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Alemanha abre as portas da sua primeira escola vegana em agosto

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Foto: DPA

Em agosto, a Alemanha abre as portas da sua primeira escola vegana. O Jardim de Infância Mokita, sediado em Frankfurt, vai levar informações para os seus alunos sobre nutrição e meio ambiente, além da importância e dos benefícios éticos de um estilo de vida vegano.

De acordo com declaração feita pela diretoria da instituição, o objetivo da escola é fornecer um conceito nutricional vegetariano sustentável e responsável em relação aos animais, seres humanos e meio ambiente. Inclusive as crianças terão acompanhamento –  assim se certificando de que vão receber todos os nutrientes necessários.

Com isso, a escola também quer provar que o veganismo é seguro para pessoas de todas as idades. Mesmo depois do Jardim de Infância Mokita apresentar um projeto de ensino bastante detalhado, políticos locais fizeram oposição à iniciativa alegando que as crianças podem ficar subnutridas se não consumirem produtos de origem animal.

Vale lembrar que Suzy Amis Cameron e seu marido, o famoso cineasta James Cameron, fundaram em 2015 a escola primária MUSE em Calabasas, na Califórnia, a primeira instituição de ensino vegana dos Estados Unidos.

Referências

Veg News

Mokita Kinderladen

 

 





 

Lembranças do jardim de infância

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Curioso que era, eu me inebriava em imagens, sons, sensações e emoções desconhecidas

Com cinco anos, um mundo de experiências já se apresentava a mim (Foto: Arquivo Familiar)

Com cinco anos, conheci um mundo de novas experiências (Foto: Arquivo Familiar)

Lembro como se fosse hoje das aulas do jardim de infância da Escola Vicentina São Vicente de Paulo, no final dos anos 1980. Eu tinha cinco anos e estava aprendendo a passar algumas horas longe da minha família. No primeiro dia de aula, enquanto meu irmão mais velho não soltava a mão da minha mãe, chorava e pedia pra voltar pra casa, eu me silenciava diante de um mundo totalmente novo. Também me sentia mais seguro porque estava usando a minha botinha do Rambo. Curioso que era, eu me inebriava em imagens, sons, sensações e emoções desconhecidas.

Nunca tinha visto tanta gente pequena como eu junta em um mesmo local. Naquele tempo, as crianças chegavam à escola carregando doces nos bolsos. Tudo era permitido para que se comportassem pelo menos até os pais irem embora.

Os mais desajeitados eram asseados pelas mamães com lenços de pano sempre ao alcance das mãos. A pressa mais do que constante se intensificava quando uma das freiras da escola acionava um botão que emitia um som semelhante ao de um sino. Então um barulho dissonante de passos e vozes ecoava pelo pátio de piso liso e cintilante que sempre me parecia enorme, mesmo não sendo.

Antes da minha mãe ir embora, eu era conduzido a uma fila por ordem alfabética ou de altura. Então cantávamos o hino nacional em posição de sentido. Me sentia um soldadinho quando observava várias crianças perto de mim com o corte de cabelo igual ao meu, o chamado surfista, asa delta ou “corte de penico” para os zombadores.

Na sala de aula, um ambiente multicolorido que estimulava tanto o raciocínio lógico quanto o abstrato, eu enxergava apenas diversão e passatempo. Sentado em uma cadeirinha azul a poucos centímetros do chão, gostava era de ouvir historinhas fantasiosas sobre bichos e crianças. “João e Maria”, “O Pequeno Polegar”, “João e o Pé de Feijão”, “O Soldadinho de Chumbo” e “Rumpelstichen” me acompanharam por muito tempo, nutrindo a minha imaginação. Mas nenhuma outra história me fez sonhar tanto no jardim de infância como “A Festa no Céu”.

Empolgado, um dia cheguei em casa, joguei a mochila e contei ao meu pai o que tinha ouvido. Então ele narrou uma versão mais pomposa, imitando os sons dos animais. Entre palavras e coaxos, dublava um sapo mágico como ninguém. Mesmo assim eu ficava triste e com dó dos bichos que não sabiam voar e não poderiam se fartar em um banquete edênico.

Como eu ainda estava aprendendo a ler e escrever, acabei por criar as minhas próprias versões em sonhos. Na primeira, corri pela floresta, gritando os nomes dos animais e distribuindo asas para que pudessem voar. Na segunda, encolhi com assopros todos os bichos da mata que não sabiam voar e os escondi dentro da viola do urubu convidado para animar a festa no céu.

Mais tarde, a ideia de animais falantes continuou me acompanhando, tanto que um dia cheguei em casa e contei à minha mãe que tinha encontrado um cãozinho mestiço ferido perto da Avenida Distrito Federal clamando por ajuda. “Ele estendeu a patinha, olhou pra mim com cara de choro e disse: ‘por favor, me ajude! Tô com muita dor, me leve daqui. Deixa eu ir pra sua casa’. Quando tentei levantar o bichinho, ele colocou as patas em volta do meu pescoço, fechou os olhos e morreu”, relatei bastante sensibilizado.

Na escolinha, eu e Fabrício entrávamos furtivamente na casa das bonecas, um ambiente rosa proibido aos meninos, para ver como era e o que tinha lá dentro. Arteiros, mudávamos muitas coisas de lugar, saíamos de fininho e íamos direto ao parquinho, fingindo que não tínhamos feito nada. Quando as suspeitas recaíam sobre nós, sorríamos com certa inocência diante do olhar reprovador da orientadora, uma freira corpulenta, alta e sisuda que diziam carregar no bolso uma palmatória borrachuda que fazia as mãos formigarem por até uma semana.

Fiquei mais assustado quando espalharam um boato de que no piso superior da escola existia um quartinho sem janela e iluminação, onde as crianças mal comportadas ficavam presas e recebiam ocasionalmente golpes de férula. Meu corpo miúdo estremecia, meus olhos estalavam e eu sentia uma ligeira fraqueza quando pensava na possibilidade de ser enviado para aquele lugar.

Meus medos só eram amenizados quando a professora Angela falava comigo. Então o breu dos meus pensamentos eram descortinados por rajadas de cores e luzes que me faziam flutuar na inércia de um paraíso cinematográfico. No recreio, a imaginava ao meu lado no banquinho dividindo um lanchinho Recreio ou Mirabel. “Talvez um dia a gente partilhe um Dedito. Humm…será que ela prefere pão com Cremutcho?”, refletia enquanto balançava os pés que mal alcançavam o chão.

Em tempo de parque de diversões, nem prestava atenção no que a professora dizia. Ficava pensando em nós dois na roda gigante vendo as luzes da cidade, comendo maçã do amor e eu ganhando pra ela um urso de pelúcia depois de dar um tiro certeiro com uma espingardinha de rolha na testa de um gremlin.

Também foi com cinco anos que tive minha primeira experiência com a morte. Meu amiguinho Fabrício, que morava nas imediações da Rua Silvio Vidal, perto do NIS Central, estava passeando de bicicleta quando foi atropelado por uma carreta. Fiquei confuso porque não sabia o que a morte significava exatamente. Nem tinha ideia de que seu corpo miúdo seria sepultado dentro de um caixão lacrado. Então eu perguntava à minha mãe se eu teria a chance de brincar com ele algum dia; se o Fabrício não estava apenas dormindo e um dia iria acordar e juntos iríamos até a Padaria Pão de Açúcar comprar sodinha.

Com o passar dos meses, comecei a entender que a morte era um desencontro sem data para chegar ao fim. Falavam que ele foi para o céu, mas eu olhava pra cima, o procurava e não o enxergava. “Será que existe um céu diferente ou essas nuvens estão escondendo ele?”, me questionava sentado no meio-fio na entrada de casa. Queria voar que nem o urubu da “Festa no Céu” e procurar o Fabrício. Achava que ele poderia estar deitado num lugar tão alto que só quem tinha asas poderia alcançá-lo.

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Como surgiu o Colégio Paroquial

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Frei alemão Ulrico Goevert fundou a escola em 1952 

Objetivo do fundador era erradicar o anafalbetismo local (Acervo: Ordem do Carmo)

O Colégio Paroquial Nossa Senhora do Carmo foi fundado em Paranavaí em 1952 por iniciativa do frei alemão Ulrico Goevert que queria erradicar o analfabetismo local. Até 1952, o único espaço de alfabetização era o Grupo Escolar de Paranavaí, atual Colégio Estadual Newton Guimarães, que teve como primeira diretora a professora Enira Moraes Ribeiro. “Me veio o pensamento de fundar uma escola paroquial. Convenci o Frei Estanislau [o pernambucano Agripino José de Souza] a fazer um exame de qualificação para dar aulas”, contou Frei Ulrico no livro “Histórias e Memórias de Paranavaí”.

A escola foi inaugurada em um velho barracão que passou por uma rápida reforma. Como não havia dinheiro para investir no colégio, tiveram de pedir tábuas emprestadas para a confecção das carteiras escolares. “Também eram usadas como mesas durante as festas”, confidenciou o padre que mais tarde recebeu uma intimação do inspetor de ensino do Estado do Paraná. Caso não construíssem um prédio novo, teriam a autorização de funcionamento revogada. Apesar das dificuldades, o frei alemão conseguiu atender a ordem do governo a tempo. Para isso, recebeu ajuda financeira da comunidade local e também da Ordem dos Carmelitas na Alemanha.

Escola iniciou atividades atendendo 220 alunos (Acervo: Ordem do Carmo)

Em 1952, antes do início das aulas, Frei Ulrico abriu matrículas para 220 alunos, divididos em quatro salas, duas para garotos e duas para garotas. Frei Estanislau era o responsável pela turma do primeiro ano primário. No começo, o trabalho na escola foi muito difícil, inclusive eram constantes as reclamações de pais de alunos que questionavam os métodos de ensino.

Após acompanhar algumas aulas de perto, o padre alemão percebeu que algumas professoras tinham influência negativa sobre os alunos, então as substituiu. “Frei Estanislau tinha um refinado talento para lidar com as crianças. Quem o ajudava nessa missão era a professora Irene Gomes Patriota que se encarregava das meninas”, lembrou Goevert.

Irene, que nasceu no Distrito de Angelin, em Garanhuns, Pernambuco, chegou a Paranavaí em 17 de novembro de 1944. Deixou a cidade em janeiro de 1963, quando seu pai Leodegário Gomes Patriota faleceu. Segundo Frei Ulrico, Irene Patriota foi uma das melhores professoras do Colégio Paroquial.

Prédio foi construído com ajuda da comunidade local e também da Alemanha (Acervo: Ordem do Carmo)

“Eu dava preferência para as professoras mais feias”

“Era difícil conseguir uma boa professora. Não me esqueço de uma que ia muito bem, mas conheceu um jovem engenheiro, se casaram e ela deixou a escola”, lamentou o padre que era muito exigente e não admitia que alguém lecionasse sem comprovar qualificação. A partir do acontecido, Frei Ulrico se tornou mais cauteloso. Optou por não aceitar mais belas professoras na escola. “Eu dava preferência para as mais feias, aquelas que ficaram noivas duas ou três vezes pelo menos”, frisou.

Em menos de cinco anos, a escola somou 600 estudantes e 18 professoras. “360 alunos estudavam de graça”, enfatizou o padre, acrescentando que as crianças do colégio tinham de ir à missa todos os sábados. “Às quartas-feiras, dávamos aulas de catequese para 1,4 mil crianças. Em cada turma, havia cerca de 500 crianças. Fui duramente criticado pelo frei Adalbert Deckert [padre provincial de Bamberg, no Estado alemão da Baviera], e com razão, pois eu não tinha como dar um tratamento individual a cada aluno”, admitiu Ulrico Goevert.

Uma das primeiras turmas do Paroquial (Acervo: Ordem do Carmo)

A primeira diretora do Colégio Nossa Senhora do Carmo foi Eugenia Araújo Rauen, a quem o Frei Ulrico chamava de “minha professorinha”. Eugenia assumiu a direção da escola, pois tinha cursado a Escola Normal do Instituto de Educação de Curitiba. “Como ela era funcionária da Secretaria de Agricultura, não podia dar expediente na Escola Paroquial, então só assinava os documentos”, revelou o padre.

Colégio Paroquial ficou em primeiro lugar no Paraná

Em 1956, o Colégio Paroquial Nossa Senhora do Carmo foi eleito o melhor estabelecimento de ensino do Paraná após uma avaliação do nível de conhecimento dos estudantes. O primeiro lugar trouxe a Paranavaí o inspetor estadual de ensino, cargo que equivale hoje ao de Secretário Estadual de Educação, que fez questão de parabenizar o padre Ulrico Goevert.

O frei atribuiu o ótimo desempenho dos alunos ao trabalho da professora Rosa Akie Noguti, filha de imigrantes japoneses, que chegou a Paranavaí em 1953. “Uma boa professora diplomada. Em três anos, ela fez um progresso enorme com os estudantes”, avaliou o padre.

Estudantes do Paroquial ficaram em primeiro lugar no Paraná em 1956 (Acervo: Ordem do Carmo)

Nos primeiros anos, cada estudante do Colégio Paroquial pagava uma mensalidade de 30 cruzeiros. A quantia era o suficiente apenas para cobrir as despesas com seis professores. “Foi aí que me dei conta que se eu quisesse ter bons professores precisaria pagar mais, assim eu poderia exigir melhores resultados”, ponderou.

Jardim da Infância foi criado em 1954

Como havia muitas crianças em Paranavaí em 1954, o frei alemão Ulrico Goevert percebeu a necessidade de se criar um jardim de infância para oferecer educação e recreação aos menores. Sem dinheiro para investir em infraestrutura, o padre ampliou a igreja em sete metros, fez uma repartição e conseguiu doações de mesinhas e cadeiras. “Quem me ajudou foi Maria de Lourdes Gomes Patriota, uma idealista moça de 19 anos”, explicou o padre alemão.

Jardim da Infância que mais tarde foi anexado à Escola São Vicente de Paulo (Acervo: Ordem do Carmo)

Ao término da obra, o Jardim da Infância Nossa Senhora do Carmo recebeu matrículas de 40 crianças. Logo estavam com 60 e tiveram de construir uma nova escolinha para abrigar os alunos. O Jardim da Infância passou a funcionar na Quadra 77, na esquina da Rua Getúlio Vargas com a Rua Pará, onde é atualmente a casa das Irmãs Filhas da Caridade da Escola São Vicente de Paulo.

Alunos do Jardim da Infância participando do desfile de 7 de setembro (Acervo: Ordem do Carmo)

Entre os alunos que estudaram no Jardim da Infância, estava uma criança de três anos, conhecida como Alencarzinho, filho do advogado José de Alencar Furtado.

Certo dia, o garotinho teve um choque anafilático, não resistiu e faleceu. “Quando ele entrou em agonia, cantou ‘Ave, Ave, Ave Maria’ com a vozinha cada vez mais fraca, até dar o último suspiro. Ele aprendeu o canto no nosso Jardim da Infância”, destacou Frei Ulrico.

Saiba Mais

Em 1952, Paranavaí tinha um elevado índice de analfabetismo entre as crianças.

O Colégio Paroquial Nossa Senhora do Carmo recebeu licença oficial de funcionamento do Governo do Estado do Paraná em 17 de junho de 1956. O documento permitia que a escola oferecesse o nível primário de ensino. A licença para o ginasial foi conquistada em 22 de fevereiro de 1960.

Após a morte do pai, Leodegário Gomes Patriota em 17 de janeiro de 1962, a professora Irene Patriota se mudou para Curitiba. No dia 16 de outubro de 1970 deixou a capital e fixou residência em Apucarana, no Norte Central Paranaense.

Em 1954, escolinha já oferecia educação e recreação (Acervo: Ordem do Carmo)

A primeira professora do Jardim da Infância Nossa Senhora do Carmo, Maria de Lourdes Patriota, é irmã da professora Irene Patriota. Lourdes nasceu no dia 21 de janeiro de 1932 em Brejão, Pernambuco.

Em 1960, Maria de Lourdes e o marido, Jarbas Nogueira dos Santos, funcionário da Caixa Econômica Federal, deixaram Paranavaí. Se mudaram para Bandeirantes, no Norte Pioneiro Paranaense, onde viveram por um ano, até fixar residência em Apucarana. Desde 1983, Lourdes Patriota mora em Curitiba.

Em 1955, Rosa Akie Noguti, que nasceu em 10 de janeiro de 1934 em Vera Cruz, interior de São Paulo, assumiu o cargo de diretora do Colégio Paroquial, onde trabalhou até maio de 1960. Depois se casou com Paulo Fumio Watanabe e em 1978 se mudou para Curitiba.

José de Alencar Furtado era pai do deputado federal Heitor de Alencar Furtado, assassinado em 1982, que empresta o nome para a avenida mais importante de Paranavaí.

Written by David Arioch

November 7th, 2010 at 1:51 pm

Posted in História,Paranavaí,Pioneirismo

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