David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Escocês tentou impedir o crescimento de Paranavaí

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Arthur Thomas não queria que a colônia se ligasse ao restante do Paraná

Arthur Thomas se sentiu ameaçado pelo desenvolvimento de Paranavaí (Foto: Reprodução)

Em 1939, quando o interventor federal Manoel Ribas mandou o capitão Telmo Ribeiro abrir uma estrada ligando a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, ao restante do Paraná, o dirigente da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), o escocês Arthur Huge Miller Thomas, que estava colonizando as regiões de Maringá e Londrina, se sentiu ameaçado e tentou interferir.

A iniciativa do governo em abrir uma nova via que daria à Brasileira acesso a outras cidades do Paraná visava diminuir a influência paulista, pois até então a única estrada que chegava até a colônia começava em Presidente Prudente, no Oeste Paulista. Quando soube da ordem de Manoel Ribas, o colonizador Arthur Thomas viajou para Curitiba para tentar convencer o interventor a mudar de ideia.

Lá, o escocês defendeu que a Fazenda Brasileira prejudicaria os negócios da CTNP, alegando que como colonizador fez altos investimentos em infraestrutura na região de Londrina e Maringá.  Por isso, a companhia comercializava terras a preços elevados. Segundo Thomas, a ampliação de uma estrada até Paranavaí, onde o Governo do Paraná vendia terras a preços baixos, isso quando não doava, atrapalharia muito o desenvolvimento do Norte Pioneiro Paranaense e também de parte do Norte Novo.

Terras da CTNP eram mais caras que as do governo (Foto: Reprodução)

O que também justificava o receio de Arthur Miller Thomas é que enquanto a CTNP vendia terras somente para quem pagasse em dinheiro, o governo paranaense aceitava trocas e outras negociações na Brasileira. Tudo era permitido para atrair novos moradores. O grande medo do escocês era que as campanhas de vendas de terras em Paranavaí atraíssem também quem fixou residência nas regiões de Londrina e Maringá.

“Mister Thomas não queria a abertura da estrada por Maringá, mas o finado Manoel Ribas mandou abrir”, ratificou o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles, considerado o primeiro cidadão de Paranavaí, em antiga entrevista ao jornalista Saul Bogoni há algumas décadas. Apesar das investidas, a justificativa não foi aceita pelo interventor interessado em expandir as relações comerciais entre Paraná e Mato Grosso, principalmente por causa da pecuária.

Em 1939, o capitão Telmo Ribeiro, responsável por coordenar a abertura de picadões na região de Paranavaí, reuniu centenas de homens para abrir a Estrada Boiadeira, via que levaria milhares de migrantes e imigrantes à Brasileira. O pioneiro e ex-prefeito de Paranavaí, Ulisses Faria Bandeira, afirmou em antiga entrevista a Saul Bogoni que estava claro o interesse da Companhia de Terras Norte do Paraná em inviabilizar o crescimento de Paranavaí.

Quem foi Arthur Thomas

O financista escocês Simon Joseph Fraser, o 14º Lord Lovat, que lutou na Segunda Guerra dos Boers, na África do Sul (1899-1902), veio para o Brasil em 1924, na Missão Montagu, interessado em conhecer de perto a produção nacional de algodão e também negociar terras e estradas de ferro em Cambará, no Norte Pioneiro Paranaense. À época, o engenheiro Gastão de Mesquita Filho contou ao Lord Lovat sobre as extensas áreas de mata virgem que o governo disponibilizou para colonização naquela região.

O escocês Lord Lovat quem enviou Thomas ao Norte do Paraná (Foto: Reprodução)

O financista, que era diretor da Sudan Plantations Syndicate, empresa sediada no Sudão e que era a principal fornecedora de algodão para a indústria têxtil britânica, gostou da ideia e retornou a Londres um ano depois, onde abriu a empresa Parana Plantations Limited. Em seguida, enviou para o Brasil o seu maior colaborador, o londrino Arthur Huge Miller Thomas que fundaria em 1925 a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), sociedade anônima controlada pela Parana Plantations.

Em 1929, Thomas, em parceria com o contador paulista George Craig Smith, de origem inglesa, iniciou o povoamento do Norte do Paraná. Durante a colonização, os ingleses chamaram a atenção de migrantes e imigrantes, destacando a qualidade da terra paranaense. Arthur Thomas pediu que ressaltassem em todas as campanhas publicitárias que as terras eram roxas e sem formigas saúva.

Em 1943, o governo inglês exigiu que as empresas centralizassem os investimentos na Inglaterra. Thomas então vendeu a companhia para as famílias Vidigal e Mesquita. Da negociação, nasceu a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), ex-CTNP, que continuou sob comando de Arthur Miller até 1948, quando o escocês se aposentou. Thomas viveu em uma fazenda nas imediações de Londrina até 1960, quando faleceu em decorrência de um câncer.

Saiba Mais

Embora tenha tentado impedir o progresso de Paranavaí, a CTNP comprou muitas terras na região e ajudou a colonizar inúmeros municípios que hoje fazem parte da Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense (Amunpar) que tem Paranavaí como polo.

Até a Segunda Guerra Mundial, Mandaguari tinha o nome de Lovat, em homenagem ao financista escocês Simon Joseph Fraser, o 14º Lord Lovat, que colonizou a região de Maringá. O nome teve de ser modificado porque muita gente pensou que Lovat fosse uma colônia germânica, levantando suspeitas sobre o lugar servir de abrigo para refugiados nazistas. O mesmo ocorreu com muitas outras cidades e colônias que receberam nomes estrangeiros.

Mito ou verdade?

Especula-se que a região de Paranavaí foi a primeira do Novo Norte do Paraná a ser colonizada, pois viajantes que partiam de São Paulo em 1904 encontraram fazendas com plantações de café na localidade.

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O influente Achilles Pimpão

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Delegado de Londrina tomou decisões que marcaram a história de Paranavaí

Pimpão ajudou a estabelecer a ordem na Fazenda Brasileira (Foto: Reprodução)

Um personagem que faz parte da história de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, mesmo sem nunca ter residido na cidade, é o destemido major Achilles Pimpão Ferreira. O homem ajudou a impor ordem na região quando os problemas não podiam ser resolvidos apenas por autoridades locais.

Na época da Fazenda Brasileira, quando surgia algum grave infortúnio, era comum os pioneiros viajarem até Londrina, no Norte Central Paranaense, para pedirem ajuda ao tenente Achilles Pimpão, então delegado de polícia. Até mesmo a ordem para a construção do primeiro cemitério de Paranavaí partiu de Pimpão. O homem, mais tarde nomeado capitão e depois major, foi quem trouxe a Paranavaí o gaúcho Telmo Ribeiro. Pimpão e Ribeiro se conheceram em Londrina, por intermédio do engenheiro Natel Camargo, pioneiro local.

À época, o delegado gostou de Telmo Ribeiro e decidiu apresentá-lo ao interventor (função que equivalia a de governador) Manoel Ribas. Após uma conversa, Ribeiro foi designado a abrir as estradas que ligavam Paranavaí ao resto do Paraná. Assim pode-se dizer hoje que se não fosse por Achilles Pimpão, Telmo Ribeiro nunca teria se mudado para a Fazenda Brasileira.

Pioneiro em Londrina, o paranaense Achilles Pimpão, de família tradicional de Palmas, no Centro-Sul do Paraná, acompanhou a evolução de Paranavaí por intermédio de pioneiros como o Capitão Telmo Ribeiro e o administrador da colônia Hugo Doubek. Nos anos 1930, 1940 e até em 1950 foram muitas as vezes que Achilles Pimpão veio a Paranavaí estabelecer a ordem, principalmente quando a situação envolvia grileiros nas glebas que compreendiam todo o território atual da Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense (Amunpar).

Os pioneiros consideravam Pimpão um homem poderoso, pois sua influência ia de Paranavaí até Curitiba, e nem mesmo posseiros e capangas ousavam afrontá-lo. “Foi ele quem expulsou os jagunços da Gleba 21 [atual território de São Pedro do Paraná que pertencia a Colônia Paranavaí]”, enfatizou o pioneiro italiano Zaqueo Casarin em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas. Todas as decisões do delegado tinham o apoio de Manoel Ribas. O interventor confiava completamente em Pimpão, segundo o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles.

Delegado expulsou jagunços da Gleba 21 (Foto: Reprodução)

As boas recordações dos pioneiros

Durante toda a vida, Salles jamais esqueceu do dia em que viajou até o Porto São José com o delegado Achilles Pimpão. “A gente estava construindo umas casas lá e o Pimpão me ajudou a puxar algumas vigas. Ele podia só mandar, não precisava fazer nada, mas mesmo assim fazia”, relatou em antiga entrevista à Prefeitura de Paranavaí. Para o alfaiate londrinense Alceu Napoli, o delegado Achilles Pimpão também deixou boas recordações.

De acordo com Napoli, que na infância era vizinho do Cadeião, onde funcionava a Delegacia de Polícia de Londrina, um dia, ele e outros garotos estavam carpindo um terreno para fazer um campinho de futebol, mas foram expulsos por carroceiros que deixavam os cavalos descansando na propriedade. “O doutor Pimpão foi lá com uma escolta policial e ficou com a gente até terminar de carpir tudo. Mais tarde, aquele campinho virou o Estádio Vitorino Gonçalves Dias [VGD]”, revelou Napoli.

Um fato curioso é que o delegado tinha o hobby de criar antas em uma de suas propriedades em Londrina, embora poucas pessoas tenham tido a oportunidade de vê-las de perto. Ao longo da vida, Achilles Pimpão recebeu inúmeras condecorações, inclusive internacionais. Entre as de grande destaque está uma recebida do presidente do Paraguai. No governo Manoel Ribas (1932-1945), Pimpão dirigiu a Penitenciária do Estado, em Curitiba, de 1935 a 1936. Foi o terceiro homem a comandar o primeiro presídio do Paraná. Mais tarde, em 1941, ocupou o cargo de chefe da Casa Militar.

Já em 1947, membro do Partido Social Progressista (PSP), Pimpão tentou seguir carreira política em Londrina e se candidatou a prefeito. Perdeu para Hugo Cabral, do Partido Libertador (PL), por uma diferença de 273 votos. Naquele tempo, Achilles Pimpão já não tinha mais a mesma influência. Além disso, o amigo Manoel Ribas tinha falecido no ano anterior.

Mito ou verdade?

Pioneiros garantem que a fama do delegado Achilles Pimpão era grande em todo o Paraná. O delegado tinha o hábito de percorrer as ruas de Londrina com um caminhão. Só parava em bares, onde recolhia aqueles que não portavam documentos de identificação. Por noite, carregava cerca de quinze pessoas na carroceria.

Pimpão levava todos para a delegacia e mandava alguns subordinados os chicotearem. Em seguida, os obrigava a tirarem os cintos das calças e beberem uma dose de óleo de rícino. O efeito do laxante surgia tão rápido que as vítimas tremiam enquanto seguravam as calças. Depois o delegado ordenava que subissem novamente na carroceria do caminhão e os deixava às margens do Rio Tibagi.

Lá, exigia que entrassem na água, forçando-os a atravessarem o rio a nado até Jataizinho, na Região Metropolitana de Londrina. Quem se recusasse era advertido a tiros. Conforme palavras de testemunhas, a iniciativa do delegado tinha como meta livrar Londrina de marginais e vagabundos. No entanto, há quem acredite que muitos caixeiros-viajantes e funcionários de empresas paulistas tenham sido, não se sabe se por engano ou não, vítimas dos métodos estrambóticos de Achilles Pimpão.

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