. Há quem diga que crianças e adolescentes que se tornam bandidos merecem morrer, que entraram nesse caminho porque quiseram, mesmo consciente das implicações.
Bom, eu discordo. Minha contrariedade subsiste no fato de que quase todos os jovens delinquentes que conheci até hoje eram filhos de prostitutas, ladrões, usuários de drogas, traficantes ou foram criados nas ruas, sem família ou qualquer referência moral. Quando converso com jovens em bairros periféricos, percebo que muitas vezes o crime está tão naturalizado no universo deles, que eles têm dificuldade em ver isso como errado, mesmo que o preço a ser pago seja a prisão ou a vida. Eles encaram como uma aventura, um jogo de videogame, e veem suas próprias vidas como tão insignificantes que não se importam em se colocar em situação de alto risco.
“Se eu morrer ou ser preso, provavelmente ninguém vai sentir minha falta, então que assim seja”, já ouvi várias vezes de jovens com idade a partir de dez anos. Há um predomínio amoral, até pela falta de sólidas referências. O que posso dizer sobre isso? Por que não ir até a periferia da sua cidade e tentar contribuir de alguma forma em vez de reproduzir o discurso “bandido bom é bandido morto”? Não tenho dúvida alguma de que a sensação em contribuir para tirar alguém do mundo do crime ou das drogas é muito melhor do que aquela de comemorar a morte de um jovem desconhecido.