David Arioch – Jornalismo Cultural

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Brian May: “Porcos, bois e cordeiros são criados puramente como mercadorias, prontos para o brutal matadouro”

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“Diariamente, me torno impopular com várias pessoas, que ainda acreditam que os animais foram colocados na Terra para serem usados e abusados pelos seres humanos” (Foto: Brian May Official Website)

No dia 5 de dezembro de 2010, o jornal britânico Sunday Express publicou um artigo intitulado Why I have to speak for the Animals (Por que eu tenho que falar pelos animais), assinado por Brian May, guitarrista e compositor da lendária banda de rock Queen, além de astrofísico. No texto, May, que há muito tempo se tornou um ativista pelos direitos animais, fez duras e contundentes críticas à exploração animal, versando sobre a redução de animais a alimentos, caça e experiências laboratoriais. Logo abaixo, segue o artigo traduzido na íntegra:

Alguém me perguntou recentemente como eu gostaria de ser lembrado. We Will Rock You? Tocando no Palácio de Buckingham? Eu disse, dada a escolha, que prefiro ser lembrado por acelerar o fim da crueldade contra os animais e por ter semeado as sementes de verdadeiro respeito em relação a maneira como tratamos todas as criaturas. Parece uma mudança radical de carreira para mim, não é? Meu amor pela música é inabalável, juntamente com meu amor pela astrofísica, estereoscopia e Photoshop, mas o meu amor pelos animais me levou a deixar a minha guitarra em segundo plano para tentar dar voz aos animais. Então, diariamente, me torno impopular com várias pessoas, que ainda acreditam que os animais foram colocados na Terra para serem usados e abusados pelos seres humanos. Humano é o nome que damos a nós mesmos, e há um adjetivo derivado disso, implicando compaixão, sensibilidade e justiça: a palavra “humano”.

Ao longo da história, o homem tentou justificar o seu comportamento em relação a outros humanos e outros animais. Na Era do Iluminismo, ele justificou que mulheres eram queimadas por estarem possuídas pelo diabo. Ao escrever a Constituição dos Estados Unidos, ele justificou que os escravos deveriam ser mantidos porque “eles não eram iguais a nós”, e que a sociedade entraria em colapso sem a escravidão. Os homens justificaram tantos comportamentos terríveis: tortura de prisioneiros políticos, degradação das mulheres, abuso de crianças, vitimização das minorias e a quase erradicação dos povos nativos.

Esses abusos horríveis são vistos hoje de forma vergonhosa. Como poderíamos pensar que por um ser humano ter uma aparência diferente, ele não tem sentimentos, direito à liberdade, comida, respeito e igualdade de oportunidades? Outra revolução está acontecendo agora. Começamos a perceber que outras criaturas neste planeta têm tanto direito de viver, respirar e aproveitar o seu tempo quanto nós. Mas estamos no primitivo início dessa realização. Enquanto escrevo, milhões de animais estão sofrendo nas mãos dos seres humanos. A indústria animal (leia “Comer Animais”, de Jonathan Safran Foer) envolve o abuso de milhões de criaturas todos os dias, com sentimentos semelhantes aos nossos.

Ian Redmond, zoologista renomado mundialmente, diz que há uma geração atrás, qualquer biólogo que atribuísse “sentimentos e comportamento maternos” a uma macaca abraçando a sua prole seria acusado de antropomorfismo e jamais seria levado a sério novamente como cientista. Esse não é mais o caso. O mapeamento recente dos genomas revelou a surpreendente semelhança entre a composição humana com a dos primatas, e apenas um pouco menos semelhante a de mamíferos como ratos e camundongos. Agora não é mais aceitável a ideia de que os animais agem simplesmente por instinto enquanto os “seres humanos pensam e se comportam racionalmente”.

Em 2004, depois de 100 anos desde que pessoas iniciaram um trabalho de cuidados aos animais, o Hunting Act foi aprovado neste país [Inglaterra], proibindo o “esporte” covarde e desprezível da caça à raposa, juntamente com a caça às lebres e a caça aos cervos com matilhas. Recentemente, vimos a indignação do público em relação ao assassinato sem sentido de um magnífico veado, e banalmente por causa dos seus chifres. Mas esta é apenas a ponta do iceberg; milhões de criaturas altamente inteligentes, mais inteligentes do que cães e gatos que esta nação tanto ama, estão sendo abusadas na Grã-Bretanha neste momento.

Porcos, bois e cordeiros são criados puramente como mercadorias, prontos para o brutal matadouro. Frangos e galinhas são criados em gaiolas sem a indulgência de uma vida ou morte decente [natural]. Todos os animais de criação são agora espécies criadas pelo ser humano para atender a demanda por mais produtividade e mais e mais dinheiro sem qualquer preocupação com o seu bem-estar. Aqueles perus, que serão abatidos neste Natal, nunca irão andar [em referência ao fato de que muitos engordam tanto em pouco tempo que são incapazes de se locomover, além de sofrerem com as articulações fragilizadas].

Outras aves são criadas em gaiolas, e depois libertadas para viverem uma vida lamentavelmente curta que termina com tiros de espingarda, só por diversão. Milhões de primatas, que são nossos parentes mais próximos, são usados em experiências, mantidos em gaiolas em laboratórios, campos de concentração que chamamos de “humano” [Brian May faz uma crítica a banalização do termo ‘humane’, normalmente usado na tentativa de banalização do sofrimento animal. O termo humano traz embutida a ideia de que um animal é bem tratado antes de morrer, o que é uma contradição em essência, já que nenhuma criatura explorada morre feliz]. E temos um governo que quer trazer de volta a caça às raposas (alegando que isso é humano, pedindo “provas” de que as raposas sofrem).

Referência

May, Brian. Why I have to speak for the animals. Sunday Express. Publicado em 5 de dezembro de 2010.  





Written by David Arioch

November 30th, 2017 at 6:44 pm

Brian May: “Todos nós deveríamos ser veganos”

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“Se as pessoas pudessem ver o que acontece com esses animais que serão comidos, acho que veríamos muitas pessoas se tornando veganas”

“Eu gostaria muito mais que se lembrassem de mim por tentar mudar a maneira como tratamos os nossos companheiros animais” (Foto: Brian May Official Website)

O guitarrista e compositor inglês Brian May, da lendária banda de rock Queen, deu inúmeras entrevistas nos últimos anos. Porém, em vez de falar da sua história com o Queen, ele tem preferido direcionar a conversa para uma questão que há muito tempo se tornou uma prioridade em sua vida – os direitos animais. Na Inglaterra, não é nenhuma novidade que Brian May é um fervoroso defensor dos animais. Inclusive foi por uma questão ética que há alguns anos ele abdicou completamente do consumo de carne.

Em entrevista a Steve Jones, ex-guitarrista e membro-fundador da banda de punk rock Sex Pistols, ele revelou em 24 de agosto deste ano que o seu próximo passo é tornar-se vegano. “Eu sou vegetariano e ainda não consegui me tornar vegano. Muitos dos meus amigos são. Como muita comida vegana, mas ainda não posso me considerar vegano”, disse durante o Jonesy Jukebox Show. De acordo com Brian May, as pessoas não refletem sobre o fato de que estão comendo animais que tiveram uma vida péssima e foram nutridos com os alimentos errados. Além disso, passaram por muito estresse em decorrência de privações.

“Toda criatura deste planeta tem o mesmo direito de ter uma boa vida. Não devemos abusar dos animais. Acho que entendemos tudo errado. Não fomos colocados aqui para usar e abusar de outras criaturas. Estamos aqui para fazer coisas boas”, declarou a Steve Jones. O guitarrista do Queen reclamou que a cada ano as pessoas se alimentam de bilhões de animais que sofreram os mais diferentes abusos.

Além do sofrimento animal, Brian May apontou que outro problema é que a criação de animais com a finalidade de reduzi-los a produtos facilita o surgimento de doenças, principalmente no cenário atual, com uma demanda tão alta por alimentos de origem animal. “Sim, todos nós deveríamos ser veganos”, recomendou.

Em 29 de maio de 2016, o jornal britânico The Guardian publicou a matéria “Brian May: ‘All sorts of stuff happens in my workshop”, de Nicola Davis. Na reportagem, May foi questionado sobre o impacto da realidade virtual e dos vídeos de 360 graus como forma de ativismo contra a exploração animal. Ele acredita que essa tecnologia pode contribuir cada vez mais para que as pessoas compreendam que os animais têm os mesmos tipos de sentimentos que nós.

Na opinião de Brian May, uma realidade virtual que apresenta com fidedignidade a realidade dos matadouros pode trazer grandes transformações. “Se as pessoas pudessem ver o que acontece com esses animais que serão comidos, acho que veríamos muitas pessoas se tornando veganas. […] Em uma realidade virtual, se você se tornar uma raposa sendo perseguida por cães famintos, e experimentar ser despedaçado, acho que isso pode alterar a sua sensibilidade”, complementou.

Em outra entrevista ao The Guardian, publicada em 4 de maio de 2011, Brian May se queixou que informações são constantemente manipuladas para fazer com que o público que não é vegano nem vegetariano veja os ativistas pelos direitos animais como pessoas sensacionalistas, dissimuladas e até mesmo violentas. “Caçar e matar animais por prazer é algo que não entra na minha mente. Não entendo por que as pessoas são assim. Luto contra isso o tempo todo. Não acho que um ser humano saudável precisa matar ou causar dor para ser feliz. Por que deveria? Uma vida decente e uma morte decente – é o que pedi para mim, e é isso que peço para qualquer criatura”, ponderou May, que também é astrofísico.

Na matéria “Brian May: my quest to save the badger”, publicada em 4 de maio de 2011, Patrick Barkham, do The Guardian, escreveu que há muito tempo Brian May já defendia que os animais têm direitos – tanto morais quanto legais, deixando claro que ele é contra a ideia equivocada, antropocêntrica e especista de que os seres humanos são os únicos animais importantes deste planeta.  “Não posso deixar de reverenciar as criaturas selvagens que sobreviveram depois de tudo que fizemos. Somos os vândalos do mundo, não há dúvidas disso”, criticou May.

Em 2015, ele gravou um vídeo veiculado no YouTube fazendo um convite para que as pessoas assistam uma das palestras sobre veganismo do ativista estadunidense Gary Yourofsky. No mesmo ano, em 12 de julho, Brian May participou de um debate sobre mudanças no “Hunting Act”, uma determinação do Parlamento do Reino Unido que desde 2004 proibia o uso de cães na caça de animais como raposas, cervos, lebres e visons.

Na discussão transmitida pela Sky News, May confrontou o ex-secretário do meio ambiente Owen Paterson, defensor da caça. “Você precisa parar de fingir que as caças às raposas são uma forma de proteger as fazendas. Isso não tem nada a ver com a agricultura. Conheço muitos fazendeiros e posso dizer que eles não saem matando raposas em seu tempo livre. Isso é sobre pessoas que vão ao campo para torturar animais até a morte, e apenas por diversão. A caça às raposas é sobre isso. É uma fraude absoluta fingir que isso é sobre agricultura”, desabafou Brian May, conquistando a simpatia de muitos espectadores.

Há alguns anos, ele deu uma entrevista ao jornal britânico Sunday Times, revelando que a defesa dos animais é de extrema importância em sua vida:

“Quando eu partir, certamente as pessoas se lembrarão de mim por causa do Queen, mas eu gostaria muito mais que se lembrassem de mim por tentar mudar a maneira como tratamos os nossos companheiros animais.”

Referências

https://www.theguardian.com/technology/2016/may/29/brian-may-owl-stereoscope-interview

https://www.theguardian.com/environment/2011/may/04/brian-may-champion-badger-welfare

Queen’s Brian May: ‘I’d rather be remembered for saving animals’





Written by David Arioch

November 29th, 2017 at 7:19 pm