“Você é um ladrão de ar, um ladrão!”
No banco, enquanto eu aguardava a minha vez, um senhor perscrutou um rapaz:
— Você não tem ideia do mal que está fazendo.
— Como?
— Isso mesmo!
— Isso mesmo o que?
— Você inspira e respira alto, com uma intensidade absurdamente desconfortável e desrespeitosa. Isso é ultrajante!
— Como?
— Isso mesmo!
— Isso mesmo o que?
— Você não acha que deveria inspirar e respirar um pouco menos? Não se dá conta de que está me roubando um pouco de ar? Não só meu, mas de todos que estão próximos de nós.
— Respiro normalmente. De boa.
— Não mesmo. Sinto que o ar não está fluindo corretamente desde que você se aproximou. Você é um ladrão de ar, um ladrão! — bradou o homem, chamando a atenção das pessoas mais próximas.
Assustado, o rapaz se levantou e caminhou até o outro lado do banco, temendo que o homem se aproximasse.
O sujeito de meia-idade ainda o assistia à segura distância com um olhar reprovador, ajeitando os óculos sobre o nariz. Cutucou o vizinho e disse:
— Agora ele vai roubar o ar daqueles outros infelizes, é um tremendo ladrãozinho de ar.
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