David Arioch – Jornalismo Cultural

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Dick Gregory: “Galinhas, peixes, porcos e vacas sentem dor, assim como eu e você. Por favor, ajude a acabar com essa injustiça”

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Gregory: “Animais e seres humanos sofrem igualmente. A violência causa a mesma dor, o mesmo derramamento de sangue, o mesmo fedor de morte, a mesma arrogante, cruel e brutal usurpação da vida”

Comediante e ativista pelos direitos civis e pelos direitos animais, Dick Gregory começou a ganhar fama nos Estados Unidos no início dos anos 1960 com o seu stand-up livre de tabus. Protestou contra a Guerra do Vietnã e participou de todas as manifestações lideradas pelo reverendo Martin Luther King Jr, incluindo a Marcha Sobre Washington e as Marchas de Selma a Montgomery. Sempre que considerava necessário, Gregory fazia greve de fome para chamar a atenção para alguma causa. Também foi preso inúmeras vezes em protestos.

No artigo “The Circus: “Its Modern Slavery”, de 1998, que faz críticas contundentes à exploração animal, Gregory conta que quando trabalhou com Luther King Jr., ele percebeu que o melhor caminho para se alcançar a justiça é por meios pacíficos: “Sob liderança do Dr. King, me tornei totalmente comprometido com a não violência, e fui convencido que a não violência vai na contramão de qualquer tipo de morte. Acredito que o mandamento ‘Não Matarás’, não diz respeito apenas aos seres humanos em relação à guerra, linchamento, assassinato, mas também aos animais que matamos por comida e esporte. Há passos simples que cada um de nós pode seguir para ajudar a acabar com a exploração de outros seres.”

Nascido em St. Louis, no Missouri, em 12 de outubro de 1932, e falecido em 19 de agosto de 2017 em Washington D.C., Gregory foi um artista muito respeitado no cenário da comédia dos Estados Unidos, chegando a influenciar comediantes como Richard Pryor e Eddie Murphy. Nos anos 1950, quando se apresentava em clubes de comédia de Chicago, ele já se esforçava para tentar diminuir o preconceito e a segregação racial por meio de seus shows.

Em 20 de agosto de 2017, um dia após a sua morte, a Peta publicou um artigo intitulado “Dick Gregory: Animals and humans suffer and die alike”, que fala sobre o empenho do comediante em conscientizar as pessoas sobre a realidade da exploração animal. “Galinhas, peixes, porcos e vacas sentem dor, assim como eu e você. Por favor, ajude a acabar com essa injustiça”, declarou Gregory em uma das citações.

Em uma das campanhas da Peta criticando a KFC, o comediante fala sobre o sofrimento dos animais mortos para rechearem os baldes de frango da rede de fast food. Suas críticas envolvendo exploração animal incluíam desde a debicagem de aves até o desmame forçado estimulado pela indústria de laticínios. “Animais e seres humanos sofrem igualmente. A violência causa a mesma dor, o mesmo derramamento de sangue, o mesmo fedor de morte, a mesma arrogante, cruel e brutal usurpação da vida. Não precisamos fazer parte disso”, defendeu no artigo “The Circus: It’s Modern slavery”, publicado no Marin Independent Journal em 28 de abril de 1998.

No artigo, Dick Gregory também declarou que quando via os animais cativos em circos, logo pensava na escravidão, levando em conta que são enjaulados, presos a grilhões e forçados a trabalharem sob a ordem de um chefe. “Eles nunca têm o gosto da liberdade. Vão da jaula ao picadeiro, e do picadeiro à jaula. Viajam milhares de milhas a cada temporada, o que significa longas horas em vagões ou trailers, sem espaço para se esticar e menos ainda para correr. Não importa o que digam, não há como persuadir um elefante a dançar e um tigre a saltar através de aros sem qualquer tipo de punição ou violência: “Instrutores carregam chicotes, ferramentas afiadas usadas para atingir pontos sensíveis.”

O comediante se recordou da morte de dois animais que excursionavam com o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus nos Estados Unidos. Um bebê elefante de três anos chamado Kenny, mesmo doente, foi forçado a fazer três shows em um dia. Ao final da terceira apresentação, ele deitou e morreu: “Ele viveria com sua mãe na natureza selvagem por pelo menos 15 anos. Em outra situação, usaram um tigre em uma foto publicitária do Ringling Brothers. Quando o animal atacou um dos treinadores, o outro treinador entrou em cena, o devolveu à jaula, pegou uma arma de fogo e o matou a tiros”, relatou Gregory chocado com a crueldade do homem. Os dois episódios seriam facilmente evitados se os animais não tivessem sido privados de seu habitat.

No artigo “Dick Gregory, 50 years a vegan activist dies at 84”, publicado no Animals 24-7 em 25 de agosto de 2017, Merritt Clifton conta que Dick Gregory abandonou o consumo de carne em 1965 e se tornou um frutariano em 1967. “A sua participação no movimento dos direitos civis extinguiu o apetite de Gregory por carne. Ele começou a reconhecer a relação entre a violência contra seres humanos e a violência contra animais não humanos”, escreveu. Mais tarde, o comediante acabou influenciando Dexter Scott King, o segundo filho de Martin Luther King, a tornar-se vegano, e consequentemente Dexter teve influência sobre a mãe Coretta Scott King que viveu os seus últimos 12 anos de vida como vegana.

Em 1973, Gregory publicou o livro “Natural Diets for Folks Who Like to Eat: Cookin’ With Mother Nature”, que de forma bem-humorada apresenta os benefícios da alimentação vegetariana. A obra foi relançada várias vezes e se tornou um best-seller em sua categoria. Outra curiosidade é que em 1975 o comediante participou do 23º Congresso Vegetariano Mundial, realizado pela Organização Vegetariana Internacional (IVU).

“Comediante, ativista dos direitos animais, pacifista, vegetariano e defensor da alimentação natural, Dick Gregory deu aos participantes um testemunho de seu ponto de vista em todos esses campos de atividades”, segundo informações da IVU. Naquele ano, Dick Gregory ajudou a angariar recursos para combater a fome nas Ilhas Britânicas com comida vegetariana.

 

Referências

Dick Gregory Speaks Up for Animals in Circuses

 

 

Dick Gregory: ‘Animals and Humans Suffer and Die Alike’

 

https://ivu.org/congress/wvc75/gregory.html

http://www.newsweek.com/dick-gregory-heres-what-you-need-know-about-pioneering-comedian-and-civil-652431





César Chávez: “Me tornei vegetariano depois de perceber que os animais sentem medo, frio, fome e tristeza como nós”

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“Bondade e compaixão para com todos os seres vivos é uma marca de uma sociedade civilizada”

Chávez com seus companheiros caninos (Foto: Cathy Murphy)

César Chávez foi um líder dos direitos civis nos Estados Unidos que atuou em defesa dos trabalhadores rurais. Em 1962, ele fundou com Dolores Huerta a National Farm Workers Association, atual United Farmer Workers (UFW). Assim como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, Chávez também defendia o ativismo não violento. E foi exatamente isso que o levou a adotar mais tarde o vegetarianismo e a tornar-se também um defensor dos direitos animais.

Em vez da violência, o líder dos direitos civis chamava a atenção para a situação dos trabalhadores rurais por meio de táticas pacíficas como boicotes, greves e jejuns. Em 1968, ele ficou famoso pela realização de um jejum de 25 dias. Logo depois, César Chávez tornou-se vegetariano. A sua adesão ao vegetarianismo também foi influenciada por seu cão Boycott.

“Me tornei vegetariano depois de perceber que os animais sentem medo, frio, fome e tristeza como nós. Tenho sentimentos profundos pelo vegetarianismo e pelo reino animal. Foi meu cão Boycott que me levou a questionar o direito dos seres humanos de comer outros seres sencientes”, disse Chávez em citação registrada no livro “Animal Rights: All That Matters”, publicado em 2013 por Mark Rowlands.

Chávez, que foi vegetariano por 25 anos, e por vezes também considerado vegano, já que ele não consumia nada de origem animal, tornou-se um crítico da exploração animal em todos os níveis, inclusive tendo grande influência sobre milhares de pessoas. Ele não admitia que animais continuassem sendo usados como fonte de comida, cobaias em experiências científicas, “entretenimento” e “esportes”.

De acordo com Marc Grossman, que foi assessor de Chávez, o líder dos direitos civis fazia o possível para mostrar às pessoas que o vegetarianismo já deveria ter sido adotado pela humanidade se o nosso objetivo é um futuro mais justo e pacífico. Em homenagem ao tio e sua filosofia de vida que excluía a violência até mesmo do próprio prato, Camila Chávez tornou-se vegetariana, e em entrevista a Más Magazine declarou que o vegetarianismo é um caminho bem fácil. “Cresci rodeada por vegetarianos, e refeições vegetarianas são sempre uma opção”, comentou.

Carta escrita por Chávez em defesa dos animais (Foto: Reprodução)

Chávez acreditava que a paz só poderia ser verdadeiramente alcançada a partir do momento em que começássemos a respeitar todas as criaturas. “Bondade e compaixão para com todos os seres vivos é uma marca de uma sociedade civilizada. Por outro lado, a crueldade, seja dirigida contra seres humanos ou animais, não é exclusiva de qualquer cultura ou comunidade de pessoas”, escreveu em uma carta de 26 de dezembro de 1990, endereçada a Eric Mills, da Action For Animals.

Ele declarou ainda que luta de cães e galos, touradas e rodeios são provenientes da mesma fábrica, a fábrica da violência. Além disso, César Chávez defendia a valorização dos pequenos agricultores, e a produção de alimentos naturais. Nos Estados Unidos, o dia 31 de março, que lembra o seu aniversário, é dedicado à sua memória.

Nesse dia, muitas pessoas, principalmente na Califórnia e na Flórida, realizam trabalho voluntário em benefício da comunidade. Muitos inclusive passam o dia em abrigos de animais, distribuindo e divulgando panfletos sobre os direitos humanos e animais – considerados por Chávez como indissociáveis.

Saiba Mais

César Chávez nasceu em 31 de março de 1927 em Yuma, Arizona, e faleceu em San Luiz, também no Arizona, em 23 de abril de 1993.

Ele foi indicado três vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

Referências

Rowlands, Mark. Animal Rights: All That Matters. McGraw-Hill Education; Primeira Edição (2013).

http://www.all-creatures.org/articles/ar-honoring.html

https://web.archive.org/web/20110708042558/http://in-dios.blogspot.com/2008/03/soy-vegetariano.html

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Rosa Parks: “Não é tão difícil ficar sem comer carne. [Me tornar vegetariana] Era algo que eu queria fazer”

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Rosa Parks foi vegetariana por mais de 40 anos (Foto: Reprodução)

Rosa Parks foi vegetariana por mais de 40 anos (Foto: Reprodução)

Em 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks se recusou a obedecer ao motorista James F. Blake, quando ele exigiu que ela cedesse o seu lugar a um passageiro branco e se sentasse na seção relegada aos negros no fundo do ônibus. Por tal feito, embora não tivesse sido a primeira, ela foi presa e depois tornou-se um símbolo de resistência contra a segregação racial nos Estados Unidos.

Considerada mais tarde a primeira dama dos direitos civis e a mãe do movimento pela liberdade, ela tornou-se colaboradora de importantes líderes, como Edgar Nixon e Martin Luther King Jr. Chegou a ser considerada pela revista Time como uma das 20 pessoas mais influentes do século 20. E para além dos direitos civis, também ajudou na divulgação do vegetarianismo enquanto estilo de vida. “Não é tão difícil ficar sem comer carne. [Me tornar vegetariana] era algo que eu queria fazer”, declarou, de acordo com a organização independente Vegetarians of Washington.

Rosa, que nasceu em 4 de fevereiro de 1913 em Tuskegee, Alabama, e faleceu em Detroit, Michigan, aos 92 anos, em 24 de outubro de 2005, gostava de comer principalmente brócolis, verduras, batata-doce e feijões. “Por mais de 40 anos, tenho sido vegetariana. Cresci em uma família pobre. Tive problemas de saúde muito cedo por causa da minha má alimentação. Por isso, me alimentar de forma saudável é uma prioridade para mim”, disse em entrevista à psiquiatra Judith Orloff, publicada em 2004 no livro “Positive Energy: 10 Extraordinary Prescriptions for Transforming Fatigue, Stress and Fear into Vibrance, Strength and Love”.

Rosa recebeu muitas homenagens ao longo da vida, e provavelmente as mais importantes foram o prêmio da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP) e a Congressional Gold Medal, concedida pelo Congresso dos Estados Unidos, e entregue pelo então presidente Bill Clinton em 15 de junho de 1999. “Rosa Parks ajudou a divulgar o vegetarianismo. Ela era conhecida por promover a paz e a justiça. E também atribuía o seu sucesso, saúde e estamina a sua alimentação vegetariana estrita”, informou.

Referências

https://vegofwa.org/tag/famous-vegetarians/

http://www.peta2.com/blog/rosa-parks-vegetarian/

http://www.peta.org/blog/8-famous-vegetarians-might-surprise/

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Written by David Arioch

January 2nd, 2017 at 3:04 pm