David Arioch – Jornalismo Cultural

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Uma grata surpresa

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Fui homenageado ontem na Câmara Municipal pelo meu trabalho como jornalista, historiador e infoativista – “pelo engajamento na preservação da história e cultura paranaense e por sua luta pela causa animal”. Agradeço ao vereador Carlos Alberto João e ao Gustavo Poldo pela consideração e iniciativa. Na foto, também com os amigos Amauri Martineli e Sobhi Abdallah, e o presidente da Câmara, o vereador José Galvão.

Written by David Arioch

March 26th, 2019 at 2:35 pm

“O pessoal ficava até quatro meses sem ir a Paranavaí”

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Pioneira Francisca Schiroff lembra as dificuldades dos anos 1950

Em 1953, Graciosa já contava com mais de 200 famílias (Foto: Reprodução)

O distrito de Graciosa já contava com mais de 200 famílias em 1953 (Acervo: Ordem do Carmo)

Hoje em dia, quem visita Graciosa, no Noroeste do Paraná, nem imagina que a distância percorrida em 15 minutos até chegar a Paranavaí era um obstáculo nos anos 1950. A maior parte da população da colônia, então de predominância germânica, vinha a Paranavaí apenas de vez em quando. “O trajeto era difícil, tanto que até caminhão atolava. E mesmo sem imprevistos, a viagem poderia durar horas, então o pessoal ficava até quatro meses sem ir a Paranavaí”, relata a pioneira e professora Francisca Schiroff que nasceu em São José, Santa Catarina, distrito que pertencia a Braço do Norte, no Sul do estado, e se mudou para Paranavaí em 1951. Quando alguém adoecia e precisava ir ao médico na cidade, o costume era recorrer a um pioneiro que possuía um caminhão Ford 1950.

Como a estrada era estreita e havia muita mata virgem, os moradores tinham de seguir todas as recomendações do motorista do caminhão que transportava madeira até uma serraria de Paranavaí. Os cipós iam de uma árvore até a outra, chegando a formar uma cortina no meio do caminho. “O veículo rodava devagar e o motorista dizia: ‘cuidado com a cabeça, olha o cipó’ e todo mundo desviava quase que em sincronia”, conta Francisca rindo. Um dia a professora e alguns familiares decidiram ir até a cidade pegando carona em cima de um caminhão usado no transporte de algodão.

No trajeto o veículo quebrou e tiveram de seguir viagem a pé. Perto da ponte onde hoje está instalada a Avícola Felipe se depararam com uma enorme queimada. “A fumaça atravessava toda a estrada. Tivemos que dar uma grande volta para evitar de se asfixiar com a fumaça. Foi um dia muito difícil”, relata. Muitos dos migrantes saíam do distrito apenas para comprar roupas no armazém de Severino Colombelli e Casa Faber, situada onde é hoje a agência do Banco do Brasil. Dona Francisca, como é mais conhecida, sempre teve espírito de aventureira. Não ficava mais de um mês sem vir a Paranavaí.

Casa Faber, um dos destinos da população do distrito em Paranavaí (Foto: Toshikazu Takahashi)

Casa Faber, um dos destinos da população de Graciosa em Paranavaí (Foto: Toshikazu Takahashi)

Naquele tempo, um dos produtos preferidos da população da cidade era a broa de milho da pioneira. “Vendia muito, assim como o pão de fubá, porque não existia padaria”, lembra. A mandioca, até hoje uma das culturas mais tradicionais de Graciosa, era usada na produção de farinha, e a oferta dificilmente acompanhava a demanda. Como não havia feira em Paranavaí nos anos 1950, os produtores faziam as entregas de carroça ou montavam pontos provisórios nas principais ruas da região central.

Os moradores da cidade sabiam quais eram os dias e os horários da chegada dos vendedores. Um fato curioso é que nas décadas de 1950 e 1960, ao contrário da atualidade, os compradores preferiam o porco caipira gordo em vez do suíno fino – branco ou de raça. “Atraía até gente de São Paulo. Isso acontecia porque não tinha óleo de cozinha, então o animal gordo rendia bastante toucinho e banha para fritura”, justifica Francisca. O milho cultivado no distrito também chamava atenção de compradores de longe. Muitas cargas do produto foram enviadas para Santa Catarina. Nos anos 1950, Graciosa tinha duas serrarias. Uma possuía motor elétrico e a outra uma turbina a vapor. Eram modestas, mas atendiam as necessidades da população.

Em 1952, Francisca Schiroff lecionava para mais de 150 alunos do primeiro e segundo ano do ensino fundamental. Um total que aumentou no ano seguinte, quando o distrito somou mais de 200 famílias morando em sítios e chácaras. “Algumas tinham uma área de até 50 alqueires, mas a maioria residia em propriedades de 7 a 10 alqueires”, explica a pioneira. Antes de Paranavaí se tornar município, a população de Graciosa sofreu bastante porque as reivindicações tinham de ser feitas na distante Mandaguari. Era preciso dispor de vários dias para realizar a viagem.

À época, Paranavaí tinha como representante o vereador Antonio Lacerda Braga, mais tarde homenageado com o nome de um importante ginásio de esportes. A união da comunidade de Graciosa sempre foi notória e rendeu bons resultados. Exemplos são as conquistas de um campo de futebol, associação esportiva e um clube. “No passado, chegamos a ter até três vereadores na Câmara de Paranavaí. Os moradores eram bem ativos na política”, destaca dona Francisca.

Nos tempos da “domingueira”

Nos anos 1950, Graciosa ainda não realizava os tradicionais bailes que nas décadas seguintes atrairiam moradores de toda a região de Paranavaí. Por isso os mais jovens encontraram uma alternativa de lazer. Aos domingos, se reuniam na casa de algum morador, onde preparavam uma refeição, seguida por dança e atividades esportivas. “Esses encontros de domingo ficaram conhecidos como ‘domingueira’, a nossa alegria de final de semana”, revela a pioneira.

Frei Burcardo Lippert e frei Bonaventura Einberger na construção do seminário em 1954 (Acervo: Ordem do Carmo)

Frei Burcardo Lippert e frei Bonaventura Einberger na construção do seminário em 1954 (Acervo: Ordem do Carmo)

A “domingueira” era sempre organizada bem cedo porque os pais não deixavam as filhas saírem de casa à noite, inclusive os namoros costumavam ser supervisionados pelas famílias das moças. “Também não se namorava por tanto tempo como hoje. Os jovens casavam bem rápido. Em média, com um ano de relacionamento”, garante Francisca Schiroff. Para o rapaz conquistar o direito de segurar a mão de uma jovem era imprescindível namorar por alguns meses. Além disso, as famílias do casal precisavam se conhecer e estabelecer uma relação de respeito.

Um seminário que se tornou referência

Além de professora, dona Francisca também era muito ativa nos trabalhos da comunidade católica de Paranavaí, tanto que por muitos anos deu aulas de catequese para crianças. “Foi por causa desse meu envolvimento com a igreja que recepcionei praticamente todos os padres que chegaram da Alemanha a partir de 1953”, enfatiza. Em 1954, a pioneira contribuiu na construção do Seminário Imaculada Conceição, inaugurado com uma turma inicial de 50 jovens. Francisca se recorda com alegria dos muitos seminaristas que se tornaram excelentes profissionais e importantes lideranças religiosas.

Segundo a pioneira, o seminário representou um grande avanço na educação de Graciosa, pois muitas crianças e adolescentes não tinham condições de viajar para estudar. “A maior parte das despesas era bancada pela Ordem dos Carmelitas da Alemanha. Desde a comida até a administração do local e a remuneração dos professores”, confidencia, sem deixar de citar que o seminário também recebeu uma boa ajuda dos moradores do distrito e de Paranavaí.

Com o tempo, o Seminário Imaculada Conceição, conhecido pelo rigor educacional, começou a atrair jovens de todas as partes do Brasil. Além de oferecer acompanhamento pedagógico e exigir dedicação cotidiana dos alunos, o local já funcionava sob regime de internato. “Devemos muito aos padres alemães que foram responsáveis pelo seminário. Eles transformaram Graciosa em uma referência até na Alemanha, de tão positivo que foi esse trabalho”, avalia.

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Fafipa, a faculdade mais antiga do Noroeste do Paraná

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Nelson Akiyoshi: “Falavam que nossa cidade não tinha importância social nem estrutura para comportar uma faculdade”

Primeira sede da Fafipa, onde é o atual Senac (Foto: Selma Kozel Paupitz)

Primeira sede da Fafipa, onde é o atual Senac (Acervo: Selma Kozel Paupitz)

Em 1965, Nelson Akiyoshi era professor do Colégio Estadual de Paranavaí. Naquele tempo, Paranavaí tinha uma grande demanda de profissionais com formação superior. Então dentro do colégio surgiu uma discussão sobre a viabilidade de se fundar uma faculdade, a primeira do Noroeste do Paraná. “Nossa principal necessidade era formar professores, pois tínhamos poucos. O problema é que outros envolvidos aproveitaram a oportunidade para fazer propaganda política em cima dessa ideia, angariando votos”, contou Akiyoshi.

À época, o prefeito criou uma comissão com representantes do Núcleo Regional de Educação, além de autoridades de classe e magistrados. Segundo o professor, a preocupação maior do administrador municipal era mostrar que estavam se mobilizando. Em outro sentido, o presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual de Paranavaí, Ivo Cardoso, pediu para Nelson Akiyoshi assumir o trabalho da agremiação. “Fiquei como representante da criançada, dos alunos. Cada um tinha sua finalidade e aos poucos fomos afastando a comissão que criaram com intenção política”, explicou.

Os primeiros passos da Faculdade de Filosofia de Paranavaí

Preocupado, Akiyoshi começou a se aprofundar em estudos sobre implantação de instituições públicas de ensino superior. Algum tempo depois, acompanhado por alunos e professores, realizou uma viagem até Curitiba para conversar com a superintendente de ensino superior Maria de Lourdes Zanardini de Camargo. Entusiasmada com a ideia de uma faculdade em Paranavaí, a superintendente pediu que elaborassem um projeto detalhado e depois o encaminhassem a Curitiba.

Bem articulada, a equipe sob o comando de Nelson Akiyoshi preparou um projeto completo que incluiu levantamento socioeconômico de toda a região e declaração de autoridades públicas, inclusive do prefeito. “Foi um bom trabalho de base. Mandamos tudo para Curitiba e logo foi apreciado pelo Conselho Estadual de Educação. Era o primeiro passo para implantação da faculdade que começou municipal e se tornou estadual”, frisou.

Paranavaí tem uma das primeiras faculdades do interior do Paraná (Foto: Selma Kozel Paupitz)

Nelson Akiyoshi: “Políticos de Maringá foram até Curitiba reclamar de Paranavaí” (Foto: Reprodução)

Por problemas políticos e burocráticos, o Grêmio Estudantil e os professores engajados na conquista tiveram de recorrer a deputados estaduais e federais para agilizar o processo de instalação da instituição. “Vários abraçaram a causa porque entenderam como uma excelente oportunidade de conquistar mais eleitores”, declarou o professor.

Em 1966, apesar dos obstáculos, conseguiram a permissão para o funcionamento da Fundação Faculdade de Filosofia de Paranavaí que começou a operar com poucos professores de graduação superior. “Ficamos entusiasmados e contratamos mais docentes. O próximo passo foi a adequação dos professores. Incentivamos cada um a fazer especializações, cumprindo os quesitos legais para conseguirmos a certificação estadual. Foi muito trabalhoso, mas valeu a pena”, admitiu Akiyoshi.

“Maringá não gostou nem um pouco”

Paranavaí teve motivos para comemorar. Foi pioneira em ensino superior no Noroeste do Paraná, superando Maringá que apenas três anos depois conseguiu fundar a Universidade Estadual de Maringá (UEM). “Maringá não gostou nem um pouco. Autoridades políticas foram até Curitiba reclamar de Paranavaí. Falaram que a nossa cidade não tinha importância social nem estrutura para comportar uma faculdade”, confidenciou.

Akiyoshi: "Políticos de Maringá falaram que a nossa cidade não tinha importância social" (Fotos: Arquivo Pessoal)

Akiyoshi foi o maior responsável pela criação da Fafipa (Fotos: Arquivo Pessoal)

A qualidade do ensino norteou a instituição logo no início. O entusiasmo dos professores em lecionar estimulou os acadêmicos a se tornarem docentes. “Tivemos essa felicidade. Se você der uma olhada no quadro de professores vai ver que há muitos anos formamos profissionais para darem aula na Fafipa. Claro, eles fizeram pós-graduação, mestrado e doutorado fora, mas a base é aqui”, defendeu o professor Nelson. No começo, não foram poucos os profissionais contratados pela faculdade que deixaram outros estados e cidades.

Akiyoshi se recordou da professora Lucinda Michelon que saiu do Rio Grande do Sul para dar aula de história em Paranavaí, além de muitos professores vindos de Curitiba. Nos primeiros anos, a instituição oferecia os cursos de pedagogia, iniciação em ciência (curso válido para lecionar a alunos de primeira e quarta série do ensino fundamental), geografia, história e letras. Como havia grande procura de professores em toda a região, o aperfeiçoamento era obrigatório para se manter no mercado de trabalho. A instalação da faculdade também permitiu que muitos regularizassem a própria situação.

Os vestibulares mais exigentes

Os primeiros vestibulares da Fafipa estavam entre os mais exigentes do Paraná, tanto que poucos inscritos conseguiam a aprovação. A solução era realizar segunda chamada para preencher o número de vagas. Mas isso não acontecia por desinteresse dos estudantes. A verdade é que nos anos 1960 e início de 1970, muitos alunos eram chefes de família com graves problemas financeiros. “Eles recorriam a nós pedindo ajuda. E o mais incrível é que sempre davam um jeito de participar dos movimentos estudantis. Havia uma seriedade surpreendente, rara hoje em dia”, avaliou o ex-diretor da Fafipa.

Logo no início, faculdade já atraiu estudantes de mais de 50 cidades (Foto: Reprodução)

Logo no início, a faculdade já atraía estudantes de mais de 50 cidades (Foto: Reprodução)

A instituição passou por sérias dificuldades econômicas nos primeiros anos. Houve várias promessas de repasse de recursos do Governo do Paraná, mas nada foi concretizado. O único apoio recebido foi do poder público municipal. Para evitar que a faculdade fosse fechada, Nelson Akiyoshi sugeriu a criação de uma mensalidade a ser paga de acordo com as condições financeiras dos estudantes. A ideia foi colocada em prática e mesmo recebendo pouco, os professores entendiam a situação e se empenhavam em ajudar.

A primeira sede da Fafipa foi na Avenida Rio Grande do Norte, onde é hoje o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). O prédio foi doado para a faculdade pela Câmara Municipal de Paranavaí. “Nosso compromisso era proporcionar educação. Bem diferente de uma instituição que visa lucro, fazíamos tudo com a intenção de evitar onerar os responsáveis pelo funcionamento da Fafipa e os estudantes”, ressaltou. Mais tarde, levando em conta as necessidades da região, a instituição foi atrás de novos cursos que contribuíram para transformar Paranavaí em um dos destinos preferidos dos estudantes do Norte do Paraná.

“Me afastei porque a Fafipa virou um trampolim político”

Nelson Akiyoshi lamentou que após algumas décadas a faculdade se tornou uma “sucursal” de outras universidades, recebendo poucos investimentos e tendo de se submeter a conflitos de interesses e jogos políticos. “Não começamos o nosso trabalho para tudo ser sucateado. Sofremos muito para que a Fafipa existisse. Depois a vimos perder o seu valor se comparada a tantas universidades bem mais jovens que se tornaram prioridade para o Governo do Paraná”, desabafou.

Sobre as dificuldades na implantação da faculdade, o professor citou as eleições de 1965, quando o prefeito José Vaz de Carvalho, comprometido em trabalhar para o candidato a governador Affonso Camargo Neto, mudou de lado e apoiou o adversário Paulo Pimentel. Já os professores e o Grêmio Estudantil seguiram a recomendação do governador Ney Braga e apoiaram Camargo Neto que prometeu agilizar a instalação da faculdade.

“O prefeito enganou o Ney Braga e nos deixou sozinhos, sem qualquer explicação. Pagamos o preço porque o Camargo Neto foi derrotado. Quando íamos até Curitiba pedir algo, o Paulo Pimentel se recusava a nos atender. Fazia aquele jogo de empurra”, reclamou. Independente dos problemas, os professores de Paranavaí perseveraram e em menos de um ano alcançaram o objetivo. Embora falasse a quem quisesse ouvir que a Fafipa o deixou muito orgulhoso e lhe trouxe algumas das melhores lembranças ao longo da vida, Nelson Akiyoshi nunca escondeu a mágoa de ver a faculdade transformada em uma instituição diferente da sonhada.

Professor Nelson: "Sofremos muito para que a Fafipa existisse" (Foto: Prefeitura de Paranavaí)

Professor Nelson: “Sofremos muito para que a Fafipa existisse” (Foto: Prefeitura de Paranavaí)

“Começamos a trabalhar com quatro turmas, uma de cada curso. Havia muito idealismo. Isso foi se acabando e me afastei porque a Fafipa virou um trampolim político. Sempre fui o que sou, dentista, então voltei pra minha profissão. Tinha largado tudo para me dedicar à faculdade”, enfatizou o professor que em 1966 teve que enfrentar uma pessoal crise financeira para se empenhar na conquista da permissão de funcionamento da instituição.

“Nelson Akiyoshi foi o maior batalhador da história da Fafipa”

Akiyoshi começou a lecionar porque gostava de trabalhar com adolescentes e jovens adultos. Se sentia realizado em uma sala de aula e envaidecido por mostrar o conhecimento que tinha para dividir com os alunos. “Eu desconhecia minha vocação como professor. Foi por uma casualidade que a descobri. Muitas vezes, passamos a vida sem saber que temos certos talentos”, salientou e disse que quando era professor de biologia se sentia mais jovem em contato com os estudantes.

O entusiasmo o animava tanto que sempre foi lembrado como um dos mais ativos líderes de grupos de estudantes e professores de Paranavaí. “Eu digo que o Nelson Akiyoshi foi o maior batalhador da história da Fafipa. Ninguém lutou tanto. Ele fez tudo acontecer com o trabalho de uma boa equipe formada por professores e alunos”, pontuou o comerciante Romeu Valmor Voida que ingressou na Fafipa em 1970 e se graduou em geografia.

Voida se conduziu pelo passado ao detalhar como era quando a instituição funcionava onde é o atual Senac. Segundo o comerciante, havia um prédio de “material” e outro de madeira com salas, biblioteca e diretório acadêmico. Na década de 1970, geografia, letras (inglês e francês) e pedagogia eram os cursos mais disputados. Pessoas de pelo menos 50 cidades do Paraná participavam do vestibular da Fafipa que oferecia também os cursos de estudos sociais e matemática.

Muitos chegavam sujos na sala de aula

Quando o professor Roberto Ferreira assumiu a diretoria, a instituição obteve o reconhecimento do governo federal. A carga horária mínima a ser cumprida era de 75%. A maior parte dos alunos evitava ao máximo faltar às faltas, mesmo que isso significasse chegar sujo à sala de aula. “Muita gente ia de kombi fretada pra faculdade. Não tinha asfalto e quando atolava tinha que descer e ajudar. Era lama pra todo lado e isso acontecia com frequência”, testemunhou Romeu Voida que se recorda dos contratempos enfrentados pelos muitos colegas de Porto Rico, Querência do Norte, Diamante do Norte, Itaguajé, Paranacity e outras cidades.

A Fafipa tinha fama de ser uma das melhores faculdades do interior do Paraná pelo alto nível dos professores, tanto que não havia reclamações quanto ao corpo docente. Voida decidiu cursar geografia quando retornou do exército e ingressou na empresa Transparaná. Foi convencido por quatro amigos que também se interessaram pelo curso. “Meu sonho era agronomia, mas era praticamente particular, não dava pra mim. Fui o último a entrar no grupo e o único a concluir geografia”, assinalou rindo.

Turma de geografia de 1973 se reúne a cada cinco anos

A turma de Voida já se reuniu várias vezes. Um dos eventos mais marcantes foi a festa de 25 anos após a conclusão do curso que contou com 33 dos 39 acadêmicos formados – 60% atuam na área. Depois realizaram o encontro de 30 anos com 22 ex-alunos. Houve uma queda no total de participantes porque vários faleceram. Alguns colegas de Romeu Valmor se tornaram prefeitos. Os exemplos são Cláudio Pauka em São João do Caiuá e Mário Miyamoto em Paranacity. Apesar de tudo, o grupo mantém o compromisso de se reunir a cada cinco anos.

Voida foi vice-presidente do diretório acadêmico em 1970. Nos anos subsequentes, assumiu como secretário, diretor e presidente. A responsabilidade da diretoria era lidar com os aspectos sociais da vida acadêmica. “Estávamos lá sempre que precisavam da gente. Organizamos muitas festas comemorativas. Quase tudo tinha nossa participação”, garantiu. Comparando passado e presente, o comerciante se queixou que na atualidade há muito individualismo entre os estudantes.

Para Romeu Valmor, a Fafipa só sobreviveu as adversidades graças ao empenho dos primeiros diretores e de muitos professores. “Foram profissionais excelentes, bem respeitados. Por isso a faculdade ainda está aí. As dificuldades existem sim e sempre vão existir, mas sempre cabe a diretoria correr atrás do que é melhor para a instituição, professores e alunos”, sugeriu.

Frase de Nelson Akiyoshi, primeiro diretor da Fafipa

“Hoje existe menos dedicação e menos compromisso. O aluno não sabe o que quer e larga um curso para fazer outro.”

Curiosidades

Antes da faculdade ser instalada na Avenida Rio Grande do Norte, atual Senac, o local já abrigava o Colégio Estadual de Paranavaí (CEP).

Em maio de 2013, a Fafipa completa 47 anos.

Observação do autor

Em 2006 tive a oportunidade de conversar por algumas horas com um dos principais fundadores da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa), o ex-diretor, ex-vereador, professor e dentista Nelson Akiyoshi, falecido em 6 de julho de 2009, que desabafou e se emocionou ao relembrar os primeiros anos de funcionamento da faculdade. Infelizmente, perdi o arquivo da entrevista há alguns anos, mas o recuperei recentemente e o transformei nesta longa matéria. Outra importante e valiosa fonte sobre o assunto foi o comerciante Romeu Valmor Voida que ingressou na Fafipa em 1970.

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