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Natal, época de solidariedade entre seres humanos e aumento da crueldade contra não humanos
Doente, idosa sonha em construir uma casinha e abandonar o barraco onde vive
Sem fonte de renda, Dona Zu não tinha nem o que comer no dia em que a visitei
Cheguei em frente à residência de Maria Lúcia Gomes Gonçalves, mais conhecida como Dona Azu, bati palmas e ela demorou um pouco para me receber. O motivo é que, vítima de paralisia infantil, osteoporose e artrose, a idosa tem sérias dificuldades para andar. Após os cumprimentos, a simpática senhora me convidou para entrar e caminhamos até um barraquinho no fundo de um terreno repleto de vegetação.
Sem fonte de renda, Dona Zu não tinha nem o que comer no dia em que a visitei. Ainda assim, ela sorria e me abraçava, satisfeita com a minha visita e o meu interesse em conhecer sua história. Mancando, andava se apoiando na mobília para não cair. “Não tenho mais força nas pernas. Se ficar um tempinho em pé, já corro o risco de tombar e me machucar”, relatou e mostrou um pé torto.
A moradia de Dona Zu não pode ser considerada uma casa. São dois cômodos mal construídos, com um teto surpreendentemente baixo. É quase impossível duas pessoas caminharem lado a lado dentro do casebre sem forro, por onde a água entra sempre que chove. Lá, tudo foi feito na base do improviso. Inclusive uma das paredes se resume a pedaços irregulares de madeirite encontrados na rua.
Além da precariedade, o barraco é mal arejado; tem apenas uma janela. No local, a mobília está em péssimas condições, assim como todo o resto. “Não sou aposentada e não recebo nenhum benefício do governo. Tem dia que chego a passar fome. O que me ajuda é que de vez em quando ganho cesta básica de alguém. Estou doente e em uma situação muito difícil”, revela emocionada.
A idosa, que também sofre de depressão, sonha em construir uma casinha de 27 metros quadrados, mas para isso Dona Zu precisa de 40 sacos de cimento, 10 metros de areia lavada, três mil lajotas, 58 metros de ferro, quatro metros de pedra, 20 folhas de fibrocimento de quatro milímetros (Eternit), sete vigas de 5×15 com 3,50, 15 caibros de 5×5 com 3,50, uma janela para o quarto com 1m x 1,50m, uma janela para o banheiro e outra para a sala e cozinha, de acordo com o pedreiro que se dispôs a construir tudo sem cobrar pela mão de obra.
Contato
Dona Zu mora na Rua Hayato Nakamura, Nº 466, no Jardim Vânia, atrás da Igreja São Paulo. Há quatro anos ela tenta se aposentar ou receber algum benefício, mas até hoje não conseguiu. Para ajudá-la, ligue para (44) 9735-9947 (Dona Zu) ou 9970-8150 (Pingo). Ou você também pode entrar em contato comigo – (44) 9909-2513 (David).
Uma terapia em forma de alegria
Grupo Pausa para o Riso leva diversão e esperança para crianças da Santa Casa de Paranavaí
Fundado em 2014, o grupo Pausa para o Riso nasceu de uma iniciativa de três atores de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que são apaixonados por circo e teatro. Em 2005, eles criaram um grupo de doutores palhaços chamado Amigos do Riso. Com o passar dos anos e algumas mudanças, hoje a trupe de oito voluntários se reveza nas visitas à Santa Casa de Paranavaí, onde leva alegria, diversão e esperança às crianças internadas na ala pediátrica.
“Também visitamos os adultos quando temos tempo”, explica a fundadora Karina Lima que prevê em breve a inclusão de asilos e abrigos na agenda do grupo. Além das visitas semanais com duração média de duas horas, os integrantes do Pausa para o Riso se reúnem uma vez por mês para compartilharem experiências. “Nosso grupo trabalha de forma espontânea. Quando vemos que alguém se enquadra no perfil do grupo, fazemos um convite para ingressar na trupe”, conta.
O convidado ou a convidada responde a um questionário e participa de uma simulação, começando a se familiarizar com o trabalho dos doutores palhaços. “Fazemos com que tentem imaginar como será quando estiverem no ambiente hospitalar”, argumenta Karina. Em média, o Pausa para o Riso atende pelo menos 200 pessoas por mês. Além dos internos, eles interagem com acompanhantes e funcionários da Santa Casa de Paranavaí.
“Logo no início percebemos que o ambiente hospitalar é o local ideal para levarmos a alegria proporcionada pelo circo”, comenta Karina Lima, acrescentando que muitas pessoas já passaram pelo grupo, mas as mudanças são naturais quando alguém decide trilhar um novo caminho. Como o Pausa para o Riso é 100% voluntário e não tem fins lucrativos, a maior recompensa dos integrantes é o sorriso das crianças, o agradecimento das mães e as amizades que surgem com as visitas.
“Muitas mães aproveitam as nossas brincadeiras com seus filhos para se ausentarem por alguns minutos, respirar um ar que não seja o do hospital e restabelecer a energia. Lá somos palhaços, amigos, companheiros, confidentes. Também somos um abraço, um sorriso, um detalhe que faz a diferença na vida de quem passa por nós”, declara Karina. Quem quiser contribuir com o Pausa para o Riso, realizando algum tipo de doação, pode ligar para (44) 9927-4486.
Formação
Doutora Naninha – Karina Lima, Doutor Tramela – Cristiano Oliveira, Doutor Clavinho – Bruno Alécio, Doutora Soninho – Tais Fernanda, Doutor Goiabinha – Paulo Queiroz, Doutora Leãozinho – Kátia Batista, Doutora Frida Não Kalo – Gislaine Pinheiro.
Solidariedade no metrô de Nova York
Num fim de tarde, Isaac Theil, 65 anos, mantém-se calmo enquanto um estranho dorme em seu ombro no metrô de Nova York. Na ocasião, os outros passageiros se ofereceram para acordar o homem ou tirá-lo de cima dele. Para surpresa geral, Theil disse apenas: “Deixe-o dormir, ele deve ter tido um dia longo. Nós todos tivemos, não é mesmo?”
Fonte: Reddit.com
Olha o cafezinho do amor…
Voluntárias da Igreja Internacional Emanuel preparam café da manhã para 1,2 mil pessoas toda semana
São 7h30 e na Igreja Internacional Emanuel seis senhoras bem animadas estão reunidas na cozinha preparando café, leite, chá e pão. Entre conversas, sorrisos e muita disposição em fazer a diferença, elas embalam os alimentos e armazenam as bebidas em garrafas térmicas. Essa é a rotina do grupo de voluntárias da igreja na segunda, terça e quarta-feira.
A partir das 8h, colocam tudo dentro do carro e levam ao Centro Regional de Especialidades (CRE), na Rua Rio Grande do Sul, ao lado da Santa Casa de Paranavaí. Usando coletinhos azuis, elas caminham sorrindo e distribuindo bom dia para todas as pessoas ao seu redor. Na entrada do CRE, são recepcionadas por uma jovem segurança que retribui a gentileza.
No local, o tratamento que recebem de funcionários e pacientes aguardando atendimento mostra que elas já fazem isso há um bom tempo. Algumas são chamadas até pelo nome quando passam carregando as garrafas térmicas, os copos brancos descartáveis e os pãezinhos.
Sem demora, elas desaparecem pelos corredores lotados, onde as pessoas abrem espaço para os “anjos”, como são chamadas por muita gente, passarem. Entre pedidos de leite, café e chá, o sorriso no rosto de quem toma o primeiro gole é tão gratificante que emociona e justifica o trabalho iniciado na cozinha da Igreja Internacional Emanuel antes das 6h.
Junto às voluntárias, observo a reação de muita gente que vem de outras cidades receber atendimento em Paranavaí e normalmente não tem dinheiro para pagar por um cafezinho nos bares e lanchonetes mais próximos. “É muito bom isso. Já conhecia elas. São gente fina”, diz o aposentado Manoel Francisco da Silva, de São João do Caiuá.
A desempregada Tainara Venâncio da Silva, de Paraíso do Norte, relata que para quem sai de casa antes do dia clarear o cafezinho ajuda a suportar a espera. “Vou ser atendido lá pelas 10h, então é uma coisa boa ter elas aqui. Faz tempo que fazem isso”, comenta o motorista Celso Lepre.
Enquanto converso com pessoas na fila, as voluntárias não param. Percorrem todos os corredores e anunciam a plenos pulmões: “Olha o cafezinho do amor…olha o cafezinho do amor…” A cada passo alguém estende a mão para receber um copo. “Isso aqui é gostoso demais. Excelente! O dia que eu puder, quero contribuir também com esse projeto”, declara o atleta João Alexandrino, conhecido como Garrincha, da Associação de Corredores de Paranavaí e Noroeste do Paraná (Acorrenor), sentado em uma maca segurando um copo recém-esvaziado.
A fisioterapeuta do CRE, Luciara Fontana, não esconde o entusiasmo e sorri ao falar da importância do projeto Café do Amor. “Temos muitas pessoas carentes aqui e o café é uma forma de acolhimento. Acho o trabalho delas muito lindo”, enfatiza Luciara.
Depois do Centro Regional de Especialidades, que abriga o maior número de beneficiados pelo projeto, as voluntárias levam cafezinho para os pacientes da Santa Casa de Paranavaí, incluindo a Clínica de Olhos, e Pronto Atendimento Municipal (PA). “Nosso trabalho termina lá pelas 10h. São duas horas de preparo e duas de distribuição. Temos uma equipe de 11 pessoas, mas às vezes ficamos desfalcadas porque as voluntárias também têm outras responsabilidades”, informa a coordenadora Ilma Telles da Silva, acrescentando que o projeto foi criado há um ano e seis meses.
Projeto está precisando de doações e voluntários
Há um ano e seis meses, a coordenadora Ilma Telles da Silva apresentou a proposta de criação do projeto Café do Amor ao pastor Carlos Henrique Santos que gostou da ideia e ofereceu todo o suporte necessário. “Levamos 400 copos por dia. É um pouco difícil porque dependemos de doações, mas o projeto foi bem aceito desde o início e acho que outras entidades também poderiam fazer algo parecido”, avalia Ilma. As mulheres são unânimes em dizer que é muito gratificante e prazeroso participar do Café do Amor.
O que motiva mais ainda o trabalho das voluntárias é o vínculo criado com quem busca atendimento no CRE, Santa Casa e Pronto Atendimento Municipal. “Tem gente que chega aqui às 4h. Então já ficam na esperança de chegarmos lá por volta das 8h pra entregar o café. A expectativa envolve desde crianças até idosos”, garante Ilma que prevê a criação de um projeto para distribuição contínua de sopão em 2016, um trabalho já realizado esporadicamente na periferia de Paranavaí.
Questionada sobre o que as uniu em torno do projeto,
Ilma Telles argumenta que viu bastante gente percorrer longas distâncias para receber atendimento. Sem dinheiro, muitos chegavam a ficar até o dia todo sem comer nada. “É uma situação difícil e triste. Não podíamos ficar de braços cruzados. Hoje as pessoas dizem até que sentem nossa falta se ficarmos um dia sem fazer a distribuição”, revela Ilma sorrindo.
Atualmente o projeto mantido pela Igreja Emanuel e que recebe ajuda da Santa Casa de Paranavaí, por meio do diretor Héracles Alencar Arrais, e de alguns advogados, está aceitando doações e também o ingresso de novos voluntários. “Poderíamos preparar e distribuir o Café do Amor todos os dias se tivéssemos condições. Precisamos desde copos até embalagens e alimentos. Toda doação é bem-vinda”, pondera a coordenadora.
Uma vez por mês cinco voluntárias da Igreja Internacional Emanuel que participam do Café do Amor realizam um bazar beneficente. Todo o dinheiro arrecadado com a venda de roupas e calçados é destinado ao projeto. Para fazer doações ou tirar dúvidas, ligue para (44) 3045-4111 ou 9135-7665.
Equipe do Café do Amor
Ilma, Elza, Maria, Teresinha, Eurides, Marli, Célia, Val, Franciele, Sílvia e Natália.
Uma vida dedicada ao próximo
Na infância, Rosinha percorria até 20 quilômetros a pé com o pai para rezar pelos enfermos
Chego na casa de Dona Rosinha no Jardim Ipê, como é mais conhecida Rosa Ferreira dos Santos, e o seu marido, o vigilante Cido Dias dos Santos, pede que eu entre. Sem cerimônia, diz que ela já está me aguardando. Quando me vê, a dona de casa exibe um sorriso largo e singelo e me convida para sentar em um sofá na sala.
Miudinha e ansiosa pela entrevista, Rosinha tem uma rara força e resistência, o que ela atribui à fé religiosa. Procurada toda semana por pessoas que desejam algum tipo de graça, a dona de casa diz que não é benzedeira, mas sim rezadora. “O povo chega aqui e pede pra eu rezar. Meu trabalho pra ajudar quem precisa é baseado em três orações: ‘Pai Nosso’, ‘Creio em Deus-Pai’ e ‘Salve Rainha’. São as mais fortes pra gente”, afirma.
Além de orações, muitos são atraídos pelos seus remédios caseiros para dores nas costas, gripe e bronquite, feitos há 16 e 20 anos. “Quando acontece de não vir quase ninguém numa semana eu já fico preocupada, me perguntando se minha oração ainda está ajudando. Mas depois o número de visitas aumenta e fico feliz”, comenta com simplicidade.
A cultura da oração entrou na família de Rosinha com os bisavós e desde então a família segue a tradição de ajudar quem precisa, independente de classe social. “Desde que nasci meu pai já orava pelos outros e fazia caridade. Vem de geração em geração. As pessoas me procuram bastante por motivos de doença e também pra passar em algum tipo de concurso. Muita gente já me ligou agradecendo depois. Só não sei é a minha fé que é mais forte ou a fé deles em mim”, declara sorrindo.
Ainda criança, e vivendo em um cenário que lembra a atmosfera mística do filme “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte, Rosinha e os sete irmãos acompanhavam o pai em caminhadas de até 20 quilômetros para levar orações àqueles que já não podiam frequentar uma igreja, principalmente por problemas de saúde. Quando chegavam ao local, o pai e os filhos rodeavam o enfermo e oravam por horas.
“Ele era rezador de terço igual eu sou agora. Foi a herança que me deixou. Lembro que íamos tão longe que às vezes até dormíamos na beira da estrada. Meu pai e os filhos mais velhos carregavam os menores nas costas. Nunca foi homem de sair e deixar a família abandonada em casa”, destaca.
O relato remete aos anos 1960 e início dos anos 1970, quando a família de Rosinha vivia em cidades como São Jorge do Patrocínio, Pérola, Altônia e Rondon, nas regiões de Umuarama e Cianorte. “Morávamos em um canto, daí passava um tempo e a gente mudava, até que ficamos na residência do meu tio em São Jorge do Patrocínio. Depois arrumamos uma casa e começamos a trabalhar como boia-fria nos cafezais. O serviço mais perto exigia pelo menos quatro quilômetros de caminhada”, conta.
Após o falecimento do pai, há quase 20 anos, Rosinha continuou a tradição familiar, inclusive o trabalho de aplicar injeções em enfermos, algo que aprendeu na juventude, numa época de grande carência médica. “Quando um doente não pode sair de casa e a ajuda não chega, as pessoas me procuram. Faço exatamente como meu pai me ensinou”, justifica.
A dona de casa defende que o mais importante é fazer o bem aos outros sem esperar nada em troca. “Nem poderia ser diferente. Já alcancei tantas graças que só tenho a agradecer. Não me vejo no direito de cobrar nada de ninguém”, afirma. De acordo com a zeladora Maria Ruth Serrano, Rosinha é uma mulher atenciosa e batalhadora que possui muita força. “O trabalho dela é maravilhoso. Tá sempre preocupada com o próximo”, garante Ruth que a conhece há mais de 30 anos.
Segundo o marido Cido, o que também reafirma a solidariedade da esposa é o fato de nunca terem morado sozinhos. “Ela sempre trouxe alguém pra gente cuidar. Alguns eram parentes e outros não. Quase todos os irmãos dela já moraram com nós. Hoje cuidamos do meu pai. Torço para que ela nunca precise parar de fazer esse trabalho porque sei que é a maior satisfação da vida dela”, argumenta o vigilante.
“Nunca gostei de ficar à toa em casa”
Nascida em Salinas, no Norte de Minas Gerais, Dona Rosinha adotou Paranavaí como lar há 37 anos. “Já fiz de tudo na minha vida. Até trabalhei de doméstica e não me adaptei, retornando pra roça de café. Agora faço apenas trabalhinhos como confecção de rosários e crochê”, explica e acrescenta que atualmente a renda familiar é baseada no salário do marido e do filho.
A dona de casa, acostumada a realizar serviços manuais, foi obrigada a parar de trabalhar após o implante de um marca-passo. “Ninguém dá serviço para alguém nessa condição. Não sou aposentada. Já tentei três vezes e não consegui, nem mesmo pelo INSS. Por que os ricos se aposentam e eu não? Tem muita gente por aí aposentada sem necessidade”, desabafa.
A casa onde vive há dois anos no Jardim Ipê, e perto de uma igreja, foi conquistada com muito sacrifício, assim como praticamente tudo na vida de Rosinha. “Me empenhei para que meus filhos estudassem e hoje me orgulho de saber que se formaram na faculdade. Quando eram crianças, eu até trabalhava na escola pra garantir uma boa educação pra eles”, revela.
Por mais de dois anos, a rezadora fez trabalho voluntário na Santa Casa de Paranavaí. Assim que terminava os afazeres domésticos, ia até o hospital, onde dava banho e trocava as roupas dos enfermos. “Nunca gostei de ficar à toa em casa. Por isso passava horas na Santa Casa, ajudando principalmente aqueles que não recebiam visitas de parentes”, garante.
Com a proximidade do Natal, Dona Rosinha explica que está preparando um presépio feito de jornal dobrado, em forma de torre. Seguindo uma velha tradição, em vez de pintá-lo com tinta, ela vai colori-lo com carvão molhado. “Fazemos isso todos os anos e atrai muita gente. As pessoas pedem muitas orações, até quem não pode vir faz o pedido por telefone”, confidencia.
“Não tinha quase comida, só um pouquinho de arroz e feijão cru”
Aos 20 anos, quando trabalhava como boia-fria, Rosinha, acompanhada do pai e dos irmãos, percorria a pé 15 quilômetros de estrada de terra para chegar ao cafezal. Saía de casa às 5h, antes do galo cantar, quando a escuridão ainda tomava conta do lugar. “Um dia a gente tava em casa se preparando pro trabalho e não tinha quase comida, só um pouquinho de arroz e feijão cru. Minha mãe olhou nas panelas e ficou preocupada”, conta. Então sugeriu ao marido que pedisse um pouco de mandioca para o patrão, senão teriam de passar fome no dia seguinte.
No mesmo dia, às 9h, uma vizinha bateu na porta da casa de Dona Joana, mãe de Rosinha, e reclamou que seus três filhos estavam sem comer há três dias. Sensibilizada, Joana deu metade do arroz e do feijão cru já insuficiente para alimentar a própria família. Por volta do meio-dia, uma mulher desceu de um automóvel em frente à casa de Rosinha e bateu palmas, surpreendendo Dona Joana. “Naquele tempo era difícil ver carro em São Jorge do Patrocínio. Ela chamou minha mãe e mostrou um saco de estopa enorme cheio de alimentos. Tinha tanta coisa que a gente nem sabia o que era. Pra gente era comida de rico”, lembra Rosinha rindo e chorando.
Um homem que acompanhava a mulher posicionou o saco ao lado do pequeno portão da casa dos pais de Rosinha. No mesmo instante, o mais novo dos oito filhos de Dona Joana começou a chorar. Ela se desculpou e foi ver o que aconteceu com a criança. Quando retornou, a mulher não estava mais lá, nem o homem e o carro que a trouxe. “Minha mãe ficou desesperada. Queria agradecer de qualquer jeito. Ela correu toda a vizinhança tentando saber o paradeiro da mulher. Todos os vizinhos falaram a mesma coisa, que não viram carro nenhum passar por aquelas bandas naquela manhã. Então minha mãe chorou, se sentindo abençoada por Deus”, narra com olhos marejados.
Solidária, Dona Joana retirou apenas o essencial do saco de estopa e dividiu o restante com quatro famílias de boias-frias. O dia foi tão especial que até a jornada de trabalho dos que foram para o campo acabou mais cedo. “A gente sempre chegava em casa à noite, lá pelas nove horas, porque demorava pra arruar o café, mas naquele dia vimos o Sol desaparecer através da nossa janela”, relata Rosinha chorando.
“Senti mãos me pegando e me levantando”
Numa noite, Dona Rosinha sentiu tontura e não conseguiu dormir. Preocupados, o marido e os filhos a levaram para o Pronto Atendimento Municipal (PA), onde recebeu um pouco de soro intravenoso. Às 6h, a dona de casa deveria ir Arapongas, no Norte Central do Paraná, trocar o marca-passo que parou de funcionar, mas ninguém a chamou. Assim que levantou e olhou pela janela, já estava tudo claro lá fora. Então Rosinha deitou com os olhos fechados debaixo de uma lâmpada, pedindo a Deus que não deixasse nada de ruim acontecer com ela. “Senti mãos me pegando e me levantando. Fiquei com os olhos fechados porque não tive vontade de abrir. Quando fui colocada novamente na cama, abri os olhos e não tinha ninguém ao meu lado, como se ninguém tivesse entrado no quarto”, conta.
Depois a dona de casa se levantou e lembrou a enfermeira de que ela precisava ir a Arapongas trocar o marca-passo. “Veio uma equipe grande me ajudar. Na ambulância, durante toda a viagem, senti como se as mesmas mãos que não vi continuassem acariciando o lugar onde o marca-passo que não funcionava mais estava instalado. Sentia tudo, mas não via nada”, garante.
Após receber anestesia, Rosinha ficou sabendo que não havia condições de recuperar seu marca-passo, sendo necessário fazer a substituição. “Foi preciso fazer uma outra cirurgia de última hora pra trocar o marca-passo. A operação acabou tão rápido que até a equipe médica se surpreendeu. E eu ainda sentia aquela mão desconhecida no marca-passo”, assegura.
Ao final da cirurgia, a dona de casa foi avisada que precisaria de dois ou três dias de repouso para conseguir andar novamente. Surpreendendo todos, Rosinha levantou na manhã seguinte, andando por todo o quarto e se oferecendo para ajudar os pacientes deitados nas camas mais próximas. “O médico disse que nunca viu uma recuperação tão rápida. Dias atrás também tive um princípio de [acidente vascular cerebral] AVC, só que logo ficou tudo bem”, comemora com voz remansosa.
Frases de Dona Rosinha
“Seguindo as lições de meu pai e minha mãe, não consigo passar um dia sem ajudar alguém”
“Quando eu era criança, uma moça que era nossa vizinha tentou se matar. Ela tomou veneno cinco vezes e chegou até a beber soda e não morreu. Se não for a hora, não adianta insistir”
“Qualquer pessoa que aparece aqui pra eu cuidar, eu cuido, porque Deus me deu esse dom e eu sigo em frente”
Saiba Mais
Dona Rosinha, que também é procurada por pessoas de outras cidades e regiões, mora no Paraná há 53 anos. Quem quiser entrar em contato com ela, pode ligar para (44) 3045-7819.