David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for the ‘Ariadna GIl’ tag

O trauma espanhol

without comments

Soldados de Salamina explora o obscurantismo da Guerra Civil Espanhola

Lola busca informações sobre o paradeiro do poeta Rafael Sánchez Mazas (Foto: Reprodução)

 O filme Soldados de Salamina, idealizado pelo cineasta espanhol David Trueba e lançado em 2003, explora o obscurantismo da Guerra Civil Espanhola partindo da suposta execução do escritor e falangista Rafael Sánchez Mazas.

A protagonista da obra é a escritora em crise Lola Cercas (Ariadna Gil) que decide se aprofundar em uma pesquisa in loco sobre a Guerra Civil Espanhola. O ponto de partida é a ordem de execução do poeta Rafael Sánchez Mazas, um dos fundadores da Falange Espanhola, grupo paramilitar que se aliou ao ditador Francisco Franco em 1936. Decidida a descobrir como Mazas sobreviveu, Lola viaja em busca de personagens que participaram do evento.

Cena antológica do soldado dançando com um rifle ao som de Suspiros de España (Foto: Reprodução)

Enquanto Lola é uma personagem alheia a própria história, inclusive se entrega a pesquisa como razão existencial, o seu estado de vulnerabilidade é uma simbologia da Espanha da época; confusa e controversa, principalmente com relação aos elementos históricos da Guerra Civil Espanhola ocultados por conveniência política. No decorrer do filme, Lola constrói uma outra identidade de si mesma conforme encontra novas informações sobre o episódio da execução de Rafael Sánchez.

O cineasta David Trueba deixa evidente na trama a importância da memória histórica para a preservação da identidade de um país, tanto que a personagem principal só consegue reconstituir importantes fatos da Guerra Civil Espanhola a partir da oralidade, pois não havia muitas provas materiais do que aconteceu com Mazas. O filme oferece poucas respostas, mas faz muitas perguntas e termina de uma maneira que impele o espectador a refletir sobre o assunto enquanto a folclórica canção “Suspiros de España”, de Antonio Álvarez Alonso, ainda ecoa.

Sobre a estética cinematográfica, os destaques são a quebra de linearidade, estruturada a partir de flashbacks, e a fotografia sobre a qual incide pouca luminosidade dando a ideia do quão a Guerra Civil Espanhola é um trauma histórico obscuro; um acontecimento com riqueza de detalhes desconhecidos pela população.