David Arioch – Jornalismo Cultural

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Parque de Exposições, alegria e pesadelo para jovens famintos

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“Tinha dia que malemá alguém dava uma dentada num lanche, cachorro-quente, e deixava de lado”

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Atravessavam o parque e ouviam o próprio estômago roncando quando sentiam o aroma de comida (Foto: Reprodução)

Dos 10 aos 15 anos, mesmo sem dinheiro, I.O. e mais 10 a 15 amigos, moradores da Vila Alta, na periferia de Paranavaí, percorriam mais de cinco quilômetros para chegarem ao Parque de Exposições Arthur da Costa e Silva em época de ExpoParanavaí, tradicionalmente realizada no mês de março na entrada da cidade. Sem pagar, entravam pelos fundos, pelas cocheiras, pelas baias, como ele mesmo diz. Iam a pé ou de bicicleta. Quem ia de bike, levava mais dois amigos. Chegavam lá às 15h e ficavam até as 10h do dia seguinte. Jamais se ausentavam à tarde e à noite.

Tentando invadir o Parque de Exposições, uma vez I.O. ficou pendurado de ponta cabeça, preso pelo tênis, até que conseguiu tirar o calçado e entrar correndo descalço. Na fuga, recebeu uma relhada que deixou um vergão enorme nas costas. Não era fácil. Jogavam óleo queimado na área de travessia preferida dos não-pagantes. “Se chegasse com calça branca, logo ficava toda marcada. Dava pra saber quem pulava e quem não pulava. Tinha uns peões bravos que queriam tirar a gente, daí começava a guerra porque ninguém queria sair. Eu era o mais velho e o resto era tudo piazada”, relata I.O.

O jovem conhecia um segurança “gente boa” que liberava a entrada dele e dos amigos. Lá dentro, atravessavam o parque e ouviam o próprio estômago roncando quando sentiam o aroma de comida e viam os visitantes se fartando diante das barracas. “Tinha dia que malemá alguém dava uma dentada num lanche, cachorro-quente, e deixava de lado. Você ia lá, catava e comia, não queria saber de nada. Queria encher a barriga – beber e comer”, informa I.O que não se esquece do dia que um cara abriu uma latinha de refrigerante e saiu de perto para falar com alguém.

Malandro, seu primo foi lá, tomou um gole e se mandou. I.O. também ficou com vontade, desceu no embalo e “colou”. “Encostei o bico na lata e tomei um surdão. Aquele dia eu apanhei, hein? O cara vinha e meu primo não falou nada. Rodei na ‘pista’ e saí de lá que nem mendigo – descalço, sem camisa, todo estropiado”, reclama. Há 12 anos sem entrar no Parque de Exposições, I.O. lembra das vezes em que encostava nos cantos das barracas e falava: “Faz um lanche aí, irmão!” Os barraqueiros pensavam que ele iria pagar. Quando enchia de gente, I.O. e sua turma sumiam no meio da multidão. “Comia lanche de todo jeito, servido com toda aquela qualidade”, afirma às gargalhadas.

Também “batia um rango” com as sobras das barracas dos restaurantes. Eram motivados pela coragem – só o que tinham naquele momento. Se algo saísse mal, voltavam com o “couro ardendo”. Um dia uma comerciante flagrou o primo de I.O. de olho em uma batata recheada. Percebendo a expressão de desejo no rosto do adolescente, a mulher disse: “Você quer? Espera que vou te dar!” Todo feliz o garoto pensou que a noite era sua. “Achou que tava fácil. De repente, chegou uns caras, nossa galera ficou encurralada e o ‘couro comeu pra todo mundo’. Era cilada, irmão!”, garante I.O que viu a turma partindo, gente correndo por todos os lados e barraqueiro gritando: “É pra matar, não é pra aleijar não!”

Vendo que o “couro ia estalar”, I.O. conseguiu sumir. Em outra ocasião, escapou de ser espancado por dois brutamontes que correram no seu encalço. “Se pegasse, eles me destruiriam. Agora tudo mudou e nunca mais fui lá. Foi assim durante uns quatro anos da minha adolescência, quando não tinha muita segurança”, argumenta. Hoje o jovem sorri ao se recordar da quantidade de comida e bebida que achavam nas arquibancadas. Até garrafinha de suco que o namorado dava para a namorada e ela não queria. Largavam no canto e a garotada chegava antes do pessoal da limpeza recolher tudo. No último dia de exposição a alegria de I.O. e sua turma era imensa. O motivo era a distribuição de alimentos feita pelos comerciantes que precisavam se desfazer das sobras.

“A primeira vez que nós achamos o caminho não perdemos mais o carreador, era só não esquecer da cara do dono da barraca. A nossa turma era de moleques que passavam o dia sem comer, né? Não era fácil. Minha avó e meu tio me tocavam de casa e eu ficava morrendo de fome. Lá na exposição, você achava carne, pão, cachorro-quente, outros tipos de lanche, um monte de coisa, irmão. Comia com vontade mesmo. Não é mentira não! Sobrava resto de maionese, aquelas coisas, e trazia tudo embora”, enfatiza.

Espertos, os garotos conheciam muito bem o sistema de distribuição de energia elétrica do Parque de Exposições, tanto é que ocasionalmente davam um jeito de desligar a chave geral. Enquanto a energia não voltava, comiam cocada que pegavam direto das barracas. “Tinha moleque que passava a mão em pingente, cordinha. O que der tempo no escuro é a hora [risos]. Quem iria ver alguma coisa naquele breu?“, declara I.O. rindo.

Elizeu Moraes e a paixão pela música

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Elizeu Moraes: "Todo baterista precisa ter um estilo próprio"

Há dez anos, o designer gráfico Elizeu de Moraes Severino encontrou na bateria uma maneira particular de expressar a paixão pela música. O interesse surgiu muito antes, na infância, quando Elizeu conheceu o grupo Roupa Nova.

“Quando vi o Serginho Herval na bateria decidi que iria tocar aquele instrumento. Na época, ouvia muito pop-rock do final dos anos 80 e início dos 90”, lembra o designer.

Aos 17 anos, Elizeu começou a se apresentar em igrejas locais. Logo estava tocando com dezenas de músicos da cidade, dos mais variados gêneros como pop, rock, sertanejo, MPB, vanerão, entre outros.

“Percebi que muita gente legal precisava de baterista, então sempre tentei ajudar todo mundo”, explica Elizeu de Moraes que já chegou a tocar até 5h30 em um baile de formatura, o que ele admite exigir bastante condicionamento físico.

Segundo o baterista, quando o assunto é música, qualquer pessoa interessada em tocar bateria tem que querer conhecer de tudo um pouco. “É importante porque todo baterista precisa ter um estilo próprio, e isso a gente só cria tirando algo dos mais variados tipos de música”, afirma. Entre as pessoas que contribuíram para a evolução de Elizeu de Moraes como músico estão os bateristas Paulo de Castro, conhecido como Spock, e Glaudemir Ribeiro.

Moraes já tocou em várias edições da ExpoParanavaí, do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup), gravou um DVD com a dupla sertaneja Edinho e Cristiano e também um CD com a dupla feminina Elen e Jessy.  “Também já gravei uma música da Sirlei Leonardo, uma grande parceira. Minha profissão mesmo é designer gráfico, mas tocar bateria é algo que faço por ser apaixonado por música”, enfatiza Elizeu em tom de satisfação.

Além de baterista, Moraes é percussionista; toca principalmente bongôs e tumbadoras. Atualmente está impossibilitado de tocar bateria em decorrência de uma lesão, mas garante que retorna até o meio do ano.