David Arioch – Jornalismo Cultural

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Insane Clown Posse e a mitologia da violência nos guetos

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“Criamos o Dark Carnival para que as pessoas entendam o peso de suas ações”

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Shaggy 2 Dope e Violent J, criadores da mitologia Dark Carnival (Foto: Divulgação)

Fundado em 1989 por Violent J (Joseph Bruce) e Shaggy 2 Dope (Joseph Utsler), o duo de horrorcore Insane Clown Posse, de Detroit, nos Estados Unidos, se popularizou nos anos 1990 por misturar rock e hip-hop, criando um estilo autoral que influenciou músicos e bandas de vários gêneros dentro e fora dos EUA. O que mais chama atenção no trabalho do ICP é que eles são praticamente os únicos a difundirem o horrorcore além do cenário alternativo norte-americano.

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O Insane Clown Posse já lançou 13 álbuns ao longo da carreira (Foto: Divulgação)

A maior parte das músicas do Insane Clown Posse têm relação com o Dark Carnival, uma curiosa mitologia autoral que se baseia na ideia de que as almas das pessoas são enviadas ao limbo, onde aguardam seu destino: céu ou inferno. Para onde cada um vai é determinado pelas suas ações individuais. Entre as músicas apontadas como as mais clássicas do duo estão “The Great Milenko”, “Hokus Pokus”, “The Neden Game”, “Halls of Illusions”, “Boogie Woogie Wu”, “What is a Juggalo?” e “Tilt-A-Whirl”.

Em 2000, quando Violent J estava viajando de Cleveland para Detroit, ele parou em um posto de combustíveis e comprou uma fita K7 com a música “Let’s Go All the Way”, do duo de new wave Sly Fox, de Miami, na Flórida. Joseph Bruce gostou tanto do som que quis regravá-lo. E o resultado foi que a nova versão entrou para a lista de melhores do Insane Clown Posse. Disponibilizada no YouTube em 2007, ultrapassou mais de quatro milhões de visualizações e agradou até quem não simpatizava com o trabalho do ICP.

Ao longo da carreira, o duo já lançou 13 álbuns. O primeiro e que marcou a criação do Dark Carnival foi o “Carnival of Carnage” que usa a mitologia como uma representação da violência dentro dos guetos dos Estados Unidos. E não somente isso. A partir de satíricas críticas sociais, o duo criou um cenário de carnaval itinerante onde a brutal realidade da periferia também é levada para os bairros de classe alta, como desdobramento da miséria e da indiligência. Sendo assim, nas letras do ICP, a violência se desenvolve como prognóstico de um caos mais do que iminente e financiado pelas esferas mais altas do poder.

Duo criou um cenário de carnaval itinerante onde a brutal realidade da periferia também é levada para os bairros de classe alta (Foto: Divulgação)

Duo criou um cenário de carnaval itinerante onde a brutal realidade da periferia também é levada para os bairros de classe alta (Foto: Divulgação)

No início da década de 1990, Violent J e Shaggy 2 Dope desenvolveram um conceito intitulado “Joker’s Cards” que abrange os álbuns “Carnival of Carnage”, de 1992; “The Ringmaster”, de 1994; “The Riddle Box”, de 1995; “The Great Milenko”, de 1997; “The Amazing Jeckel Brothers”, de 1999; “Bang! Pow! Boom!”, de 2009; “The Mighty Death Pop!”, de 2012; e “The Marvelous Missing Link: Lost”, de 2015.

As cartas do Coringa (Joker’s Cards) são enviadas como aviso pelo Insane Clown Posse aos representantes das classes mais altas e também aos políticos que ignoram os apelos das classes baixas. “Nós a entregamos a quem ignora os gritos das cidades. Cada uma das nossas cartas têm um papel específico dentro do Dark Carnival. Falamos da maldade cotidiana para que as pessoas entendam a importância de salvar a alma humana”, explicam Bruce e Utsler.

O conteúdo pesado das letras já chamou a atenção de muitos jornalistas e críticos que apontaram o duo como um paradoxo em essência, já que o ICP tenta ser espiritualista ao mesmo tempo que aborda a violência sem ressalvas. “Sobre isso, só posso dizer que o mais importante é falar a língua das ruas. Tentamos soar interessante para o público, nos aproximando da realidade deles e ganhando sua confiança. Se você é uma pessoa das ruas, é claro que você tem que trilhar esse caminho. Criamos o Dark Carnival para que as pessoas entendam o peso de suas ações”, argumentam.

Conhecidos como juggalos, os fãs do Insane Clown Posse possuem expressões, gírias e costumes bem próprios, tanto na forma de agir quanto de se vestir, como se fizessem parte de uma tribo. E todos os anos milhares de fãs se reúnem no The Gathering, inicialmente sediado em Cave-In-Rock, Illinois, e atualmente em Thornville, Ohio. O evento realizado pelo duo através da Psychopathic Records tem o apoio de astros do rap e do cinema como Ice Cube, Coolio, Vanilla Ice, MC Hammer, Busta Rhymes e Charlie Sheen, além de bandas como Cypress Hill, Drowning Pool, Gwar, Fear Factory, Cannibal Corpse, Andrew W.K., Soulfly e Mushroomhead.

Cover que rendeu mais popularidade ao duo:

 

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A (des)conhecida pobreza branca dos EUA

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Gummo aborda a miséria e a defasagem intelectual dos chamados white trash

Solomon e Tummler são dois adolescentes que ganham a vida matando gatos (Foto: Reprodução)

Solomon e Tummler são dois adolescentes que ganham a vida matando gatos (Foto: Reprodução)

Personalidade do cinema marginal estadunidense, Harmony Korine lançou em 1997 um filme que chamou a atenção do mundo. Intitulado Gummo, o drama de caráter documental apresenta o universo perturbador e miserável dos brancos pobres dos EUA. São pessoas que vivem à margem da sociedade, conhecidas pejorativamente como white trash.

Gummo conta a história de Solomon (Jacob Reynolds) e Tummler (Nick Sutton), dois adolescentes de Xenia, Ohio, que ganham a vida matando gatos, depois vendidos a um restaurante chinês. A partir dos protagonistas, reféns da mediocridade humana, Korine mostra outros personagens, igualmente degradantes, em fragmentos bem estruturados e angustiantes.

Embora no decorrer do filme haja uma progressão de perspectivas e aberturas para contextualizações, o cineasta faz questão de destacar que os personagens estão fechados em um mundo minúsculo e peculiar, onde predominam os sentimentos coletivos de conformismo e desesperança. Em uma das cenas mais pesadas de Gummo, um jovem desempregado fala naturalmente sobre as possibilidades do suicídio enquanto a câmera se move com certa inquietação.

Gummo mostra o conformismo e desesperança dos brancos pobres (Foto: Reprodução)

Gummo mostra o conformismo e desesperança dos caucasianos pobres (Foto: Reprodução)

Harmony Korine explora isso como um desdobramento das consequências sociais da economia e da política estadunidense que há muito tempo priorizam as classes mais altas. E como resultado da falta de oportunidades, a pobreza intelectual é abordada de forma crua e ríspida, sem qualquer resquício de sentimentalismo. Há momentos em que os personagens dialogam aleatoriamente e com um vocabulário tão limitado, falho e errado que beira ao nonsense.

Para quem está acostumado a acompanhar apenas a cultura cinematográfica de Hollywood, é difícil acreditar que o filme de Korine se passa nos EUA, pois abre as portas de um universo tão marginalizado e nauseante quanto as periferias das nações mais pobres do Terceiro Mundo. Em Gummo, o conceito de beleza é distorcido pelo referencial de proximidade. Os habitantes desse universo particular aprendem, por força da convivência, a admirar o feio, o que é enaltecido pelas tomadas com lentes objetivas de grande-angular.

No filme, a degradação oscila do campo material ao imaterial (Foto: Reprodução)

No filme, a degradação oscila do campo material ao imaterial (Foto: Reprodução)

Duas cenas representam com precisão e minimalismo o objetivo do autor. Na primeira, um mundo caótico é representado pela natureza por meio de um tornado. Na segunda, a desordem no interior da casa de Solomon ressalta o caos humano. Ou seja, em grande ou pequena proporção, nada naquele universo aspira à civilidade. Com exceção da atriz Chloe Sevigny, o filme tem um elenco formado por desconhecidos, até mesmo atores amadores e pessoas comuns, o que faz o autor ultrapassar as barreiras do cinema tradicional para estreitar a relação com a realidade.

Harmony Korine mistura ficção, documentário e videoarte numa produção baseada em filmagens que exploram desde equipamentos profissionais até os mais compactos e domésticos. Quem sabe, uma referência ao Dogma 95 do dinamarquês Lars Von Trier. Há ainda algumas quebras de movimentos propondo rupturas de contexto. Exemplos são as situações em que vídeos são substituídos por fotos, neutralizando a ação da trama e apresentando um panorama mais descritivo.

Outro elemento interessante de Gummo é a trilha sonora que capta a essência de cada cena, migrando do campo claro ao ruidoso, sustentada em composições de músicos dos gêneros clássico, bluegrass, folk, powerviolence, stoner rock e metal extremo. Apesar de ainda ser um cineasta pouco conhecido no Brasil, Harmony Korine começou a ganhar espaço no cinema estadunidense muito cedo. Em 1994, aos 21 anos, escreveu o roteiro do filme Kids, do cineasta Larry Clark, que obteve grande sucesso de crítica e público.

Os zumbis de Romero

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Night of the Living Dead, o primeiro filme de horror como crítica social

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Filme é um dos baluartes da zombie culture (Foto: Reprodução)

Lançado em 1968, Night of the Living Dead (A Noite dos Mortos-Vivos) é um filme cult de horror do cineasta estadunidense George Romero que apresenta uma crítica social a partir das deficiências de caráter do ser humano em situações de risco.

Em Night of the Living Dead, os mortos voltam à vida por causa da radiação de um meteorito do planeta Vênus. Cientes de que os zumbis se alimentam de carne humana, os vivos fogem em busca de abrigo. A antropofagia no filme é tão direta quanto simbólica; representa a autodestruição do homem e a anulação do que cada um representa na individualidade.

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No clássico, o apocalipse zumbi amplia o caos no universo racional (Foto: Reprodução)

Na obra, alguns sobreviventes se refugiam em um casebre localizado na área rural de Pittsburgh, na Pensilvânia. A partir do confinamento, Romero apresenta a vileza humana através de ações de egoísmo e autopreservação. Em vez de se unirem para tentarem se livrar dos zumbis, os personagens brigam entre si, ampliando o caos em um universo racional, onde o intelecto deveria ser dominante.

O mais curioso é que paralelo a isso, os mortos-vivos que estão fora da residência, mesmo privados de suas funções cerebrais, representando de forma peculiar a essência primitiva e livre do homem aquém dos princípios sociais, agem coletivamente, como uma infantaria. Em Night of the Living Dead, Romero também confronta o preconceito racial ao destinar o papel mais importante do filme a Ben (Duane Jones), um jovem negro que ao contrário dos brancos da história é o personagem mais lúcido, coerente e perspicaz. Há ainda uma cena que faz referência ao ativista Martin Luther King Jr.

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Night of the Living Dead tem como cenário a área rural de Pittsburgh (Foto: Reprodução)

Outro destaque é a previsão quase profética do cineasta ao mostrar a submissão do homem diante da tecnologia. Um grande exemplo é a cena em que os abrigados parecem reféns de um televisor, aparelho usado para preservar algum tipo de relação com o mundo exterior. Aí subsiste uma ironia, pois a TV já era encarada como um instrumento de reafirmação coletiva, condicionamento e uniformidade reflexiva.

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Obra é protagonizada por Duane Jones no papel de Ben (Foto: Reprodução)

Um dos precursores da zombie culture, Night of the Living Dead influenciou centenas de filmes, além de séries televisivas. O clássico está entre os melhores de todos os tempos nas mais importantes listas de grandes obras de horror. É considerado o expoente do splatter film, subgênero que tem como principal característica a violência gráfica que por meio de efeitos especiais ressalta a vulnerabilidade do corpo humano e a teatralização da mutilação.

Embora não se enquadre tanto como splatter film quanto Dawn of the Dead, lançado por Romero em 1978, Night of the Living Dead é um marco e serviu de base para os subgêneros exploitation e slasher. O primeiro diz respeito aos filmes de apelo visual e baixo orçamento. O segundo se refere as obras ao melhor estilo “serial killer à solta”, como os sucessos Halloween, de John Carpenter; Friday The 13th, de Sean S. Cunningham; e Nightmare on Elm Street, de Wes Craven.

Até hoje, Night of the Living Dead surpreende pelo custo de produção de U$ 114 mil, o que garantiu um lucro de U$ 30 milhões em todo o mundo. Em seu livro, Planks of Reason – Essays on the Horror Film, de 2004, o pesquisador estadunidense Barry Keith Grant, define o clássico de Romero como um divisor que transformou o cinema independente norte-americano e apresentou uma fórmula de sucesso aos muitos cineastas que enveredaram pelo horror nos anos 1970 e 1980.

Uma Cuba menos marxista

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Guantanamera mostra como o capitalismo desponta na Cuba socialista

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História se desenrola a partir da morte de Tia Yoyita (Foto: Reprodução)

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Guantanamera apresenta as falhas do sistema socialista (Foto: Reprodução)

Lançado em 1995, Guantanamera é um filme singular de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío que mostra uma Cuba ambivalente, arcaica e jovial, onde o socialismo perde espaço para o capitalismo do trabalho informal. A obra, uma fusão de comédia, crítica social e road movie, apresenta Tia Yoyita (Conchita Brando), uma mulher já idosa que está em Guantánamo, sua cidade natal, para rever parentes e amigos.

Durante a visita, Yoyita morre, mas não pode ser enterrada em Guantánamo. Uma nova lei determina que cada cubano deve ser sepultado na cidade onde viveu os últimos anos. Então surge um problema logístico, o de transportar a falecida até o outro lado da ilha. O caricato funcionário público Adolfo (Carlos Cruz), autor do projeto e marido de Georgina (Mirta Ibarra) – sobrinha da falecida, é designado para o trabalho.

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Adolfo cria projeto de lei que impede os cubanos de serem enterrados onde quiserem (Foto: Reprodução)

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Filme mostra o capitalismo que surge nas estradas de Cuba (Foto: Reprodução)

Durante o percurso, surge uma série de contratempos que destacam alguns problemas da revolucionária Cuba. São inesquecíveis as cenas das paradas do cortejo fúnebre; os viajantes sendo abordados por ambulantes vendendo bananas. A maioria rejeita o peso, a moeda oficial, e exige o pagamento em dólares. Os principais personagens, de ideologia marxista-leninista, tentam confrontar o capitalismo que desponta de modo informal em Cuba.

Há muitos momentos de ironia que ressaltam um cotidiano paradoxal. Em Guantanamera, as críticas surgem sutis, bem humoradas e até belas. Outro exemplo emblemático é a cena do caminhoneiro Mariano (Jorge Perugorría), apaixonado por Georgina, que se recorda de quando estudava comunismo científico, disciplina transformada em socialismo científico. “No futuro, será capitalismo científico”, debocha o personagem Ramón (Pedro Fernández). Os muitos questionamentos políticos feitos por Alea e Tabío permitem ao espectador levantar dúvidas sobre o meio em que vive.

Considerado o menos superficial de todos os filmes de Tomás Gutiérrez, Guantanamera é contundente como uma crítica que se conjetura em autocrítica. Os autores deixam implícito que se Cuba se desvanece em vários aspectos, como o cadáver dentro do caixão rumo a Havana, é porque cada cubano tem parcela de culpa. É possível até fazer uma interpretação mais íntima da morte de Yoyita, já que Alea estava se tratando de um câncer quando decidiu rodar o filme.

 Curiosidade

Embora guantanamera seja um gentílico para as mulheres nascidas em Guantánamo, no sudeste cubano, no filme também é uma referência à canção folclórica de José Martí e Joseíto Fernández.

O santo egoísmo

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Viridiana e a personificação da crítica de Buñuel ao catolicismo

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Dom Jaime tenta ter uma relação incestuosa com a sobrinha noviça (Foto: Reprodução)

Lançado em 1961, Viridiana, do cineasta espanhol Luis Buñuel, é um filme de crítica social e religiosa que revela o egoísmo de uma noviça que, na esperança de alcançar a redenção, oferece abrigo e fartura a um grupo de mendigos.

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Cena dos mendigos em paródia de “A Última Ceia” (Foto: Reprodução)

A personagem Viridiana (Silvia Pinal) que empresta nome ao filme é a personificação da crítica de Buñuel ao catolicismo. Na obra, Dom Jaime (Fernando Rey) tenta ter uma relação incestuosa com a sobrinha noviça. Em uma noite, ciente de que a moça não o aceitaria, pede ajuda a empregada Ramona (Margarita Lozano) para colocar sonífero na bebida da sobrinha. Consumado o plano, Dom Jaime pensa em estuprá-la, mas desiste da ideia.

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No filme, os andarilhos não se reconhecem como semelhantes (Foto: Reprodução)

No dia seguinte, diz para Viridiana que ela não pode voltar ao convento porque ele tirou-lhe a virgindade. Por meio da perversão, a cena evoca uma crítica sagaz ao comportamento da burguesia espanhola. Perturbada, a noviça decide partir, então Dom Jaime conta a verdade. Ainda assim, a moça se recusa a continuar na residência. Retorna somente quando está prestes a deixar a cidade e recebe a notícia de que o tio cometeu suicídio por enforcamento.

Em ato de expiação, Viridiana se muda para a mansão, onde busca a redenção oferecendo abrigo e fartura a um grupo de mendigos. Luis Buñuel mostra uma contraditória faceta do catolicismo ao apresentar a conduta de Viridiana como uma falsa abnegação. Certo dia, quando a moça sai e deixa a propriedade sob os cuidados dos andarilhos, eles invadem a casa principal e preparam um banquete. A memorável cena dos mendigos em torno da mesa é uma corrosiva paródia da pintura “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci.

O clímax da violência estética do clássico de Buñuel surge no momento em que um mendigo tenta estuprar Viridiana. Impossibilitado de ajudá-la, o primo Jorge (Francisco Rabal) evita o pior oferecendo dinheiro a outro andarilho. Este mata o companheiro, e assim o cineasta corrobora a ideia de que abaixo da linha de pobreza a força do capitalismo também se sobrepõe de forma virulenta ao humanismo e à religiosidade.

Na história, os andarilhos, entregues a uma condição de vida primitiva, são incapazes de agregar valor a qualquer coisa imaterial; não se reconhecem como semelhantes e vivem em um universo onde a hierarquia pode ser interpretada como a de uma cadeia predatória.