David Arioch – Jornalismo Cultural

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A importância da tolerância em tempos sombrios

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A maneira como nos expressamos diz muito mais do que imaginamos

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“São exatamente os predicados negativos que afetam não apenas nós mesmos, mas todos à nossa volta” (Acervo: Geledés)

Nos últimos dias, algumas pessoas me perguntaram o que eu acho do momento político que vivemos no Brasil. O que eu acho? Acho que existe passionalidade demais de todos os lados, o que na realidade não me surpreende, já que essa é uma característica comum do brasileiro – a de se deixar levar pela emoção, de se exaltar. Há predicados bons e ruins. Mas são exatamente os negativos que afetam não apenas nós mesmos, mas todos à nossa volta.

Quando digo que muitos são dominados pela passionalidade, me refiro em específico ao fato de xingarem e repercutirem a esmo publicações que pouco contribuem para um debate. Exemplo são os textos que partem diretamente da conclusão, que não permitem abertura para o leitor trilhar seu próprio caminho. Esse tipo de material costuma ser deletério porque na realidade ele não te instiga a pensar, mas sim a compartilhar e defender uma opinião já definida.

Sim, somos arrogantes e pernósticos todas as vezes em que dividimos uma opinião impositiva, logo autoritária, que não permite qualquer tipo de diálogo ou discussão saudável. A realidade é que vivemos tempos sombrios, em que alguém é capaz de desqualificar o outro, seja nas suas particularidades profissionais ou sociais, por causa de uma opinião ou posição política. Quando alguém age assim, uma questão sempre ecoa pela minha mente: “Será que esse sujeito já pensou que, em menor ou maior proporção, ele absorve cultura de alguém que pensa completamente diferente dele?” Seja por meio de filmes, livros, músicas, etc.

De um lado, vejo pessoas que compartilham frases de Gabriel García Márquez e Julio Cortázar xingando quem se identifica com políticas de esquerda. Do outro, pessoas parafraseando Jorge Luis Borges e Mario Vargas Llosa e ofendendo quem se alinha com políticas conservadoras. O ser humano pouco percebe o quanto recai em contradição quando condena alguém por suas disparidades.

Se você é estoico a ponto de desprezar ou odiar alguém por sua posição política, acredite, você vive uma ilusão, já que é impossível, ainda mais com o advento da globalização, se privar de reconhecer valor em algo gestado por alguém que vá na contramão de sua inclinação política. Você pode não saber, mas você é sim influenciado por pessoas muito diferentes de você em inúmeros aspectos, inclusive políticos. E compreender a complexidade disso é o primeiro passo para entender a importância da diversidade.

Não é novidade que nas mídias sociais pululam muitas ofensas gratuitas, xingamentos ostensivos, desnecessários e generalizados por causa de política. Porém, quem deve ser julgado são os políticos, mas dentro da legalidade, não pessoas que apenas fazem valer o seu direito de pensar diferente de mim ou de você, independente do nível de influência que elas tenham.

Considero a situação preocupante porque me surpreendo cada vez mais com a baixeza das publicações na internet. Pessoas disseminando ódio, trocando ameaças, entrando em conflito com amigos de longa data, tudo isso por indisposições que muitas vezes não chegam nem a ser ideológicas.

Acho justo e imprescindível não rotular pessoas por suas opiniões políticas. A defesa de algo em um momento específico pode e também deve ser encarada como resultado de uma avaliação contextual, ainda mais quando os envolvidos são apartidários. Se você não é capaz de aceitar isso, talvez você não esteja preparado para viver em sociedade.

Hoje em dia, mesmo com todas as facilidades advindas das novas formas de comunicação, muitas pessoas estão mais preocupadas em entrar em conflito por nada ou quase nada – simplesmente porque há uma crença de que algo dentro de você fará com que você se sinta inferiorizado se você não se manifestar, mesmo que de forma obtusa.

Muitos se mostram dispostos a exercer violência – até matar ou morrer por causa de política. Acredite, se você está preparado para chegar a esse ponto significa que você não defende de fato a democracia. Na era da guerra da informação, supor que a solução seja a irrupção de uma guerra nos moldes mais antigos é um retrocesso descomunal, desconsiderado até mesmo por militares que participaram da deposição de Jango em 1964.

Quando você tiver vontade de xingar ou ofender alguém por causa de política, não se esqueça que vivemos em um país democrático onde a maior parte da população quer o fim da corrupção e da impunidade. Não é motivo o suficiente para pelo menos perseverar o respeito? Políticos e seus asseclas são minoria em um país com mais de 200 milhões de pessoas; e muitos são capazes de qualquer coisa para segmentar a população, assim como aconteceu em muitos países.

Outro fator a se considerar é que não se estimula alguém a refletir com xingamentos. Quer que levem sua opinião a sério? Argumente. Do contrário, será apenas mais um desabafo fragilizado ou ofensa vazia. A maneira como nos expressamos diz muito mais do que imaginamos. A forma como você apresenta uma linha de raciocínio pode desqualificar todo o conteúdo se ele transparecer excessos como jactância, intransigência, destempero e excesso de vaidade. Seja tolerante. A tolerância é uma das qualidades mais importantes do ser humano porque ela assegura a manutenção da vida.

Written by David Arioch

March 18th, 2016 at 3:38 pm

Benzedeira já foi presenteada com carro zero-quilômetro

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Pela cura de graves enfermidades, mãe-de-santo ganhou três automóveis novos

Mãe-de-Santo segue a umbanda há mais de 40 anos

A benzedeira baiana Clarice Pereira Eurinice é umbandista em Paranavaí há mais de 40 anos. Ao longo da carreira, a médium foi presenteada com três carros zero-quilômetro em retribuição pela cura de enfermidades.

A mãe-de-santo Clarice Pereira Eurinice adotou a umbanda como religião antes de sair da Bahia para vir ao Paraná. “Desde então eu olho o tarô, jogo os búzios, benzo e resolvo problemas espirituais e materiais. O nome do meu terreiro é Senhor O Bom Jesus de Nazaré e a minha guia é a Mãe Regina de Aruanda”, explica. O guia é o espírito que a ajuda a resolver os problemas daqueles que a procuram.

Para benzer, Clarice informa que não cobra. “Sempre benzo de graça. Cobro apenas quando querem que eu faça algum trabalho que exige despesas”, conta, acrescentando que por muito tempo sofreu pelo fato das pessoas verem a umbanda como uma prática maligna.

Idéias equivocadas já levaram pessoas com propósitos criminosos a procurarem a mãe-de-santo. “Queriam que eu fizesse trabalhos para assassinar inimigos, algo que vai contra os princípios da umbanda que é fazer o bem”, frisa. Por curar graves enfermidades, a mãe-de-santo já foi presenteada com três automóveis zero-quilômetro.

Clarice Eurinice: "O princípio da umbanda é fazer o bem"

“Ganhei esses carros de pessoas que foram desenganadas pelos médicos, a enfermidade deles não era física, mas sim espiritual. Quando o problema é apenas físico, só a medicina pode resolver”, enfatiza Clarice.

A mãe-de-santo também se destaca pela habilidade em qualificar médiuns. A umbandista já formou 80. A maior parte dos discípulos exerce a atividade em outros estados e países, principalmente nos Estados Unidos.

Anualmente a benzedeira realiza doze festas que atraem aproximadamente 400 pessoas de Paranavaí e região. “Faço tudo no meu terreiro mesmo com a contribuição da comunidade. Dia 8 de dezembro sempre fazemos uma homenagem a Nossa Senhora da Conceição”, completa.

Clarice já atendeu pessoas de diversas regiões do Brasil

Clarice já atendeu pessoas de Londrina, Umuarama, Campo Mourão, Apucarana, Cianorte, Jandaia do Sul, Maringá, Nova Esperança, Alto Paraná e muitas outras cidades do Paraná. “Também já fiz trabalho para muitos de São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Dourados e até norte-americanos”, afirma a mãe-de-santo que obteve até reconhecimento do poder público. Há alguns anos, Clarice foi convidada a apresentar a umbanda em eventos do município.

Em dias de grande movimentação, a benzedeira atende até 20 pessoas. Caso o trabalho tenha relação com a luz branca, Clarice cobra cerca de R$ 10 por consulta, se necessário. “Se for de esquerda, não cobro menos de R$ 50. Nestes casos, sou procurada para desfazer trabalhos errados ou mandingas”, ressalta.

Toda última quinta-feira do mês, Clarice trabalha gratuitamente. “É o dia em que faço qualquer caridade, independente da dificuldade”, assinala. Nos outros dias, o preço do trabalho pode custar até R$ 3 mil. Segundo a benzedeira, para preparar um santo é exigido muito tempo e inúmeros médiuns, o que para ela justifica o valor. Para quem tem interesse em seguir a mediunidade, Clarice informa: “O primeiro passo é receber as ordens dos guias para preparar a vestimenta. Então depois de oito meses na corrente é feito o batismo e o juramento”, pontua.

Umbanda X Preconceito

A benzedeira Clarice Eurinice conta que aos 23 anos trabalhava em uma fazenda local quando foi mandada embora por ser umbandista. “Eu e minha família pegamos todos os nossos bens e fomos pra outra fazenda. Ao chegar lá também não nos aceitaram. Eu, meu marido e filhos ficamos sem ter pra onde ir”, relembra a benzedeira que mais tarde conseguiu abrigo em uma propriedade rural próxima ao Aeroporto Edu Chaves.

Segundo Clarice, foi com a renda do novo trabalho que conseguiu guardar dinheiro para comprar o terreno onde atualmente está construída a residência da família e o terreiro. “No início, era pequenininho e de madeira”, relata. Antes de ingressar na umbanda, o marido de Clarice era alcoólatra, porém, por influência da benzedeira o homem mudou de vida. “Se tornou um pai-de-santo de muita fé”, assegura. Hoje em dia, a família toda de Clarice segue a umbanda. São 14 pessoas ligadas a religião.