David Arioch – Jornalismo Cultural

Jornalismo Cultural

Archive for September, 2010

Malária matou centenas de pessoas em Paranavaí

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Doença dizimou uma parcela da população nos anos 1940

Proximidade com a mata tornou a população de Paranavaí um alvo fácil (Foto: Francisca Schueroff)

Durante a colonização, a malária foi a doença que mais atingiu a população de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. À época, centenas de pessoas morreram, principalmente crianças.

Nos anos 1940, a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, se situava no meio da selva, realidade que logo contribuiu para a proliferação da malária entre os moradores do povoado. A enfermidade foi a que mais afetou a população, segundo o pioneiro catarinense Carlos Faber. “A maleita era a doença mais comum na região. O pessoal tinha que buscar remédio lá na Inspetoria de Terras”, relatou Faber em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

Todo mundo sofria com a doença, mas os adultos tinham mais resistência. “Tive uma maleita de rachar o cano. Ainda assim, sobrevivi. Já o meu filho, com a falta de recursos, não conseguiu. Aqui não tinha quase remédios. A gente tinha que buscar em outras cidades”, revelou o paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho.

Era muito fácil contrair malária naquele tempo. Bastava passar o dia na mata que já corria o risco de ser picado pelo mosquito anofelino, transmissor da doença. Os alvos mais fáceis eram os peões que trabalhavam no desmatamento da região. No entanto, é importante frisar que muita gente também contraiu a doença dentro de casa, pois as condições de higiene eram precárias.

Maleita atingiu principalmente os peões que trabalhavam na derrubada de árvores (Foto: Francisca Schueroff)

“O meu sofrimento aqui foi muito grande. Peguei maleita quando tinha 75 quilos. Com a gravidade da doença, cheguei a pesar 40. Juntar a minha pele era como juntar a minha roupa. Estive pra apagar”, contou o pioneiro João Silva Franco que tinha cerca de 40 anos e teve de suportar 43 graus de febre, calafrios, tremedeiras, dores de cabeça, vômitos e hiperidrose (sudorese excessiva).

Certa noite, depois de contrair malária, João Franco chegou em casa a cavalo acompanhado do amigo Salatiel Loureiro, conhecido como Mário. “Estava ventando muito e quando cheguei ao rancho me deitei e depois não consegui levantar”, lembrou.

No amanhecer do dia seguinte, o pioneiro paulista não se lembrou de nada. “Me tiraram de casa e eu nem sei como foi. Acordei mais ou menos umas 11h e só depois me dei conta que estava na cama do farmacêutico João Machado”, enfatizou. A cura da doença, o pioneiro atribui ao farmacêutico e a sua própria natureza. “Sobrevivi porque nasci em terra de mata”, justificou. Machado é considerado um dos primeiros médicos de Paranavaí. Atendeu Palhacinho inúmeras vezes e também salvou muitas vidas.

Estima-se que centenas de moradores de Paranavaí foram vítimas fatais da malária na década de 1940. “Quando isso aconteceu, todos tiveram vontade de ir embora porque não havia condições de se viver aqui”, comentou a pioneira fluminense Palmira Gonçalves Egger.

Frases dos pioneiros sobre a doença

José Ferreira de Araújo (Palhacinho)

“Eu peguei essa maleita do Rio Ivaí.”

Palmira Gonçalves Egger

“Os remédios a gente quem preparava. Tinha que correr para não morrer.”

“Tinha um padre que também socorria as pessoas com seu carro.”

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O saudoso Líder Bar

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Muitos bailes foram realizados no bar nos anos 1940

Muita gente ia ao bar só para comprar broa dos catarinenses (Foto: Reprodução)

Entre os bares mais antigos e já extintos de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, o destaque é o Líder Bar, um dos estabelecimentos mais frequentados pela população nas décadas de 1940, 1950 e 1960. O local foi até cenário de bailes e festas.

O Líder Bar, construído pelo pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, conhecido como Zé do Bar, se situava na Avenida Paraná, perto da atual Cacau Brasil. Lá, os catarinenses começaram a comercializar broas de fubá feitas em Graciosa.

O alimento fez muito sucesso numa época em que não havia pão na colônia. “Naquele tempo, o Centro ia da esquina do Banespa [onde se situa a Cacau Brasil] até o Banco Bradesco”, contou o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira em entrevista publicada no livro “História de Paranavaí”, de Paulo Marcelo Soares da Silva, acrescentando que o Líder Bar ficava na área mais movimentada da cidade.

O estabelecimento era conhecido como ponto de reunião de moradores das mais diversas faixas etárias. No período da noite, era mais frequentado por homens, principalmente chefes de família que se reuniam para conversar sobre o cotidiano, futebol e política. Todos os ônibus paravam lá, até mesmo outros tipos de conduções. Os veículos de transporte coletivo ajudavam a levar mais fregueses ao bar. Muitos dos que desciam no ponto, dependendo do horário, já ficavam no bar ou pelo menos paravam para comprar algo.

A popularidade do Líder Bar era tão grande que muitas vezes o lugar foi cenário de bailes, principalmente em 1946, quando não havia quase entretenimento na colônia. As festas no bar sempre inspiravam confraternização, pois conseguia reunir boa parte da população, das mais diferentes etnias. Em vez das músicas que tocavam no rádio, os próprios moradores improvisavam. Quem tinha um instrumento musical e sabia como executá-lo sempre se juntava aos demais. “Isso só mudou depois, quando surgiram os clubes”, declarou o pioneiro José Ferreira de Araújo.

O Bar Líder era um dos poucos estabelecimentos de Paranavaí que tinha um gerador de energia. “Trabalhei com esse bar de 1945 a 1952. Daí vem o apelido Zé do Bar”, destacou o pioneiro José Alves de Oliveira que se mudou com a família para Paranavaí em abril de 1945. Foi incentivado pelo pai que disse que a colônia se tornaria uma cidade de grande futuro.

No local onde se situava o Líder Bar, antes havia uma casa de propriedade do pioneiro Dorvalino Moreira que pouco tempo depois a vendeu. “O lugar virou Bar do Abílio. Mas ele ficou com o bar apenas cinco meses. Aí então apareceu o José Alves de Oliveira que se hospedou na minha pensão e comprou o bar”, enfatizou José Ferreira. O local ficou conhecido como “Zé do Bar” até receber o nome de Líder Bar.

Saiba Mais

O primeiro bar de Paranavaí era de propriedade de Zeca Machado e se situava onde é hoje o Banco do Brasil.

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O influente Achilles Pimpão

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Delegado de Londrina tomou decisões que marcaram a história de Paranavaí

Pimpão ajudou a estabelecer a ordem na Fazenda Brasileira (Foto: Reprodução)

Um personagem que faz parte da história de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, mesmo sem nunca ter residido na cidade, é o destemido major Achilles Pimpão Ferreira. O homem ajudou a impor ordem na região quando os problemas não podiam ser resolvidos apenas por autoridades locais.

Na época da Fazenda Brasileira, quando surgia algum grave infortúnio, era comum os pioneiros viajarem até Londrina, no Norte Central Paranaense, para pedirem ajuda ao tenente Achilles Pimpão, então delegado de polícia. Até mesmo a ordem para a construção do primeiro cemitério de Paranavaí partiu de Pimpão. O homem, mais tarde nomeado capitão e depois major, foi quem trouxe a Paranavaí o gaúcho Telmo Ribeiro. Pimpão e Ribeiro se conheceram em Londrina, por intermédio do engenheiro Natel Camargo, pioneiro local.

À época, o delegado gostou de Telmo Ribeiro e decidiu apresentá-lo ao interventor (função que equivalia a de governador) Manoel Ribas. Após uma conversa, Ribeiro foi designado a abrir as estradas que ligavam Paranavaí ao resto do Paraná. Assim pode-se dizer hoje que se não fosse por Achilles Pimpão, Telmo Ribeiro nunca teria se mudado para a Fazenda Brasileira.

Pioneiro em Londrina, o paranaense Achilles Pimpão, de família tradicional de Palmas, no Centro-Sul do Paraná, acompanhou a evolução de Paranavaí por intermédio de pioneiros como o Capitão Telmo Ribeiro e o administrador da colônia Hugo Doubek. Nos anos 1930, 1940 e até em 1950 foram muitas as vezes que Achilles Pimpão veio a Paranavaí estabelecer a ordem, principalmente quando a situação envolvia grileiros nas glebas que compreendiam todo o território atual da Associação dos Municípios do Noroeste Paranaense (Amunpar).

Os pioneiros consideravam Pimpão um homem poderoso, pois sua influência ia de Paranavaí até Curitiba, e nem mesmo posseiros e capangas ousavam afrontá-lo. “Foi ele quem expulsou os jagunços da Gleba 21 [atual território de São Pedro do Paraná que pertencia a Colônia Paranavaí]”, enfatizou o pioneiro italiano Zaqueo Casarin em entrevista à Prefeitura de Paranavaí há algumas décadas. Todas as decisões do delegado tinham o apoio de Manoel Ribas. O interventor confiava completamente em Pimpão, segundo o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles.

Delegado expulsou jagunços da Gleba 21 (Foto: Reprodução)

As boas recordações dos pioneiros

Durante toda a vida, Salles jamais esqueceu do dia em que viajou até o Porto São José com o delegado Achilles Pimpão. “A gente estava construindo umas casas lá e o Pimpão me ajudou a puxar algumas vigas. Ele podia só mandar, não precisava fazer nada, mas mesmo assim fazia”, relatou em antiga entrevista à Prefeitura de Paranavaí. Para o alfaiate londrinense Alceu Napoli, o delegado Achilles Pimpão também deixou boas recordações.

De acordo com Napoli, que na infância era vizinho do Cadeião, onde funcionava a Delegacia de Polícia de Londrina, um dia, ele e outros garotos estavam carpindo um terreno para fazer um campinho de futebol, mas foram expulsos por carroceiros que deixavam os cavalos descansando na propriedade. “O doutor Pimpão foi lá com uma escolta policial e ficou com a gente até terminar de carpir tudo. Mais tarde, aquele campinho virou o Estádio Vitorino Gonçalves Dias [VGD]”, revelou Napoli.

Um fato curioso é que o delegado tinha o hobby de criar antas em uma de suas propriedades em Londrina, embora poucas pessoas tenham tido a oportunidade de vê-las de perto. Ao longo da vida, Achilles Pimpão recebeu inúmeras condecorações, inclusive internacionais. Entre as de grande destaque está uma recebida do presidente do Paraguai. No governo Manoel Ribas (1932-1945), Pimpão dirigiu a Penitenciária do Estado, em Curitiba, de 1935 a 1936. Foi o terceiro homem a comandar o primeiro presídio do Paraná. Mais tarde, em 1941, ocupou o cargo de chefe da Casa Militar.

Já em 1947, membro do Partido Social Progressista (PSP), Pimpão tentou seguir carreira política em Londrina e se candidatou a prefeito. Perdeu para Hugo Cabral, do Partido Libertador (PL), por uma diferença de 273 votos. Naquele tempo, Achilles Pimpão já não tinha mais a mesma influência. Além disso, o amigo Manoel Ribas tinha falecido no ano anterior.

Mito ou verdade?

Pioneiros garantem que a fama do delegado Achilles Pimpão era grande em todo o Paraná. O delegado tinha o hábito de percorrer as ruas de Londrina com um caminhão. Só parava em bares, onde recolhia aqueles que não portavam documentos de identificação. Por noite, carregava cerca de quinze pessoas na carroceria.

Pimpão levava todos para a delegacia e mandava alguns subordinados os chicotearem. Em seguida, os obrigava a tirarem os cintos das calças e beberem uma dose de óleo de rícino. O efeito do laxante surgia tão rápido que as vítimas tremiam enquanto seguravam as calças. Depois o delegado ordenava que subissem novamente na carroceria do caminhão e os deixava às margens do Rio Tibagi.

Lá, exigia que entrassem na água, forçando-os a atravessarem o rio a nado até Jataizinho, na Região Metropolitana de Londrina. Quem se recusasse era advertido a tiros. Conforme palavras de testemunhas, a iniciativa do delegado tinha como meta livrar Londrina de marginais e vagabundos. No entanto, há quem acredite que muitos caixeiros-viajantes e funcionários de empresas paulistas tenham sido, não se sabe se por engano ou não, vítimas dos métodos estrambóticos de Achilles Pimpão.

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A arte sulista de Luiz Carlos Prates

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Um mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso

Luiz Carlos, mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso (Foto: David Arioch)

Luiz Carlos, mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso (Foto: David Arioch)

O artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima é mestre na arte de manipular couro, madeira, chifre e osso, matérias-primas usadas para criar obras que resgatam elementos da cultura sulina.

Luiz Carlos nasceu em 1º de junho de 1930 em Alegrete, no Rio Grande do Sul, cidade natal do grande poeta Mário Quintana. O dom para as artes, descoberto na infância, foi incentivado pela avó africana que era pintora e desenhista. Na juventude, Prates de Lima decidiu investir na carreira de artista plástico e ingressou no Instituto de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Depois de formado, lecionou na Fundação Gaúcha do Trabalho. “Eu ensinava artesanato com chifres, ossos, madeira e couro”, afirma Luiz Carlos que trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos. O artista que produz arte com as mais diversas matérias-primas é especialista não apenas na criação de esculturas, mas também de pinturas e desenhos. “Gosto de tudo relacionado à arte, e hoje quero passar isso para os outros porque já estou em idade avançada”, pondera.

Luiz Carlos conheceu Paranavaí há muito tempo, contudo só voltou a cidade em 1997, quando decidiu fixar residência. “Gostei muito daqui, e nesse período percebi que o pessoal gosta muito de obras em chifre e madeira. Também encomendam peças feitas com ossos, nem que seja por curiosidade”, revela, acrescentando que até hoje nunca precisou criar nenhuma obra que não gostasse.

Esmero do artista é percebido até numa pequena peça (Foto: David Arioch)

Esmero do artista é percebido até numa pequena peça (Foto: David Arioch)

O que mais chama atenção é que as peças feitas por Luiz Carlos Prates remetem à cultura sulista. Os exemplos estão no pequeno atelier improvisado no quintal. Lá, carretas dividem o espaço com chaleiras, cuias e ervas; tudo feito em madeira. A atmosfera rural do ambiente também parece contribuir para a plasticidade das obras. Quase tudo lembra outros tempos, até o esmero do artista ao entalhar e lixar uma peça menor que um dedo. São lembranças tornadas materiais e palpáveis do passado de Luiz Carlos.

Artista já produziu até 70 peças por semana

O carinho do artista ao segurar cada obra dá uma ideia do valor que a arte agrega a sua vida. Após mais de 60 anos de profissão, Luiz Carlos Prates de Lima ainda é exigente consigo mesmo. Realiza trabalhos sob encomenda, porém entrega uma peça apenas quando tem certeza que deu tudo de si.

Obras são inspiradas na cultura sulista (Foto: David Arioch)

Obras são inspiradas na cultura sulista (Foto: David Arioch)

“Há obras que levam até dois meses, mesmo trabalhando o dia todo. Exemplo é um quadro aplicado que fiz”, explica. Já outras peças são feitas em pouco tempo. O artista conta que dependendo do pedido chega a produzir até 70 obras por semana. “Além do Paraná, já enviei peças para o Japão, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e outros estados. Acho que para o Brasil todo”, garante em tom de orgulho.

Para o artista de fala calma e pausada, a matéria-prima mais fácil de manipular é a madeira, já o chifre é considerado o mais difícil. “O entalhe todo do chifre é feito só com lixa. É bem artesanal e tem que ter paciência”, justifica. Uma das obras mais produzidas pelo artista plástico é a carreta que leva cerca de uma semana para ficar pronta. Até hoje, Prates de Lima criou pelo menos 120. Uma curiosidade sobre as obras do artista é a influência indireta do naturalismo. Luiz Carlos evita dar brilho às peças, não as idealizando para não distanciá-las da realidade. “Gosto do verniz fosco, um trabalho encerado de madeira, sem brilho”, comenta.

Artista trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos (Foto: David Arioch)

Artista trabalha com artes plásticas há mais de 60 anos (Foto: David Arioch)

Curiosidade

Quando morava no Rio Grande do Sul, antes de tornar-se evangélico, o artista plástico Luiz Carlos Prates de Lima construía carros alegóricos, fantasias de carnaval e até escrevia enredos para escolas de samba.

Contato

Interessados em conhecer o trabalho do artista plástico podem ligar para (44) 9865-1391.