David Arioch – Jornalismo Cultural

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Primeira igreja de Paranavaí foi construída em 1944

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A primeira celebração foi realizada em alemão com colonos de Graciosa

Igrejinha construída em 1944 sob o comando do padre João Guerra (Acervo: Fundação Cultural de Paranavaí)

Em 1944, o padre João Guerra reuniu pioneiros para a construção da primeira igreja de Paranavaí, no Noroeste do Paraná. O local é o mesmo que abriga hoje a Paróquia São Sebastião. Lá, a primeira missa foi celebrada no dia 25 de dezembro.

De acordo com informações do livro “História e Memória de Paranavaí”, escrito pelo falecido frei alemão Ulrico Goevert, e publicado em 1992, o primeiro padre a visitar a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, foi o alemão Carlos Propst, da Congregação dos Padres Palotinos, que realizou uma cerimônia em frente à Inspetoria de Terras. No local, foram crismadas pelo menos cinquenta pessoas. À época, a Paróquia de Mandaguari, no Norte Central do Paraná, a quem a colônia pertencia, mandava padres três ou quatro vezes ao ano para realizar missas, batizados e casamentos a céu aberto.

Após iniciada a colonização, somente depois de 18 anos, em 27 de setembro de 1944, a paróquia enviou um sacerdote para residir no povoado. “O padre João Guerra veio interessado em abrir uma chácara. Falou que precisava montar uma igreja porque tinha muita gente vindo pra cá”, afirmou o pioneiro paulista Salatiel Loureiro em entrevista à Prefeitura de Paranavaí nos anos 1970.

Naquele tempo, o primeiro símbolo religioso da colônia, uma grande cruz de madeira, foi fixado onde se situa o velho Terminal Rodoviário. “Acharam o local impróprio e mudaram a cruz para um lugar mais acima. Lá, a Inspetoria de Terras doou uma quadra de 110 por 120 metros para a criação da igreja”, contou o frei alemão Ulrico Goevert.

João Guerra (ao centro) foi o primeiro padre a morar em Paranavaí (Acervo: Fundação Cultural de Paranavaí)

A madeira usada na construção foi doada pelo marceneiro José Ebiner. Já as outras despesas foram custeadas com dinheiro arrecadado pelo administrador da colônia, o pioneiro curitibano Hugo Doubek. “O padre pediu para o Hugo cobrar uma rendazinha dos negócios de terras realizados aqui. Ele concordou”, revelou Loureiro.

Pioneiros como Paulo Tereziano de Barros, Nenê, Salatiel Loureiro, João da Silva Franco, José Vicente da Costa, Joaquim Machado e Zé Bicudo foram os responsáveis pelo sucesso da obra. “Lembro que no altar mal cabia o padre e dois santos”, comentou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, em entrevista à prefeitura na década de 1970.

A primeira missa na igrejinha de madeira foi realizada no Natal de 1944 pelo padre João Guerra. “Foi uma celebração cantada em alemão pelos colonos de Graciosa, distrito de Paranavaí”, frisou o frei Ulrico. Naquele dia, durante o rito, uma cobra venenosa invadiu a igreja e se enrolou no braço de um dos fiéis. Enquanto a população gritava, o homem se manteve imóvel até que a peçonhenta foi embora sem picar ninguém.

A primeira igreja serviu também de sala e quarto para o padre João Guerra que viveu em Paranavaí até o final de 1945. De acordo com pioneiros, o sacerdote contribuiu muito com a comunidade, mesmo tendo ficado pouco tempo no povoado. O administrador da colônia Hugo Doubek, que era de religião protestante, teve alguns conflitos com João Guerra por causa de cobranças de recursos para investir na criação de uma paróquia.

“O Hugo decidiu não pegar mais dinheiro da população para repassar à igreja porque ele achava errado. Deu um rolo e quiseram até tirar o padre daqui. O Capitão Telmo Ribeiro entrou no meio e apaziguou tudo”, revelou Loureiro. Mais tarde, houve uma tentativa de envolver o padre na política local, o que o motivou a deixar a colônia.

Saiba Mais

O padre João Guerra comandou a administração da colônia por uma semana em 1945, quando o administrador Hugo Doubek foi embora.

Frases dos pioneiros sobre o padre João Guerra

João da Silva Franco

“O padre trabalhava numa chácara que ele abriu. Lá, construiu uma represa e um moinho de fubá pro povo.”

“Aos sábados, o padre João Guerra vinha pra cá, trocava as roupas e se preparava pra fazer a missa de domingo.”

As ruas de cascas de peroba

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As primeiras vias de Paranavaí foram pavimentadas com restos de madeira

Zé Ebiner pavimentou a Avenida Paraná e a Rua Getúlio Vargas com cascas de peroba (Foto: Reprodução)

Na década de 1940, quando as vias de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, eram compostas por faixas de areia, os pioneiros usaram cascas de peroba como alternativa de pavimentação para o tráfego de veículos.

O marceneiro José Ebiner é o pioneiro da pavimentação em Paranavaí. Na época em que a colônia era chamada de Fazenda Brasileira, teve a ideia de cobrir as vias, que se resumiam a faixas de solo arenoso batido, com cascas de peroba. “A Velha Brasileira era puro areião. Então o Zé Ebiner inventou o calçamento. Isso não começou com os nossos prefeitos não. Foi com a gente usando cascas de madeira”, afirmou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás.

O marceneiro tomou a iniciativa de cobrir o solo arenoso da Avenida Paraná e da Rua Getúlio Vargas com os muitos restos de madeira que sobravam na serraria. “O Zé Ebiner foi um dos primeiros pioneiros. Quando cheguei aqui a primeira coisa que fiz foi comprar madeira dele”, relatou Palhacinho. O pioneiro paraibano Cincinato Cassiano Silva faz coro às palavras de José Ferreira. “A primeira serraria privada de Paranavaí foi do Ebiner”, comentou.

Pioneiros lembram que a comunidade se uniu para transportar as cascas de peroba e esparramá-las pelas vias da Brasileira. “Era só jogar nas ruas que já dava um pavimento bom pra passar um pé-de-bode”, declarou José Ferreira. Os restos de madeira proporcionavam mais firmeza as vias e também beneficiavam os pedestres.

Em dias de Sol, os transeuntes podiam caminhar sobre as cascas para evitar sujar os calçados. Já quando chovia, o pavimento improvisado permitia que escapassem da lama. “A ideia do Ebiner ajudou muito a gente”, enfatizou Araújo, acrescentando que é impossível falar de madeira nos tempos da colonização sem citar o marceneiro.

O pioneiro paulista Valdomiro Carvalho prestou muitos serviços a José Ebiner. Carregou um grande número de toras de árvores que serviram para a construção de residências, casas comerciais e pavimentação. “Eu puxava tudo com um carretão de bois. Ia lá pra mata bruta derrubar figueiras, perobas, paus d’alho e palmitos. Quase todos os tipos de madeira”, complementou Carvalho.

Ebiner ajudou a construir o estádio e o Grupo Escolar

De acordo com o pioneiro paulista Natal Francisco, Ebiner contribuiu na criação do primeiro estádio de Paranavaí, onde é atualmente a Praça dos Pioneiros. “Ele me ajudou muito. Cobrou pouco pela mão-de-obra e pela madeira”, destacou. O marceneiro também teve participação importante na viabilização do primeiro hospital local.

“O Zé Ebiner deu madeira para construir o Hospital do Estado e também o Grupo Escolar [primeira escola de Paranavaí, onde se situa hoje o Colégio Estadual Marins Alves de Camargo]”, revelou o pioneiro gaúcho Otávio Marques de Siqueira. Parte da madeira aproveitada pelo marceneiro, que também forneceu matéria-prima para a construção da primeira igreja, pertenceu a Companhia Brasileira de Viação e Comércio (Braviaco) nos tempos em que Paranavaí era conhecida como Distrito de Montoya.

O pioneiro José Ferreira desabafou que nos anos 1940 a vida na colônia era muito difícil. O povoado era praticamente ignorado pelo Governo do Paraná. “A gente teve que fazer muitos sacrifícios como esse da pavimentação. Vivíamos no completo abandono, autoridades estaduais nunca vinham pra cá confortar o povo. Éramos obrigados a decidir tudo. O que valia era a palavra de cada um que vivia aqui”, reclamou.

Só a partir de 1946, a Colônia Paranavaí ganhou outras serrarias. Um homem conhecido como “Seu Pombalino” abriu uma na Avenida Distrito Federal, próxima ao Posto São José. Era pequena, mas também ajudou bastante. “Depois veio a marcenaria do Otto”, ressaltou Cincinato Cassiano.

Um sargento inusitado

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Sargento Marcelino ficou conhecido pelos métodos nada ortodoxos de impor ordem

Área onde o sargento Marcelino construiu a prisão de caibros de peroba (Foto: Reprodução)

Na época da colonização de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, nenhuma autoridade policial ficou tão conhecida quanto o sargento Marcelino, homem que para impor a ordem utilizava métodos nada ortodoxos.

Sargento Marcelino era policial em Arapongas, no Norte Central Paranaense, quando foi enviado para trabalhar em Paranavaí, no tempo em que a colônia era conhecida como Fazenda Brasileira. Marcelino assumiu como delegado em substituição ao Sargento Bahia,  considerado um policial muito tolerante. Os moradores reclamavam que o antigo delegado não fazia valer as leis no povoado.

“O sargento Marcelino era diferente, um homem danado de bravo, valente e autoritário”, comentou o pioneiro paulista José Ferreira de Araújo, conhecido como Palhacinho, em entrevista à Prefeitura de Paranavaí décadas atrás. Quem buscou os pertences de Marcelino em Arapongas foi o pioneiro espanhol Thomaz Estrada que além de comerciante trabalhava com o transporte de mudanças.

Nos anos 1940, dois soldados davam assistência ao sargento. Em determinados dias, quando não tinham nada para fazer, os policiais se ocupavam plantando algodão e milho. Eram trabalhadores, segundo José Ferreira, acrescentando que quem “endireitou” a colônia foi o sargento Marcelino.

Sobre o trabalho do policial, são raras as queixas dos pioneiros. A maioria o elogia. O ex-prefeito Ulisses Faria Bandeira definiu o sargento como um negrão forte e exigente, de pulso filme e que prestou muitos serviços a Paranavaí. “Era um homem de peso e de atitude. O pioneiro paulista Paulo Tereziano de Barros também reconheceu a importância do policial, porém, assim como outros pioneiros, o considerava bem esquisito.

Tal fama se deve ao fato de Marcelino ter usado métodos nada ortodoxos para manter a ordem na colônia. Na década de 1940, o sargento mantinha uma pequena prisão de caibros de peroba em frente ao local onde foi construída a Praça Dr. Sinval Reis (Praça da Xícara). Lá, Marcelino prendeu muitos bêbados. “Tinha os coitados que trabalhavam no mato, no meio daquela mosquitada. Quando vinham para a cidade traziam um dinheirinho e enchiam a cara. Então o sargento os prendia lá até melhorar”, explicou José Ferreira.

A corrente que virou cadeia

Um dia, quando retornou ao serviço, o sargento Marcelino encontrou a cadeia em chamas. Interpretou aquilo como uma afronta. O autor supôs que o policial não teria mais onde prender ninguém. Bravo e nervoso, o sargento foi até a serraria do pioneiro José Ebiner e pediu que o marceneiro o arrumasse uma corrente bem grande. Com o material, Marcelino fez um argolão de ferro e gritou em meio ao local onde ficava a pequena cadeia: “Vou tocar essa corrente em pescoço de nego safado. Aí quero ver.”

Logo o sargento fez sua primeira vítima. Era um peão chamado Darci que foi até a casa de uma senhora ver se ela não queria lavar-lhe as roupas. A mulher se sentiu desrespeitada pela proposta feita enquanto o marido trabalhava na abertura das estradas da colônia. ”Ela denunciou para o Marcelino que o prendeu e passou o correntão nele”, relatou Palhacinho, se referindo à “nova prisão” do sargento, instalada em cima de uma prancha de peroba.

A corrente não era muito pesada, mas a pessoa tinha de segurá-la com o braço para não doer o pescoço. Curiosos, o pioneiro mineiro José Alves de Oliveira, conhecido como Zé do Bar, e José Araújo foram ver o peão Darci quando o sargento Marcelino o prendeu com a corrente. “Ficamos olhando com aquele olhão. Na mesma hora, o sargento saiu na porta da cozinha com um prato enorme de comida. Falou ao Darci que a mulher logo faria o prato dele”, destacou Araújo.

Quando viu Zé do Bar e Palhacinho observando o preso, o delegado gritou: “Ué, vocês também querem vir na corrente?” Os dois saíram correndo envergonhados e espalharam pela colônia que ninguém deveria ir lá. “Podia ser importante ou não, o homem realmente prendia ao correntão”, enfatizou Ferreira Araújo.

Antes de soltar os contraventores, que ficavam presos ao pé de um toco por período de uma noite e um dia, ou até mais tempo, Marcelino mandava dar a eles um purgante à base de sementes de mamona amassadas numa caneca d’água, de acordo com o pioneiro José Francisco Siqueira, conhecido como Zé Peão.

Outro fato curioso que aumentou a fama do então delegado foi um castigo que ele aplicou a um praticante de umbanda. Marcelino foi até o armazém do espanhol Thomaz Estrada e comprou um metro de fumo. “Perguntei pra que ele queria aquilo. O sargento disse que era pra bater num nego sem vergonha e macumbeiro [sic]. E bateu mesmo”, assegurou Estrada.

Conforme palavras do pioneiro gaúcho Severino Colombelli, o sargento Marcelino fazia de tudo contra os malfeitores. “Por isso, aqui não tinha ladrão. Paranavaí seria a melhor cidade do Brasil se ainda tivesse um sargento Marcelino. Ele era enérgico”, finalizou.

Saiba Mais

No período em que viveu em Paranavaí, sargento Marcelino trabalhou com três policiais: cabo Salata, soldado Sebastião e soldado Luizinho.

Curiosidade

Na época da colonização era chamado de peão o homem que trabalhava na derrubada da mata.

Frases dos pioneiros sobre o sargento Marcelino

José Francisco Siqueira (Zé Peão)

“Foi um grande aqui. Deixou nome e nunca fez burrada.”

“A cadeia era um pé de palma. O caboclo fazia desordem, o Marcelino pegava o cadeado e o prendia a árvore.”

Enéias Tirapeli

“Era um pretão aparelhado com o Capitão Telmo Ribeiro.”

José Antonio Gonçalves

“Marcelino era um senhor de corpo forte. Ele quem mandava na cidade.”

Thomaz Estrada

“Autoridade aqui era só o Marcelino.”

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