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Os 30 anos do disco “Animal Liberation”, produzido em prol dos animais

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Mote do disco: “Os animais não são nossos para comermos, usarmos e fazermos experimentações”

O disco foi uma ideia do então diretor de divulgação da Peta – Dan Mathews (Foto: Reprodução)

No dia 21 de abril, “Animal Liberation”, o primeiro disco inteiramente dedicado aos direitos animais, completou 30 anos. Quando foi lançado em 1987, o disco produzido por Al Jourgensen, da lendária banda de metal industrial Ministry, chamou a atenção pela proposta diferenciada. Até então, registros fonográficos com caráter beneficente eram feitos apenas em prol de causas humanitárias. Um clássico e grande exemplo é a música “We Are the World”, escrita por Michael Jackson e Lionel Richie em 1985.

Depois de refletir sobre isso, Dan Mathews, então diretor de divulgação da organização Pessoas Pelo Tratamento Étnico dos Animais (Peta), conheceu Al Jourgensen, que já era diretor da Wax Trax! Records, e pediu sua opinião sobre a ideia de um disco dedicado à causa animal: “Vá em frente!”, disse Jourgensen que se ofereceu para produzi-lo, de acordo com matéria de Tom Popson, publicada no Chicago Tribune em 7 de novembro de 1986.

A inspiração para “Animal Liberation” veio com a música “Skin”, lançada em 1980 pela banda britânica Siouxsie & the Banshees. A composição fala sobre a realidade da indústria de peles. “Pensei: ‘Isso é efetivo!’”, declarou Mathews. Depois de um ano de contato com bandas e artistas em carreira solo, o trabalho ganhou corpo com uma forte proposta baseada no mote: “Os animais não são nossos para comermos, usarmos e fazermos experimentações”.

Disco foi produzido por Al Jourgensen, da lendária banda de metal industrial Ministry (Foto: Allan Amato)

Segundo Dan Mathews, muitos artistas e grupos entraram em contato querendo contribuir de alguma forma, porém, muitos queriam doar músicas com outra temática. “Como suas músicas não falavam diretamente dos direitos animais, realmente não podíamos aceitá-las”, justificou e acrescentou que a Peta visava tanto o aspecto financeiro quanto educacional.

Criticando a vivissecção, indústria de peles, indústria da carne e também a caça, Nina Hagen, Lene Lovich, Attrition, Chris & Cosey, Colour Field, Luc Van Acker, Shriekback, Captain Sensible e Howard Jones doaram não apenas tempo e criatividade, mas também disponibilizaram seus próprios estúdios de gravação para a realização do projeto. Enquanto “Hunter”, de Van Acker critica a caça, Hagen e Lovich abordam os testes em animais e a redução de animais à comida.

O que agradou bastante em relação ao disco é que houve uma preocupação em não parecer hostil nas letras e na temática, o que permitiu que “Animal Liberation” conquistasse bastante aceitação entre pessoas que não eram vegetarianas. “Nina e Lene têm uma canção muito otimista, muito vigorosa. Acho que é a música mais pop que elas fizeram. E não é algo que pareça como uma lição de moral. […] As pessoas podem tirar suas próprias conclusões”, declarou Mathews ao Chicago Tribune.

Embora Al Jourgensen, do Ministry, não toque no disco, ele fez as transições entre as músicas, além de ter criado os clipes de notícias e incluído citações que instigam o ouvinte à reflexão. O trabalho teve a contribuição de Bill Rieflin, Ion Barker e Roland Barker. O disco também foi lançado com uma música bônus e ao vivo – “The Meat is Murder”, do The Smiths. Todo o dinheiro arrecadado com a venda dos discos foi usado na produção e circulação de material para conscientização sobre os direitos animais.

Faixas do disco “Animal Liberation”

Al Jourgensen – “International Introduction” (1:36)

Nina Hagen / Lene Lovich – “Don’t Kill The Animals” (Rescue Version) (6:36)

Al Jourgensen – “Civil Disobedience Is Civil Defence” (0:58)

Attrition – “Monkey In A Bin” (2:26)

Chris & Cosey – “Silent Cry” (3:27)

Al Jourgensen – “Lab Dialogue” (0:24)

Lene Lovich – “Supernature” (5:40)

Al Jourgensen – “Life Community” (0:49)

Colour Field – “Cruel Circus” (3:58)

Luc Van Acker – “Hunter” (3:31)

Shriekback – “Hanging Fire” (3:00)

Captain Sensible – “Wot? No Meat!” (3:11)

Al Jourgensen – “Meat Farmer” (0:28)

Howard Jones – “Assault And Battery” (4:50)

Bônus – The Smiths – “Meat is Murder” (5:53)

Referências

http://articles.chicagotribune.com/1986-11-07/entertainment/8603230771_1_benefit-animals-songs-peta

http://waxtraxchicago.bigcartel.com/product/various-animal-liberation-cd-rare-out-of-print

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Entre a navalha e o acordeão

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Irineu Pantarotto, um barbeiro que atrai fregueses com o som cadenciado de uma gaita  

Seu Irineu emocionado "repassando o teclado" (Foto: David Arioch)

Seu Irineu emocionado “repassando o teclado” (Foto: David Arioch)

Na Rua Marechal Cândido Rondon, em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o Salão Nossa Senhora Aparecida chama a atenção de quem passa pelas imediações. A atração é o barbeiro Irineu Pantarotto que além de cortar barba e cabelo anima a freguesia deslizando os dedos com maestria pelo teclado de um clássico acordeão Todeschini, instrumento pelo qual ostenta amor atemporal.

A barbearia do “Seu Irineu” não é frequentada por fregueses, mas por amigos, como faz questão de afirmar. “A gente vem aqui apreciar a música dele. Pra mim, ele é no mínimo um dos melhores músicos do Paraná”, elogia o comerciante Luiz Chemin, cliente da barbearia há 27 anos.

Para o aposentado Orlando Ferezin, também cliente há décadas, as canções de Irineu Pantarotto são de uma nostalgia inigualável. “Tudo que ele toca me lembra uma cultura antiga que infelizmente não volta mais”, justifica.

A qualidade técnica do músico também é ratificada por gaiteiros, como é o caso de Felisbino Alves que pelo menos três vezes por semana vai até a barbearia conversar sobre música. “A gaita contribui na atividade de barbeiro, desperta a atenção de muita gente que passa pelas imediações. Dessa forma, já conquistei muitos clientes e amigos”, garante Pantarotto.

A habilidade com o instrumento é resultado de uma dedicação iniciada aos 12 anos, antes mesmo de Irineu Pantarotto aparar barba ou cabelo. “Já tenho 50 anos de sanfona. Mesmo assim, toda vez que seguro o instrumento é como se fosse a primeira vez. Sinto uma energia muito boa”, revela.

Disco que deu visibilidade ao músico barbeiro (Foto: Reprodução)

Disco que deu visibilidade ao músico barbeiro (Foto: Reprodução)

Em 1982, o acordeonista teve um grande momento profissional, a oportunidade de gravar um disco. “Repassando o Teclado”, título do álbum, teve ótima repercussão no Paraná e em São Paulo. “Fiquei muito feliz de ouvir minha música em tantas emissoras de rádio. Me sinto vitorioso de ter gravado meu trabalho em vinil naquela época”, enfatiza Pantarotto que teve receio do trabalho ser desvalorizado, pois sempre se dedicou à música instrumental.

Sobre os lucros com a venda do disco, o gaiteiro põe a mão sobre a cabeça e lamenta. Contratado pela Gravadora Itaipu de São Paulo, Seu Irineu nunca recebeu pelo vinil. “O proprietário, Marcílio Castioni, vendeu o disco e não cumpriu o que constava no contrato. Não me deu os 10% das vendas. Não recebi nada”, reclama. Depois do incidente, o acordeonista nunca mais apareceu na gravadora.

Irineu Pantarotto não desanimou. Anos depois, regravou o álbum em CD, e a repercussão, mais uma vez, não deixou a desejar. “Receoso, decidi vender tudo sozinho, no meu salão mesmo. Vendi bem, tanto em Paranavaí quanto em outras cidades. Ainda tem gente querendo comprar, mas preciso fazer mais pedidos”, destaca o barbeiro que até hoje só gravou canções autorais.

Primeiro músico a tocar no Clube Idade Dourada

Irineu Pantarotto foi o primeiro músico a subir ao palco do Clube Idade Dourada, onde tocou por dois anos consecutivos. À época, tinha um grupo formado por mais três músicos e quatro bailarinas. “De destaque, tive três bandas: ‘O Patriota do Fandango’, ‘Irineu Pantarotto: malabarista do teclado’ e ‘Irineu Pantarotto e suas Pantaretes’, conta o acordeonista.

Irineu Pantarotto (o primeiro da direita para a esquerda) na época do Grupo Patriotas do Fandango (Foto: Reprodução)

Pantarotto (o primeiro da direita para a esquerda) na época do Grupo Patriotas do Fandango (Foto: Reprodução)

De 1982 a 1996, animou muitos bailes, tocando principalmente vanerão, xote, marchinha, rancheira, chorinho e quadrilha. À época, Seu Irineu se apresentava em programas de TV. “Ele quase sempre estava no programa do Matãozinho, em Apucarana”, relata o comerciante Luiz Chemin.

As apresentações deram visibilidade ao músico, inclusive uma das canções de Pantarotto é a mais executada nas comemorações locais de São João. “Gravei uma quadrilha que se chama Festa Junina e até hoje as escolas e os clubes tocam essa música do meu disco”, revela.

Irineu Pantarotto compôs mais de 300 canções. Do total, apenas 12 foram registradas. “Carrego as outras na cabeça e no coração. Pode ser que uma hora apareça a oportunidade de gravar um novo CD. Se acontecer, vou doar todo o dinheiro arrecadado para instituições de cariedade”, promete o músico barbeiro.

Saiba mais

O primeiro show do acordeonista Irineu Pantarotto foi em 6 de outubro de 1962, em Birigui, no Estado de São Paulo. O músico ainda lembra do evento com brilho nos olhos.

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