David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

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Fábula sobre um mundo iluminado

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A história de um jovem que viaja em busca de memórias familiares

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Filme convida o espectador a uma viagem pelo hiper-realismo (Foto: Reprodução)

Em 2005, o filme Everything is Illuminated, que no Brasil foi lançado com o título Uma Vida Iluminada, marcou a estreia do ator estadunidense Liev Schreiber como cineasta. A obra é um road movie sobre um jovem que viaja para o Leste Europeu em busca da mulher que salvou seu avô na Segunda Guerra Mundial.

Jonathan Safran Foer, interpretado pelo estadunidense Elijah Wood, conhecido por filmes como The Lord of the Rings, Hooligans e Sin City, é um emotivo colecionador de objetos comuns e incomuns como embalagens vazias, selos, xícaras de chá, fotos, cartões, dentaduras, terras, insetos e lembranças familiares. Logo que chega à Ucrânia, conhece o guia Alex Perchov, personagem do músico ucraniano Eugene Hütz, vocalista da banda icônica de gypsy punk Gogol Bordello que inclusive assina a trilha sonora do filme.

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Elijah Wood interpreta um colecionador de lembranças (Foto: Reprodução)

Perchov, que se veste como um rapper negro, personificando das mais diversas formas a globalização, se diz especialista na descoberta de heranças culturais e lidera uma equipe formada por ele, o avô mal-humorado (Boris Leskin) que se considera cego e o demente cão-guia Sammy Davis Jr. Isso mesmo, uma homenagem ao icônico cantor judeu.

A bordo de um carro soviético em frangalhos, o grupo vive inúmeras aventuras pelo interior da Ucrânia. Aos poucos, a história assume um caráter de fábula reforçada não apenas pela linguagem, costumes e estranheza dos personagens, mas também pela direção de imagem de Matthew Libatique. Rica em detalhes, a fotografia do filme transcende a narrativa e convida o tempo todo o espectador a um mergulho por um universo de cores tão vívidas que remetem ao hiper-realismo.

Em Everything is Illuminated, a leveza contrasta com a intensidade e o burlesco com a beleza em sua forma mais simplificada. E mais interessante ainda, o filme tenta se distanciar de clichês e estereótipos ao abordar o holocausto da forma menos apelativa possível, evitando se somar aos muitos filmes melodramáticos que discutem o tema. Em suma, uma obra de sensibilidade, diversão e reflexão.

Curiosidade

O filme é inspirado no livro homônimo do escritor estadunidense Jonathan Safran Foer, publicado em 2002.

Uma Cuba menos marxista

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Guantanamera mostra como o capitalismo desponta na Cuba socialista

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História se desenrola a partir da morte de Tia Yoyita (Foto: Reprodução)

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Guantanamera apresenta as falhas do sistema socialista (Foto: Reprodução)

Lançado em 1995, Guantanamera é um filme singular de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío que mostra uma Cuba ambivalente, arcaica e jovial, onde o socialismo perde espaço para o capitalismo do trabalho informal. A obra, uma fusão de comédia, crítica social e road movie, apresenta Tia Yoyita (Conchita Brando), uma mulher já idosa que está em Guantánamo, sua cidade natal, para rever parentes e amigos.

Durante a visita, Yoyita morre, mas não pode ser enterrada em Guantánamo. Uma nova lei determina que cada cubano deve ser sepultado na cidade onde viveu os últimos anos. Então surge um problema logístico, o de transportar a falecida até o outro lado da ilha. O caricato funcionário público Adolfo (Carlos Cruz), autor do projeto e marido de Georgina (Mirta Ibarra) – sobrinha da falecida, é designado para o trabalho.

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Adolfo cria projeto de lei que impede os cubanos de serem enterrados onde quiserem (Foto: Reprodução)

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Filme mostra o capitalismo que surge nas estradas de Cuba (Foto: Reprodução)

Durante o percurso, surge uma série de contratempos que destacam alguns problemas da revolucionária Cuba. São inesquecíveis as cenas das paradas do cortejo fúnebre; os viajantes sendo abordados por ambulantes vendendo bananas. A maioria rejeita o peso, a moeda oficial, e exige o pagamento em dólares. Os principais personagens, de ideologia marxista-leninista, tentam confrontar o capitalismo que desponta de modo informal em Cuba.

Há muitos momentos de ironia que ressaltam um cotidiano paradoxal. Em Guantanamera, as críticas surgem sutis, bem humoradas e até belas. Outro exemplo emblemático é a cena do caminhoneiro Mariano (Jorge Perugorría), apaixonado por Georgina, que se recorda de quando estudava comunismo científico, disciplina transformada em socialismo científico. “No futuro, será capitalismo científico”, debocha o personagem Ramón (Pedro Fernández). Os muitos questionamentos políticos feitos por Alea e Tabío permitem ao espectador levantar dúvidas sobre o meio em que vive.

Considerado o menos superficial de todos os filmes de Tomás Gutiérrez, Guantanamera é contundente como uma crítica que se conjetura em autocrítica. Os autores deixam implícito que se Cuba se desvanece em vários aspectos, como o cadáver dentro do caixão rumo a Havana, é porque cada cubano tem parcela de culpa. É possível até fazer uma interpretação mais íntima da morte de Yoyita, já que Alea estava se tratando de um câncer quando decidiu rodar o filme.

 Curiosidade

Embora guantanamera seja um gentílico para as mulheres nascidas em Guantánamo, no sudeste cubano, no filme também é uma referência à canção folclórica de José Martí e Joseíto Fernández.