David Arioch – Jornalismo Cultural

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Será que os militares de alto escalão realmente gostam do Bolsonaro?

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(Foto: IstoÉ)

É apenas minha opinião, mas não acho que os militares de alto escalão realmente gostam do Bolsonaro. Eles parecem tolerá-lo, porque provavelmente veem ele como um meio para um fim, que ainda não se sabe qual é exatamente.

Mas o Mourão está aí para provar que os militares não se submetem ao Bolsonaro e já deixaram claro que têm suas próprias pautas, independente da vontade do presidente. Até porque têm seus próprios representantes no Congresso.

Acho que não é difícil perceber também que o Bolsonaro é um sujeito indisciplinado (o seu histórico militar está disponível na internet), e isso não inspira muita confiança por parte dos militares. Até me surpreendo com o fato dele ter sido militar, se bem que esteve na ativa por pouco mais de dez anos, o que é realmente pouco se tratando de alguém com 64 anos.

Tem um material raro que o Roberto Simon, diretor para a América Latina da FTI Consulting, de Nova York, divulgou recentemente que traz uma entrevista com o Geisel, que qualificou o Bolsonaro como um mau militar.

Além disso, qualquer pessoa pode ter acesso aos depoimentos do Jarbas Passarinho (ex-ministro em vários governos militares) via Google dizendo que ele nunca suportou o Bolsonaro.

E só esses dois nomes que citei são considerados dois dos mais emblemáticos do período da ditadura militar. Então honestamente não creio que Bolsonaro seja tão estimado pelos militares.

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March 28th, 2019 at 11:27 am

Orgulho em ser ignorante?

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Arte: Pawel Kuczynski

Desde que nasci, acho que nunca vi um Brasil com tanta manifestação exacerbada de ignorância quanto o atual (até porque não vivi a ditadura, mas estudei o suficiente para saber que naquela época imperava mais a ingenuidade e indiferença por parte bastante significativa da população, e prova disso são as releituras equivocadas do período).

Na minha infância, me recordo que eu encontrava pessoas analfabetas que viviam em áreas rurais ou pessoas que viviam em áreas marginalizadas, mas ainda assim não eram conscienciosamente suscetíveis. Isso acontecia em decorrência de uma ignorância ingênua, pueril.

Já hoje, o que me preocupa não é o analfabetismo, mas especialmente os alfabetizados que são voluntariamente semiletrados, e muitos são incapazes de fazer uma análise crítica e fundamentada de suas defesas. E para piorar, hoje já temos uma massa de pessoas que debocham de pensadores sérios, de estudiosos, filósofos, sociólogos, cientistas e etc, porque não se alinham às suas ignorâncias.

E basicamente são pessoas que não leem, que não estudam, que repetem frases à exaustão, que não têm base teórica ou mesmo pragmática para efeitos analíticos ou comparativos. Que não são nem mesmo capazes de analisar a própria realidade. Ingerem e digerem qualquer porcaria, e acham que isso é o suprassumo da sabedoria, porque são preguiçosos, ou porque se alinharam a ideias que, em linhas gerais, nutrem suas insciências, incultura.

Me preocupo mais com essa ignorância que inspira orgulho em muitos, porque é uma ignorância jactante, presunçosa, de quem infelizmente escolheu esse caminho e ainda se orgulha de tê-lo percorrido.

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March 17th, 2019 at 6:27 pm

A falácia de Ricardo Salles sobre Chico Mendes

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Marina Silva publicou no Twitter que o ministro Ricardo Salles desconhece a relevância de Chico Mendes. Salles respondeu que está indo se informar e compartilhou uma matéria de 2014 em que a família de Chico Mendes é acusada de desvio de recursos.

No Google, você encontra apenas uma notícia, e repetida por diversos meios, de 2014. Sendo assim, se eles cometeram alguma ilegalidade e tiveram definitivamente que devolver recursos públicos, por que não há mais nenhuma matéria sobre o assunto nos últimos anos? Que eu saiba não tem ninguém da família de Chico Mendes preso por improbidade administrativa.

Outra coisa, o falecido ambientalista Chico Mendes é responsável por algo que sua família possa fazer décadas depois? Então quer dizer que se um primo do Ricardo Salles, por exemplo, mata alguém, sem que haja o envolvimento dele, nós podemos culpá-lo pelo assassinato? Não, mas claro que podemos lembrá-lo que ele foi condenado em dezembro, um fato recente, por fraude no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê.

Que argumento mais fragilizado, embora típico da capciosidade desse pessoal que tem promovido o anti-intelectualismo no Brasil. Apenas jogam com o populismo barato para ludibriar a população mais incauta.

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February 14th, 2019 at 2:01 am

Você conhece a história do DEM?

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O Democratas (DEM) é o partido com maior número de políticos cassados no Brasil, e agora ocupa a maior posição de destaque da sua história ao reeleger o Rodrigo Maia para a presidência da Câmara dos Deputados e o Davi Alcolumbre à presidência do Senado.

O DEM foi criado para se desvincular da sua própria história quando ainda era o Partido da Frente Liberal (PFL), que contava com 15 políticos de um total de 37 envolvidos em crimes e irregularidades, segundo a reportagem “PFL é recordista em número de escândalos”, publicado pela Folha de S. Paulo em 16 de julho de 2000.

Mais tarde, em 2007, a direção do PFL decidiu começar uma nova história sob o nome Democratas (DEM). No entanto, na última pesquisa sobre o ranking da corrupção no Brasil, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) apontou o DEM como o partido com maior número de políticos cassados – somando 69, o equivalente a 20,4% do total de políticos cassados em um período de sete anos.

O DEM é hoje o partido que está no controle das duas casas legislativas mais importantes da política nacional. Mas há um outro ponto intrigante, que é o fato de que o PFL que surgiu em 1985, ao final da ditadura militar, teve um longo legado enquanto Aliança Nacional Renovadora, partido mais conhecido como ARENA, e que foi fundado em 1965 para atender aos interesses dos militares que ocupavam o poder.

A ARENA tinha Sarney e Maluf entre seus membros, e foi o partido mais influente da política brasileira por um longo período (de voto de cabresto), conseguindo ocupar a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados em quatro eleições consecutivas, assim contendo e lidando facilmente com a oposição em tempos de política bipartidarista. Parece que a história se repete…

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February 3rd, 2019 at 10:49 pm

Queria entender a lógica desse pessoal que não faz nada por ninguém…

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(Foto: Peter Leone/Futura Press/Folhapress)

Queria entender a lógica desse pessoal que não faz nada por ninguém, que nunca olha para nada que não seja o próprio umbigo, mas despreza e tenta difamar o trabalho do Guilherme Boulos. O cara se doa para uma causa nobre que é fazer a diferença na vida de pessoas que perderam o lar ou que nunca tiveram um, e quando saiu como candidato à presidência foi um dos mais desprezados pela população brasileira mediana, que é uma das mais incultas do mundo.

Muitos brasileiros são culturalmente tão fragilizados em essência, em senso de identidade, que tendem a ver com desprezo e descrença discursos e ações que inspiram igualdade e equidade, mas aplaudem os discursos mais sáfaros, pobres em conteúdo, que exalam desfaçatez, incivilidade e apologia à violência.

Às vezes, a impressão que tenho, quando penso em líderes políticos, é que muitos brasileiros não gostam da ideia de alguém que pareça próximo deles no comando do país, que conheça, de fato, a realidade de muitos, mas sim de alguém que assuma a postura de um patrão, para que eles possam continuar sentindo-se como empregados, como sujeitos servis – com alguém que diga sempre o que fazer e como fazer. O endeusamento da figura de um presidente é uma prova disso, desse crônico distanciamento.

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November 27th, 2018 at 1:06 am

Bolsonaro e seus ministérios

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Para o Ministério da Economia, o economista Paulo Guedes, que não sabe como funciona a Lei Orçamentária Anual (LOA), que está sendo investigado por fraude milionária em fundos de pensão e que declarou que o Mercosul não é prioridade. Sim, afinal não precisamos nos importar muito com países vizinhos.

Para chefiar a Casa Civil, Onyx Lorenzoni que recebeu Caixa 2 da JBS em duas ocasiões, inclusive admitiu o primeiro, mas segue dizendo que é um “combatente contra a corrupção”.

No Ministério do Meio Ambiente, talvez a atriz Maitê Proença, que recebe pensão vitalícia do pai falecido e não se casou para não perder o benefício, além de trazer um histórico polêmico que inclui ofensas aos portugueses. Disse ainda que direitos humanos não é mais importante que comida na mesa. Mas comida na mesa não é uma questão de direitos humanos?

Para o Ministério da Família, que parece ser inclusive considerado mais importante do que o Ministério do Trabalho por Bolsonaro, o pastor Magno Malta, que na eleição de 2014 recebeu R$ 100 mil de Caixa 2 do presidente da cozinha Itatiaia, Victor Penna Costa. Malta também foi acusado de envolvimento na máfia das ambulâncias. Além disso, o pastor acusou falsamente um homem de praticar pedofilia. Graças a Magno Malta, o ex-cobrador de ônibus Luiz Alves de Lima passou nove meses no Centro de Detenção Provisória de Cariacica (CPDC), onde era espancado regularmente, teve dentes arrancados com alicate, sofreu choques, asfixia, ficou cego de um olho e perdeu parcialmente a visão do outro. Luiz Alves foi inocentado mais tarde, após a perícia concluir que ele não havia estuprado a própria filha, e que inclusive ela ainda era virgem.

Para o Ministério da Justiça, Sérgio Moro, um juiz que disse antes que nunca ocuparia um cargo político. E sim, embora a sua função não seja eletiva, cargos baseados em indicação ou comissão, mesmo quando considerados critérios técnicos, não deixam de ser cargos políticos. Afinal, a sua função está vinculada à indicação de um político eleito. Além disso, disse que perdoou o Caixa 2 de Lorenzoni e agora como ministro da justiça pode usar informações privilegiadas de processos e seguir influenciando o judiciário brasileiro, o que em países de Primeiro Mundo é inadmissível e se enquadra como “contaminação política”.

Para o Ministério da Ciência, Marcos Pontes, alguém que embora tenha se formado no ITA, dizem que com bom desempenho, nunca produziu ciência, e que está fora do meio acadêmico desde os anos 1990, e tem como ponto mais alto do currículo uma viagem para o espaço sob os termos de astronauta/turista. Hoje é um empreendedor que atua como um tipo de coach. Não é porque outros governos indicaram alguém que não produz ciência ou que não desenvolve nenhum trabalho muito relevante nesse aspecto que não devemos ser mais criteriosos.

Para o Ministério da Agricultura, Tereza Cristina, uma agropecuarista que é conhecida como a “Musa do Veneno”, e que quer mais relaxamento legal, menos interferência da Anvisa, do Ibama e do ICMBio e mais permissividade na liberação de agrotóxicos proibidos em outras partes do mundo. Não podemos ignorar também que ela mantém negócios com a JBS. Ou seja, aquela mesma empresa que Bolsonaro usou como exemplo a maior parte de sua campanha para criticar o PT.

Para o Gabinete de Segurança Nacional, o general Augusto Heleno, aquele que recebia salário mensal de R$ 59 mil, sendo que o teto no funcionalismo público brasileiro é o salário dos ministros do STF, que era de R$ 33,7 mil e agora vai para R$ 39 mil.

Para o Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um diplomata que acredita em teorias da conspiração e que tem uma posição política que se resume ao antipetismo. Além disso, defende o criacionismo e acredita que a globalização é uma “agenda marxista”.

 

Written by David Arioch

November 15th, 2018 at 10:27 pm

Por que o discurso de Onyx Lorenzoni sobre desmatamento é equivocado

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Onyx Lorenzoni disse esta semana que a Noruega ou qualquer outro país europeu não é exemplo para falar sobre desmatamento porque todos eles “destruíram completamente suas florestas”. Para quem é desinformado, isso pode parecer verdadeiro, considerando que a Amazônia é conhecida mundialmente por ser a maior floresta tropical do mundo.

Porém a verdade é que essa declaração do Lorenzoni não passa de paralogismo, falácia. O pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (IPE-USP), Thiago Fonseca Morello, realizou um trabalho mostrando que nações desenvolvidas da Europa começaram um trabalho de recuperação de áreas desmatadas no século 18.

Além disso, países escandinavos e nações como a Alemanha e Polônia possuem algumas das legislações mais rigorosas do mundo no que diz respeito à preservação das florestas, enquanto nós ainda permitimos desmatamento em áreas de preservação ambiental em 2018. Mas voltando ao exemplo da Noruega, criticada por Lorenzoni, se trata de um país bem menor do que o estado da Bahia. Sendo assim, é claro que não dá pra comparar com o Brasil em relação à áreas florestais.

Outro ponto a se considerar é que só a área desmatada da Amazônia até o ano passado e usada pela agropecuária equivale ao tamanho da Espanha, que é bem maior do que a Noruega. Sendo assim, desmatamos muito sim, e ocupamos o primeiro lugar como país mais perigoso para ativistas do meio ambiente. O Brasil infelizmente é a nação que mais mata ambientalistas.

O que também me parece uma contradição é o Onyx Lorenzoni ignorar que o Bolsonaro disse que vai tirar o Brasil do Acordo de Paris (o compromisso de redução da emissão de gases do efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas), que vai adotar o licenciamento ambiental automático e reduzir o poder de fiscalização do Ibama e do Instituto Chico Mendes de Preservação da Biodiversidade.

Written by David Arioch

November 13th, 2018 at 11:48 pm

Vou apertar o 13

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Foto: Ricardo Stuckert

Vou apertar o 13 com a consciência tranquila de que fiz minha parte, independente do resultado nas urnas. Estou votando em um professor, alguém que se opõe ao discurso da intolerância, da raiva, ódio e violência. Alguém que não precisa se refugiar em discursos de supostos valores familiares porque a sua própria história de vida é um reflexo da essência de valores familiares reais – sem necessidade de propaganda, de maquiagem.

Voto hoje em alguém que não precisou se promover com um discurso fragilizado e populista que na realidade remete ao autoritarismo conveniente de movimentos políticos como o integralismo, salazarismo, franquismo e nazismo. Haddad não se espelhou em algumas das piores figuras da nossa história humana, não criou uma mixórdia ideológica e indefinível de incongruências que representam a tolhida de direitos, de coexistência pacífica, de respeito.

Ele não diz que “as minorias devem se curvar à maioria”. Não precisou construir sua imagem baseada em declarações controversas e reprováveis sob a perspectiva filosófica do justo. Não precisou usar o desprezo pelo “politicamente correto” para agradar uma parcela pretensiosa da população que desconhece a própria história, que se inclina sobre si mesmo, mas não enxerga a necessidade do outro – e que há muito parecia sentir falta de exteriorizar seus pré-conceitos e preconceitos, rejeitando as consequências da banalização.

Não, o Brasil não está acima de tudo, e você sabe disso. Afinal, declarou que a Amazônia não é nossa, bateu continência à bandeira dos EUA. Não engane a si mesmo, e mais importante ainda, não tente enganar os outros. Não diga que a bandeira brasileira é de uns, mas não de outros. Não se fala em fortalecimento de unidade obliterando a coletividade. O papel de um candidato a governante é unir, não segregar. Uma nação, diversa historicamente como a nossa, deve ser construída sob a égide do respeito à singularidade e à pluralidade. Por isso, meu voto é 13.

Written by David Arioch

October 28th, 2018 at 1:30 pm

Diferença entre civilidade e barbárie

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Diferença entre civilidade e barbárie. Vi o vídeo do Mano Brown criticando o PT em meio a muitos petistas e apoiadores, e permitiram que ele dissesse tudo que tinha pra dizer e sem vaiá-lo, até porque ele fez observações bem contundentes. Agora me deparo com essa declaração do Haddad. Honestamente? Duvido muito que o Bolsonaro permitisse algo assim. Quando alguém começa a criticá-lo, na primeira frase ele já interrompe a pessoa e eleva o tom de voz. Claramente uma pessoa intransigente e incapaz de ouvir críticas. Fico imaginando um cara desse lidando com opositores e líderes de outras nações. Capaz de conquistar boicotes, sanções e até mesmo ameaça de guerra contra o Brasil.

Written by David Arioch

October 25th, 2018 at 12:17 pm

Reflexão sobre uma situação preocupante

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Você sabe o que a manchete acima significa? Publicada hoje no Diário do Litoral e na Folha de S. Paulo. Eu vou compartilhar contigo a minha leitura. Quem fez isso acredita que o Bolsonaro já vai ser presidente, e como o candidato nutre desprezo pelo Ibama e pelo Instituto Chico Mendes, o responsável por esse crime acha que está tudo bem em atacá-los. Esse é o poder do discurso de detração, desprezo e desconsideração saindo da boca de um candidato a presidente visto como salvador da pátria. Pessoas suscetíveis têm facilidade em dissimular a realidade para atingir fins pessoais que são nocivos a terceiros. Inclusive recomendo que pesquisem sobre o culto da personalidade, que é uma das coisas mais perigosas da história política da humanidade, porque permite que quando uma pessoa é visceralmente enlevada, todos os seus discursos soam como verdades irrefutáveis (ainda que vazios em sentido) e um chamamento para a ação, mesmo que não signifique nada disso; porque aquele que é enlevado não pode ser questionado e está acima de todos os outros na visão de seus seguidores. Para muitos, Bolsonaro representa a antítese do poder político vigente, um ponto de ruptura na consciência tacanha dos iludidos, impressionáveis e preconceituosos, e isso para tais pessoas justifica inclusive ações criminosas que parecem uma forma de defesa de um nome e de um suposto ideal, mesmo que refratário e distorcido. A primeira vez que notei o quanto a situação é séria foi quando vi aquelas dancinhas, pessoas caracterizadas e fazendo apologia ao uso de armas em apoio ao Bolsonaro. Me desculpe, mas aquilo não me parece normal nem de longe. Há uma evidente vituperação da realidade baseada em uma idealização inconcebível, totalmente desconectada da realidade.

Written by David Arioch

October 21st, 2018 at 11:17 pm