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Pitágoras, o primeiro filósofo grego a reprovar o consumo de carne e a matança de animais
“Enquanto come as articulações de um cordeiro, você festeja com seus bons amigos e vizinhos”
Dos filósofos da Grécia Antiga, Pitágoras é sempre apontado como o primeiro a questionar e a criticar o consumo de carne e a matança de animais. A ele é atribuída a célebre frase: “Enquanto o ser humano for implacável com as criaturas vivas, ele nunca conhecerá a saúde e a paz. Enquanto os homens continuarem massacrando animais, eles também permanecerão matando uns aos outros. Na verdade, quem semeia assassinato e dor não pode colher alegria e amor.” Tal frase foi registrada pelo poeta romano Ovídio, reproduzindo o discurso do filósofo grego.
Embora Pitágoras tenha se aproximado do que seria definido mais tarde como um tipo de vegetarianismo místico, há registros e histórias que revelam que ele realmente se preocupava com os animais não humanos, não apenas com a mácula e com a violência que o consumo de animais poderia causar e estimular. Para o pensador, a abstenção do consumo de animais poderia permitir que o ser humano alcançasse um grau mais elevado de consciência.
Ademais, independente de sua motivação em relação à defesa do não consumo de carne, o filósofo grego que nasceu em Samos séculos antes do surgimento do cristianismo é uma prova do quão é equivocada a crença de que a rejeição ou a crítica ao consumo de animais é uma premissa contemporânea. Esse seu posicionamento, em menor ou maior proporção, influenciou diretamente filósofos e pensadores como Plutarco, Sócrates, Platão, Teofrasto, Empedócles, Ovídio, Séneca e Apolônio de Tiana, entre outros.
Pitágoras chegou a associar o ato de comer carne com uma forma de canibalismo, e naturalmente o ato de matar animais para consumo como assassinato. Para entender essa sua posição basta partirmos da perspectiva de que nós seres humanos também somos animais, portanto, temos um vínculo de parentesco com os animais. Mas ainda assim nos alimentamos de animais.
Ele acreditava que tanto os animais humanos quanto os não humanos têm alma. A sua crença na transmigração de almas, ou seja, na ideia de que seres humanos podem renascer como animais não humanos e vice-versa endossava a sua posição, embora com um viés místico que mais tarde seria rejeitado pelo vegetarianismo ético. Porém, nem por isso, Pitágoras deixou de influenciar o vegetarianismo ético e até mesmo o veganismo como conhecemos hoje, já que à sua maneira, e considerando o contexto da época, ele também questionava a objetificação animal.
“As proibições de Pitágoras contra a matança e o consumo de animais não eram baseadas em superstições, totemismos ou tabu”, afirma a pesquisadora Mary Ann Violin no artigo “Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher”, que integra o volume 6 do jornal de filosofia “Between the species”, publicado em 1990. Pitágoras defendia que não é menos bárbaro derramar o sangue de um animal do que o de um ser humano.
O filósofo grego expressou horror pela ideia de colocarmos cadáveres de outros animais dentro de nós. Ele considerava errado nos alimentarmos da “triste carne de animais assassinados”. Como registrado na obra “Metamorfoses” de Ovídio, Pitágoras disse algo como: “Enquanto come as articulações de um cordeiro, você festeja com seus bons amigos e vizinhos.” Pitágoras dizia que os açougueiros eram insensíveis às súplicas de um cordeiro ou bezerro, apesar do fato de seus gritos serem semelhantes aos gritos de um bebê.
Também foi Ovídio quem retratou Pitágoras como um filósofo que suplicava aos seres humanos para demonstrarem compaixão pelo sofrimento de todos os seres sencientes. Além das menções a ele na obra “Metamorfoses”, outro exemplo é uma história narrada pelo filósofo neoplatônico Jâmblico e mais tarde publicada no livro “Life of Pythagoras”, traduzido por Thomas Taylor e lançado em 1818 pela J.M. Watkins, da Inglaterra.
Jâmblico conta que quando Pitágoras estava viajando ao longo da praia de Síbaris para Crotona, ele conheceu alguns pescadores cuja rede ainda estava no mar. Naquele dia, Pitágoras previu o número de peixes que eles pegariam. Intrigados, os pescadores concordaram em fazer qualquer coisa se ele estivesse certo. Quando a rede foi trazida à terra, e os peixes contados, Pitágoras acertou o número exato de peixes e pediu que fossem devolvidos à água. Assim foi feito. Curiosamente, nenhum dos peixes morreu durante a contagem. Pitágoras deu aos homens o dinheiro que eles ganhariam com os peixes e seguiu a sua jornada para Crotona.
Pitágoras era um pensador à frente do seu tempo, tanto que entre seus alunos e seguidores haviam mulheres, ex-escravizados e bárbaros. De acordo com o biógrafo Diógenes Laércio, Pitágoras libertou um jovem chamado Zalmoxis e fez dele seu amigo. Sua escola de filosofia fundada em Crotona se destacava pela organização e pelas regras relativas à conduta prática e moral.
Segundo Mary Ann Violin, Pitágoras se negou a fazer distinção da carne e do sangue de animais humanos e não humanos. O filósofo costumava contar aos seus alunos e seguidores sobre uma era de ouro em que os lábios das pessoas não estavam “contaminados com sangue”. Enfatizava que era um tempo sem violência, em que todos viviam em paz. E foi exatamente pela repulsa à violência contra seres humanos e não humanos que quando Pitágoras e seus seguidores se reuniam em sacrifício aos deuses, eles apenas queimavam incensos e ofereciam mudas de carvalho a Zeus, louro a Apolo, rosa a Afrodite e videira a Dionísio. “Muitos contos milagrosos foram contados sobre Pitágoras e seu relacionamento com os animais”, escreveu Mary Ann no artigo “Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher”.
Para o pesquisador Nathan Morgan, autor de “The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism”, publicado em 2010 pela Encyclopaedia Britannica, Pitágoras foi o primeiro filósofo do ocidente a deixar um legado vegetariano. “Ele sentiu que o consumo de carne era insalubre e fazia com que os humanos guerreassem uns com os outros. Por estas razões, ele se absteve da carne e encorajou os outros a fazerem o mesmo”, declarou Morgan.
Na biografia “Life of Pythagoras”, Jâmblico pontua que Pitágoras exortou os políticos de seu tempo a absterem-se do consumo de carne. Pois, se eles estavam dispostos a agirem com justiça em seu mais alto grau, era indiscutivelmente importante incumbi-los a não ferirem nenhum dos “animais inferiores”. Conforme palavras de Pitágoras registradas pelo filósofo neoplatônico, como eles poderiam persuadir os outros a agirem com justiça, se eles próprios provavam que se entregavam a uma avidez insaciável que consiste em devorar esses animais que nos são aliados? Pois, por meio da comunhão da vida estão, por assim dizer, unidos a nós por uma aliança fraterna.
Já a Stanford Encyclopedia of Philosophy, destaca que Pitágoras defendeu o vegetarianismo com base na sua crença na metempsicose, ou seja, na crença de que um mesmo espírito, após a morte do antigo corpo habitado, retorna à existência material, podendo reencarnar como ser humano ou não humano. Logo todos os animais devem ser respeitados. Também cita que Eudoxus de Cnido registrou que além de Pitágoras se abster de alimentos de origem animal, ele evitava proximidade com açougueiros e caçadores. A Stanford Encyclopedia of Philosophy informa ainda que, consoante Porfírio, Pitágoras sugeriu que devemos evitar consumir qualquer animal como se fôssemos consumir seres humanos.
A ética pitagórica que reprovava o consumo de animais teve um importante papel enquanto moral filosófica entre os anos de 490 a 430 a.C. O objetivo de Pitágoras, conforme registros de seus biógrafos e seguidores, era estimular a consciência do respeito à vida independente de espécie. O filósofo grego reconhecia as diferenças entre animais humanos e não humanos em relação ao raciocínio e à consciência. Por outro lado, via similitude principalmente em relação à senciência. O fato dos animais não verbalizarem suas necessidades, não deveria ser motivo para fazer deles um alvo fácil para a humanidade, na perspectiva pitagórica.
Incisivo em seu posicionamento, Pitágoras reprovava o sacrifício de animais e proibia que seus alunos ou seguidores tomassem parte nessa prática que considerava espúria. Acredita-se que o filósofo grego tenha decidido se abster do consumo de animais aos 19, 20 anos, passando a priorizar especialmente o consumo de ervas. Contudo, há divergências sobre como eram de fato os seus hábitos alimentares.
Segundo a obra “Life of Pythagoras”, de Jâmblico, Pitágoras passou a defender invariavelmente a abstinência do consumo de animais, justificando ser uma rejeição determinante para alcançar até mesmo a paz. Argumentava que aqueles que consideravam errada e desnecessária a morte de animais não humanos eram os mesmos que reprovavam a morte de pessoas e o surgimento das guerras. Pitágoras qualificava a guerra como um grande matadouro, e se tal matadouro banalizava a vida humana, mais ainda desvalorizava a vida não humana.
De acordo com Jâmblico, o filósofo grego de Samos relatou que só aquele que reconhece a comunidade de elementos que envolve os seres humanos e os animais é capaz de estabelecer em maior grau uma comunhão com aqueles que compartilham uma alma afim e racional. Advertiu também que a justiça é introduzida pela associação com outras pessoas, enquanto a injustiça é resultado da insociabilidade e negligência humana no que diz respeito a muitas coisas, inclusive o desinteresse ao que não nos parece conveniente.
Embora a história de Pitágoras esteja às voltas com inúmeras controvérsias, até pelo fato de sua vida e obra terem sido narradas e registradas por seus alunos e seguidores, é inegável que chama a atenção reconhecer que há 2,5 mil anos um filósofo fez oposição ao consumo de animais. No entanto, não é difícil encontrar pessoas questionando sobre o motivo pelo qual essa parte da vida de Pitágoras foi tão negligenciada pela história. Afinal, ele é mais conhecido como matemático, e basicamente pela associação de seu nome ao Teorema de Pitágoras.
Sobre isso, uma observação que talvez seja necessária é a de que Aristóteles fez franca oposição ao seu discurso contra a matança de animais. E como Aristóteles enquanto filósofo obteve muito mais êxito no Ocidente, inclusive endossando uma consciência antropocêntrica que reconhecia os animais apenas como seres disponíveis ao uso humano, a filosofia de Pitágoras acabou obscurecida e relegada a um universo menor. Já Aristóteles, que rejeitou a racionalidade animal não humana, ajudou a formar parte da base da atitude cristã ocidental, defendendo assim que criaturas sencientes não humanas poderiam sim ser privadas de justiça e da própria existência, já que isso beneficiaria uma espécie superior, ou seja, a espécie humana.
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Entre os vegetarianos, Pitágoras foi um nome de grande relevância até o século 19, tanto que até então os protovegetarianos e vegetarianos eram chamados de pitagóricos.
Pitágoras nasceu em Samos em 570 a.C e faleceu em Crotona ou Metaponto em 495 a.C.
Referências
Violin, Mary Ann. Pythagoras – The First Animal Rights Philosopher. Between the Species. Páginas 122-125 (1990).
Iamblichus. Thomas Taylor. The Life of Pythagoras. J.M. Watkins. London (1818).
Morgan, Nathan. The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism. Encyclopaedia Britannica (2010).
Ovid. Metamorphoses. Oxford World’s Classics. Oxford University Press (2009).
Wynne-Tyson, Jon. The Extended Circle: A Dictionary of Humane Thought. Penguin Group (1990).
Pythagoras. Stanford Encyclopedia of Philosophy (2005-2014).
Plotino: “Os animais têm sentimentos, portanto sentem prazer e dor”
Plotino se recusava a consumir medicamentos com ingredientes de origem animal
Mestre de Porfírio, seu discípulo que escreveu “Da Abstinência do Alimento Animal”, considerada por inúmeros pesquisadores como a obra mais importante da Grécia Antiga sobre a abstenção do consumo de animais, Plotino foi um filósofo neoplatônico que melhor assimilou e aperfeiçoou não apenas os ensinamentos de Platão, mas também de Pitágoras e Plutarco, autor de “Do Consumo da Carne”, outra obra igualmente relevante na discussão sobre o tema.
Um asceta moderado, Plotino ficou famoso pela autoria das “Enéadas”, obra fundamental da filosofia ocidental que reúne 54 tratados em seis capítulos. Compilada e editada por Porfírio no ano de 270, as “Enéadas” são baseadas principalmente no conteúdo de palestras e debates de Plotino com seus alunos ao longo de 17 anos.
O filósofo neoplatônico estudou em Alexandria e na Pérsia antes de se mudar para Roma, onde fundou a sua própria escola. No livro “Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought”, o pesquisador Rod Preece afirma que Plotino, que provavelmente era de origem romana e nasceu no Egito, foi protovegetariano a maior parte de sua vida. Defensor do ascetismo moderado, Plotino começou a se questionar sobre os hábitos alimentares da época que, segundo ele, tinham grande influência sobre o comportamento e a personalidade humana, incluindo sua relação com a vida e o mundo.
Nas “Enéadas”, ele declara que os animais têm sentimentos, portanto sentem prazer e dor. Na perspectiva de Plotino, a dor é a aisthesis, a percepção do corpo despojado. Ele usa o conceito de pathos como representação da empatia, do sentimento e da ligação afetiva quando diz que, conscientes, somos sensibilizados diante de uma situação em que a vítima morre ou sofre desnecessariamente; como é o caso dos animais não humanos há muito explorados. Quem também defende a ideia de que Plotino foi um importante nome na discussão do que se tornaria o vegetarianismo ético é o pesquisador Gordson Lindsay Campbell, editor de “The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life”.
“Embora não haja provas conclusivas, o estrito ascetismo de Plotino provavelmente incluiu o vegetarianismo, mesmo que o seu biógrafo, Porfírio, não tenha conseguido escrever por Plotino em relação ao assunto”, registrou Preece. Apesar disso, o que reforça a ideia de que Plotino realmente se voltava para a questão do que futuramente seria os direitos animais era a sua recusa em consumir medicamentos com ingredientes de origem animal, conforme informações do livro “Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought”.
Preece afirma que vários seguidores de Plotino não eram apenas vegetarianos, mas inclusive vegetarianos éticos. E o argumento fundamentado nas ideias do filósofo neoplatônico, e que teve continuidade com Porfírio, é de que o ser humano precisava mudar a sua relação com os animais e se libertar das calamidades do corpo. Assim, é justo dizer que os ensinamentos de Plotino influenciaram Porfírio a escrever “Da Abstinência do Alimento Animal”, obra também influenciada por Pitágoras, sobre quem o discípulo de Plotino escreveu uma biografia.
Em “Vegetarianism – A History”, Jon Gregerson diz que para Plotino a única forma da humanidade alcançar a realidade suprema seria tratando todos os animais com respeito e compaixão. Ou seja, reconhecendo primordialmente o direito à vida, sem os prejuízos da exploração humana. “Porfírio deu continuidade ao trabalho de Plotino, apresentando evidências observacionais e históricas em defesa do vegetarianismo e da racionalidade dos animais”, enfatizou Nathan Morgan, autor de “The Hidden History of Greco-Roman Vegetarianism”. Influenciado por Plotino, Porfírio qualificou o consumo de carne como um encorajador da violência. Ademais, apresentou ideias antes defendidas pelo seu mestre neoplatônico de que os animais têm capacidade de raciocínio. Assim sendo, não faltam razões para estender a justiça a eles.
Kerry S. Walters e Lisa Portmess, autores de “Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama”, apontam Plotino como o responsável pela consciência vegetariana de Porfírio, que também se inspirava em Pitágoras e Empedócles. A obra “Da Abstinência do Alimento Animal”, do filósofo neoplatônico foi uma reação argumentativa ao abandono do filósofo Firmus Castricius, que deixou a Escola de Plotino para renunciar à dieta vegetariana e se juntar aos cristãos.
Do livro 1 ao livro 4 de “Da Abstinência do Alimento Animal”, Porfírio defendendo o estilo de vida apregoado pela Escola de Plotino, assinala que o consumo de carne é intemperante, logo incompatível com a vida filosófica. Ele argumenta que o sacrifício de animais é ímpio, que os animais merecem um tratamento justo e que os sábios do passado condenavam o consumo de carne.
Embora o mestre de Plotino não tenha falado abertamente do vegetarianismo na obra “A República”, tudo leva a crer que Platão via com bons olhos a abstenção do consumo de carne. Prova disso é o fato de que muitos neoplatônicos se identificavam com uma vida livre do consumo de carne. “Publicamente, sua dieta era aceitável como parte do verdadeiro ascetismo. Portanto, não atraiu controvérsia”, pontuou Colin Spencer em “The Heretic’s Feast: A History of Vegetarianism”.
Outro fato revelador é que no século 3 Plotino conseguiu aprovação e apoio do Imperador Galiano para construir o que poderia ter sido a primeira cidade vegetariana ocidental, e que teria como referência a República de Platão. O seu nome seria Platonópolis. Mas o sonho de Plotino esbarrou no Senado, que vetou a sua proposta. Apesar disso, seu trabalho teve continuidade com Porfírio e outros filósofos que mais tarde influenciaram o vegetarianismo ético e a discussão em torno do que daria origem aos direitos animais.
Referências
Plotino. The Enneads: Abridged Edition. Penguin Classic (1991).
Porfírio. Gillian Clark. On Abstinence from Killing Animals (Ancient Commentators on Aristotle). Bristol Classical Press; Reprint Edition (2014).
Spencer, Colin. The Heretic’s Feast: A History of Vegetarianism. UPNE. First Edition (1995).
Preece, Rod. Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought. Páginas 112-113. UBC Press (2017).
Gregerson, Jon. Vegetarianism, a History. Jain Publishing Company (1995).
Walters, Kerry; Lisa Portmess. Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama. State University of New York Press (2001).
Campbell, Gordon Lindsay. The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life (Oxford Handbooks). Oxford University Press; First Edition (2014).
Walters, Kerry; Lisa Portmess. Ethical Vegetarianism: From Pythagoras to Peter Singer. State University of New York Press; Reprint Edition (1999).
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Sócrates e o consumo de carne como símbolo da injustiça e das desigualdades
A redução dos animais à comida seria um gatilho para minar as condições de construção de uma sociedade mais justa
Um dos fundadores da filosofia ocidental, o filósofo ateniense Sócrates ficou conhecido principalmente pela sua contribuição no campo da ética e da epistemologia. Suas crenças e ideias tornaram-se mundialmente famosas por meio de seus diálogos e discursos registrados por seus discípulos Platão e Xenofonte. Embora não seja possível afirmar se Sócrates foi vegetariano ou protovegetariano, na obra “A República”, escrita por Platão, está clara a sua preocupação sobre as consequências do consumo de carne e da exploração animal, além das implicações desse hábito na saúde humana.
Na página 77 de “A República”, Sócrates comenta com Glauco que levando em conta a forma como as pessoas viviam nas cidades, logo seria considerada imprescindível a criação de gado de todos os tipos. “Mas, levando este tipo de vida, teremos necessidade de muito mais médicos do que antes”, diz Sócrates a Glauco, que concorda com a associação do consumo de carne com o surgimento de problemas de saúde.
Sócrates também critica o hábito dos pastores da época de treinarem os cães para auxiliá-los no trabalho com os rebanhos de carneiros, reconhecendo que esse costume poderia endurecer a natureza dos animais, excitando a intemperança dos cães e tornando-os seres brutos. “A fome ou qualquer hábito vicioso os levaria a fazer mal aos carneiros e a tornarem-se iguais aos lobos [que apenas agiam instintivamente] dos quais os deveriam proteger”, declarou o filósofo ateniense na página 147 de “A República”. A observação de Sócrates revela uma preocupação com o fato da humanidade subverter a natureza animal para benefício próprio.
Na segunda parte de “A República” Platão apresenta Sócrates como um sujeito preocupado com as implicações morais do abate de animais, embora ele demonstre que, primariamente, o que o incomodava era a possibilidade de que o consumo de animais pudesse corromper cada vez mais a humanidade, a distanciando de sua natureza justa e complacente. “Esse hábito de comer animais não exigiria que abatêssemos animais que conhecemos como indivíduos, e em cujos olhos poderíamos olhar e ver-nos refletidos, apenas algumas horas antes de nossa refeição?”, questiona, ao que Glauco responde prontamente: “Esse hábito exigiria isso de nós.”
A coisificação dos animais não humanos é apontada por Sócrates e Glauco como algo capaz de impedir a humanidade de alcançar a felicidade. “E, se seguirmos esse modo de vida, não teremos de visitar o médico com mais frequência?”, questiona o filósofo, que recebe a confirmação de Glauco: “Teríamos tal necessidade.” Sócrates prevê ainda que o hábito de comer animais e criá-los com a finalidade de vendê-los transformaria o ser humano em alguém não somente ambicioso, mas ganancioso a ponto de espoliar propriedades vizinhas para ampliar suas pastagens:
“Se nosso vizinho seguir um caminho semelhante, não teremos que ir à guerra contra o nosso próximo para garantir maiores pastagens? Porque as nossas não serão mais suficientes para o nosso sustento, e nosso vizinho terá a mesma necessidade e entrará em guerra conosco?” Glauco corrobora o receio do ateniense ao confirmar que sim, deixando subentendido que a humanidade se tornaria mais suscetível à decadência e às tentações de uma sociedade imersa em desigualdades. Para Sócrates, a redução dos animais à comida seria um gatilho para minar as condições de construção de uma sociedade mais justa – e um distanciamento cada vez mais crescente da forma mais genuína de felicidade.
Essas reflexões de Sócrates envolvendo a exploração animal e o consumo de carne vão ao encontro do estudo da virtude. Ele dizia que é mais importante a busca do desenvolvimento humano do que a busca pela riqueza material – um dos principais motivos da exploração de animais enquanto produtos. Sócrates acreditava tanto nisso que nem mesmo quando foi sentenciado à morte por questões políticas, segundo as obras “Apologia” e “Críton”, de Platão; e pessoais, de acordo com Xenofonte, cogitou curvar-se ao júri ou fugir em vez de enfrentar a injusta condenação. Nascido em 470 a.C., Sócrates, que preferiu à morte ao exílio, faleceu em 399 a.C, depois de ser obrigado a ingerir cicuta após 30 dias preso.
Referências
Platão. A República. Nova Fronteira (2014).
Platão. A República – Parte II. Escala Educacional (2006).
The Republic of Plato. Translation by F. Sydenham and T. Taylor, revised by W.H.D. Rouse. With introduction by Ernest Barker. London – Methuen (1906).
Kofman, Sarah. Socrates: Fictions of a Philosopher (1998).
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Empédocles, um pré-socrático contra o derramamento de sangue dos animais
Em “Retórica”, Aristóteles escreveu que Empédocles era contra a matança de qualquer criatura
Sempre que se fala nos filósofos da Grécia Antiga, e na forma como eles influenciaram o vegetarianismo, surgem controvérsias. Alguns alegam que vários filósofos gregos apontados como vegetarianos somente se abstiveram da carne. Outros dizem que a defesa de uma dieta livre de ingredientes de origem animal normalmente tinha como motivação uma crença espiritual, principalmente a transmigração de almas; assim os julgando como antropocentristas.
Porém, mesmo que isso seja verdade, ainda é possível citar filósofos gregos que, de algum modo, contribuíram para a discussão sobre o vegetarianismo e os direitos animais, mesmo que sob viés polêmico. Ainda que, a princípio, suas ideias tenham sido pautadas a partir das consequências das ações humanas, e o que isso significaria propriamente à humanidade, o filósofo pré-socrático grego Empédocles (490-430 a.C), o pai da retórica, defendia que é preciso seguir o princípio do amor em relação a todas as espécies; portanto, abster-se de violência e derramamento de sangue, o que já figurava como uma defesa da compaixão e do direito dos animais à vida, de acordo com o livro “Animal Suffering: Philosophy and Culture”, da finlandesa Elisa Aaltola.
Rod Preece, autor do livro “Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought”, segue pela mesma linha de raciocínio, e diz que, dos pitagóricos, Empédocles foi o que mais dispensou atenção à sensibilidade animal, mesmo que julgado, como ainda pode acontecer hoje, como um filósofo com uma percepção mística dos animais. “Ele era considerado um tipo de xamã em sua prática, e às vezes um extremista em suas visões. Mas podemos ver no mínimo um elemento de ética animal em suas expressões. Naturalmente, suas razões refletem seu ascetismo primário”, declara Preece.
Avesso às religiões tradicionais, Empédocles demonstrava uma forma singular de espiritualidade, até por influência de Pitágoras. O filósofo que tinha como motivação a busca pela verdade e pela virtude, abominava o sacrifício de animais. “Empédocles, como outros vegetarianos órficos-pitagóricos, lembra a Era de Ouro, em que o assassinato, a ira e a discórdia não reinavam, e em que o abate de animais, como particularmente um sacrifício aos deuses, era visto como uma ‘impureza’”, escreveram Kerry S. Walters e Lisa Portmess em “Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama”.
Idealista, Empédocles dizia que não era tarde demais para os seres humanos deixarem a caverna em que se aprisionaram e, como Perséfone, conquistarem a oportunidade de experimentar o renascimento espiritual. Porém, a condição maior para essa mudança seria a recusa em continuar derramando sangue. E isso, naturalmente, e em parte, significaria um retorno à dieta vegetariana pacífica da perdida Era de Ouro.
Na observação feita por Walters e Portmess fica claro que, na defesa de Empédocles, ele apelava à espiritualidade humana e as consequências do consumo para quem via os animais como comida; talvez, não apenas por realmente acreditar nisso, mas também por entender que o ser humano não seria tocado simplesmente pela compaixão pelos animais.
“O derramamento de sangue, afirma ele, é o pecado de uma poluição que afasta os seres humanos da divindade e traz a retribuição do renascimento contínuo. A alma do assassino é forçada a uma cansada e desabrigada ronda de transmigrações. […] e o abate de animais é o que garante a continuidade da violência“, cita o livro “Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama”, em referência a fragmentos de um manuscrito do poema “Purificações”, do filósofo grego.
Para Empédocles, se recusando a consumir animais, o ser humano evitaria ter sua alma aprisionada no corpo de um animal; alegando que os corpos dos animais que comemos se tornam, nas próximas vidas, moradas de almas punidas. Apesar dessa perspectiva considerada limitante no contexto do vegetarianismo, o filósofo grego também sugeria que todas as criaturas têm direito à justiça, segundo Gordon Lindsay Campbell no livro “The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life”.
Mesmo que citasse deuses e a transmigração de almas em sua defesa da abstenção de carne, e por isso muitos vejam uma relação próxima de Empédocles com o vegetarianismo de viés religioso, o professor Christian Wildberg, da Universidade de Princeton, que tem uma extensa pesquisa desenvolvida na área de filosofia antiga, argumenta que o vegetarianismo de Empédocles foi uma poderosa ferramenta de ataque à religião grega tradicional, condenando massivamente a realização de sacrifícios de animais.
Sendo assim, e também levando em conta que de toda a sua produção restaram apenas dois trabalhos parciais – os poemas “Purificações” e “Na Natureza”, não é possível dizer com certeza qual era a sua maior motivação no que diz respeito ao vegetarianismo; talvez estivessem além do que foi legado à humanidade.
Parafraseando John Rundis em “The Vegetarianism of Empedocles in Its Historical Context”, Stephen T. Newmyer, professor da Universidade Duquesne e pesquisador da questão animalista, argumenta que o vegetarianismo de Empédocles pode ser visto como uma declaração política que se opôs à identificação aristocrática do sacrifício animal. Isto porque o consumo de carne à época já era associado à barbárie e à glutonaria, já que os cidadãos de maior poder aquisitivo sempre “reivindicavam primeiro a maior porção de carne”.
Tal observação pode ser corroborada pelo estilo de vida idealista do filósofo grego. Embora não haja tantas informações sobre sua vida, sabe-se que o pai de Empédocles, Meto, foi um dos responsáveis pela derrubada do tirano Agrigento, que comandou Acragas, na região da Sicília, até por volta de 470 a.C.. Empédocles, deu continuidade à tradição familiar, sendo crucial na deposição de outros oligarcas. Dizem que, mais tarde, quando ofereceram-lhe o comando da cidade, ele recusou.
“Empédocles acreditava amplamente em princípios igualitários, era considerado um vegetariano e respeitava os direitos animais, acreditando que todos os seres vivos têm espíritos. Era um forte defensor da democracia. […] Desprezava abertamente a glorificação dos indivíduos e era conhecido por condenar o materialismo consumista e a gula dos cidadãos de Acragas”, escreveu Vincenzo Mormino em 2007 na revista “Best of Sicily”. Há estudiosos que afirmam que filosoficamente as ideias de Empedócles influenciaram o naturalista britânico Charles Darwin a escrever a teoria da seleção natural.
Em “Retórica”, Aristóteles escreveu que Empédocles era totalmente contra a matança de qualquer criatura, alegando que era injustificado e injusto os seres humanos matá-los. A questão de parentesco entre seres humanos e animais teve grande peso sobre a consciência do filósofo grego, segundo o livro “The Animal and the Human in Ancient and Modern Thought: The ‘Man Alone of Animals’ Concept”, de Stephen T. Newmyer. “Empédocles só falou em termos de uma lei universal [nomimon], a lei contra matar animais. É Aristóteles quem escreve a lei de Empédocles como [sendo] natural”, comenta Richard Sorabi em “Animal Minds and Human Morals: The Origin of the Western Debate”.
Saiba Mais
Empédocles é o nome mais importante da escola plurarista, que reconhecia a não existência de um princípio único que explique todo o universo. Ele estudou com Pitágoras e foi um dos primeiros cientistas a sugerir que a luz viaja a uma velocidade constante. Embora Empédocles viveu muitos antes de Arquimedes, os dois tinham muito em comum.
“Purificações” e “Na Natureza”, suas duas únicas obras remanescentes, tinham 5 mil linhas, mas restaram apenas 500; e acredita-se que na realidade “Purificações” seja uma introdução ao poema “Na Natureza”.
Ele afirmava que tudo que compõe a natureza é formado por terra, ar, água e fogo, misturados ou não.
Referências
Campbell, Gordon Lindsay. The Oxford Handbook of Animals in Classical Thought and Life. Oxford University Press (2014).
Cleary, John J. Gurtler, Proceedings of the Boston Area Colloquium in Ancient Philosophy, Volume 7. University Press of America (1992).
Preece, Rod. Sins of the Flesh: A history of Ethical Vegetarian Thought. Página 92. UBC Press (2009).
Walters, S. Kerry. Portmess, Lisa. Religious Vegetarianism: From Hesiod to the Dalai Lama. State University of New York Press (2001).
Aaltola, Elisa. Animal Suffering: Philosophy and Culture. Página 68 (2012).
Newmyer, Stephen. The Animal and the Human in Ancient and Modern Thought: The ‘Man Alone of Animals’ Concept. Routledge (2016).
Newmyer, Stephen. Animals, Rights and Reason in Plutarch and Modern Ethics. Routledge; 1 edition (2005).
http://www.bestofsicily.com/mag/art242.htm
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0258%3Abook%3D8%3Achapter%3D2
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Para o filósofo grego Teofrasto, a humanidade tem uma dívida de justiça para com os animais
Sucessor de Aristóteles dizia que matar os animais é uma forma de perpetuar danos injustificáveis
Sucessor de Aristóteles, o filósofo grego Teofrasto (372 a.C 287 a.C) defendia, segundo Porfírio em “De Abstinentia”, que a humanidade tem uma dívida de justiça para com os animais porque o futuro da existência como um todo depende do equilíbrio entre humanos e animais, o que exige também que os seres humanos se abstenham de sacrificá-los e de comê-los.
Para Teofrasto, explorar, torturar ou matar animais significa privá-los de suas vidas, porque assim perpetua-se um ciclo de danos injustificáveis. A crítica do filósofo grego serviu como referência ao filósofo dos direitos animais estadunidense Tom Regan para argumentar que a morte dos animais é moralmente errada porque é uma forma de privação da oportunidade de experimentar qualquer escolha futura, o que leva à conclusão de que a morte dos animais como consequência da exploração racionalmente humana é uma perda irrecuperável, ou seja, final.
Pesquisador da questão animalista na Grécia Antiga, o filósofo estadunidense Stephen Newmyer, professor da Universidade Duquesne, em Pittsburgh, na Pensilvânia, diz que um dos conceitos-chave desenvolvidos por Teofrasto, e que influenciaria os direitos animais, é o conceito de oikeiotes, que combina ideias de pertencimento, parentesco e relacionamento. As primeiras referências estão registradas em “De Abstinentia”, de Porfírio, quando discorre sobre a filosofia de Teofrasto.
O discípulo de Aristóteles acreditava no parentesco humano com os animais, que necessitavam de um tratamento mais empático e justo por parte dos seres humanos. “Esta mesma compaixão pelos animais como criaturas sofredoras inspirou Teofrasto a desenvolver o conceito de Oikeiotês, que está em evidência no tratamento que Porfírio dá aos animais em ‘De Abstinentia’”, declara Newmyer no livro “Animals, Rights and Reason in Plutarch and Modern Ethics”, publicado em 2005.
Em “De Pietate”, Teofrasto discute as precedentes especulações gregas em torno da racionalidade animal, caminhando para o que se pode chamar de questões de familiaridade na relação entre seres humanos e outros animais. Por isso, assim como “De Esu Carnium”, de Plutarco, “De Pietate” é considerada uma das duas defesas mais antigas do estilo de vida vegetariano – e referência em direitos animais. De acordo com Newmyer, “De Abstinentia”, de Porfírio, oferece uma defesa cuidadosa da ideia de que o homem primitivo só seria capaz de não matar um animal ao reconhecer nele algum tipo de parentesco.
Na ótica de Porfírio, os seres humanos não se assemelham aos outros animais somente no que diz respeito às paixões, pulsões e sentidos, mas também, em níveis distintos, nas faculdades de raciocínio. Portanto, o conceito Oikeiotês concedeu status moral aos animais e os colocou dentro da preocupação moral humana. “A relação que os animais têm com os seres humanos é, em sua opinião, de natureza jurídica, pois os seres humanos devem tratamento justo às criaturas que são relativamente semelhantes a ele em suas capacidades mentais”, reforçou Stephen Newmyer.
Também defendida por Pitágoras, a concepção de parentesco entre seres humanos e outros animais foi ofuscada por Aristóteles que, seguindo por outra via, encontrou maior aceitação em uma sociedade cada vez mais antropocêntrica. “Os agrupamentos irracionais ocorrem tão somente pelo instinto, pois, entre os animais, somente o homem possui a razão, tendo noções de bem e mal, justo e injusto”, simplificou Aristóteles. Afirmações como essa serviram como justificativa para que o ser humano continuasse subestimando a capacidade animal, colocando-os em um nível de inferioridade que influenciaria mais tarde a maneira como os seres humanos continuariam se relacionando com os animais.
No entendimento de Aristóteles, os animais “irracionais” não possuem capacidades mentais para assegurar que seus interesses sejam respeitados. Por outro lado, o seu discípulo Teofrasto, além de reconhecer a existência do intelecto animal, viu exatamente nessa suposta incapacidade animal apontada por Aristóteles uma razão moral para que os seres humanos não se colocassem acima dos animais nem se aproveitassem de sua vulnerabilidade. E esse aspecto da filosofia aristotélica teve continuidade com influentes pensadores como o italiano Tomás de Aquino.
Sendo assim, o interesse de Aristóteles pela questão animal difere substancialmente do interesse de seus discípulos, como Teofrasto, que reconheceu o direito à vida animal. O caso de Aristóteles contra a racionalidade animal possivelmente tinha apenas intenções parcialmente científicas, sem ponderar sobre as consequências morais de seus argumentos.
Porém, foi exatamente essa negação aristotélica que formou parte da base da atitude cristã ocidental em relação aos animais como criaturas que poderiam ser privadas de justiça e da própria existência, e mais – que poderiam ser usadas como o ser humano bem entendesse. Uma conclusão que também é partilhada por Newmyer.
Também foi esse caminho trilhado por Aristóteles, sem antever o futuro, que impediu que teorias filosóficas mais empáticas aos animais, como as de Pitágoras, Teofrasto, Plutarco e Porfírio fossem lançadas à luz, não à escuridão. Assim não é equivocado dizer que a consciência antropocêntrica que persiste ainda hoje é uma consciência de influência aristotélica.
Saiba Mais
Teofrasto, grego de Eresso, em Lesbos, foi o sucessor de Aristóteles na escola peripatética. Ele chegou a Atenas ainda muito jovem, e inicialmente estudou na escola de Platão. Após a morte de Platão, ele se ligou a Aristóteles, que levou os seus escritos a Teofrasto. Quando Aristóteles fugiu de Atenas, Teofrasto assumiu o Liceu.
Ele presidiu a escola peripatética por 35 anos, período em que a escola se desenvolveu bastante -tinha mais de dois mil estudantes. Ele é considerado o “Pai da Botânica”, por causa de seus trabalhos com as plantas.
Após sua morte, os atenienses o honraram com um funeral público. Seu sucessor foi Estratão de Lâmpsaco. Teofrasto faleceu aos 85 anos, de acordo com Diógenes. Uma de suas frases mais famosas é: “Morremos apenas quando estamos começando a viver.”
Referências
Porphyry: On Abstinence from Killing Animals (Ancient Commentators on Aristotle). Bristol Classical Press; Reprint edition (2014).
Newmyer, Stephen. Animals, Rights and Reason in Plutarch and Modern Ethics – Páginas 20 a 25. Routledge; 1 edition (2005).
https://en.wikisource.org/wiki/1911_Encyclop%C3%A6dia_Britannica/Theophrastus
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