Archive for the ‘Pioneirismo’ Category
Tamanduá que perseguiu um grupo de padres em 1953
Estrada percorrida por colonos em 1927
Consequência da grilagem de terras durante a colonização
Uma curiosidade sobre a região Noroeste do Paraná é que há muitas propriedades em situação de irregularidade fundiária. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), os imóveis estão localizados principalmente em Paranavaí, Querência do Norte, Santa Cruz do Monte Castelo, São Pedro do Paraná, Amaporã, Nova Londrina, Marilena, Terra Rica e Santo Antônio do Caiuá, além de outros municípios. Um fato que pode ter relação com a grilagem de terras iniciada nos anos 1930.
Usando fezes de grilo para envelhecer uma escritura
Nas décadas de 1930, 1940 e 1950, como a garantia de autenticidade de uma escritura levava em conta o envelhecimento do papel, uma tática muito comum de quem vinha para o Noroeste do Paraná invadir terras consistia em passar fezes de grilo sobre o documento forjado. Assim o papel rapidamente amarelecia e logo era considerado como verdadeiro, já que não havia recursos nem tempo para se avaliar com mais esmero a sua veracidade. Alguns velhacos também depositavam o documento dentro de uma gaveta ou caixa com grilos – o que não apenas amarelecia o papel como ajudava a dar um aspecto de deterioração natural. A prática justifica a origem dos termos “grileiro” e “grilagem de terras”.
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O menino que virou escravo em Paranavaí
Velhos endinheirados ofereciam pequenas fortunas para ter uma noite de “prazeres” com o jovem caiuá
Em 1938, Urissanê tinha oito anos quando foi vendido em Paranavaí, no Noroeste do Paraná, para um cafeicultor que possuía uma grande propriedade nas imediações da velha sede da Vila Montoya, fundada pela Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco). De etnia caiuá, o garoto foi privado do convívio familiar com dois anos, após ser sequestrado por uma tribo rival que vivia na região do Porto São José, na divisa do Paraná com o Mato Grosso do Sul.
“Parece bicho do mato, mas é bem dócil. Pode passar a mão, não tenha medo. Esse aí não sabe nem de onde saiu ou pra onde vai”, dizia e gargalhava o fazendeiro em algumas festas realizadas em sua propriedade, segundo o pioneiro Salvador Marcondes que aos 18 anos começou a trabalhar como capataz para o cafeicultor.
Nas festas, a criança de origem indígena era exposta como um brinquedo para um grupo de magnatas que a encaravam como um pequeno e exótico animalzinho indefeso. As celebrações restritas atraíam muita gente de longe, não apenas do Paraná. “Mais tarde, me dei conta que fiquei frente a frente com pessoas que entraram para a história como figuras revolucionárias e heroicas”, destaca Marcondes que hoje tem 96 anos e uma lucidez invejável.
Alguns velhos endinheirados se ofereciam para pagar pequenas fortunas para ter uma noite de “prazeres” com o menino de olhos pequenos, lábios carnudos, traços femininos e pele tão coruscante que despertava inveja em mulheres de todas as idades. Apesar disso, o fazendeiro, que se dizia um representante dos anseios de Deus na Terra, jamais consentiu tal libertinagem. Também afirmava ser contra a pederastia.
“Cheguei a ver a patroa na cozinha praguejando o menino, dizendo a um padre que não entendia como Deus poderia permitir que um diabinho pagão tivesse uma pele tão bonita, enquanto ela, de origem cristã, uma fiel dizimista da igreja que investia muito dinheiro em produtos de beleza importados, pouco via resultados em sua pele e na de suas filhas”, narra o ex-capataz. O que encolerizava a patroa era o fator genético que afetava sua “linhagem” há mais de um século. Na infância, as mulheres de sua família já desenvolviam acne severa e tipos raros de erupções cutâneas.
Incentivada pela mãe, um dia a filha mais velha do fazendeiro, que tinha cerca de 14 anos, pediu a Urissanê para preparar um pouco de chá de erva-doce. Depois de pronto, o garoto caminhou até o quarto da jovem e, se esforçando para equilibrar uma pesada bandeja de prata, bateu na porta e perguntou se poderia entrar. Ela consentiu e, sentada na cama, ordenou que ele a servisse. Assim que bebericou o chá, o semblante da garota mudou. Enraivecida, retirou o bule da bandeja e lançou todo o chá no rosto de Urissanê.
Enquanto os lábios do garoto tremiam e as lágrimas deslizavam, misturadas ao líquido quente que escorria por toda a fronte queimada, a moça gritou: “Você queria queimar minha boca, não é mesmo, seu vermezinho? O que achou do chá? Gostoso, não é?”, escarneceu, sem se importar com o sofrimento da criança que se contorcia de dor, esfregando os pés pequenos e descalços – um contra o outro, sem emitir som.
Depois de ouvir os gritos da menina, a patroa de Urissanê correu até o quarto, acompanhada das outras duas filhas. Ignorando o rosto severamente ferido do menino, deu atenção somente ao estado emocional da própria filha. “O que você fez com ela, seu macaquinho? O seu lugar é na floresta, não aqui com pessoas de bem”, berrava, sacolejando o garoto que desmaiou e caiu no chão, batendo a cabeça contra o piso de tacos.
A grazinada chamou a atenção de Marcondes que foi até o quarto, onde encontrou o menino caído, quase irreconhecível, com a pele do rosto encorrilhada e disforme. “Era como ver outra pessoa. Pedi ao patrão que me deixasse cuidar do menino. Ele fez uma cara feia fumando um daqueles charutos importados de Cuba, tomou um trago de whisky Evan Williams, o seu preferido, esfregou os dedos na barba e falou: ‘Tá! Agora sai daqui e dê um jeito na situação. Não quero ficar no prejuízo’’’, revela o ex-capataz.
Pela manhã, ouvia-se de longe o fazendeiro discutindo em seu escritório com a mulher e as filhas. “Sua endemoniada, muita gente de nome vinha de longe só pra ver o menino. Ele atraía bom negócio pra mim. O que eu vou fazer agora? Bando de tapadas!”, vociferou esmurrando a mesa.
Quando o marido não estava por perto, as mulheres da casa comemoravam os ferimentos no rosto de Urissanê. Não velavam o prazer de ver o menino padecendo. “Acabou pra sempre aquela pele e aquele rostinho bonito e delicado. Como Deus é generoso!”, celebrava a esposa ajoelhada e levantando as mãos para o céu, ladeada pelas filhas que a imitavam.
Apesar dos ferimentos, o cotidiano de Urissanê em nada mudou – continuava trabalhando dia e noite. Aprendeu a dominar a dor e todos os dias antes de dormir recebia visitas de Marcondes e sua noiva Ruth Moreno. Sem dizer nada a ninguém, os dois se tornaram responsáveis pelo seu bem-estar. A rápida recuperação do menino também chocou a patroa. Não levou mais de três meses para o rosto de Urissanê voltar ao estado normal, sem qualquer indício de que algum dia tivesse sido queimado.
Ainda assim, antes de dormir, para não fugir da propriedade, o fazendeiro obrigava um pistoleiro de sua confiança a acorrentar Urissanê no canto de uma tulha abandonada com chão forrado de palha. Seus punhos severamente machucados ganharam cicatrizes com as formas irregulares de braceletes rudimentares. “Tinha dó daquela criança. Só que se eu o libertasse, o patrão mandava Tonho [um pistoleiro] matar nós dois antes que a gente percorresse um quilômetro. Eu era muito novo e também tinha medo”, diz Marcondes.
O garotinho acordava sempre às 5h e em jejum percorria quilômetros a pé até chegar ao cafezal. Acostumado a trabalhar na área rural de Paranavaí desde os quatro anos, já entendia tanto do plantio quanto da colheita do café. Mas o que mais intrigava os colonos que dividiam o serviço com aquela criança era a sua astúcia para reconhecer as mudanças de tempo e clima. “Ô indiozinho, fala pra nós se o dia vai ser bom ou ruim”, gritou um homem em meio à multidão de colonos numa manhã ensolarada de 1939. Enquanto muitos sorriam, outros ficavam em silêncio prestando atenção na criança mística, considerada pelos mais humildes como alguém que jamais seria corrompido pela maldade.
Urissanê, que usava apenas uma bermuda velha feita a partir de um saco de estopa, cheirou o ar por um instante. Descalço, se ajoelhou, inclinou o rosto no chão e aspirou. “Avatim! Avatim! É o cheiro da terra que conta. Vem vento! Vem água! E derruba até ambição e teimosia”, advertiu o menino com uma voz cantada mais suave que o balanço das folhas verdes do cafeeiro.
Alguns levaram a sério o vaticínio e lamentaram que seria mais um dia de serviço perdido, já que o patrão não pagava a quem não trabalhasse quando chovia. Outros zombaram da predição do menino, reclamando que não iriam abandonar o trabalho por causa de conversa fiada de criança. Uma hora depois, o sol desapareceu, principiando a chegada de uma escuridão intempestiva. O vento intenso, que soprava envergando com fúria os galhos dos cafeeiros, esparramou flores brancas pelo chão de terra, formando um tapete natural convidativo e perfumado.
Subitamente o vento cessou e a chuva começou a cair leve sobre os colonos ainda indecisos sobre ficar ou partir. Aqueles que confiavam nas palavras do menino se protegeram do vento e da chuva dentro de uma grande tulha do outro lado do carreador. Quando cessou, os mais céticos dançaram em torno dos cafeeiros, gritando: “Êêê indiozinho que num sabe de nada. Acha que vamo credita nessa conversa? A gente precisa é de dinheiro no bolso!” Menos de um minuto depois, um raio caiu sobre Josué, o homem que achincalhou Urissanê, matando-o instantaneamente diante de todos os colonos. Seus companheiros correram horrorizados até a tulha onde os mais precavidos se protegiam da intempérie.
Apesar da condição cativa, o garoto trabalhava com o vigor de um adulto. Nunca demonstrava tristeza, raiva ou qualquer sentimento negativo. Era como se fosse motivado a viver por um motivo que jamais seria entendido pelos homens, mulheres e crianças com quem convivia. “Parecia que nada o abalava. Ele tinha uma paz enorme dentro dele e isso incomodava muita gente”, explica Salvador Marcondes.
No final da tarde, logo que o trabalho no campo terminava, Urissanê retornava para a casa da fazenda, onde era obrigado a atender aos caprichos da família do patrão até as 22h. Às vezes, quando estava sozinho lavando os pés da patroa na sala de descanso, o menino levava golpes de relho e mesmo assim não se queixava ou reagia. A observava atentamente com um olhar plácido e reflexivo, dando a impressão de que sua mente era independente do corpo. “Uma vez vi a reação dele. Era de arrepiar. Pedi pra patroa não judiar do menino e ela alegou que estava educando ele”, lembra.
Nos raros momentos em que tinha tempo livre e podia brincar, ainda que sob supervisão de alguém, Urissanê deitava na relva e observava o céu. A noite o agradava muito por causa do brilho das estrelas e da acentuada olência fresca da selva. A mata nativa, não muito distante, parecia trazer lembranças de um tempo que nunca viveu. Estirado no chão e com as mãos apoiadas na cabeça, cantava uma curta canção chamada “O Sereno da Lua”. Falava de uma criança que todos os dias tentava enxergar na lua a sua própria história. Se a lua não fosse capaz de realizar esse desejo, que pelo menos o preenchesse com uma nova história.
O capataz se apegou tanto ao menino que um dia decidiu libertá-lo. Ele e sua noiva, Ruth, planejaram a fuga uma semana antes do Natal de 1939. Quando relatou o plano, Urissanê recusou a partida. Embora vivesse como um animalzinho que desconhecia outra realidade que não a da gaiola, argumentou que nunca se sentiria livre se fugisse. “Agradeço a bondade do senhor, mas não sei o que fazer sozinho lá fora. Não sei se existe algo pra mim, até descobrir vou vivendo dentro de mim”, justificou.
Salvador ficou decepcionado e perguntou como o menino poderia aceitar viver daquele jeito. “Sei quase nada sobre a vida, mas sinto que minha dor é passageira, mais passageira do que a dor do patrão ou da patroa. Esse povo tá marcado por um sofrimento que nunca vou carregar comigo. Quando apanho sinto mais pena deles do que de mim”, confidenciou, deixando o capataz em silêncio.
Na véspera de Natal, o jovem caiuá teve uma surpresa quando Salvador e Ruth o surpreenderam, abrindo a porta do barracão onde ele dormia. Assustado, saltou da cama de palha e só se tranquilizou quando reconheceu o casal. Transportando uma grande variedade de alimentos, ofereceram um banquete jamais visto por Urissanê, acostumado a se alimentar mal. Ocasionalmente comia escondido as parcas sobras da boa comida que a mulher do patrão mandava jogar no lixo.
Durante a ceia, Salvador e Ruth insistiram mais uma vez na fuga, deixando claro que partiriam com Urissanê. O menino acabou concordando. Marcondes então rompeu a machadadas as longas correntes que prendiam os punhos de Urissanê, o impedindo de dar mais de quatro passos. Depois de juntarem os poucos pertences, invadiram um barracão e furtaram um caminhão Dodge 1937 do patrão. O barulho atraiu a atenção do pistoleiro Tonho que não conseguiu dormir e saiu para caminhar por aquelas bandas. “Que tá acontecendo aí dentro? Vamos, Salvador! Saia já daí!”, gritou, em seguida mirando a espingarda na altura do peito de Marcondes.
Crente de que não escapariam com vida, o capataz fez uma proposta. Mostrou todo o seu dinheiro guardado dentro de um pequeno saco e o ofereceu a Tonho. Ele hesitou, franziu a testa, fez careta e recusou. Prestando atenção em Marcondes e mantendo os olhos em direção ao veículo, o pistoleiro viu Ruth e Urissanê lá dentro. O menino sorriu para ele como um filho que reencontra o pai depois de muito tempo. “Quero nada não. Pode ir embora. Vá, Salvador! Vá logo!”, ordenou.
Tonho virou as costas, cuspiu um naco de fumo no chão e desapareceu na escuridão sem olhar para trás, com a espingarda apoiada no ombro. Quando o caminhão se afastou da fazenda, Urissanê observou a casa do patrão até desaparecer do seu campo de visão. Marcondes e Ruth assistiram a reação do menino sem dizer palavra. “A lua também me acompanha. Acho que agora também consigo viver fora de mim”, disse o menino.
Saiba Mais
Graças a Salvador Marcondes e Ruth Moreno, Urissanê reencontrou a família em 1946. O jovem caiuá continuou se correspondendo com o casal até 1965, quando perderam completamente o contato.
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O tesouro da Fazenda Brasileira
O dia em que um colono encontrou um pote cheio de moedas de ouro na serraria da Braviaco
Em 1958, João Mariano, colono de uma das maiores fazendas de café de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, foi convidado por um amigo, também chamado João, para procurar um tesouro enterrado na velha serraria da Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) nos tempos da Fazenda Brasileira.
“Ele estava bem animado em trabalhar na fazenda porque ganhou dinheiro o suficiente para comprar uma potranca e uns porquinhos para criação. Um dia, chegou pra mim e disse: ‘Aqui, Graças a Deus, estou muito bem, João!”, lembra Mariano que visitava o amigo com frequência quando anoitecia.
Em uma noite, o companheiro fez uma sugestão: “Ô, João, vamos arrancar um tesouro ali naquela serraria velha?” Sem entender do que se tratava, Mariano titubeou. “Tesouro?”, interpelou. Com olhar sereno e voz remansosa, o homem respondeu: “Sim, um pote cheio de moedas de ouro que enterraram lá há muito tempo, na época da Brasileira.”
Ainda com dúvidas sobre a proposta do amigo, Mariano questionou se ele recebeu algum aviso, teve um sonho ou visão com o tal tesouro enterrado. Depois de acenar negativamente com a cabeça, e justificar que apenas acreditava na crença de que todo lugar abandonado esconde algo surpreendente, o homem se calou. “Procurar algo à toa, sem base, sem cabimento? Falei que assim eu não iria não!”, argumentou.
Um dia, sem fazer alarde, João reuniu seus pertences e partiu com a família. Antes, sem explicar o motivo, avisou ao amigo que decidiu retornar para São Paulo, seu estado de origem. “Só estranhamos porque ele estava bem aqui. Mas no fim achamos aquilo normal, né? Afinal, era comum um ou outro deixar Paranavaí para tentar a vida em outro lugar”, comenta Mariano.
Mais tarde, caminhando em meio à invernada, o colono João Mariano decidiu dar um passeio pela velha serraria da Braviaco. Quando chegou lá, teve uma surpresa. “Vi um buraco no chão e uma marca ainda brilhante, arredondada e exata de um pote. Lá dentro tinha uma moedinha de ouro. Aí falei: ‘Puta merda! Agora sei porque ele foi embora. Voltei e contei pro meu irmão que me lembrou que quando alguém acha um tesouro tem de deixar uma moedinha pra trás, num sinal de boa fé”, narra.
Quando o proprietário da fazenda soube do acontecido, gritou: “Filho da puta! Esse dinheiro estava na minha fazenda, então era meu. “Mas o senhor não foi arrancar o tesouro, não é mesmo?”, questionou Mariano que nunca mais teve notícias do amigo afortunado.
Saiba Mais
A fazenda situada entre a estrada para Tamboara e a Vila Operária somava mais de 400 alqueires.
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Livro sobre a história de Paranavaí está à venda na Fundação Cultural
A obra de autoria do escritor Paulo Marcelo foi publicada pela primeira vez em 1988
Está à venda na Fundação Cultural de Paranavaí, por R$ 30, a nova versão do livro “História de Paranavaí”, do escritor Paulo Marcelo Soares da Silva, publicado pela primeira vez em 1988.
Relançado após 27 anos com recursos do Fundo Municipal de Cultura, o livro oferece aos leitores entrevistas integrais com pioneiros já falecidos há muito tempo e que fizeram parte das primeiras gerações de moradores de Paranavaí – nos tempos da Vila Montoya e Fazenda Brasileira. Tentando ser o mais imparcial possível, Paulo Marcelo apresenta várias versões de muitos fatos históricos, o que foge da unilateralidade e favorece o debate.
E mais importante, com a reedição do livro “História de Paranavaí”, o autor abre um novo caminho para despertar nos mais jovens a identificação com Paranavaí, o reconhecimento da própria identidade cultural regional e a valorização das histórias de luta e sofrimento que centenas de pioneiros viveram, principalmente nas décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950.
Além de escritor, Paulo Marcelo é bacharel em direito e possui licenciatura em geografia. Participou e foi premiado em muitas edições do Festival de Música e Poesia de Paranavaí (Femup). Também recebeu prêmios de menção honrosa no 15º e 19º Jogos Florais de Barreiro, Portugal, e no 1º Concurso de Romances Juvenis da Academia Paranaense de Letras.
Tem contos publicados pela Empresa Tipográfica Casa Portuguesa, de Lisboa, em Portugal, e Casa da Cultura dos Trabalhadores da Quimigal, de Barreiro, também em Portugal. Ademais, é autor dos livros “O Lendário Capitão”, de 2012, e “Xondó e o Furto da Vassoura”, de 2013. “Encantamento”, a sua mais recente obra, contém ilustrações do próprio escritor e traz um conto sobre a história de um casal que se apaixonou em Paranavaí nos tempos da colonização. Para mais informações, ligue para (44) 3902-1128.
Conversando com a filha de Manoel Canjerana
No dia 1º de Julho de 2015, entrevistei Nair Alves Silva, filha de Manoel Alves Canjerana, um dos homens mais temidos do Noroeste do Paraná nos anos 1950. Canjerana e Manoel da Rocha, o Macaúba, caíram em uma emboscada em 4 de julho de 1955 e foram assassinados por dois amigos no Bar do Beni, na Rua Marechal Cândido Rondon, no centro de Paranavaí.
O encontro com Dona Nair foi extremamente importante porque contrapõe com provas o fato de que Macaúba não foi morto em Cidade Gaúcha nem teve o corpo abandonado. Na foto, leio a caderneta de trabalho de Canjerana, com anotações de 1954 sobre a sua atuação nas áreas de desmatamento, inclusive dados sobre cada um dos peões por quem se responsabilizava quando trabalhava como fiscal (gato).
Sobre as caçadas na década de 1950
Década de 1950 – Anos mais tarde, o padre e pioneiro alemão Ulrico Goevert (foto) reconheceu a falta de consciência ambiental de muitos que se mudaram para o sertão do Noroeste Paranaense. Poucos se preocupavam com a preservação da fauna local, tanto que até aventureiros despreparados se arriscavam na mata virgem para caçar onças. Não foram poucos os homens que acabaram gravemente feridos ou mortos durante as caçadas.
Entrevistando Adelchi Ferrari
No dia 11 de dezembro de 2014, passei a maior parte da manhã conversando com o ex-bancário Adelchi Ferrari, uma grande figura histórica de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que em 1954 escapou de ser assassinado em um bar por intervenção do lendário e controverso Telmo Ribeiro, pioneiro que chegou a Paranavaí em 1936. Naquele episódio, o então capitão surrou o homem que já estava com a arma em punho.